Este texto faz perceber a importância de lermos os documentos conciliares, para compreendermos a gravidade da situação em que vive a Igreja hoje. É a igreja conciliar, mas sua face é a Igreja Católica, o que confunde os espíritos incautos e que negligenciam o conhecimento das coisas de Deus. Católico relapso é católico a caminho da excomunhão, pois pode ser confundido por heresias despachadas como verdades católicas.
Como observa Jungmann[1] , “O Concílio de Trento separou, com suas sentenças dogmáticas, a verdade do erro; trouxe à luz o caráter objetivo do sacrifício da Missa”. As barreiras dogmáticas e doutrinárias definidas por aquele Santo Concílio foram impressas na Missa que dele surgiu. “Uma barreira intransponível contra qualquer heresia” havia sido erguida em defesa da Igreja Católica e de sua santa ortodoxia.
A Missa de São Pio V foi celebrada, sem mudanças substanciais (exceção feita à reforma da Semana Santa operada, sob o pontificado de Pio XII, por Annibale Bugnini[2] ), até o final do Concílio Vaticano II[3] . Através dessa assembleia — que se quis pastoral, mas que depois foi elevada a “superdogma” — foram introduzidas no seio da Igreja novas doutrinas, que contradiziam — mais ou menos abertamente — o Magistério tradicional.
O documento conciliar “Unitatis redintegratio”[4] , por exemplo, abriu o caminho mais do que a um são ecumenismo (que é o dobrar dos joelhos heréticos diante da Cruz de Cristo), a um grosseiro Irenismo[5] . A declaração conciliar “Nostra Aetate”[6] fez os Judeus darem um suspiro de alívio, uma vez que, a partir daquele momento, não foram mais considerados deicidas. O mesmo documento, arrancando a Cristo a unicidade da Verdade e da Salvação dos homens, afirmou: “Ela (a Igreja Católica) considera com sincero respeito aqueles modos de agir e de viver, aqueles preceitos e aquelas doutrinas que, embora em muitos pontos difiram de quanto Ela mesma crê e propõe, todavia não raramente refletem um raio daquela verdade que ilumina todos os homens”. A declaração conciliar “Dignitatis Humanae”[7] , finalmente, destronou Cristo e colocou o homem — a criatura – no lugar do Criador. Os três documentos citados representam os pilares da Igreja conciliar: ecumenismo, antropocentrismo, liberdade religiosa.
Como ele escreve Dom Guéranger, “a liturgia é argumento por demais excelente na Igreja para não ter-se encontrado exposta aos da heresia”. E, de fato, depois de ter infectado o Concílio Vaticano II com as heresias liberais, a hierarquia conciliar — ciente do fato de que, para mudar a “lex credendi” dos fiéis, é necessário em primeiro lugar modificar a “lex orandi” — começou o desmantelamento da velha Missa para fabricar, na mesinha de cálculo, uma nova. Era necessário um novo rito para um novo Credo.
No “Osservatore Romano”[8] de 19 de março de 1965, Annibale Bugnini — artífice, junto com Paulo VI, do “Novus Ordo Missae”[9] — afirmou que era necessário eliminar da Missa “cada pedra que pudesse constituir a mínima sombra de um risco de tropeço ou de desprazer (...) para os irmãos separados”[10] .
Era necessário criar um rito ecumênico que pudesse ser celebrado tanto pelos protestantes quanto pelos católicos. Foram apagados, portanto, os nomes dos Santos e da Virgem (exatamente como na liturgia protestante, que “creria faltar com o respeito devido ao Ser soberano ao invocar a intercessão da Santa Virgem, a proteção dos santos. Ela exclui toda esta idolatria papista que roga à criatura aquilo que se deve rogar a Deus somente”[11] ), foram abolidas as fórmulas pertencentes à Tradição da Igreja, substituindo-as por passagens das Escrituras ou outras inovações litúrgicas (“em sua sanha inovadora, eles [os hereges] não se contentam em retirar as fórmulas de estilo eclesiástico, que eles menosprezam sob o nome de palavra humana, mas estendem sua rejeição até mesmo às leituras e orações que a Igreja tomou emprestadas da Escritura. Mudam-nas, substituem-nas. Não querem mais rezar com a Igreja. Excomungam, por isso, a si mesmos”[12] ), foi abolido o latim (“O ódio à língua latina é inato no coração de todos os inimigos de Roma. Nela, eles veem o elo entre os católicos na universalidade, o arsenal da ortodoxia contra todas as sutilezas do espírito sectário, a arma mais poderosa do Papado”[13] ), e, finalmente, foram destruídos os altares e o sacerdócio (“onde há um pontífice, há um altar, e onde há um altar, há um sacrifício, e, portanto, um cerimonial místico”[14] ).
O resultado foi a criação de um rito protestante 2.0, revisto e catolicamente errado. Nós não somos profetas, mas as palavras de Lutero — “Quando a missa tiver sido destruída, penso que teremos destruído também o papado” — parecem dramaticamente verdadeiras: depois de ter destruído a Missa com as próprias mãos, a Igreja Católica[15] está vivendo o Seu maior momento de crise.
Dom Guéranger escreve que “no ‘Communicantes’[16] como no ‘Confiteor’[17] , não se menciona São José porque a devoção a este bendito Santo estava reservada aos últimos tempos”. O nome de São José, no entanto, foi introduzido no Canon por João XXIII em 1962[18] , e, observando a situação da Igreja Católica contemporânea, parece mesmo que estejamos vivendo os últimos dias, aqueles em que “deverá chegar a apostasia e deverá ser revelado o homem ímpio, o filho da perdição, o adversário que se opõe e se exalta acima de todo o ser que é chamado Deus ou é adorado, até sentar-se no templo de Deus, proclamando-se Deus”[19] .
Matteo Carnieletto
24 de setembro de 2012. Em Radiospada.org.
Tradução: Giulia d’Amore.
Notas:
1 Josef Andreas Jungmann (1889-1975), jesuíta e teólogo austríaco, liturgista de Innsbruck, consulente e um dos idealizadores da Constituição “Sacrosanctum Concilium”, sobre a Sagrada Liturgia, do CVII. Desde 1960 era membro da Comissão preparatória, e desde 1962, membro da Comissão para Reforma litúrgica do CVII. Constituição “Sacrosanctum Concilium”: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html.
2 Annibale Bugnini foi um arcebispo italiano. Faleceu em 1982. Teve um papel decisivo na reforma litúrgica que se seguiu ao Vaticano II, com a Constituição “Sacrosanctum Concilium” (vide nota anterior), como secretário da Comissão para a Liturgia (1964). Era membro da Congregação da Missão (Padres Lazaristas ou ainda Padres e Irmãos Vicentinos). Foi também secretário da Congregação para o Culto Divino. Bugnini consta da lista de maçons de Mino Pecorelli com data de iniciação em 23 de abril de 1963, número do código 1365/75 e o codinome de BUAN. Ele mesmo menciona o fato no seu livro “La Riforma Litúrgica”, mesmo desmentindo a acusação. O canônico Andrea Rose, dizendo-se seu colaborador, o acusava, em 2004, em uma entrevista de ter sido uma “pessoa sem qualquer profundidade de pensamento, um superficial, e um hábil manipulador de Paulo VI”, provavelmente chantageável por causa da suposta homossexualidade. Em 1976, foi enviado como Núncio Apostólico para o Irã; dizem que por ter sido denunciado como maçom diante de Paulo VI, mas isso não faz muito sentido. Ele morreu subitamente, enquanto estava hospitalizado na Clinica Pio XI; no livro “Via col Vento Vaticano”, diz-se que sua morte foi encomendada [I Millenari (pseud.).Via col vento in Vaticano. Milano, Kaos Editore, 1999], porque ele havia recebido alta e sairia naquele mesmo dia. Seus funerais foram celebrados pelo Cardeal Casaroli.
3 Lembre-se que este nome é apenas para fins didáticos, pois não pode ser “II”, uma vez que não pertence à cadeia de Concílios Católicos, mas à da igreja conciliar.
4 Decreto “Unitatis Redintegratio”, sobre o ecumenismo: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19641121_unitatis-redintegratio_po.html.
6 Irenismo, na teologia Cristã, refere-se à tentativa de unificar os sistemas apologéticos cristãos, utilizando a razão como um atributo essencial. A palavra deriva da palavra grega “ειρήνη” (eirene), significando “paz”. É um conceito relacionado à teologia natural, e oposto ao “polemicismo da argumentação animosa”, e tem suas raízes nos ideais do “pacifismo”. Aqueles que se afiliam ao irenismo identificam a importância da unidade na igreja Cristã, e declaram o laço comum entre todos os cristãos em Cristo.
6 Declaração “Nostra Aetate”, sobre a Igreja e as Religiões não-Cristãs: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651028_nostra-aetate_po.html.
7 Declaração “Dignitatis Humanae”, sobre a liberdade religiosa: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651207_dignitatis-humanae_po.html.
8 L’Osservatore Romano (O Observador Romano) é o periódico semioficial da Santa Sé. Faz a cobertura de todas as atividades públicas do Papa, publica editoriais escritos por membros importantes do clero da Igreja Católica e imprime documentos oficiais depois de autorizados. Seus lemas são: unicuique suum (a cada um o seu) e no praevalebunt (‘os portões do Inferno’ não prevalecerão) os quais estão impressos sob o título na primeira página.
9 “Novus Ordo Missae” é a Missa nascida do Conciliábulo Vaticano, chamado de Segundo, também chamada de “Missa de Paulo VI” ou “Missa Paulina”, porque promulgada pelo Papa Paulo VI em 1969, após o famigerado concílio. O Papa Paulo VI promulgou o rito “revisto” da Missa com a sua Constituição Apostólica “Missale Romanum”, de 3 de abril de 1969, definindo o primeiro domingo do Advento, no final do mesmo ano, como a data em que deveria entrar em vigor. No entanto, o Missal revisto em si não foi publicado até o ano seguinte. Em 7 de julho de 2007, através de seu “motu proprio Summorum Pontificum”, Bento XVI, ao pretender “liberalizar” – por quê se a Missa nunca havia sido proibida? – a Missa em latim, criou uma hierarquia entre os “ritos romanos”, estabelecendo que a “missa nova” seria designada como “de rito ordinário” e a “missa em latim”, como “de rito extraordinário”, seguindo esta o missal de 1962 – não se tratando, por obvio, da “Missa Tridentina” ou “Missa de São Pio V”.
10 Isto é, por causa de homens heréticos, desfigura-se a Missa que honra Deus.
11 Vide: “A Heresia Anti-litúrgica”. Item VII (Exclusão da intercessão da Virgem e dos santos). Extraído de “Institutions Liturgiques”. De Dom Prosper Guéranger: http://ars-the.blogspot.com.br/2011/09/heresia-anti-liturgica-por-dom-prosper.html.
12 Idem. Item IV (Habitual contradição com os princípios).
13 Ibidem. Item VIII (O uso do vernaculo no serviço divino).
14 Ibidem. Item XI (Destruição do Sacerdócio).
15 Trata-se, aqui, da igreja conciliar, não da Igreja Católica, que é Santa porque Santo é seu Fundador, e por isso não erra.
16.1 Communicantes da Missa Tridentina: “Communicantes, et memoriam venerantes, in primis gloriosæ semper Virginis Mariæ, Genitricis Dei et Domini nostri Jesu Christi: * sed et beatorum Apostolorum ac Martyrum tuorum, Petri et Pauli, Andreæ, Jacobi, Joannis, Thomæ, Jacobi, Philippi, Bartholomæi, Matthæi, Simonis, et Thaddæi, Lini, Cleti, Clementis, Xysti, Cornelii, Cypriani, Laurentii, Chrysógoni,Joannis et Pauli, Cosmæ et Damiani, et omnium Sanctorum tuorum; quorum meritis precibusque concedas, ut in omnibus protectionis tuæ muniamur auxilio. Per eundem Christum Dominum nostrum. Amen”. (http://www.oocities.org/br/indicedc/santa_missa/ordinario.html)
16.2 Missale Romanum 1962: “Communicates, et memoriam venerates in primis gloriosae semper Virginis Mariae, Genitricis Dei et Domini nostri Iesu Christi: sed et beati Ioseph, eiusdem Virginis Sponsi, et beatorum Apostolorum ac Martyrum tuorum, Petri et Pauli, Andreae, Iacobi, Ioannis, Thomae, Iacobi, Philippi, Bartholomei, Matthaei, Simonis et Thaddaei, Lini, Cleti, Clementis, Xysti, Cornelii, Cypriani, Laurentii, Chrysogoni, Ioannis et Pauli, Cosmae et Damianis: et omnium Sanctorum tuorum; quorum meritis, precibusque concedas, ut in omnibus protentionis tuae muniamur auxilio. Per eumdem Christum Dominum nostrum. Amen”. (http://sanctaliturgia.blogspot.com.br/2004/09/communicantes.html)
16.3 Missale Romanum 1970: “Communicantes, et memoriam venerantes, in primis gloriosae semper Virginis Mariae, Genertricis Dei et Domini nostri Iesu Christi: sed et beati Ioseph, eiusdem Virginis Sponsi, et beatorum Apostolorum ac Martyrum tuorum, Petru et Pauli, Andreae, (Iacobi, Ioannis, Thomae, Iacobi, Philippi, Bartholomaei, Matthaei, Simonis et Thaddaei: Lini, Cleti, Clementis, Xysti, Cornelii, Cypriani, Laurentii, Chrysogoni, Ionnis et Pauli, Cosmae et Damiani) et omnium Sanctorum tuorum; quorum meritis precibusque concedas, ut in omnibus protectionis tuae muniamur auxilio. (Per Christum Dominum nostrum. Amen.)”. (http://sanctaliturgia.blogspot.com.br/2004/09/communicantes.html)
17 Confiteor Deo omnipotenti, beatæ Mariæ semper Virgini, beato Michæli Archangelo, beato Ioanni Baptistæ, sanctis Apostolis Petro et Paulo, et omnibus Sanctis, quia peccavi nimis cogitatione, verbo, et opere: (percutiunt sibi pectus ter, dicentes) mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michælem Archangelum, beatum Ioannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et Paulum, et omnes Sanctos, orare pro me ad Dominum Deum nostrum. Amém. (http://www.oocities.org/br/indicedc/santa_missa/ordinario.html)
18 Recentemente, cinquenta anos após a entrada de São José no Canon da Missa, por decreto de João XXIII de 1962, o Bergoglio, através do Decreto “Paternas Vices”, da Congregação para o Culto Divino, manda acrescentar essa menção também nas “Orações Eucarísticas” II, III e IV. O decreto: http://attualita.vatican.va/sala-stampa/bollettino/2013/06/19/news/31217.html#TRADUZIONE%20IN%20LINGUA%20PORTOGHESE. Com isso, enganam os fiéis, mostrando uma veneração falsa como os colonizadores mostravam espelhinhos e bugigangas aos índios que avistavam. Dá a falsa aparência de uma Fé verdadeira.
19 II Ts 2,3-4.
* * *
De Trento a Erfurt: notas sobre a reforma litúrgica conciliar
“É, portanto, apenas dentro da verdadeira Igreja que pode fermentar a heresia anti-litúrgica, ou seja, aquela heresia que surge como inimiga das formas de culto. Somente onde há algo para demolir o gênio da destruição tentará introduzir o veneno”.(Dom Prosper Guéranger)
“Quando a missa tiver sido destruída, penso que teremos destruído também o papado... De fato, o papado apoia-se sobre a Missa como sobre uma rocha. Tudo isso ruirá quando ruir a abominável e sacrílega Missa deles”.(Martinho Lutero)
Como observa Jungmann[1] , “O Concílio de Trento separou, com suas sentenças dogmáticas, a verdade do erro; trouxe à luz o caráter objetivo do sacrifício da Missa”. As barreiras dogmáticas e doutrinárias definidas por aquele Santo Concílio foram impressas na Missa que dele surgiu. “Uma barreira intransponível contra qualquer heresia” havia sido erguida em defesa da Igreja Católica e de sua santa ortodoxia.
A Missa de São Pio V foi celebrada, sem mudanças substanciais (exceção feita à reforma da Semana Santa operada, sob o pontificado de Pio XII, por Annibale Bugnini[2] ), até o final do Concílio Vaticano II[3] . Através dessa assembleia — que se quis pastoral, mas que depois foi elevada a “superdogma” — foram introduzidas no seio da Igreja novas doutrinas, que contradiziam — mais ou menos abertamente — o Magistério tradicional.
O documento conciliar “Unitatis redintegratio”[4] , por exemplo, abriu o caminho mais do que a um são ecumenismo (que é o dobrar dos joelhos heréticos diante da Cruz de Cristo), a um grosseiro Irenismo[5] . A declaração conciliar “Nostra Aetate”[6] fez os Judeus darem um suspiro de alívio, uma vez que, a partir daquele momento, não foram mais considerados deicidas. O mesmo documento, arrancando a Cristo a unicidade da Verdade e da Salvação dos homens, afirmou: “Ela (a Igreja Católica) considera com sincero respeito aqueles modos de agir e de viver, aqueles preceitos e aquelas doutrinas que, embora em muitos pontos difiram de quanto Ela mesma crê e propõe, todavia não raramente refletem um raio daquela verdade que ilumina todos os homens”. A declaração conciliar “Dignitatis Humanae”[7] , finalmente, destronou Cristo e colocou o homem — a criatura – no lugar do Criador. Os três documentos citados representam os pilares da Igreja conciliar: ecumenismo, antropocentrismo, liberdade religiosa.
Como ele escreve Dom Guéranger, “a liturgia é argumento por demais excelente na Igreja para não ter-se encontrado exposta aos da heresia”. E, de fato, depois de ter infectado o Concílio Vaticano II com as heresias liberais, a hierarquia conciliar — ciente do fato de que, para mudar a “lex credendi” dos fiéis, é necessário em primeiro lugar modificar a “lex orandi” — começou o desmantelamento da velha Missa para fabricar, na mesinha de cálculo, uma nova. Era necessário um novo rito para um novo Credo.
No “Osservatore Romano”[8] de 19 de março de 1965, Annibale Bugnini — artífice, junto com Paulo VI, do “Novus Ordo Missae”[9] — afirmou que era necessário eliminar da Missa “cada pedra que pudesse constituir a mínima sombra de um risco de tropeço ou de desprazer (...) para os irmãos separados”[10] .
Era necessário criar um rito ecumênico que pudesse ser celebrado tanto pelos protestantes quanto pelos católicos. Foram apagados, portanto, os nomes dos Santos e da Virgem (exatamente como na liturgia protestante, que “creria faltar com o respeito devido ao Ser soberano ao invocar a intercessão da Santa Virgem, a proteção dos santos. Ela exclui toda esta idolatria papista que roga à criatura aquilo que se deve rogar a Deus somente”[11] ), foram abolidas as fórmulas pertencentes à Tradição da Igreja, substituindo-as por passagens das Escrituras ou outras inovações litúrgicas (“em sua sanha inovadora, eles [os hereges] não se contentam em retirar as fórmulas de estilo eclesiástico, que eles menosprezam sob o nome de palavra humana, mas estendem sua rejeição até mesmo às leituras e orações que a Igreja tomou emprestadas da Escritura. Mudam-nas, substituem-nas. Não querem mais rezar com a Igreja. Excomungam, por isso, a si mesmos”[12] ), foi abolido o latim (“O ódio à língua latina é inato no coração de todos os inimigos de Roma. Nela, eles veem o elo entre os católicos na universalidade, o arsenal da ortodoxia contra todas as sutilezas do espírito sectário, a arma mais poderosa do Papado”[13] ), e, finalmente, foram destruídos os altares e o sacerdócio (“onde há um pontífice, há um altar, e onde há um altar, há um sacrifício, e, portanto, um cerimonial místico”[14] ).
O resultado foi a criação de um rito protestante 2.0, revisto e catolicamente errado. Nós não somos profetas, mas as palavras de Lutero — “Quando a missa tiver sido destruída, penso que teremos destruído também o papado” — parecem dramaticamente verdadeiras: depois de ter destruído a Missa com as próprias mãos, a Igreja Católica[15] está vivendo o Seu maior momento de crise.
Dom Guéranger escreve que “no ‘Communicantes’[16] como no ‘Confiteor’[17] , não se menciona São José porque a devoção a este bendito Santo estava reservada aos últimos tempos”. O nome de São José, no entanto, foi introduzido no Canon por João XXIII em 1962[18] , e, observando a situação da Igreja Católica contemporânea, parece mesmo que estejamos vivendo os últimos dias, aqueles em que “deverá chegar a apostasia e deverá ser revelado o homem ímpio, o filho da perdição, o adversário que se opõe e se exalta acima de todo o ser que é chamado Deus ou é adorado, até sentar-se no templo de Deus, proclamando-se Deus”[19] .
Matteo Carnieletto
24 de setembro de 2012. Em Radiospada.org.
Tradução: Giulia d’Amore.
Notas:
1 Josef Andreas Jungmann (1889-1975), jesuíta e teólogo austríaco, liturgista de Innsbruck, consulente e um dos idealizadores da Constituição “Sacrosanctum Concilium”, sobre a Sagrada Liturgia, do CVII. Desde 1960 era membro da Comissão preparatória, e desde 1962, membro da Comissão para Reforma litúrgica do CVII. Constituição “Sacrosanctum Concilium”: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html.
2 Annibale Bugnini foi um arcebispo italiano. Faleceu em 1982. Teve um papel decisivo na reforma litúrgica que se seguiu ao Vaticano II, com a Constituição “Sacrosanctum Concilium” (vide nota anterior), como secretário da Comissão para a Liturgia (1964). Era membro da Congregação da Missão (Padres Lazaristas ou ainda Padres e Irmãos Vicentinos). Foi também secretário da Congregação para o Culto Divino. Bugnini consta da lista de maçons de Mino Pecorelli com data de iniciação em 23 de abril de 1963, número do código 1365/75 e o codinome de BUAN. Ele mesmo menciona o fato no seu livro “La Riforma Litúrgica”, mesmo desmentindo a acusação. O canônico Andrea Rose, dizendo-se seu colaborador, o acusava, em 2004, em uma entrevista de ter sido uma “pessoa sem qualquer profundidade de pensamento, um superficial, e um hábil manipulador de Paulo VI”, provavelmente chantageável por causa da suposta homossexualidade. Em 1976, foi enviado como Núncio Apostólico para o Irã; dizem que por ter sido denunciado como maçom diante de Paulo VI, mas isso não faz muito sentido. Ele morreu subitamente, enquanto estava hospitalizado na Clinica Pio XI; no livro “Via col Vento Vaticano”, diz-se que sua morte foi encomendada [I Millenari (pseud.).Via col vento in Vaticano. Milano, Kaos Editore, 1999], porque ele havia recebido alta e sairia naquele mesmo dia. Seus funerais foram celebrados pelo Cardeal Casaroli.
3 Lembre-se que este nome é apenas para fins didáticos, pois não pode ser “II”, uma vez que não pertence à cadeia de Concílios Católicos, mas à da igreja conciliar.
4 Decreto “Unitatis Redintegratio”, sobre o ecumenismo: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19641121_unitatis-redintegratio_po.html.
6 Irenismo, na teologia Cristã, refere-se à tentativa de unificar os sistemas apologéticos cristãos, utilizando a razão como um atributo essencial. A palavra deriva da palavra grega “ειρήνη” (eirene), significando “paz”. É um conceito relacionado à teologia natural, e oposto ao “polemicismo da argumentação animosa”, e tem suas raízes nos ideais do “pacifismo”. Aqueles que se afiliam ao irenismo identificam a importância da unidade na igreja Cristã, e declaram o laço comum entre todos os cristãos em Cristo.
6 Declaração “Nostra Aetate”, sobre a Igreja e as Religiões não-Cristãs: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651028_nostra-aetate_po.html.
7 Declaração “Dignitatis Humanae”, sobre a liberdade religiosa: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651207_dignitatis-humanae_po.html.
8 L’Osservatore Romano (O Observador Romano) é o periódico semioficial da Santa Sé. Faz a cobertura de todas as atividades públicas do Papa, publica editoriais escritos por membros importantes do clero da Igreja Católica e imprime documentos oficiais depois de autorizados. Seus lemas são: unicuique suum (a cada um o seu) e no praevalebunt (‘os portões do Inferno’ não prevalecerão) os quais estão impressos sob o título na primeira página.
9 “Novus Ordo Missae” é a Missa nascida do Conciliábulo Vaticano, chamado de Segundo, também chamada de “Missa de Paulo VI” ou “Missa Paulina”, porque promulgada pelo Papa Paulo VI em 1969, após o famigerado concílio. O Papa Paulo VI promulgou o rito “revisto” da Missa com a sua Constituição Apostólica “Missale Romanum”, de 3 de abril de 1969, definindo o primeiro domingo do Advento, no final do mesmo ano, como a data em que deveria entrar em vigor. No entanto, o Missal revisto em si não foi publicado até o ano seguinte. Em 7 de julho de 2007, através de seu “motu proprio Summorum Pontificum”, Bento XVI, ao pretender “liberalizar” – por quê se a Missa nunca havia sido proibida? – a Missa em latim, criou uma hierarquia entre os “ritos romanos”, estabelecendo que a “missa nova” seria designada como “de rito ordinário” e a “missa em latim”, como “de rito extraordinário”, seguindo esta o missal de 1962 – não se tratando, por obvio, da “Missa Tridentina” ou “Missa de São Pio V”.
10 Isto é, por causa de homens heréticos, desfigura-se a Missa que honra Deus.
11 Vide: “A Heresia Anti-litúrgica”. Item VII (Exclusão da intercessão da Virgem e dos santos). Extraído de “Institutions Liturgiques”. De Dom Prosper Guéranger: http://ars-the.blogspot.com.br/2011/09/heresia-anti-liturgica-por-dom-prosper.html.
12 Idem. Item IV (Habitual contradição com os princípios).
13 Ibidem. Item VIII (O uso do vernaculo no serviço divino).
14 Ibidem. Item XI (Destruição do Sacerdócio).
15 Trata-se, aqui, da igreja conciliar, não da Igreja Católica, que é Santa porque Santo é seu Fundador, e por isso não erra.
16.1 Communicantes da Missa Tridentina: “Communicantes, et memoriam venerantes, in primis gloriosæ semper Virginis Mariæ, Genitricis Dei et Domini nostri Jesu Christi: * sed et beatorum Apostolorum ac Martyrum tuorum, Petri et Pauli, Andreæ, Jacobi, Joannis, Thomæ, Jacobi, Philippi, Bartholomæi, Matthæi, Simonis, et Thaddæi, Lini, Cleti, Clementis, Xysti, Cornelii, Cypriani, Laurentii, Chrysógoni,Joannis et Pauli, Cosmæ et Damiani, et omnium Sanctorum tuorum; quorum meritis precibusque concedas, ut in omnibus protectionis tuæ muniamur auxilio. Per eundem Christum Dominum nostrum. Amen”. (http://www.oocities.org/br/indicedc/santa_missa/ordinario.html)
16.2 Missale Romanum 1962: “Communicates, et memoriam venerates in primis gloriosae semper Virginis Mariae, Genitricis Dei et Domini nostri Iesu Christi: sed et beati Ioseph, eiusdem Virginis Sponsi, et beatorum Apostolorum ac Martyrum tuorum, Petri et Pauli, Andreae, Iacobi, Ioannis, Thomae, Iacobi, Philippi, Bartholomei, Matthaei, Simonis et Thaddaei, Lini, Cleti, Clementis, Xysti, Cornelii, Cypriani, Laurentii, Chrysogoni, Ioannis et Pauli, Cosmae et Damianis: et omnium Sanctorum tuorum; quorum meritis, precibusque concedas, ut in omnibus protentionis tuae muniamur auxilio. Per eumdem Christum Dominum nostrum. Amen”. (http://sanctaliturgia.blogspot.com.br/2004/09/communicantes.html)
16.3 Missale Romanum 1970: “Communicantes, et memoriam venerantes, in primis gloriosae semper Virginis Mariae, Genertricis Dei et Domini nostri Iesu Christi: sed et beati Ioseph, eiusdem Virginis Sponsi, et beatorum Apostolorum ac Martyrum tuorum, Petru et Pauli, Andreae, (Iacobi, Ioannis, Thomae, Iacobi, Philippi, Bartholomaei, Matthaei, Simonis et Thaddaei: Lini, Cleti, Clementis, Xysti, Cornelii, Cypriani, Laurentii, Chrysogoni, Ionnis et Pauli, Cosmae et Damiani) et omnium Sanctorum tuorum; quorum meritis precibusque concedas, ut in omnibus protectionis tuae muniamur auxilio. (Per Christum Dominum nostrum. Amen.)”. (http://sanctaliturgia.blogspot.com.br/2004/09/communicantes.html)
17 Confiteor Deo omnipotenti, beatæ Mariæ semper Virgini, beato Michæli Archangelo, beato Ioanni Baptistæ, sanctis Apostolis Petro et Paulo, et omnibus Sanctis, quia peccavi nimis cogitatione, verbo, et opere: (percutiunt sibi pectus ter, dicentes) mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michælem Archangelum, beatum Ioannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et Paulum, et omnes Sanctos, orare pro me ad Dominum Deum nostrum. Amém. (http://www.oocities.org/br/indicedc/santa_missa/ordinario.html)
18 Recentemente, cinquenta anos após a entrada de São José no Canon da Missa, por decreto de João XXIII de 1962, o Bergoglio, através do Decreto “Paternas Vices”, da Congregação para o Culto Divino, manda acrescentar essa menção também nas “Orações Eucarísticas” II, III e IV. O decreto: http://attualita.vatican.va/sala-stampa/bollettino/2013/06/19/news/31217.html#TRADUZIONE%20IN%20LINGUA%20PORTOGHESE. Com isso, enganam os fiéis, mostrando uma veneração falsa como os colonizadores mostravam espelhinhos e bugigangas aos índios que avistavam. Dá a falsa aparência de uma Fé verdadeira.
19 II Ts 2,3-4.
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