Chegou até mim este artigo, publicado em Espanhol, com uma pequena resenha sobre um livro que foi publicado há quase um ano e ainda era desconhecido por aqui.
Interessante notar que este tal GREC é/era formado também por sacerdotes que eram da FSSPX e dela saíram (seja de vontade própria, seja expulsos) e que continuaram a participar de um grupo que tinha plena autorização do superior geral da FSSPX para “trabalhar”. E eu me pergunto: como assim? Um grupo que contava com afetos e desafetos e... continuava a funcionar? Até que ponto eram mesmo desafetos? Até que ponto a saída deles da FSSPX não havia sido orquestrada? Certo é que parece coisa de gente suja: pelo "elenco", pelos objetivos, pelos resultados.
A resenha é sucinta demais, e espero mesmo que alguma alma caridosa que domine o Francês possa traduzir para o Português esse livro que, penso, colocará a nu a verdadeira fisionomia do superior geral que cada vez mais me parece não ser mesmo um filho de Monsenhor Lefebvre.
Giulia d'Amore
O GREC E A FSSPX: “Por uma necessária reconciliação”
“Gentiloup” do fórum “Un évêque s'est levé!” acaba de ler o livro de Padre Lelong[1] sobre o GREC[2] intitulado “Por uma necessária reconciliação”. Aqui está a análise que faz da leitura:
Resenha do livro “Por uma necessária reconciliação”, promovido pelo GREC:
Acabo de ler o livro do Padre Michel LELONG, intitulado “Por uma necessária reconciliação” –Livro lançado em Dezembro de 2011.
É uma pequena obra de 159 páginas não muito emocionantes, mas de leitura rápida.
Expõe o que o GREC, Grupo de Reflexão Entre Católicos.
Este livreto resume o trabalho feito pelo GREC; é uma espécie de testemunho do autor que esteve desde o início de sua formação. Seu objetivo é o de trabalhar pela adesão da FSSPX à Roma conciliar, reconhecendo o Concílio. Contudo, este livreto esclarece, acidentalmente, os desvios nos quais caiu a cabeça da FSSPX e demonstra por que a reunião com a Roma conciliar pôde gangrenar tantos espíritos dentro da FSSPX.
Este grupo de reflexão foi fundado em 1997 com o objetivo de integrar a FSSPX à Roma modernista fazendo-a aceitar o Concílio Vaticano II.
Os fundadores são o casal Pérol: o Sr. Pérol[3] foi embaixador da França em Roma. E o Padre Michel Lelong, autor do livro, é também um fervoroso defensor do diálogo inter-religioso e do Concílio.
O objetivo do GREC não é ambíguo, está claramente definido ao longo do livro por diferentes protagonistas: “Interpretar o Vaticano II à luz da Tradição”, segundo a fórmula que João Paulo II deu a Monsenhor Lefebvre em 1978.
O Padre Michel Lelong está convencido das bondades do Concílio e, particularmente, das bondades de “Nostra Aetate”, ele que é um especialista do diálogo com os muçulmanos.
A ideia do senhor Pérol era fazer com os católicos tradicionais da FSSPX o diálogo que se pratica com as outras religiões e, portanto, lamentou que a FSSPX tivesse sido excluída.
O Padre Lorans[4], um dos quatro fundadores do GREC, é o porta-voz do distrito [da FSSPX] da França. Ele obteve de Monsenhor Fellay a autorização de dialogar “por uma necessária reconciliação”. Sempre esteve muito atento em manter Monsenhor Fellay a par dos avanços desse diálogo.
A meta deste grupo foi definida pelo Sr. Pérol pouco antes de sua morte: trata-se de “interpretar o Vaticano II à luz da Tradição”, o que Bento XVI viria a chamar de “hermenêutica da continuidade” em oposição à hermenêutica da ruptura. Uma hermenêutica da ruptura que comprovou Monsenhor Lefebvre após um longo caminho de tentativas de acordo com esta igreja conciliar. Ao final da jornada, só pôde comprovar que era impossível; dai as sagrações dos quatro bispos em 1988.
O grupo iniciou suas atividades como um pequeno comité ao redor da Senhora Pérol[5] e de Padre Michel Lelong, com o Padre Emmanuel du Chalard[6], “que não deixou de dar ao GREC um apoio tão discreto como atento”.
“Dois outros sacerdotes contribuíram de maneira decisiva à criação e, portanto, à vida de nosso pequeno grupo de reflexão entre católicos. Um deles, que já voltou a Deus, era o Padre Dominicano Olivier de la Brosse[7], o outro, o Padre Lorans da FSSPX. Eu (Padre Lelong) o conheci em 1997, durante uma refeição para a qual nos convidou a Sra. Pérol. Nesse dia nasceu o GREC” (p. 24).
Observação: Esta reunião foi realizada em Roma, na casa da Sra. Pérol.
-O Padre Olivier de la Brosse, falecido em 2009, foi porta-voz da Conferência dos Bispos da França.
-O Padre Lorans era porta-voz do distrito da França. Este último obteve de Monsenhor Fellay a autorização de dialogar “por uma necessária reconciliação” com este grupo.
Então, temos os quatro fundadores do GREC:
• Senhora Pérol,
• Padre Michel Lelong,
• Padre Lorans e
• Padre de La Brosse.
Nos meses seguintes, os diferentes protagonistas fizeram êmulos em suas respectivas comunidades.
Logo, as conferencias serão organizadas, mas sem grandes alardes, tinham que permanecer confidenciais.
“Quando nos encontrávamos na amizade, escreve o padre Michel Lelong, penso frequentemente em Gilbert Pérol que, ao participar ativamente do diálogo entre muçulmanos e cristãos, teve a ideia deste diálogo entre católicos” (p. 27).
Os Núncios Apostólicos sucessivos e outras diferentes personalidades da igreja conciliar apoiaram este grupo. Essas personalidades informavam regularmente ao Papa sobre o progresso do diálogo.
O superior do distrito da França da Fraternidade São Pedro, o padre Ribeton[8], se juntou ao grupo, assim como, um pouco mais tarde, fez o do (Instituto) Cristo Rei e Sumo Sacerdote etc.
Para abreviar este resumo, é preciso saber que a iniciativa do levantamento das excomunhões dos quatro bispos da FSSPX provém do GREC. Foi solicitada por causa do Jubileu do ano 2000. Em qualquer caso, é o que nos diz explicitamente o padre Lelong nesta obra citando trocas de e-mails entre este grupo, as autoridades romanas e o superior da FSSPX.
Têm-nos dito que a iniciativa veio da FSSPX, mas isso não é inteiramente verdade, porque a primeira iniciativa veio do GREC.
Sem cessar, se mencionam as palavras “plena comunhão”.
“Quanto a mim, por ter sido um sacerdote durante 50 anos, e por ter dedicado meu ministério às relações entre a Igreja e os muçulmanos, estou profundamente ligado aos ensinamentos do Concílio Vaticano II, e me esforço para que aqueles irmãos católicos que têm seguido Monsenhor Lefebvre e seus seguidores o conheçam e o compreendam” (Padre M. Lelong, p. 42).
Portanto, a mensagem é muito clara; que Monsenhor Fellay não se ponha a brincar de “virgens assustadas” pretendendo ter descoberto repentinamente, em 2012, por meio de uma correspondência do Papa, que se espera que a FSSPX reconheça o Vaticano II.
Isso estava claro desde o início das conversações com o GREC!
Em 6 de janeiro, o padre de la Brosse enviou uma correspondência ao Cardeal Castrillon Hoyos (Comissão Ecclesia Dei) para referir-lhe acerca do colóquio “Tradição e Modernidade”, organizado pelo GREC em 22 de novembro de 2003, em Paris:
“Monsenhor Philippe Breton, que a nosso pedido foi designado por Monsenhor Ricard, Presidente da CEF[9], como ‘Bispo referente’ deste grupo, participou da reunião e presidiu a oração de abertura; o Padre Lorans da FSSPX presidiu a oração final. (...) O objetivo do colóquio aparentemente foi atingido: católicos franceses de sensibilidades diversas e até opostas concordaram comprometer-se em um diálogo que não prejudica em nada uma reconciliação total. Isto está reservado aos superiores competentes – porém se tem a possibilidade, quando chegar o dia, que as instâncias de diálogo encontrem diante delas companheiros capazes de compreensão e de respeito mútuo (...). O número de participantes foi de 40 pessoas, todas foram convidadas a título individual pelos membros do grupo (...). Tem sido observada uma grande discrição, a pedido expresso de Monsenhor Ricard, com relação às nossas intenções. Nenhum jornalista profissional esteve presente na sala. Nenhuma informação ou comentário vazou nos dias seguintes, nem na imprensa católica e nem na laica”. (pp. 45-46).
“Assim, graças ao apoio do Núncio Apostólico e também de padre Barthe[10], o Cardeal Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, se manteve informado de nossas atividades (...). A eleição de Bento XVI foi acolhida (...) com muita esperança (...). sabe-se, de fato, como, desde os primeiros meses de seu pontificado, o novo Papa quis encontrar Monsenhor Fellay; em seguida, dez declarações e tomou decisões que revelam claramente a sua vontade de restabelecer a unidade na Igreja por uma hermenêutica da “continuidade” e não “da ruptura”, em relação aos ensinamentos do Concílio Vaticano II” (pp. 48-49).
Depois do Motu Proprio de 2007, os organizadores do GREC enviaram novamente uma carta ao Papa para pedir-lhe de novo o levantamento das excomunhões.
Segue, a partir da página 55, uma narrativa das atividades do GREC e das personalidades de diferentes classes que passam a se envolver neste processo.
Após o encontro do Papa e Monsenhor Fellay em 2005, o GREC cresceu: pelo lado da FSSPX notamos, entre outros: o Padre [Grégoire] Celier, muito ativo, muito presente; Jacques Régis du Cray, e Marie-Alix Doutrebente etc.
N. DA R.: Muitos sacerdotes da FSSPX e não os menores (afora dos citados, que estão fortemente envolvidos), participaram dos trabalhos do GREC, muitas vezes, na qualidade de palestrantes. Alguns são mencionados no livro, outros não, mas conheço seu envolvimento. Prefiro não mencionar seus nomes, precisamente por não conhecer sua posição atual diante do acordo[11].
Foi então que os colóquios demonstram “convergências doutrinais e espirituais” entre as duas partes.
“Aos 10 de junho de 2010, uma reunião do GREC estava destinada a dar o seu apoio ao Papa depois de ‘uma campanha da mídia particularmente injusta’, em torno ao Padre Matthieu Rouge, Reitor da Basílica de São Clotilde em Paris (...) e de Padre Lorans, encarregado da comunicação da FSSPX. Essa noite, graças aos comentários feitos pelos dois discursadores e ao debate que se seguiu, se percebeu como era esperada e desejada a reconciliação entre todos os católicos em torno do Papa Bento XVI e graças a ele. Para dar sua contribuição, foi durante o ano universitário 2010-2011 que o GREC dedicou suas reuniões ao Concílio Vaticano II, a Monsenhor Lefebvre e ao Motu Proprio Summorum Pontificum, com a participação de historiadores e de teólogos com pontos de vista diferentes” (p. 68).
“Enquanto escrevo estas linhas, se pode esperar que esses encontros conduzirão sem demora a um acordo. Mas, para isso, é necessário que a FSSPX compreenda que, se ela tem muito a dar à Igreja de Roma, também tem muito a receber. Para isso, é necessário que ela deixe de rejeitar em bloco o Vaticano II e que aceite suas grandes orientações, interpretando-as como o propõe atualmente o Santo Padre” (Padre Lelong, p 85).
Seguem os testemunhos de diferentes atores do GREC, sendo (pela FSSPX): o Padre Lorans, Marie-Alix Doutrebente e Jacques-Régis du Cray.
Um lugar muito importante é dado a Padre Aulagnier, quem começou desde antes da fundação do GREC, em 1992, a entabular o diálogo com os conciliares (nomeadamente com o padre abade de Randol[12], Dom de Lesquen[13]); isso aconteceu quando era superior distrito da França. Ele continuou com este papel mais tarde, quando se converteu em membro do IBP.
Tenho sido muito contente de iniciar, desde 1992, sendo superior do distrito da França da FSSPX, novos contatos com as autoridades eclesiais reconhecidas. Passando um dia por Randol (...) o padre abade Dom de Lesquen discutia com um jovem na praça do mosteiro. Sabendo o papel que desempenhou com Dom Gérard quando de sua abordagem de 10 de julho de 1988 com Roma, o abordei e lhe fali (...) da grande aproximação com Roma, de uma normalização da FSSPX com Roma (...)” (Padre Aulagnier, p. 104).
Para compreende o processo de adesão a Roma, é suficiente conhecer o trabalho subterrâneo deste grupo, cujos membros são cooptados...
Lembrete: Este livro foi publicado em dezembro de 2011.
Este livro é muito importante de conhecer para saber, no futuro, o que não deve se fazer: nenhuma discussão doutrinária em nenhum nível, enquanto Roma não se converta.
Este foi a ordem deixada por Monsenhor Lefebvre e que prevaleceu até o acordo fracassado de junho de 2012:
Nenhum acordo canônico sem o acordo doutrinário prévio.
Os inferiores não fazem aos superiores; a FSSPX, depois de um acordo canônico, se encontraria sob a autoridade do Papa modernista e das congregações conciliares.
A verdade não suporta o mínimo compromisso com o erro; este processo iniciado pelo GREC nada mais é do que uma busca por compromisso.
Como conclusão, tomemos as palavras do Padre Hewko:
“O Padre Ludovico Barrielle (tão reverenciado pelo arcebispo) comentou em 1982: ‘Escrevo isso para que sirva de lição para todos. O dia em que a FSSPX abandonar o espírito e as regras de seu Fundador, estará perdida. Além disso, todos os nossos irmãos que, no futuro, se permitam julgar e condenar ao Fundador e seus princípios, não duvidarão eventualmente de afastar a Fraternidade do ensinamento tradicional da Igreja e da Missa instituída por nosso Senhor Jesus Cristo”.
Fonte: Non Possumus
Tradução e notas: Giulia d’Amore di Ugento
[3] Gilbert Pérol, embaixador em Roma (1988-1992). Foi casado com Huguette Pérol, escritora, teve três filho (Jean-Philippe, Jérôme e Hughes).
[4] Padre Alain Lorans, da FSSPX, diretor de DICI, órgão midiático da FSSPX.
[5] Madame Huguette Pérol, viúva do embaixador Gilbert Pérol.
[6] Emmanuel du Chalard de Taveau (1950) é sacerdote da FSSPX, diretor do ‘Courrier de Rome’ (versão francesa da revista Sì sì, no no) e foi um dos primeiros colaboradores de Mons. Marcel Lefebvre. Desde os primeiros anos na Itália, foi um dos mais importantes artífices da difusão da FSSPX em solo italiano. Desde então, sempre manteve relações informais com a Santa Sé em nome da Fraternidade, adquirindo um particular conhecimento dos diferentes eventos que caracterizaram a relação entre Roma e Ecône.
[7] Padre Olivier de la Brosse: biografia em francês.
[8] Padre Vincent Ribeton, superior do distrito da França da Fraternidade São Pedro. Wikipédia (Francês).
[9] Conferência Episcopal Francesa.
[10] Padre da Diocese d’Auch, teólogo e vaticanista francês. Foi ordenado padre por Monsenhor Lefebvre, mas foi, depois, expulso da FSSPX por sedevacantismo. Permenceu um período, segundo seus termos: em estado de “d'apesanteur canonique” até 2005, quando é regularizado pela Ecclesia Dei. Foi capelão da peregrinação "Una Cum Papa Nostro", organizada em Roma de 1º a 3 de novembro de 2012. Ensinou no IBP e atualmente no Instituto de Cristo Rei e Sumo Sacerdote.
[11] Precaução inútil, uma vez que no livro devem ter sido mencionados.
[12] Randol é uma Abadia beneditina, na França.
[13] Dom Eric de Lesquen é o “pseudo-padre da igreja Conciliar e abade da Abadia de Notre Dame de Randol que, de acordo com a revista Famille chrétienne de 07 de fevereiro de 2009, desempenhou ‘um papel-chave nos contatos com a FSSPX’. Dom Éric de Lesquen é ninguém menos que o irmão de Henry Lesquen que assumiu o controle da Radio Courtoisie depois de Jean Ferré, e que impôs uma verdadeira censura nessa rádio supostamente do "país real". Na realidade, os fiéis e o clero puderam constatar que as reuniões de todos os tipos ocorreram a seu critério, o louvor a Ratzinger-Bento XVI se desenvolveu sem obstáculos, e os padre Tanoüarn, Barthe, Celier e Lorans ocupam o terreno como representantes da Tradição, mas para ser honesto: promovido secretamente pelos círculos favoráveis à tomada de controle da FSSPX pela Roma modernista. Cf. “Une BOMBE: le concubinage doctrinal du Père Lelong avec l’erreur révèle la subversion de la FSSPX par le cercle du G.R.E.C.” – Item 11. Aliás, texto interessante de ser lido na íntegra.