Papa PIO XII
Sobre a Beatificação
e Canonização de Pio X
I M P R I M A T U R
POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO.
E REVMO. SR. DOM MANUEL PEDRO
DA CUNHA CINTRA, BISPO DE PETRÓPOLIS.
FREI DESIDÉRIO KALVERKAMP, O. F. M.
PETRÓPOLIS, 15-5-1958.
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- BEATIFICAÇÃO DE PIO X
- I. Breve Quoniam, de Beatificação de Pio X, de 3-VI-1951;
II. Discurso na tarde do mesmo dia 3-VI-1951 à multidão de fiéis aglomerada na Praça de S. Pedro, no ato de veneração de Pio X;
- CANONIZAÇÃO DE PIO X
- III. Discurso quando da Canonização, 29-V-1954.
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BEATIFICAÇÃO DE PIO X
O Santo Padre Pio X foi
elevado às honras dos altares em solene cerimônia celebrada na Basílica
do Vaticano, em 3 de junho de 1951. Arquivamos a versão portuguesa do
Breve Quoniam, pelo qual lhe foi reconhecido o título e o culto
de Beato, e a do discurso que Sua Santidade Pio XII dirigiu na tarde do
mesmo dia à multidão de fiéis aglomerada na Praça de S. Pedro, no ato de
veneração ao seu glorioso Predecessor.
I. Breve Quoniam, de Beatificação de Pio X, de 3-VI-1951:
1. Porque “Cristo amou a Igreja e se entregou a si mesmo para a
santificar” (Ef 5, 25), nunca faltaram nem poderão faltar, entre os
fiéis, os que se avantajem aos outros em virtude, de modo que os seus
exemplos sejam propostos à imitação. Por isso, em todos os tempos, uma
nobilíssima falange de Santos e de Bem-aventurados, ingente multidão
“que ninguém pode contar, de todas as nações e tribos e línguas” (Apoc
7, 9), homens e mulheres de todas as idades e condições, não cessarão de
acrescer a beleza e multiplicar a alegria da Esposa de Cristo, até à
consumação dos séculos.
2. A essa fulgidíssima falange até a Nós, que, embora sem méritos,
estamos ao leme da Barca de Pedro em tempos tão procelosos, concedeu o
benigníssimo Senhor que, especialmente no passado Ano Santo,
acrescentássemos muitos ilustres heróis, cujo triunfo celebramos com
grande alegria do Nosso espírito. Mas aprouve à suavíssima clemência de
Deus conceder hoje ao Vigário de Cristo na Terra uma graça que, há mais
de dois séculos, isto é, desde o ano de 1712, em que Pio V foi inscrito
no cânone dos Santos por Clemente XI, não foi concedida a nenhum dos
Nossos Predecessores: poder agregar ao número dos Bem-aventurados outro
Sumo Pontífice, um Pontífice que Nós próprio conhecemos, cujas exímias
virtudes admiramos de perto, ao qual prestamos dedicada e devotamente a
Nossa colaboração — Pio X.
3. Nasceu Ele na humilde aldeia de Riese, na diocese de Treviso, a 2
de junho de 1835, filho de João Batista Sarto e Margarida Sanson, ambos
de condição humilde, mas ilustres pela honestidade e virtude antiga, aos
quais Deus circundou de uma coroa de dez filhos. Batizado no dia
seguinte, recebeu o nome de José Melchior. Menino de índole vivaz e
alegre, sob a direção da sua estilosíssima mãe distinguiu-se de tal modo
na piedade que o pároco da freguesia não duvidou proclamá-lo “a mais
nobre alma” da paróquia. Depois de completar os estudos elementares na
escola local, levado pelo seu grande desejo de estudar mais, frequentou
os estudos secundários, dirigindo-se para isso todos os dias, durante
quatro anos, muitas vezes de pés descalços, ao próximo povoado de
Castelfranco. Recebeu o Sacramento da Confirmação em 1º de setembro de
1845, e fez a Primeira Comunhão em 6 de abril de 1847 e, como mostrasse
constante vontade de abraçar o estado eclesiástico, em setembro de 1850
mereceu ver satisfeito o seu ardente desejo de receber as vestes talares
e em novembro seguinte, mercê do interesse do Cardeal Tiago Mônico,
Patriarca de Veneza e seu patrício, entrou, radiante de alegria, no
prestigioso Seminário de Pádua. Quanto aí progrediu em piedade e
doutrina pode facilmente deduzir-se do seguinte testemunho dos
superiores daquele Seminário: “a nenhum inferior em disciplina, de
grandíssima inteligência, de suma memória, de máxima esperança” (Arquivo
do Sem. de Pádua). Os fatos confirmaram plenamente a previsão. Ordenado
sacerdote na igreja principal de Castelfranco em 18 de setembro de
1858, alguns dias depois celebrou solenemente a Missa-Nova (não se trata da missa protestantizada de Paulo VI, por óbvio) na terra
natal, em meio da maior alegria dos seus, sobretudo da sua digníssima
mãe, bem como de todos os conterrâneos. No mês de novembro, foi nomeado
coadjutor do piedosíssimo pároco de Tômbolo, cuja saúde era bastante
precária. Imediatamente, aquele venerando sacerdote e os paroquianos,
quase todos agricultores, experimentaram e admiraram os egrégios dotes
do jovem coadjutor, a sua humildade, pobreza, jovialidade, zelo assíduo
em auxiliar de todos os modos o próximo e, além disso, a sua invulgar
perícia na pregação. O Bispo de Treviso, ao conhecer estas excelentes
qualidades, em 1867 escolheu José Sarto para reger a paróquia mais
importante de Salzano. E aí se revelou cada vez mais em quanto amor de
Deus e do próximo ele se distinguia pela suavidade de caráter, mansidão,
modéstia, amor da pobreza, especialmente durante a terrível peste do
ano de 1873.
4. Passados nove anos em Salzano, foi nomeado Cônego da Catedral de
Treviso, Chanceler da Cúria Episcopal e ainda Diretor espiritual do
Seminário. Estes cargos tão honrosos como cheios de responsabilidade, e
só aceitos por obediência, pois detestava honrarias e dignidades,
exerceu-os com a costumada diligência e perícia, ele que sempre foi
inimigo declarado da ociosidade. Em 1879, ficando vaga a Sé de Treviso,
foi eleito por unanimidade de sufrágios Vigário Capitular. E também
neste ofício deu tais provas de prudência e competência que, em 1884,
com aplauso universal, embora contra sua própria vontade e vã
relutância, foi nomeado Bispo de Mântua.