A última polêmica vaticana: Não há boi nem burro!
Por Giulia d'AmoreNatividade (detalhe) - Frá Angélico |
Natividade - Frá Angélico |
Em uma breve e rápida pesquisa, colhi estes excertos que podem nos ajudar a compreender porque Bento XVI errou.
“Um burro e um boi: Os animais representam a simplicidade do local onde Jesus nasceu. ‘Jesus não nasceu em palácios, nem em lugares luxuosos, mas sim no meio dos animais’.” (Wikipédia. As figuras do presépio.) O texto entre aspas está em referências.
Natividade - 1304-1306 - Giotto |
“As formas de representação em desenhos ou pinturas, com as cenas do presépio, surgiram no século IV, no Oriente Médio. Naquela época, a Sagrada Família (Lc 2, 16), o jumento e o boi (Is 1, 3) eram os personagens e figuras principais. Segundo a Bíblia, estes são animais do jugo (canga) e precisam ser domados para servir aos humanos. De forma semelhante, as pessoas necessitam de disciplina e educação para servir a Deus e ao próximo. Assim, nós os cristãos, estamos sob o jugo do Evangelho de Jesus (Mt 11, 30)”. (A12.)
Natividade - 1310 - Giotto Magnífica obra de Giotto com seu magnífico azul Impressão minha ou o boi e o burro sorriem? |
“A palavra ‘presépio’ (praesepium), de origem hebraica, significa ‘manjedoura dos animais’ ou ‘estábulo dos animais’.” (Franciscanos.org.)
St Bridget and the Vision of the Nativity after 1372 NICCOLÒ DI TOMMASO |
Adoration of the Christ Child - 1490. PINTURICCHIO |
“UM BOI E UM BURRO NO PRESÉPIO, POR QUÊ?[3]:
O mistério deste burro e deste boi é uma das imagens mais belas da antiga iconografia cristã (arte de representar um simbolismo religioso por meio de figuras).
O burro e o boi são elementos presentes em cada representação do presépio; motivos tão obrigatórios que, quando a cena por razões de espaço ou de sobriedade, se reduz aos elementos essenciais, o par de animais não é tirado.
A presença contínua dos dois animais nasce de finalidades simbólicas.
Natividade
Duccio da Buoninsegna
Corresponde a uma interpretação patrística de duas profecias existentes na Bíblia: a de Isaias 1,3 “conhece o boi o seu patrão e o burro o estábulo de seu dono” e a de Habacuc 3,2, “em meio a dois animais te manifestarás”.
Os animais são ali um símbolo do reconhecimento do Messias, um símbolo cheio de profundo significado. O boi, segundo a melhor interpretação patrística, é o povo de Israel, que levou o jugo da lei. Enquanto que o burro, animal de carga, é o povo gentio, carregado de pecados e de idolatrias. Destes dois povos nasceu a Igreja que reconhece o Jesus como seu Senhor.
O burro e o boi são dois componentes originais da Igreja: a igreja dos gentios (nós, que não somos judeus) e a igreja dos circuncidados (os judeus convertidos ao cristianismo), para adotar uma terminologia do apostolo Paulo. Conforme Gálatas 2,8 ss, não são apenas dados folclóricos, são esplêndidos símbolos eclesiais, ou seja, da Igreja”. (Canto da Paz.)
Como é sabido, para escrever esse tipo de livros, o Papa não goza da infalibilidade que lhe foi dada do Alto para assuntos de Fé. Ainda bem, porque todos os livros que BXVI publicou após subir ao trono vaticano têm sido motivo de escândalo e polêmicas; e algumas retratações.
Assim, tecnicamente, o que o Papa fala sobre a presença do burrico e do boi no Presépio vale tanto quanto fala qualquer outro ser humano neste mundo, católico ou não.
Portanto, não sejam “vaquinhas de presépio” que dizem sim a tudo, sem fazer uso da razão!
[1] “A Infância de Jesus”. O último de uma trilogia, o livro está à venda em 50 países, em oito línguas, com tiragem de um milhão de exemplares. Nos próximos meses vai estar disponível em 20 línguas, em 72 países. O primeiro volume tratou da vida de Cristo desde o Batismo à Transfiguração: “Jesus de Nazaré”, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2007 (PDF.) O segundo: “Jesus de Nazaré. Parte II - Da entrada em Jerusalém até à Ressurreição”, Cascais, Princípia, 2011.
[2] O “Magnum Mysterium" é um canto responsório entoado nas Matinas. Um grande número de compositores utilizou-o em obras musicais de diferentes estilos; entre os mais célebres estão Byrd, Tomas Luis de Victória, Gabrieli, Palestrina, Poulenc, Harbison, La Rocca, Sinigaglio Lauridsen, Busto e Miskinis: “O magnum mysterium et admirabile sacramentum ut animalia viderent Dominum natum jacentem in praesepio! Beata Virgo, cujus viscera meruerunt portare Dominum Christum Alleluia”.
[3] Texto elaborado por Fernando S. dos Santos, com base no Livro: Arte Sacra - O Espaço Sagrado Hoje, do Cláudio Pastro - origem do texto: www.catedralsaomiguel.org.br. O texto sofreu pequenas modificações para uma melhor compreensão dos leitores.
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Ainda sobre o Natal - http://farfalline.blogspot.com/2016/12/o-assunto-e-o-natal-de-nosso-senhor.html.
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