Juliano, o apóstata |
João Batista: Vou satisfazê-lo, senhor. Chamamos de apóstata, quer essa palavra seja odiosa ou não para o senhor, todo católico, sacerdote ou leigo, que abandona sua religião para passar ao protestantismo que, entre nós, aliás, não é uma religião, mas o direito ou a liberdade de procurar uma religião, na Bíblia, de acordo com as inclinações de seu coração.
Caixeiro: O significado que o senhor dá à essa palavra é uma injúria gratuita contra todos os católicos que passam para o nosso lado. Não posso admitir esse significado. Ao contrário, protesto altivamente contra essa denominação.
João Batista: Tranquiliza-te, senhor. Essa palavra significa o que ela é, e não tenho, não mais que o senhor, o direito de mudar o significado dela. O imperador Juliano que, do Catolicismo passara ao Paganismo, foi o primeiro, creio, que teve o triste privilégio de vê-la ligada ao seu nome.
Caixeiro: Por que dariam o nome de apóstata àquele que deixa a Religião Católica para se tornar protestante, ao invés daquele que, de protestante, se tornasse católico?
João Batista: Dom Rendu¹, Bispo de Annecy, vai responder tua pergunta. Ele procederá de cima à baixo. Não lhe será difícil proceder no sentido inverso. Queira escutar atentamente.
“Façamos sucessivamente um protestante passar por todos os graus que separam o incrédulo mais obstinado do crente mais dócil, e veremos que, em nenhum caso, o protestante é apóstata.
Strauss, um de seus doutores protestantes, e mil outros, nega a Revelação. Porém, melhor informado, ele admite a Bíblia como um depósito da palavra de Deus. Essa mudança que é operada em sua fé, faz dele um apóstata? Não.
Ele admite a criação e a queda do homem. Porém ele repele a solidariedade do gênero humano e todas as consequências do pecado original. Melhor informado, ele admite que a falta do primeiro homem caiu sobre todos seus filhos, e, por causa disso, ele acredita na necessidade da redenção. Ele se separa dos incrédulos: ele se torna um pouco mais cristão. Ele é apóstata?… Não.
Ele admite o Evangelho como um livro inspirado. Porém, para ele, Jesus Cristo é apenas um homem superior por sua inteligência ou por sua vocação. Ele é protestante saciano. Melhor informado, ele reconhece que Jesus Cristo é Filho de Deus e o próprio Deus. Ele deixa os sacianos e se faz calvinista. Ele é apóstata?… Não.
Mais tarde, ele reconhece que Jesus Cristo está presente na Eucaristia. Ele abandona os calvinistas para se unir aos luteranos. Ele é apóstata por ter acrescentado um artigo à sua fé?… Não.
Mais tarde ainda, ainda conservando a Verdade que ele descobriu, ele é forçado a admitir a hierarquia da Igreja, e se faz anglicano, acrescentando esse novo artigo ao seu símbolo. Por isso ele é apóstata?… Não.
Mais tarde, ele admite a remissão dos pecados pela confissão, ele se faz puseista. Ele é apóstata?… Não.
Ele admite inicialmente apenas dois sacramentos. Melhor informado, ele admite três deles, depois quatro, depois cinco, depois seis, depois, enfim, sete. Ele se tornou apóstata?… Não. Pois ele está acrescentando à sua fé, e não arrancando nada dela.
Enfim, depois de ter reconhecido a necessidade das obras e algumas outras verdades, ele entende que a Igreja cujo Jesus Cristo se cercara enquanto ele estivera sobre a terra, devendo existir até o fim dos séculos, só pode ser encontrada na Igreja católica, edificada sobre a pedra sólida. Ele acrescenta esse último artigo às suas crenças e se lança aos pés do Pontífice romano. Ele é apóstata? Certamente não”.
Assim, senhor caixeiro, é conveniente chamar de apóstata aquele que abandona um número maior de verdades reveladas para tomar um menor. Mas nunca damos o nome de apóstata àquele que, no lugar de diminuir seu número, o eleva. Portanto, nunca chamamos de apóstata o protestante que se faz católico, mas somente o católico que se torna protestante.
Caixeiro: É um erro crer que um católico que se faz protestante seja um apóstata, visto que, deixando de ser católico, ele toma a Bíblia, que contém tudo o que ele precisa fazer e crer.
João Batista: Somente com sua Bíblia, interpretada por sua razão individual, não haverá nenhum crença segura, infalível, visto que sua razão é necessariamente incerta e falível. Então ele deverá seguir a sorte do Protestantismo que, tendo na origem retido alguns artigos do símbolo da fé, já não possui quase nenhum.
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1. Louis Rendu † (09/12/1789-28/081859), 3º Bispo (de 25/08/1842 à sua morte) de Annecy, a qual foi erigida a Diocese pelo Papa Pio VII, em 15/02/1822, pela Bula "Sollicita catholici". Foi também geólogo e glaciólogo.
Visto em: http://catolicosribeiraopreto.wordpress.com/2014/01/28/todo-aquele-que-abandona-a-fe-catolica-e-apostata
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