Como prometido, publico a excelente conferência do Rev. Pe. Rioult
em capítulos, para seres melhor refletidos e considerados, sobretudo
por aqueles que tem preguiça de ler texto longo, ou textos mais
complexos. Meus comentários iniciais não são imprescindíveis e,
portanto, ficarão no texto completo. Os números em rosa são as notas de tradução; em verde, os comentários da tradutora.
CAPÍTULO V
Graves sofismas
Um sofisma é um falso raciocínio que tem alguma aparência de verdade. Dois são particularmente graves. Mons. Fellay apresentou como vitórias da Tradição aquilo que, no fundo, não passava de manobras modernistas. Não devemos esquecer nunca que a revolução está pronta a fazer muitas concessões aparentes e superficiais para salvar o essencial: conservar seu princípio revolucionário: a liberdade religiosa dos direitos do homem: princípio maçônico.
Em 2007, foi-nos dito que a Missa Tridentina nunca “fora ab-rogada” [enquanto rito extraordinário, de igual santidade com o rito bastardo, que era o ordinário][40].
Em 2009, as “excomunhões” foram retiradas[41] [levantadas][42].
Mentiu-se por omissão; a estratégia revolucionária tem sido ignorada!
1) ela pode suportar a Missa extraordinária, contanto que a Missa bastarda permaneça norma ordinária e principal. [A influência perniciosa deste Motu Proprio se fez sentir entre nós, com os convites de matrimônio que anunciavam a Missa no rito extraordinário...].
2) ela pode tentar um gesto de misericórdia para com os lefebvrianos, se isso pode enfraquecê-los e contanto que o Vaticano II continue a bússola da Igreja para o século XXI.
O próprio Bento XVI explicou sua estratégia aos modernistas idiotas:
“Pode ser totalmente errado empenhar-se para dissolver endurecimentos e restrições, de tal modo a dar espaço ao que há de positivo[43] e de recuperável no conjunto? Eu mesmo vi, nos anos posteriores a 1988, como, mediante o retorno de comunidades anteriormente separadas de Roma, tenha mudado a atmosfera interna deles; como o retorno à grande e ampla Igreja comum tenha feito superar posições unilaterais[44] e dissolvido endurecimentos de tal forma que, depois, disso emergiram forças positivas para o conjunto”. (4)[45]
Mons. Lefebvre, em 1988, havia denunciado esta estratégia vaticana e os seus perigos:“A atmosfera desses contatos e dos colóquios nos mostra claramente que o desejo da Santa Sé é de nos aproximar do Concílio e das suas reformas, de nos inserir, dessa forma, no seio da Igreja conciliar[46] (...) A nossa reintegração parece ser um recurso político, diplomático para equilibrar os excessos dos outros”. (5)[47].
Bento XVI, que é um modernista inteligente, nada fez por causa de nossos belos olhos! Não fez o seu Motu Proprio para nós! Mas para salvar o Vaticano II; como modernista atento, ele compreendeu que, para salvar o Vaticano II, precisava de nós na “vasta Igreja”. A Fraternidade legitimamente integrada poderia aportar para a Igreja moderna o seu “carisma da Tradição”, porque, de facto, ela aceitaria o pluralismo do pensamento conciliar. É para salvar sua “hermenêutica da continuidade” que Bento XVI precisa de nós, que declaramos a ruptura doutrinal do Vaticano II. Este simples “viver juntos” manifestará a continuidade da “Tradição viva”, na “vasta Igreja”. Pela mesma razão, ele devia aceitar a existência da Missa tradicional [mas em segundo plano], para salvar a Missa de Paulo VI e sua pretensa continuidade litúrgica.
Ora, o bem da Igreja exige a recusa do Concílio, e não apenas a sua crítica. Não podemos mais nos contentar com o “deixar-nos fazer a experiência da Tradição”, com o “aceitai-nos pelo que somos”, pois isso significaria fazer o jogo da lógica modernista e salvar o concílio Vaticano II. Mons. Lefebvre compreendera isso:“(...) ‘Eu acuso o Concílio’ me parece a resposta necessária ao ‘Eu escuso o Concílio’ do Cardeal Ratzinger!” (6)[48]. “Denunciar publicamente os procedimentos dos eclesiásticos que quiseram fazer deste Concílio a paz de Yalta da Igreja com seus piores inimigos, ou seja, na realidade, uma nova traição a nosso Senhor Jesus Cristo e a sua Igreja”, significa fazer “um imenso serviço à Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo e à salvação das almas”[49].
Seja como for, Mons. Fellay contradiz a batalha pela fé de Mons. Lefebvre.
DICI-Lorans:“2012 não é 1988 [e 1970?], ano de sua [de Mons. Fellay] consagração episcopal. A recusa a priori de um reconhecimento canônico é devida aos 40 anos de uma situação excepcional que comportou certa incompreensão do que seja a submissão à autoridade?[50]
Mons. Fellay:“O que acontece nesse período mostra claramente algumas das nossas fraquezas diante dos perigos gerados pela situação na qual nos encontramos. (...) Alguns pretendem que seja necessário que Roma se converta antes de qualquer acordo[51], ou que os erros devem primeiro ser suprimidos para que se possa trabalhar. Mas não é esta a realidade. (...) os santos reformadores não deixaram a Igreja[52] para combater esses erros”.[53] [Mons. Fellay percebe que esta frase condena Mons. Lefebvre e todos os outros, Coache, Calmel, Barbara, ... Guillou, que, para não deixar a Igreja Católica, se separaram da Igreja conciliar?[54]]
Mons. Fellay inventou um novo princípio que permitirá justificar ajustamentos comprometedores[55]: “Nós não podemos aceitar de sermos acusados injustamente de uma ruptura com Roma”.
Ora, Mons. Lefebvre, em 1976 e em 1988, ele aceitou, por duas vezes, ser condenado, para continuar sua luta pela fé[56].
Mons. Fellay descreve a Fraternidade como “falha” de algo fundamental em relação à “visibilidade” da Igreja. Ele fala frequentemente da Fraternidade, que estaria em uma situação “irregular”, “anormal”, “ilegal”, enquanto Mons. Lefebvre afirmava:“O que nos interessa, antes de tudo, é manter a fé católica. Esta é a nossa batalha. Então, a questão canônica, puramente exterior, pública, na Igreja, é secundária”. [57]
E hoje, pelo contrário, só se fala disso.
Continua... CAPÍTULO VI (10/06/2013).
Fonte: Non Possumus.
Tradução (do Italiano): Giulia d'Amore di Ugento.
Sem revisão final.
Tradução (do Italiano): Giulia d'Amore di Ugento.
Sem revisão final.
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NOTAS (ORIGINAIS)
4 - Carta de Bento XVI aos bispos, de 10 de Março de 2009[98], sobre o levantamento da excomunhão.
5 - Apresentação da situação relativa ao que Roma chama “Reconciliação”, 30 de maio de 1988 em Notre-Dame du Pointet.
6 - Mons. Marcel Lefebvre, Ils l’ont découronné, ed. Fideliter, p. 233 - (Eles o destronaram, ed. Amicizia Cristiana, Chieti, 2009, p 241).
NOTAS DE TRADUÇÃO
[40] Motu Proprio Summorum Pontificum: “Por
isso é lícito celebrar o Sacrifício da Missa segundo a edição típica do
Missal Romano promulgado pelo beato João XXIII em 1962, que não foi
ab-rogado nunca, como forma extraordinária da Liturgia da Igreja”.
[41] Decreto de Remoção de Excomunhão: “Na
sua carta de 15 de Dezembro de 2008, dirigida a Sua Eminência o Senhor
Cardeal Dario Castrillón Hoyos, Presidente da Pontifícia Comissão
«Ecclesia Dei», D. Bernard Fellay solicitava de novo, em nome próprio e dos outros três Bispos consagrados no dia 30 de Junho de 1988, a remoção da excomunhão latae sententiae
declarada formalmente através de um Decreto do Prefeito desta
Congregação para os Bispos com data de 1 de Julho de 1988. Na mencionada
carta, entre outras coisas, afirma D. Fellay: «Continuamos firmemente
determinados na nossa vontade de permanecer católicos e de colocar todas
as nossas forças ao serviço da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, que
é a Igreja Católica romana. Com espírito filial, aceitamos os seus
ensinamentos. Acreditamos firmemente no Primado de Pedro e nas suas
prerrogativas, e por isso nos causa tanto sofrimento a situação atual (...) Com
base nas faculdades que me foram expressamente concedidas pelo Santo
Padre Bento XVI, em virtude do presente Decreto removo aos Bispos
Bernard Fellay, Bernard Tissier de Mallerais, Richard Williamson e
Alfonso de Galarreta a censura de excomunhão latae sententiae
declarada por esta Congregação no dia 1 de Julho de 1988, enquanto
declaro desprovido de efeitos jurídicos, a partir da data de hoje, o
Decreto então emanado”.
[42] Pois
é, levantadas, remissas, perdoadas, anuladas, retiradas... A verdade
não está em que palavra seria mais adequado usar para explicar o que
houve com o bondoso gesto do Papa. A verdade está no fato de que as
excomunhões de João Paulo II valem tanto quanto as do Dalai Lama. Pelo
menos, foi isso que pareceu dizer Monsenhor Lefebvre quando disse, me
repito, que não poderia ser excluído de uma Igreja à qual nunca havia
pertencido. Ou algo assim. O pior nisso tudo é que foi o próprio dom
Fellay quem pediu a retirada das excomunhões – ele mesmo tem se gabado
disso, aqui e ali – o que corresponde dizer que, para dom Fellay, as
excomunhões eram realmente válidas – contrapondo-se ao pensamento de
Monsenhor Lefebvre – e delas tinha medo. O ex-Superior do Distrito
Alemão parece ainda ter medo disso, e o tem dito, aqui e ali.
[43] Tremendamente modernista: focar no que nos une, não no que nos separa.
[44] Doutrina, dogma, Tradição, Depósito da Fé... agora são posições unilaterais, endurecimentos, subjetivismos.
[45] Carta de Bento XVI aos bispos, de 10 de março de 2009, q propósito da remissão das excomunhões. Vide nota n. 98.
[46] Isso
parece bem claro. Qual é a dificuldade de compreender o que Monsenhor
Lefebvre disse aqui? O que Roma quer de nós é “nos inserir, dessa forma,
no seio da Igreja conciliar” e não nos chamar “para ajudar a levar aos
outros o tesouro da Tradição”! Será que é preciso desenhar?
[47]
Apresentação da situação relativa ao que Roma chamava de
“reconciliação”, em 30 de maio de 1988, em Notre-Dame du Pointet: Pode
ser lido em Breve Histórico do Caso SSPX: “No
mesmo dia, 30 de maio, no priorado da Fraternidade em Notre Dame du
Pointet (em Broût-Vernet), perto de Vichy), Lefebvre reuniu
representantes da Fraternidade e de todas as comunidades amigas que
seriam afetadas por sua decisão, incluindo Dom Gerard Calvet de Lê
Barroux e muitas irmãs. Muitos dos presentes eram favoráveis ao acordo,
mas parecia haver uma maioria contra ele. Na Festa de Corpus Christi, 2
de junho, Lefebvre escreveu sua carta final ao Papa”.
[48] Do liberalismo à Apostasia. Página 139 do PDF.
[49] Prefácio do livro “Acuso o Concílio”. Éditions Saint-Gabriel, Première édition, Outubro de 1976. PDF do livro.
[50] DICI 256. Vide nota n. 8.
[51] “Alguns”
não, Excelência, o próprio Monsenhor Lefebvre disse isso, claramente,
em várias ocasiões; e as razões por pensar assim não só permanecem como
se mostram mais necessárias ainda diante de, por exemplo, um Assis III
convocado e mantido em plenos colóquios doutrinários com a FSSPX! E o
que mais me espanta é que há padres que até hoje juram que isso não é
verdade, que dom Fellay jamais faria um acordo prático, inventando
eufemismos os mais variados para justificar a traição do Superior e
aplacar as suas consciências vendidas por 30 moedas sujas e uma cama
quentinha! Que dirão agora esses padres? Que dirão ao saber que, para
dom Fellay. eles não passam de “alguns pretensiosos” que esperam pela
conversão de Roma antes de qualquer acordo? Com que cara virão até nós
para defender o indefensável? Talvez com a mesma cara de alívio com que
dizem que o “acordo” (então, admitem!) não foi firmado! Acorde,
reverendo! O acordo só não foi assinado porque Bento VI não quis. A Mont
Blanc de dom Fellay estava se coçando de vontade de “correr” e
assinar!!! Como conseguem conciliar o sono à noite? Como conseguem se
olhar no espelho pela manhã sabendo que houve, sim, a traição não só ao
Fundador, mas, principalmente, à missão de defender a Fé e a Tradição? O
que mais precisam ver, ouvir e ler? Nem é a Resistência quem fala, é o
próprio dom Fellay!!! O rei está nu! E isso é sujo. Mas mais suja está a
consciência dos que fingem que não veem, nem sabem. Quem usa os óculos
cor-de-rosa aqui?
[52] E
quem foi o santo que deixou “a” Igreja dessa vez? Vamos ter que repetir
mais uma vez a resposta de Monsenhor Lefebvre à notícia sobre as
excomunhões? Com que Roma dom Fellay pensa que está tratando? Ou – pior –
está chamando ao Fundador e seu pai espiritual de Lutero? A fantasia
que pulula em sua mente “ingênua” tirou-lhe o juízo? Como pode uma
pessoa que não sabe distinguir entre a fantasia e a realidade pretender
permanecer à frente de uma instituição que tem a gloriosa e impávida
missão de, nada mais nada menos, defender a Fé Católica? Como dizem os
jovens: alguém avisa ele?
[53] DICI 256. Vide nota n. 8.
[54] Eu
diria, aqui, modestamente, que nem se tratou de uma separação, mas de
uma precisa e objetiva tomada de distância, para deixar claro que
“aquela” não é a Igreja Católica.
[55] Excelência,
e quem de nós rompeu com a Roma Católica? Com justiça, nos rompemos foi
com o Concílio Vaticano II e a Roma Conciliar, apóstata, herética. Isto
sim! Disso temos orgulhos, e pretendemos morrer rompidos com ela. A
outra igreja, aquela Conciliar. Porque somos Católicos e amamos a Igreja
Católica, e por Ela morreremos, se a isso formos chamados!
[56] Onde
estavam dom Fellay & companhia que não presenciaram isso? Será que a
ambição pelo episcopado cegou-o a tal ponto que, mesmo discordando,
preferiu se calar temporariamente? Se discordava disso, porque não o
manifestou ao Superior? Se concordava, porque mudou agora de “opinião”?
Pensa que somos nós os idiotas?
- PALE IDEAS: CRISE NA FSSPX - CAPÍTULO V. Junho 2013.
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