Non tanget illos tormentum mortis – "Não os tocará o tormento da morte" (Sap. 3, 1).
Sumário.
Desde o grande dia em que a Santíssima Virgem teve a felicidade e ao
mesmo tempo a dor de assistir no Calvário à morte de Jesus Cristo,
tornou-se protetora especial dos pobres moribundos. Quando a divina Mãe
vê um seu devoto nestes extremos, ordena a São Miguel que o defenda
contra os assaltos do demônio e ela mesma também vai assisti-lo e
socorrê-lo. Avivemos, pois, a nossa devoção para com Maria, e, ainda que
pecadores, esperemos que também nós havemos de gozar da sua proteção na
hora de nossa morte. Oh! Que doce consolação morrer entre os braços de
Maria!
I.
Os amigos do mundo não deixam o amigo enquanto está em prosperidade;
mas se vem a cair em alguma desgraça, e especialmente à hora da morte,
logo os amigos o deixam. Não faz assim Maria com os seus devotos. Nas
suas angústias, e em particular nas da morte, que são as maiores que se
pode ter na terra, nossa boa Mãe não sabe desamparar os seus fiéis
servos. Assim como ela é nossa vida no tempo de nosso desterro, assim
também quer ser doçura na hora suprema, alcançando para nós uma morte
doce e preciosa, pelo que a Igreja lhe conferiu o belo título de Auxilio dos agonizantes.
Desde
o grande dia em que Maria teve a felicidade, e ao mesmo tempo a dor de
assistir à morte de Jesus seu Filho, que foi a cabeça dos predestinados,
adquiriu a graça de assistir também a todos os predestinados na sua
morte. E por isso, como diz São Boaventura, ela manda que o arcanjo São
Miguel vá com outros espíritos celestiais defender seus filhos
moribundos das tentações do demônio e receber suas almas a fim de as
levar ao tribunal divino.
E
não contente com isso, nossa piedosa Rainha, como prometeu à Santa
Brígida, virá ela mesma e muitas vezes visivelmente assistir a todos os
devotos que a serviram fielmente e se-lhe recomendaram continuamente.
Assim, efetivamente, lemos que ela apareceu a Santa Clara de Montefalco,
a Santa Teresa de Jesus, a São Pedro de Alcântara e a centenas e
milhares de outros. Ó Deus! Que consolação será para um filho de Maria,
quando no supremo momento de sua vida, em que se há de decidir a causa
de sua eterna salvação, vir ao pé de si a Rainha do céu, para o defender
dos assaltos dos demônios e lhe prometer a sua proteção!
II.
Quando São João de Deus estava para morrer, esperava a visita de Maria
Santíssima, da qual era muito devoto; mas, vendo que ela não aparecia,
estava aflito e lamentoso; eis que a divina Mãe lhe aparece e, como que
repreendendo-o de sua pouca confiança, lhe diz: "Meu João, não sabes que
eu não desamparo os meus devotos na hora da morte?" – Animemo-nos,
pois, e tenhamos confiança em que a Virgem virá assistir-nos na hora da
morte e consolar-nos com a sua presença, se nós a servirmos com amor, ao
menos no tempo de vida que ainda nos resta.
Ó
Maria Santíssima, Mãe de bondade e misericórdia, quando me lembro dos
meus pecados e penso no momento da minha morte, estremeço de espanto. Ó
Mãe terníssima, todas as minhas esperanças são fundadas nos méritos de
Jesus Cristo e na vossa intercessão. Ó Consoladora dos aflitos, não me
abandoneis então, não deixeis de me consolar nessa extrema aflição. Se
agora estou tão atormentado pelo remorso dos pecados cometidos, pela
incerteza do perdão, pelo perigo de recair e pelo rigor da justiça
divina, que será de mim naquele momento?
Ah,
Soberana minha! Antes que a morte chegue, dai-me uma viva dor dos meus
pecados, uma verdadeira emenda, e a fidelidade a Deus para o resto de
minha vida. E quando soar a hora derradeira, ó Maria, minha esperança,
assisti-me nas cruéis agonias em que me achar; sustentai-me para que não
me desespere à vista dos pecados que o demônio me há de por diante dos
olhos. Obtende-me a graça de vos invocar mais vezes então, a fim de que
expire tendo nos lábios o vosso dulcíssimo nome e o vosso divino Filho.
Esta graça, vós a tendes feito a muitíssimas almas que vos eram
dedicadas; eu a quero e espero para mim também.
"E
Vós, ó meu Deus, que quisestes que a Virgem Maria, Mãe de vosso
Unigênito, estivesse presente quando Ele estava pregado na cruz pela
nossa salvação: concedei-me, suplico-Vos, que, achando-me no fim da
vida, também eu seja socorrido pela sua intercessão, e alcance a
recompensa eterna. Fazei-o pelo amor de mesmo Jesus Cristo."(1)
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(1) Or. Eccl.
LIGÓRIO,
Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo
III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do
ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 131-133.)
São Pio V
São Pio V
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