Razões que a Igreja tem e teve desde seu princípio para, no Ofício Eclesiástico, não usar das línguas vulgares
(…) as muitas razões que a Igreja Católica tem e teve desde seu princípio para no Ofício Eclesiástico, como também nas Escrituras Divinas, na Missa e nas formas dos Sacramentos não usar das línguas vulgares, senão da latina, se reduzem principalmente a duas: a primeira, pela majestade das coisas Sagradas e culto divino, que nos ouvidos e entendimentos dos rudes podia perder parte da reverência e estimação, e ficar exposto a muitas interpretações, não só indignas, mas erradas. A segunda, porque sendo a Igreja Católica uma só, também convinha que a língua de que usasse em tôdas as partes do mundo fôsse assim mesmo uma, e essa a mais comum e universal, qual é a latina(…).
(…) É doutrina de São Paulo que sempre se deve escolher o melhor: Aemulamini charismata meliora (1). E não era necessário para isso a sua autoridade, porque assim o ensina a prudência e ditame natural da razão. Quando a escolha é entre o mal e o bem, há-se de escolher o bem, e deixar-se o mal; mas quando é entre o bom e o melhor – como a nossa – há-se de escolher o melhor, e deixar-se o bom. Esta verdade, ditada pela natureza e canonizada pela fé, é a que eu pretendi persuadir em todo êste discurso. Rezar o Breviário, ainda que se não entenda, sempre é bom, porque é de religião e culto divino, e modo de honrar, venerar e louvar a Deus.
(1) Aspirai aos melhores dons (1 Cor 12,31).
Trecho do Sermão XXII do Padre Antônio Vieira – Editora das Américas
Visto em: http://servusservorumdei.wordpress.com/2008/09/02/razoes-que-a-igreja-tem-e-teve-desde-seu-principio-para-no-oficio-eclesiastico-nao-usar-das-linguas-vulgares.
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