Eu sou muito devota desta Santa Mártir:
Santa Margarida Clitherow, a “Pérola de York”
Memória 25 de março
Mãe de família, católica destemida e mártir, brilhou pela fidelidade à verdadeira Igreja e pelo destemor com que enfrentou seus inimigos
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de Plinio Maria Solimeo
Pode-se afirmar que não existe ódio maior do que aquele que se insurge contra a verdade religiosa. Temos exemplo disso no requinte de crueldade com que foram tratados os primeiros cristãos. E também no sofrimento dos católicos durante a pseudo Reforma Inglesa nos séculos XVI e XVII. Um desses mártires foi Santa Margarida Clitherow. Primeira mulher a ser martirizada nessa época, ela foi esmagada sob um peso de cerca de 700 quilos, por não querer renegar a verdadeira fé católica e por albergar sacerdotes católicos.
A “ILHA DOS SANTOS” SOB TORMENTA
A Inglaterra foi outrora chamada a Ilha dos Santos. Entretanto, desde a Idade Média, seus reis se tornaram em geral prepotentes no tocante aos direitos da Igreja. Isso levou, por exemplo, ao martírio de São Tomás Becket [http://migre.me/dthva] (1170). Posteriormente, em 1531, Henrique VIII rompeu com o Papa por este negar-se a anular seu legítimo casamento com Catarina de Aragão. O lúbrico rei declarou-se “Protetor e Cabeça Suprema da Igreja da Inglaterra”. Assim nasceu o anglicanismo.
Pode-se afirmar que não existe ódio maior do que aquele que se insurge contra a verdade religiosa. Temos exemplo disso no requinte de crueldade com que foram tratados os primeiros cristãos. E também no sofrimento dos católicos durante a pseudo Reforma Inglesa nos séculos XVI e XVII. Um desses mártires foi Santa Margarida Clitherow. Primeira mulher a ser martirizada nessa época, ela foi esmagada sob um peso de cerca de 700 quilos, por não querer renegar a verdadeira fé católica e por albergar sacerdotes católicos.
A “ILHA DOS SANTOS” SOB TORMENTA
A Inglaterra foi outrora chamada a Ilha dos Santos. Entretanto, desde a Idade Média, seus reis se tornaram em geral prepotentes no tocante aos direitos da Igreja. Isso levou, por exemplo, ao martírio de São Tomás Becket [http://migre.me/dthva] (1170). Posteriormente, em 1531, Henrique VIII rompeu com o Papa por este negar-se a anular seu legítimo casamento com Catarina de Aragão. O lúbrico rei declarou-se “Protetor e Cabeça Suprema da Igreja da Inglaterra”. Assim nasceu o anglicanismo.
Quem não concordasse com seu divórcio e a adoção desse título, ele mandava decapitar, como sucedeu com São Tomás Morus [http://migre.me/dthxk] e São João Fisher [http://migre.me/dthyq], em 1535. Por igual motivo ordenou a execução de alguns monges cartuxos e franciscanos. A partir de então, por circunstâncias diversas, foi-se dando a gradual protestantização do que restara de católico na religião anglicana. E o cerco aos católicos foi se tornando cada vez mais estreito, sendo vários deles martirizados.
Em 1558, a ímpia Elisabeth I sucedeu a seu pai no trono. Ela não só seguiu a funesta política de Henrique VIII, mas radicalizou-a cada vez mais. Assim, foi necessário aos católicos fiéis, principalmente aos membros do clero, ocultarem-se para praticar a Religião verdadeira, sob a ameaça constante de prisão e morte. A Santa Missa foi proibida, e a população obrigada a participar dos “serviços” nas igrejas anglicanas.
RADICAL CONVERSÃO À VERDADEIRA FÉ
Nesse contexto, em York, pelo ano de 1556, nasceu Margarida, filha de Tomás Middleton, um bem-sucedido comerciante de cera e comissário da cidade. Em 1571 ela se casou com João Clitherow, fazendeiro e açougueiro abastado, que exercera e exerceria ainda vários cargos públicos em York. Tornado um de seus mais ricos cidadãos, ele foi autorizado a usar o Sir antes do nome. Margarida o ajudava no açougue, sendo muito querida dos clientes por causa de sua honestidade e simpatia.
A família de Tomás Middleton não opusera resistência à nova religião e à rainha como cabeça da “igreja”. Por isso Margarida foi educada no anglicanismo.
Apesar de não saber ler nem escrever — uma das consequências da perseguição foi a supressão das ordens religiosas e do sistema educacional inglês —, Margarida tinha boa inteligência e muita perspicácia. Analisando a religião na qual se educou, “não encontrou substância, verdade nem consolo cristão nos ministros da nova igreja, nem em sua doutrina; ao inteirar-se de que muitos sacerdotes e leigos sofriam ao defender a antiga fé católica” – comenta seu confessor e biógrafo, Pe. João Mush1 – Margarida quis instruir-se nela, convertendo-se três anos depois de casada.
A nova convertida entregou-se com ardor à prática da Religião católica. Rezava longamente, confessava-se com frequência, e quando algum padre celebrava a Missa secretamente em alguma casa católica, ela a assistia e comungava.
Mas o ardor de Margarida não se limitava a isso: ela se dedicou ao apostolado, procurando confirmar na fé os católicos perseguidos e tentando reconduzir ao seio da Igreja os que dela haviam se afastado por fraqueza.
João Clitherow, que por comodidade seguia a nova religião, dava entretanto toda a liberdade à esposa. Dizia encontrar nela somente dois defeitos: jejuava muito e não o acompanhava à igreja anglicana, o que lhe mereceu algumas multas. Quando a esposa começou a albergar em sua residência padres proscritos, ele preferiu ignorar o fato, para ficar em paz com sua consciência e não ter que delatar a esposa.
O casal Clitherow teve três filhos: Henrique, Ana e William, nascido na prisão. Com licença do marido, Margarida criou-os na Religião católica. Como não havia feito estudos, contratou um tutor católico para instruí-los. Com o tempo, enviou o filho mais velho ao seminário de Douai, na França. Como isso era considerado crime, ela foi novamente presa. Depois de sua morte, os filhos perseveraram na fé: os rapazes se tornaram sacerdotes e a moça, religiosa.
CONVERSÃO CONSIDERADA COMO TRAIÇÃO
A situação, porém, piorava gradativamente para os católicos fiéis. Em 1581, o governo da cruel rainha anglicana promulgou os Decretos de Persuasão [http://migre.me/dthB6] declarando a conversão de alguém à fé católica crime de alta traição. O Decreto restringiu em grande medida a ação de Margarida. Ela foi logo considerada como suspeita e presa várias vezes, uma delas por dois anos. A heróica católica aproveitava a reclusão para fazer verdadeiros retiros espirituais, nos quais sua alma se unia cada vez mais a Deus. Durante a prisão passou a jejuar quatro dias por semana, prática que depois continuou a seguir. Foi também na prisão que, à força de perseverança, conseguiu aprender a ler e escrever.
Margarida havia transformado um quarto de sua casa em esconderijo para padres em caso de perseguição. Alugou também, com o mesmo fim, outra casa para a eventualidade de a sua ficar sob suspeita. Vários dos sacerdotes por ela acolhidos foram depois martirizados. Ela possuía um armário secreto com todo o necessário para a celebração da Missa. Segundo a tradição local, Margarida chegou mesmo a esconder sacerdotes na hospedaria do Cisne Negro, em Peaseholme Greem, sob os próprios narizes dos perseguidores.
Santa Margarida tinha uma personalidade cativante e atraente. Diz seu biógrafo que “todos a amavam e acudiam a ela em demanda de auxílio, consolo e conselho em suas penas. Seus criados tinham-lhe um amor tão reverente que, apesar de ela os corrigir com razoável severidade por suas faltas e negligências, e de saberem quando os sacerdotes frequentavam a casa, tinham tanto cuidado em conservar os seus segredos, como se fossem verdadeiros filhos”.2
Ela começava seu dia com a meditação, e se havia algum sacerdote, assistia à Missa ajoelhada atrás de seus filhos e empregados.
SEU DRAMÁTICO E HEROICO FIM
Em 1585 a situação agravou-se ainda mais. Elisabeth I decretou o chamado Ato Estatutário, tornando crime de alta traição o fato de qualquer padre, sobretudo se jesuíta, permanecer nos domínios dela. A heroica Margarida então afirmou: “Pela graça de Deus, todos os padres ser-me-ão ainda mais bem-vindos, e farei o que puder para fazer progredir o divino culto católico”.3
No dia 10 de março de 1586, João Clitherow foi intimado a explicar ao conselho municipal a ida de seu filho para o exterior. Como ele era membro do conselho e conhecidamente anglicano, conseguiu justificar-se. Mas mandaram revistar sua casa.
Margarida não se preocupou muito, pois no momento lá não havia nenhum sacerdote refugiado, e seus filhos e criados eram de confiança.
Mas os policiais irromperam de modo inopinado, justamente na sala de aula das crianças. O professor fugiu pela janela. Entretanto, havia na sala outras crianças da vizinhança, uma das quais entrou em pânico e acabou mostrando às autoridades o esconderijo secreto e o armário onde se encontrava o material da Missa. Com isso a polícia possuía evidência contra Margarida. Seus dois filhos foram mandados para a casa de um protestante, e seus criados postos na prisão.
Margarida negou-se a se submeter a julgamento. Neste poderiam ser chamados a depor seu marido, seus filhos e criados, possivelmente sob tortura, o que ela quis evitar. Sabia que, em qualquer caso, seria executada: “Eu não conheço ofensa pela qual devo me confessar culpada. Não tendo feito nenhuma ofensa, não preciso de julgamento”, disse ela.4
Os juízes condenaram-na então a ser esmagada até a morte – pena infligida aos que não se submetiam a julgamento – “por ter alojado e mantido jesuítas e padres do seminário, traidores da majestade da Rainha e de suas leis”.
No momento do suplício, Margarida foi convidada a rezar pela Rainha. Ela o fez desejando a conversão do monarca à verdadeira fé. Alguns anglicanos presentes lhe pediram que rezasse com eles. Ela se negou, afirmando: “Eu não rezarei convosco, nem vós rezareis comigo. Nem direi Amém a vossas orações, nem vós às minhas”.5
Os dois carrascos encarregados da horrível execução contrataram alguns mendigos para substituí-los. Margarida, que esperava seu quarto filho, foi deitada sobre uma pedra afiada que, quando pressionada, deveria romper-lhe as costas. Sobre seu corpo foi colocada uma porta, e encima desta empilhando grandes blocos de pedra, até que a mártir fosse completamente esmagada sob um peso de quase 700 quilos.
Ela foi martirizada no dia 25 de março de 1586, Sexta-feira Santa.
“Depois da morte de Clitherow, Elisabeth I escreveu aos cidadãos de York para dizer que ficara horrorizada com o tratamento dado a uma mulher: devido ao seu sexo, Clitherow não deveria ter sido executada”.6 O que soa como uma hipocrisia, pois foi o que ela fez no ano seguinte com a católica Maria Stuart, a quem mandou decapitar para não ter uma rival ao trono da Inglaterra.
E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br.
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Martírio de Santa Margarida |
Notas:
1. http://savior.org/saints/clitherow.htm.
2. “Benditos seam los que predicam el verdadero ecumenismo”, http://wp.me/p1ydz-477.
3. http://savior.org/saints/clitherow.htm.
4. Daniel F. McSheffery, St. Margaret: Mother and Martyr, The Homiletic & Pastoral Review, N.Y., april 1994, apud http://www.ewtn.com/library/MARY/CLITHER.htm.
5. “Benditos seam los que predicam el verdadero ecumenismo”.
6. http://en.wikipedia.org/wiki/Margaret_Clitherow
Fonte: Revista Catolicismo: http://migre.me/dthDk.
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