Em agosto de 2013, grande surpresa sobreveio nas manifestações então havidas no Brasil.
Iniciadas
após um moderado aumento das passagens de ônibus, metrôs e trens
suburbanos — apenas R$ 0,20 em São Paulo, abaixo da inflação —, as
primeiras foram convocadas para pedir o cancelamento desse aumento. Elas
foram lideradas pelo “Movimento Passe Livre” (MPL), organização
anárquica gerada nas obscuras entranhas do Fórum Social de Porto Alegre
em 2005 e desconhecida dos brasileiros, cujo objetivo era implantar uma
sociedade autogestionária e ecológica que fosse além do comunismo.
A
meta era óbvia: começar com um movimento pela derrogação do aumento das
passagens e estender depois as reivindicações para campos sempre mais
extensos e mais à esquerda, na tentativa de abalar as estruturas sociais
e econômicas do País, ou pelo menos lhes dar uma primeira chocalhada;
sempre com vistas a um comunismo anárquico, sua meta final. O método
passaria por uma democracia direta, impulsionada por líderes
revolucionários, sob o olhar complacente das autoridades.
Se
as manifestações alcançassem êxito, seria para o PT como sopa no mel,
pois a pretexto de seguir a vontade popular, o governo Dilma Rousseff
poderia impor ao Brasil uma agenda chavista-bolivariana, tão cara a Lula
da Silva, mas que vinha encontrando oposições crescentes na opinião
pública nacional.
A grande e grata surpresa
A
surpresa manifestou-se quando o movimento de protesto tomou
características insuspeitadas. Primeiramente, quanto ao número de
participantes — acima de toda expectativa — e sua perseverança dias a
fio; depois, quanto à sua qualidade, pois provinham em grande número da
classe média; por fim, quanto à pluralidade das reivindicações, muitas
delas de caráter antes conservador que “progressista”.
Foi um susto para as esquerdas. E um susto tão grande, que causou uma vítima fatal: o MPL. Sob o título “Vida Curta”, o jornalista Ancelmo Góis informa que “o Movimento Passe Livre, de SP, que deu início às grandes manifestações de junho de 2013, fechou as portas” (“O Globo”, 5-8-15).
Acentua-se em 2015 o caráter ideológico
Em
2015 ocorreram três grandes manifestações, respectivamente em março,
abril e agosto. O timbre desta vez foi claramente conservador, pondo
diretamente em causa o governo socialista do PT. A luta contra a
corrupção foi de início seu leitmotiv.
Nessas
manifestações, porém, um observador atento poderia distinguir uma linha
ascensional. Não no que diz respeito ao número de participantes, cuja
variação um pouco para mais ou para menos é no total irrelevante, dado
que todas elas foram multitudinárias. Também não mudou muito o tipo de
público que participou, em geral de classe média ou média baixa.
O
aspecto marcante foi, fora de dúvida, o crescimento do teor ideológico
delas. Na última manifestação, a densidade de anticomunismo e de
anti-socialismo foi de chamar a atenção. Nos cartazes e nos slogans isso se deu certamente, mas a ideologia floresceu principalmente nas expressões verbais, nas conversas e nos ditos de passagem.
Também se manifestou notória a simpatia do público em relação à presença de um grupo do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira com seus estandartes, suas insígnias, ao som do Hino à Bandeira e de outras marchas adequadas à ocasião.
Os
cartazes e brados “Fora Dilma”, “Fora Lula”, “Abaixo o PT” e outros do
gênero, dividiam espaço com outros como “Abaixo o comunismo”, “O Brasil
jamais vermelho”, “Abaixo o socialismo”, “Bolivarianismo, fora”, “Abaixo
o Foro de São Paulo” etc.
Esperanças suscitadas
Esse crescimento do fator ideológico é um bem ou um mal?
Para
quem esteja preocupado apenas com o seu bem-estar pessoal, com a sua
segurança, com o tratamento de sua saúde, com a carreira a ser seguida
por seus filhos — todas elas, aliás, preocupações legítimas, mas
limitadas — a maior ideologização terá sido, se não um mal, pelo menos
um inconveniente. Pois ao se alargarem muito os horizontes, põem-se em
segundo plano os interesses imediatos.
Mas
para os que transcendem esses objetivos, sem negá-los nem os
subestimar, e voltam suas preocupações principalmente para o campo
superior das ideias gerais, do futuro do Brasil e da Igreja, do amor à
verdade, ao bem e ao belo, possuem eles uma visão superior da realidade,
a qual já toca no sublime, E, portanto, demonstram maior amor a Deus.
E
se o número desse tipo de pessoas continuar crescendo, especialmente em
força de convicção e disposição de luta, surge a esperança de uma
renovação da face do Brasil e quiçá do mundo, quando sobre a ação delas
pairar uma bênção mais rica e fulgurante de Nossa Senhora. São aqueles
dos quais se espera a firmeza de princípios e o ânimo para enfrentar
todas as dificuldades, aguentar todos os sofrimentos, sobrepor-se a
todos os obstáculos. Tendo em vista construir uma sociedade e uma
civilização cristãs nas quais realmente valha a pena viver. Ainda que
para isso tenham que ser lutadores impertérritos em meio a convulsões,
como as preditas pela Santíssima Virgem em Fátima.
“Resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus” (Mateus, 5,16).
(*) Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog é CATÓLICO. Ao comentar, tenha ciência de que os editores se reservam o direito de publicar ou não.
COMENTE acima. Para outros assuntos, use o formulário no menu lateral. Gratos.