Quem não vê neste programa de São Paulo a fiel
descrição da vida de Dom Antônio, seguro transmissor da tradição que
aprendera, zeloso pregador da pura palavra de Deus, sem se preocupar
com repercussões mundanas ou aplausos de multidões, e corajoso
combatente dos erros atuais, variados, peregrinos e estranhos a
tradição católica.
Não foi sem razão que alguns não gostaram dele,
como aconteceu com o próprio Nosso Senhor e como já o previra também
São Paulo: "Se quisesse agradar aos homens não seria servo de
Cristo".
Esta fidelidade à Tradição da Igreja, conforme
nos foi transmitida por todos os Papas, Concílios, Santos e
Doutores, levou D. Antônio a escrever sábias cartas pastorais,
baseadas na lídima doutrina católica, firmadas em documentos
pontifícios, que ficaram famosas no mundo todo, traduzidas que foram
em várias línguas.
Já no ano de 1953, quando o progressismo em
nossa Pátria apenas dava os primeiros passos, o seu olhar perspicaz
e prudente anteviu as consequências e lançou ao mundo o grande grito
de alerta através da célebre Carta Pastoral "Sobre os problemas do
Apostolado Moderno", onde, baseado em documentos de Papas e Doutores
da Igreja, nos adverte contra os erros concernentes à Liturgia,
sobre o igualitarismo entre padres e leigos, sobre a verdadeira e
falsa participação na Missa, sobre o erro do altar em forma de mesa,
sobre o uso do hábito religioso, sobre as modas indecentes, sobre a
moral nova, sobre questões políticas, econômicas e sociais, erros
esses que infelizmente hoje adquiriam foros de cidadania na Igreja
nova, apesar de já terem sido várias vezes condenados pela
verdadeira Igreja de Cristo.
Todas as suas outras célebras pastorais - e são
muitas -, tais como "Aggiornamento e Tradição", "Sobre o Santo
Sacrifício da Missa", "Sobre Cursilhos de Cristandade", "Pelo
Casamento indissolúvel", etc., são todas reflexo da mais pura
doutrina ortodoxa, exatamente como nos ensinam os documentos
pontifícios.
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Na década de 60, Dom Antônio pregou retiro para este grupo de liguistas, em Bom Jesus. A preocupação com a instrução religiosa dos fiéis foi uma constante em sua vida. |
Foi justamente esta perfeita fidelidade ao
ensinamento pontifício, esta reta intenção de sempre seguir as
diretrizes da Santa Igreja, que o levaram a escrever, com toda a
sinceridade, ao Papa Paulo VI sobre a discordância teórica e prática
entre o que se faz e ensina agora e o que a Igreja sempre fez e
ensinou. Apresentando lealmente todo o seu modo de agir e ensinar,
baseado em sólidos documentos, S. Exa. suplica ao Santo Padre que
lhe declare se encontra algum erro na doutrina que ele expunha e se
seu modo de agir destoava do acatamento devido ao supremo
Magistério. A solidez da argumentação apresentada embaraçou o
Vaticano que não soube o que responder.
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Dom Antônio sempre gostou de salientar, agradecido, seu bom relacionamento com todo o Clero. |
Foi também essa mesma fidelidade à Igreja que o
levou, juntamente com o outro grande Bispo católico que se manteve
fiel à Tradição, Dom Marcel Lefebvre, a apresentar ao S. P. João
Paulo II, com toda a franqueza, assim como São Paulo diante de São
Pedro, por duas vezes, sérias respeitosas e enérgicas reflexões
sobre a atual auto-demolição da Igreja, concretizada nos erros
contidos nos documentos do Concílio Vaticano II e nas reformas
pós-conciliares, infelizmente patrocinados pelos membros atuais da
hierarquia, em total discordância com a doutrina e prática
multissecular da Igreja.
Durante muitos anos, Dom Antônio apoiou a
Sociedade Brasileira de defesa da Tradição, Família e Propriedade
(TFP), naquilo que este movimento refletia a doutrina católica: a
luta contra o comunismo, a reforma agrária socialista e
confiscatória, o divórcio, etc... Mas, no momento em que ele
percebeu os desvios deste movimento, ele soube, com toda a firmeza,
romper com ele e negar o seu apoio, deixando assim para a
posteridade o grande exemplo de que não devemos ser seguidores
incondicionais de pessoa alguma, a não ser de Nosso Senhor, e que
por fidelidade à verdade de Nosso Senhor deve-se ter a coragem de
abandonar tudo o mais, ainda que seja uma amizade de mais de
quarenta anos. O que importa é ser fiel à Santa Igreja e à sua
doutrina.
Esta fidelidade sempre presente os diocesanos
quiseram perpetuar com a placa de bronze na fachada da
Catedral-Basílica, que assim reza: "A Dom Antônio de Castro Mayer,
zeloso, sábio e prudente Bispo de Campos, a gratidão dos fiéis pelos
33 anos dedicados à causa da Fé e à salvação das almas. Campos, 1º
de novembro de 1981".
A sua amável simplicidade desmente quaisquer
falsas idéias que tentassem propalar sobre a sua pessoa. Sua
humildade, que nunca o levou a buscar a publicidade mundana, seu
zelo pastoral sério, que nunca quis transformar a Igreja em um clube
de serviços, sua piedade nas cerimônias, que preservava as Igrejas
de espetáculos e profanações, seu amor pelos sacerdotes, que o
levava a tratar os padres, mesmo os que com ele não concordavam, com
respeito, caridade e discrição, sua filial devoção do Santo Rosário.
Todas essas virtudes são, ao lado de sua fidelidade à Tradição, o
melhor testemunho e lição para os pósteros.
E nesta comemoração dos seus 60 anos de
ministério sacerdotal a serviço do Senhor, seguindo aquele mesmo
programa de São Paulo, podemos, com toda a propriedade, colocar na
boca de S. Exa. as mesmas palavras com que o Apóstolo resumia a sua
vida: "Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei
a Fé. Resta-me esperar a coroa da justiça que o Senhor, Justo Juiz,
me dará neste dia, e não só a mim como a todos os que desejam a sua
vinda".
S. Exa. pode exclamar como o Padre Lacordaire
no final dos seus dias: "Se minha espada está gasta, gastou-se no
vosso serviço, Senhor!".
O lema de seu escudo episcopal é para nós um
brado de esperança: "IPSA CONTERET". Ela esmagará. Na tormenta atual
por que passamos, escurecidos por nuvens sombrias de erros e
heresias, S. Exa. nos aponta a Estrela do Mar, o Auxílio dos
Cristãos, a Vencedora das grandes batalhas de Deus, Nossa Senhora.
A Ela, à quem ele consagrou várias vezes a
Diocese, a Ela que, desde a sua chegada ordenou que invocássemos
após a Santa Missa implorando a preservação da Fé e a extirpação das
heresias, a Ela devemos confiar a nossa situação, recorrer nas
aflições presentes com inteira confiança na vitória. Vitória de
Nosso Senhora e da Santa Igreja. Vitória da verdade. Vitória da
Tradição contra o erro. "Ipsa conteret"! Ela esmagará mais uma vez a
cabeça da serpente enganadora, como Deus o prometeu no Paraíso.
Que Deus proteja e conserve por muitos anos
este ínclito Bispo da Santa Igreja, Dom Antônio de Castro Mayer.
Pe Fernando Arêas Rifan
I
Essa Cruz que trazeis, pequenina e dourada,
Me recorda outra Cruz, em madeira talhada,
Maior, de mais valor...
No cimo do Calvário, um dia, foi plantada,
De seus braços pendeu a vítima imolada,
O nosso Salvador.
II
Ao Divino Pastor fostes configurado.
A Graça vos marcou. Estais crucificado
Em místico Calvário.
Conheceis a aspereza e as urzes do caminho,
Das lágrimas o travo, e o fel e o
sangue e o espinho
Em vosso itinerário.
III
Sois Jesus entre nós. Mestre, Pastor e Guia,
Firme nos conduzirá à fértil pradaria
Da Fé, da Tradição.
Vossa Pena é água pura ao povo sequioso,
Vossa palavra clara é farol luminoso
Em meio à escuridão.
IV
A Deus ofereceis no Altar do Sacrifício
O Cordeiro imolado e, no Divino Ofício,
Como um novo Moisés,
Sustando a ira do céu, que provocamos tanto,
A justiça aplacais do Deus três vezes Santo,
Genuflexo a seus pés.
V
Seguindo pela estrada escura, infinda e amarga
Desta crise atual, suportando uma carga
De dores, que nos cansa,
Olhamos para Vós, marchando à nossa frente,
E vemos renascer em nosso peito, ardente,
A chama da esperança.
VI
Salve! Bispo da Igreja, indômito guerreiro,
Sentinela da Fé, arauto e pregoeiro
Da Virgem, Mãe de Deus!
Enquanto o mundo vão vocifera e se agita,
No seio maternal desta Mulher Bendita
Deus arrebanha os seus.
VII
ELA vai esmagar as hostes de Satã.
A treva de hoje augura o sol de um amanhã,
Radioso novo dia:
A IGREJA vitoriosa e pujante que avança,
Florescente de Fé, de Paz e de Esperança,
No Reino de Maria!
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Pe. Emanuel José Possidente
Retirado da Revista Heri et Hodie, nº 46
Campos, outubro de 1987
Artigo de : Pe. Fernando Arêas Rifan.
Poesia de: Pe. Emanuel José Possidente.