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Sexagésima, assim se chama a segunda das três [domingas] que precedem a Quadragésima ou Quaresma. Desde hoje até a Páscoa, suprime a Igreja as Aleluias, o Gloria e outros cânticos de alegria, que pouco diriam com o tempo da penitência e do luto.
Septuagésima. Liturgia. Sermão.
Sexagésima. Liturgia e Sermão.
Quinquagésima. Liturgia e Sermão.
Sexagésima, assim se chama a segunda das três [domingas] que precedem a Quadragésima ou Quaresma. Desde hoje até a Páscoa, suprime a Igreja as Aleluias, o Gloria e outros cânticos de alegria, que pouco diriam com o tempo da penitência e do luto.
Septuagésima. Liturgia. Sermão.
Sexagésima. Liturgia e Sermão.
Quinquagésima. Liturgia e Sermão.
EPÍSTOLA: 2ª Epístola de São Paulo Apóstolo aos Coríntios 11, 19-33 – 12, 1-9.
Irmãos: Vós porque sois sensatos, de boa vontade aturais os insensatos. Na verdade, suportais quem vos põe em escravidão, quem vos devora, quem vos rouba, quem se exalta, quem vos dá na cara. Digo-o para minha vergonha, como se tivesse sido fraco neste ponto. Mas naquilo de que qualquer se ufana, (falo como louco), também eu ufano: Se são hebreus, também eu; se são Israelitas, também eu; se são descendentes de Abraão, também eu; se são ministros de Cristo, (falo como menos modesto), mais o sou eu; mais nos trabalhos, mais nos cárceres, em açoites sem medida, freqüentemente em perigos de morte. Dos Judeus recebi, por cinco vezes, quarenta açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes naufraguei, uma noite e um dia estive no alto mar; muitas vezes em viagens entre perigos de rios, perigos de ladrões, perigos dos da minha raça, perigos dos gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos dos falsos irmãos; no trabalho e na fadiga em muitas vigílias, na fome e na sede, em muitos jejuns, no frio e na nudez. Além destas coisas, que são exteriores, a minha obsessão permanente: a preocupação por todas as igrejas. Quem está doente sem que eu também o não esteja?! Quem tropeça, sem que eu não abrase? Se alguém se pode gloriar, sou eu que me gloriarei na minha fraqueza. O Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo – bendito seja Ele por todos os séculos, – sabe que não minto. Em Damasco, aquele que governava a nação em nome do rei Aretas, fazia guardar a cidade para me prender; mas desceram-me numa alcofa por uma janela, ao longo da muralha, e assim escapei das suas mãos. Se alguém se pode gloriar, o que em boa verdade não convém, farei agora menção das visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo, o qual há catorze anos foi arrebatado, – não sei se foi em corpo e alma, se só em espírito; Deus o sabe, – até o terceiro céu. E sei que este homem, – se foi em corpo e alma, se só em espírito, não sei; Deus o sabe, – foi arrebatado ao empíreo, e aí ouviu palavras inefáveis, que ao homem não lícito repetir. Por isto gloriar-me-ei; por mim, porém, de nada me gloriarei, senão nas minhas fraquezas. Verdade é que, se me quiser gloriar, não serei insensato, porque direi a verdade; contudo abstenho-me disso, para que ninguém julgue de mim mais do que vê em mim, ou ouve de mim. E, para que a grandeza das revelações me não envaidecesse, foi-me dado um aguilhão na minha carne, que é como um enviado de Satanás, que me esbofeteia. Por causa disto, pedi três vezes a Deus que o afastasse de mim. Ele, todavia, respondeu-me: Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que o meu poder triunfa. Portanto, de boa vontade me gloriarei nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo.
EVANGELHO: Evangelho de NS Jesus Cristo segundo São Lucas 8, 4-15.
Naquele tempo, tendo-se reunido muito povo, e como os habitantes de várias cidades tivessem ido a Jesus, propôs-lhes Ele esta parábola: Saiu o semeador a semear sua semente; e ao semeá-la, parte caiu junto ao caminho e foi pisada, e as aves do céu a comeram. Outra parte caiu sobre a pedra, e quando nasceu, secou logo, por não haver umidade. Outra parte caiu entre os espinhos, e os espinhos, nascendo com ela, a sufocaram. E outra parte caiu em boa terra, e depois de nascer, deu fruto, cento por um. Dito isto, clamou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Seus discípulos perguntaram-Lhe, pois, que significava essa parábola. E Ele lhes respondeu: A vós é dado conhecer o Mistério do Reino de Deus, porém aos outros se fala em parábolas, para que, olhando, não vejam, e ouvindo, não entendam. Este é, pois, o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus. Os que estão ao longo do caminho, são os que a ouvem, mas vindo depois o diabo, tira-lhes a palavra do coração, para que se não salvem, crendo nela. Os de sobre a pedra, são os que recebem com gosto a palavra, quando a ouviram; porém estes não têm raízes; até certo tempo creem, mas no tempo da tentação, desviam-se. A que caiu entre os espinhos: são estes os que ouviram, porém indo, afogam-se com cuidados, riquezas e deleites da vida e não dão fruto. E a que caiu em boa terra: são os que, ouvindo a palavra, guardam-na com o coração bom e perfeito e dão fruto na paciência.
Sermão do Evangelho do dia feito por:
* * *
1. São João Maria Vianney (1786-1859), o Cura de Ars:
“A semente que caiu em terra boa [...] deu fruto centuplicado”
Se me perguntais o que quer Jesus Cristo dizer com este semeador que saiu no início da manhã para ir lançar a semente no seu campo, meus irmãos, [digo-vos que] o semeador é o bom Deus que começou a trabalhar na nossa salvação logo no princípio do mundo, enviando-nos os profetas antes da vinda do Messias para nos ensinar o que é necessário para sermos salvos. E não Se contentou em enviar os Seus servos, mas veio Ele mesmo, indicou-nos o caminho que devíamos seguir e veio anunciar-nos a palavra sagrada.
Sabeis como é uma pessoa que não se alimenta desta palavra sagrada? [...] É semelhante a um doente sem médico, a um viajante perdido e sem guia, a um pobre sem recursos. É completamente impossível, meus irmãos, amar a Deus e agradar-Lhe sem nos alimentarmos desta divina palavra. O que nos poderá levar a agarrarmo-nos a Ele, se não for o conhecimento que temos Dele? E quem no-Lo dá a conhecer, com todas as Suas perfeições, a Sua beleza e o Seu amor por nós, se não a palavra de Deus que nos ensina tudo o que Ele fez por nós e todos os benefícios que nos preparou na outra vida?
* * *
2. Homilia XV in Evangelia, do Papa São Gregório Magno
A leitura do santo Evangelho, caríssimos irmãos, que acabais de ouvir, não necessita tanto que eu a explique, mas muito mais que a endosse. Porque, aquilo que a Verdade, Ela mesma, explicou, que a humana fragilidade não presuma discutir. Mas há, na própria explicação do Senhor, matéria sobre que pensar diligentemente. (visto que talvez as vossas mentes duvidassem crer-nos se fôssemos nós a dizer-vos significar a semente, a palavra; o campo, o mundo; os pássaros, os demônios; os espinhos, as riquezas. Por isso o Senhor, Ele próprio, dignou-Se explicar o que dissera, de modo que saibais [segundo esse exemplo] procurar compreender as outras [parábolas], que Ele próprio não tenha explicado.
Explicando, pois, o que dissera, esclareceu que falava por meio de figuras: assim nos acredita [a nós, pregadores,] quando a nossa fraqueza é encarregada de revelar-vos os sentidos figurados das Suas palavras. Ora, quem me daria crédito, se eu quisesse interpretar os espinhos como sendo as riquezas? Notavelmente aqueles magoam, enquanto essas deleitam! Entretanto as riquezas são de fato espinhos, pois os pensamentos que provocam dilaceram a alma, e, se até ao pecado conduzem, como que sangram as feridas por eles infligidas. Mas, bem o diz outro Evangelista*, o Senhor não estava falando das riquezas simplesmente, e sim das riquezas falazes.
Falazes são, pois, aquelas riquezas incapazes de permanecer conosco por mais do que um instante; falazes são aquelas que não aliviam a pobreza da nossa alma. São riquezas verdadeiras somente aquelas que nos fazem ricos em virtudes. Ó irmãos caríssimos! Se procurais ser ricos, as verdadeiras riquezas amai! Se buscais o alto da verdadeira honra, esforçai-vos pelo reino celeste! Se amais a glória das dignidades, apressai-vos por serdes inscritos naquela celestial corte dos Anjos! As palavras do Senhor, que ouvis com os ouvidos, conservai-a na alma. Porque a palavra de Deus é alimento para a alma, e está como um estômago doente, que regurgita a comida que recebe, a alma que, tendo ouvido a palavra, não a digere no ventre da memória. Aquele que não consegue reter o alimento, sua vida está em estado desesperador!
Temei, então, o perigo da morte, se recebeis o alimento da santa pregação sem reter na memória as palavras da vida, os alimentos da justiça. Eis que passa tudo aquilo com que vos preocupais, e, querendo ou não, todo dia, sem qualquer pausa, vos aproximais do extremo juízo. Por que, então, amar aquilo que virá a ser abandonado? Porque negligenciar aquilo que há de vir? Lembrai-vos do que foi dito: Quem tem ouvidos, ouça. Todos os que os têm aderidas têm os ouvidos do corpo. Mas se diz que quem tem ouvidos, que ouça, falando de ouvidos íntegros: precisa-se de ouvidos que não tenham um coração dúbio. Cuidai, portanto, que a palavra recebida permaneça nos ouvidos do coração. Cuidai que a semente não caia à beira do caminho, e que o espírito maligno não roube a palavra à memória. Cuidai que a semente não caia em terra pedregosa, e não dê os frutos de boas obras sem as raízes da perseverança.
* São Mateus.
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3. Comentário Apologético do Pe. Júlio Maria
COMMENTARIO APOLOGÉTICO: Constituição da religião - (MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 103 - 109)
É outra parábola que o Evangelho de hoje nos apresenta: a do semeador.
O semeador é Deus que lançou a semente divina da religião, - a sua palavra, - no terreno das almas que compõem este campo imenso da humanidade.
Esta semente, infelizmente, não caiu toda no bom terreno; uma parte caiu em terreno duro, outra em terreno pedregoso, outra em terreno coberto de espinhos e outra em terreno fértil.
É o que explica que ao lado da única religião verdadeira, há várias religiões falsas. Todas, no fundo, como veremos, provêm da semente divina; o terreno, porém, não era próprio para o seu desenvolvimento: daí nasceram plantas raquíticas, outras disformes, outras quase desconhecíveis.
No fundo de todas as religiões, encontra-se entretanto, um ponto comum: suas partes constitutivas, que correspondem às três grandes aspirações do homem: conhecer, amar e servir.
A estas três aspirações correspondem as 3 partes essenciais da religião que são:
1º. O dogmas, que devemos conhecer;
2º. A moral, que devemos amar;
3º. O culto, que devemos manifestar.
Já vimos que a religião é a procura e o encontro de Deus e do homem, o seu comércio recíproco; vamos ver agora o modo porque se faz este encontro.
I. O dogma
O encontro da inteligência divina e da inteligência humana, constitui o dogma da religião.
Que é o dogma?
É a palavra de Deus, pública, dada paternalmente ao homem pela revelação e aceita filialmente pela submissão à autoridade.
É o homem que quer saber, aproximando-se de Deus que sabe; como é Deus aproximando-se do homem que quer saber.
É Deus e o homem conversando juntos.
É o decálogo sublime entre o pai e o filho: entre o pai que revela e o filho que escuta.
Uma inteligência pequena diz coisas pequenas.
Uma inteligência grande diz coisas grandes.
Uma inteligência divina diz coisas divinas.
Estas coisas divinas são as verdades sublimes, que constituem a primeira parte da religião: o dogma.
A religião não é uma imposição rigorosa, seca, pesada, da parte de Deus, mas sim a união de inteligência, de coração e de vida.
A inteligência divina e a humana correspondem-se admiravelmente: Deus revela ao homem o que este não sabe; e o homem, pelo raciocínio, descobre, nestas revelações, a satisfação da sua aspiração de saber.
Estes dois elementos: o divino e o humano, dão-se as mãos, completam-se admiravelmente, e fazem a nossa fé, ao mesmo tempo divina e humana, apoiada sobre a palavra divina que revela e o espírito humano que raciocina.
II. A moral
A segunda aspiração do homem é amar. É o amor que faz uma lei. E a este amor corresponde o amor do homem que aceita esta lei por amor.
De fato, que é a moral?
É o encontro do Coração de Deus e o do homem. É a regra traçada paternalmente por Deus e aceitafilialmente pelo homem.
É Deus dirigindo o homem porque o ama e o homem deixando-se dirigir porque se sente amado.
Tal é a idéia mãe da moral e o que se encontra em toda religião.
Erros e abusos podem ter-se introduzido nas minúcias, porém, no fundo de todas as religiões há esta verdade básica de: Deus dirigindo o homem e o homem submetendo-se à direção de Deus.
É o amor que faz as leis morais e é o amor que se executa.
A moral é o encontro do Coração de Deus e do coração do homem, para tornar o coração do homem digno do Coração de Deus.
III. O culto
É a terceira parte constitutiva da religião: o culto, o rito, as preces e cerimônias.
Que é culto?
É o auxílio filialmente pedido a Deus e paternalmente dado por Deus ao homem.
É a fraqueza humana que chama em seu auxílio a força divina!
É a força que vem em auxílio da fraqueza.
É a vida poderosa e infinita de Deus eu se une à vida vacilante e limitada do homem para sustentá-la.
É a oração particular, pública, social do homem e a fé inabalável nesta verdade que Deus atende as preces da humanidade, como um pai atende as súplicas de um filhinho.
IV. Conclusão
Esta concepção da religião em sua natureza íntima, em suas partes constitutivas, parece quase uma novidade, entretanto é a única concepção verdadeira. Toda religião é constituída de dogma, moral e culto, porque ela deve corresponder às três grandes aspirações do homem: conhecer, amar, servir.
Digo que tal é o fundo necessário de todas as religiões.
Afastai pelo pensamento, os erros, as superstições que são a obra do homem e vereis resplandecer, no meio de todas as religiões, a religião verdadeira, imutável e universal, pois só pode haver uma só religião, como há uma só aritmética, uma justiça, uma lógica e esta religião única tem por fim uma função única: unir o homem a Deus e Deus ao homem.
Nenhuma religião foi inventada pelos homens: todas elas são derivadas da única religião universal e eterna. Há só um tipo donde foram copiadas imitações mais ou menos perfeitas, completas ou grotescas.
Um estudo comparado das religiões demonstra que o tipo único de religião, dado por Deus, tem as suas raízes nas profundezas da alma humana.
Sob formas diversas, há um mesmo fundo divino, atos idênticos que levam o homem a Deus e inclinam Deus para o homem.
Não há religião, por falsa que seja, que no fundo não tenha um dogma, uma moral, um culto.
Nenhum erro, nenhuma superstição pode tirar esta constituição essencial da obra divina: a religião verdadeira e eterna.
EXEMPLOS
1. O culto exterior
Um dia, uma senhora de alta sociedade, que se ufanava de ser livre pensadora, quis discutir religião com o publicista católico Raymundo Brücker
Não podendo refutar o seu interlocutor, ela terminou, dizendo:
- “Pois bem, seja, Sr. Brücker, estou de acordo que no dogma e na moral católica há coisas boas, mas o culto!... Estas práticas exteriores, orações e cerimônias públicas, acho tudo isso muito mesquinho! Creio que a Igreja podia dispensar-se destas coisas: a religião ganharia muito com uma tal supressão!”
Brücker que se havia mostrado até aí da mais fina cortesia para com esta senhora, levanta-se, de repente, como movido por uma mola e pondo-lhe pesadamente a mão sobre o ombro, lhe diz de chofre:
- Ah! Minha gordona, como tu tens espírito!
- Senhor! Bradou a senhora indignada, recuando três passos, quem me julgas, então? Ignoras os primeiros elementos de civilidade?
- Desculpa-me, senhora, retornou Brücker, não ter compreendido que exiges para ti um culto exterior, que julgas de tão pouca importância nas relações com Deus.
O culto exterior, minha senhora, não é outra coisa, senão as formas da civilidade e do respeito que devemos a Deus.
2. Confissão de um protestante
O incrédulo Frederico II, rei da Prússia, acabava de assistir na catedral de Breslau à uma missa solene pontifical, cantada pelo Cardeal Zenzendorff.
Na saída disse ao Prelado: Eminência, a sua Missa me fez refletir e tirar a seguinte conclusão:
Os calvinistas tratam Deus como se fosse um criado,
Os luteranos O tratam como igual,
Os católicos tratam-nO como Deus.
3. Uma tradição judaica
Há entre os judeus a seguinte tradição:
Quando Deus havia criado o mundo, perguntou aos anjos o que pensavam da sua obra. Um deles respondeu:
- A obra é grande e perfeita, porém falta qualquer coisa: precisava criar uma voz clara, poderosa e harmoniosa, que de continuo enchesse todas as partes do mundo com seus sons, cantando dia e noite ao criador, um hino de gratidão por todos os seus benefícios.
Esta voz existe: é a do culto público, prestado a Deus pela humanidade, em nome da Criação inteira.
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