Artigo escrito com base nos acontecimentos recentes da Ilha de Malta (95% se declaram católicos), onde recentemente foi levado a efeito um referendum sobre a legalização do divórcio, precursor de uma série de crimes contra a Humanidade. O povo, apesar da maciça pressão até do governo, votou favoravemente ao divórcio. A votação tem apenas um carácter consultivo, e para que o divórcio seja legalizado é necessária a elaboração de uma lei específica.Segundo um rápido levantamento na rede, a partir da aprovação da lei em Malta, as Filipinas - e o Vaticano - serão o único País no mundo onde o divórcio continuará proibido. Eles precisam de nossas orações por mais essa luta, além do combate à lei do aborto.Vale a pena ler o artigo, que faz considerações interessantes sobre o tema e suas repercussões na vida cristã.GdA
“Se você é católico você é livre de não se divorciar, mas não pode impedir quem não é católico de fazê-lo.”
Estão certos. Isso é bom-senso E o bom senso não faz parte do Cristianismo. No qual só há espaço para a loucura.
É preciso escolher: ou o bom senso ou a loucura.
* * *
A loucura da Cruz. O bom senso do mundo.
“No fim, o pecado tornou-se o direito humano por excelência. O pecado.
Ou seja, o bom senso. Nem mesmo sob Nero, a Cruz de Cristo foi tão
subversiva quanto hoje. Nunca tão louca quanto hoje. Insensata e indefesa diante da esmagadora supremacia do bom senso. Mistério tremendo de um Deus fraco.”
Ou seja, o bom senso. Nem mesmo sob Nero, a Cruz de Cristo foi tão
subversiva quanto hoje. Nunca tão louca quanto hoje. Insensata e indefesa diante da esmagadora supremacia do bom senso. Mistério tremendo de um Deus fraco.”
Por Antonio Margheriti Mastino
QUEREM VOLTAR AO EVANGELHO E ACABAM SOCIÓLOGOS
Basta olhar o que aconteceu em Malta em relação ao divórcio: ilhota de hipócritas: isso me ficou claro desde o primeiro momento em que eu molhei o pé em suas águas cheias de águas-vivas. Os próprios católicos nominais, durante o referendo divorcista, fizeram uma bandeira do lema típico dos sepulcros caiados por excelência (em uma palavra: os democratas-cristãos de ontem, hoje e sempre): “Ok, eu sou contra o divórcio, nunca me divorciaria, mas se alguém quer fazê-lo porque não deve? Se a pessoa não é católica porque não pode fazê-lo?”. Para você que fala assim: ti stimo moltissimo![1]
Li possino[2], esculpiram uma frase apodítica, difícil de contradizer, saturada até a morte de bom senso. O famigerado bom senso dos democratas-cristãos. Mas, honestamente, como se pode culpá-los?
E, então, você se faz um monte de perguntas. A primeira é esta: mas quem permaneceu verdadeiramente católico? Melhor: quem ainda sabe o que significa exatamente ser católico?
Geralmente, os sbandieratori[3] do bom senso como que a quilo são os mesmos que, ab immemorabili (nem tanto: desde 1968), agitam também a bandeira do retorno ao Evangelho, em detrimento, fique claro, da Igreja institucional, como se esta não tivesse daí surgido e dele não fosse depositária. E, de fato, logo que creem ter retornado ao Evangelho, subindo ao púlpito fecham imediatamente o Evangelho e abrem (segundo a moda do momento) ou Weber ou Marx ou o jornal diário; e creem de emular a igreja primitiva (outra superstição) se se dedicam à sociologia, quando não ao marxismo e, às vezes, às armas, como no caso da Teologia da Libertação. Como não pensar que, quando falam desse Evangelho do qual nós teríamos nos afastado, enxerguem dessa forma, apontando os outros, porque eles próprios se afastaram dele mais do que a Igreja? Se em vez de ler (aqui também: fingindo ler) Marx tivessem realmente lido o Evangelho - visto que tinham tanta nostalgia dele que querem retornar à força - teriam percebido uma coisa. Que nunca Cristo em pessoa se expressou tão claramente sobre uma coisa como sobre o matrimônio: “Eles serão uma só carne e um só corpo, ninguém ouse separar o que Deus uniu”[4]. E antes de dizer isso, Cristo, com uma pergunta retórica sobre o Velho Testamento, pergunta aos presentes que haviam colocado o dilema: “A lei de Moisés diz o quê?”[5]... Exatamente o que Ele mesmo ia dizer em seguida: “Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e serão uma só carne” (Gênesis 2, 22-24).
ESTE CRISTO SEM BOM SENSO
A esse ponto, devemos chegar a uma conclusão: ou o bom senso é dos supracitados sbandieratori ou é de Cristo. De ambos, ao mesmo tempo, não pode ser. Um dos dois é um insensato. Ocorre realmente voltar às duas bandeiras de Inácio de Loyola ou, se realmente não confiais nos jesuítas, estão sempre à disposição as duas cidades de Santo Agostinho, a cidade de Deus e a de Lúcifer. Bandeiras ou cidades, bom senso ou não, é preciso escolher: ou uma ou outra parte. E, feita a escolha, saberemos para qual das duas outras opções seremos destinados: o céu ou o inferno. Não se escapa disso. A pergunta que Deus nos fará, e nos avisou a tempo, será: Quais são as tuas culpas? E não: que álibi tu tens? Nem a qual bom senso (nascido da má-fé) tu pertences que possa te justificar?
Quer queiramos ou não, ser cristão é isso. Não importa que aquilo que Deus estabeleceu por meio dos profetas e do Filho nos pareça pouco prático, de pouco bom senso: assim foi dito, assim foi decidido, esta é a Sua vontade, que nos seja cômoda ou não; e, se Ele assim o quis, certamente é para o melhor. Não há escapatória.
Faz refletir o que há alguns dias escreveu o amigo Stefano Chiappalone: O argumento “Se você é católico você é livre de não se divorciar, mas não pode impedir quem não é católico de fazê-lo” é uma autêntica maldição cultural e civil, porque abre o caminho para qualquer presunto “novo direito”. Basta substituir a palavra “divorciar” por “abortar”, “casar com uma pessoa do mesmo sexo”, “pedir para ser morto por eutanásia se você considera seu sofrimento intolerável”, e pronto.
Portanto, a pergunta final permanece esta: e se Cristo não tivesse bom senso? Não tem certamente o do mundo. E se devêssemos questionar sobre os resultados recentes do divórcio, da eutanásia, do aborto; se devêssemos perguntar: o mundo, a vida, a família, o homem em última análise, vez que todas estas coisas são permitidas, quais direitos humanos e de bom senso melhoraram então? Pelo contrário, são ainda piores; certo contextos se tornaram insuportáveis; a solidão e a alienação são o castigo divino que se abate sobre este mundo obstinado em sua iniquidade, injusto e partidário, saciado e indiferente, que morre de bom senso; o mesmo bom senso que negam às palavras de Cristo, à Lei de Moisés. E, como se não bastasse, todo esse mundaníssimo bom senso, que parte do divórcio e termina, depois de uma longuíssima carnificina de tudo, na eutanásia, ele no final das contas nos custa todo dia (só para dar um exemplo) milhões de crianças mortas no ventre de suas próprias mães. Todos mortas pelo bom senso. Ainda Lembram quem é o Príncipe do Homicídio? Não conseguem ligar causa e efeito? Todo dia, a Satanás são sacrificadas milhões de vidas inocentes, e o pior é que se faz isso com a consciência tranquila, convictos de se ter permissão para tal e de se estar usufruindo de mais um direito humano! Onde está o direito? Sobretudo: onde está ainda o humano? Um e outro conceitos são baseados em quê? Se lhes perguntassem não saberiam responder, eu aposto, se não com algum slogan de 68, do tipo a asneira do século, com a qual ou sem a qual tudo permanece tal e qual: “O corpo é meu e quem decide sou eu”. Alguém esquece que um “corpo” não é apenas tal, sobretudo não tem apenas direitos: tem muitos mais deveres e responsabilidades. Palavras, estas duas últimas, que nunca foram do agrado dos revolucionários. E dos superficiais. Como o são sempre os revolucionários.
A NOVA DIVINDADE PAGÃ
O bom senso do mundo. E ainda, apesar de tudo, fica de pé o absoluto bom senso daquela afirmação: “Se você é católico você é livre de não se divorciar, mas não pode impedir quem não é católico de fazê-lo”. Difícil escapar. No fim, é preciso admitir: os argumentos destinados a desmontar este axioma são todos fracos. Fracos, é claro, em proporção à nossa fé. Pois, se tivéssemos fé, sequer nos colocaríamos a questão.
Tudo nasce da ideia fundamental do novo paganismo, que é a verdadeira religião dos últimos três séculos, cujo primeiro mandamento é: Eu sou a Felicidade na terra, não terás outra deusa além de mim. Uma nova divindade ergue-se em Ocidente para obscurecer o Deus cristão. Uma divindade falsa e mentirosa quanto o desejardes mas vencedora, contra o Deus verdadeiro, mas fraco, sem arrogância, perdedor. Uma nova divindade que muda constantemente de nome (comunismo, nazismo, libertinismo[6], novos direitos etc.), contra aquele Deus a quem os hebreus não ousavam sequer dar um Nome, inominável e imutável. A primeira tem o paraíso aqui e agora, e para todos; o Outro o tem em outro lugar e não agora, e nem para todos. Lembro-me daquele famoso filme de Fellini onde o penitente em confissão confidencia ao velho bispo: “Não estou feliz”. E o velho espantado lhe pergunta: “Mas quem te disse, filhinho, que você tem o direito de ser feliz?”.
Eu sou a Felicidade, não terás outra deusa... basta parafrasear os mandamentos de Moisés adaptando-os a esta divindade que substituiu, ipso facto, o Deus de Abraão, Moisés, Jacó, o Deus cristão, e tudo, como por encanto, ficará claro. Os confessores dessa nova religião, desta nova divindade, se chamam Individualistas. Povoam especialmente a zona ocidental do globo, com particular intensidade nas regiões onde antigamente proliferou a religião dos seguidores de Cristo, a fé dele se chama bom senso. Há um porém: conhecemos os resultados finais da primeira e da segunda: do Cristianismo e do bom senso. Aqui também: não temos álibi.
De qualquer forma, eu pensava em Cristo e no Evangelho. Em cujas páginas, em determinado ponto, mais ou menos, está escrito que Ele é a Verdade, a qual, por sua vez, é como a espada que cai do céu e divide em dois pedras e os homens. Não posso não pensar naquelas Suas palavras, que, se eu quiser adotar o bom senso famoso da totalitária ideologia do politicamente correto, me resultam não apenas equivocas, mas também incorretas e insensatas: “Eu vim à Terra não para unir, mas para dividir”[7].
O PECADO COMO LEI DO ESTADO
Talvez a resposta tanto à pergunta quanto aos sbandieratori iniciais esteja aqui: Dividir. Entre os que aceitam seguir a loucura da Cruz e os que preferem o bom senso do mundo. A Cruz é o ápice e o abismo da falta de bom senso: é também a abominação de um Deus já naquela época crucificado pelo bom senso: dos judeus, dos romanos, de quem escolheu Barrabás, do mundo. Mas a mesma Cruz venceu o mundo. Talvez esteja aqui, digo a mim mesmo, o senso do Cristianismo: na sua falta de bom senso.
Aprovar o divórcio, portanto, não para si, mas para quem quiser usufruir dele no caso. É um direito humano. Estranho que toda essa generosidade altruística venha de quem por natureza é um individualista. O divórcio que se torna lei do Estado. O aborto também. A eutanásia igualmente. O casamento gay em particular. O mundo de cabeça para baixo. Mas tudo ditado sempre por ele: o bom senso. Uma lei dessas que se torna lei do Estado, para além do fato de que eu usufrua dela ou não, tem um valor pedagógico. É o trágico começa aqui realmente. Deseduca e cria uma nova educação artificial, aquela da moda dominante. Se o pecado se torna lei, isso é um convite reiterado a agir contra a própria consciência cristã. A renunciar a ela, no fim. E, como muitas vezes tem acontecido no Ocidente ultimamente, acaba-se na prisão, demitidos, sujeitos ao escárnio, nas primeiras páginas, se se insistir em não renunciar a ela. Tudo isso sempre em nome do bom senso. É difícil resistir a isso, eu sei: mas, se até mesmo nós renunciarmos a ser o sal da terra, o que restará de nós? Cristo o disse: se o sal perde seu sabor, será pisado e disperso. Infelizmente, hoje todos os sistemas jurídicos ocidentais se baseiam na inversão da consciência cristã: o que sempre foi pecado é atualmente, quase sempre e em todo lugar, lei do Estado: a lei do Estado é o próprio pecado. No fim, o pecado tornou-se o direito humano por excelência. O pecado. Ou seja, o bom senso.
Nem mesmo sob Nero, a Cruz de Cristo foi tão subversiva quanto hoje. Nunca tão louca quanto hoje. Insensata e indefesa,diante da esmagadora supremacia do bom senso. Mistério tremendo de um Deus fraco, sem arrogância, derrotado: o Nosso.
O bom senso. Que nada mais é do que moda. E a moda é o espírito do mundo. E o espírito do mundo é Lúcifer.
Eu escolho, mais uma vez, a loucura da Cruz.
Fonte: PapalePapale - 04/06/11
Tradução: Giulia d'Amore di Ugento
[1] Literalmente: “admiro-te muito!”. Mas aqui há o veneno tipicamente sarcástico do tipicamente italiano.
[2] Imprecação italiana, do dialeto romano: “li possino ammazzà!” – os possam matar! - Se suspende com reticencias para não ofender (!). É normalmente jocosa.
[3] São os que desfraldam uma bandeira, mas aqui tem o sentido de defender uma causa, levantar uma bandeira ideológica.
[4] S. Mateus, 19,5-6.
[5] S. Marcos, 10,3.
[6] Movimento cultural de pensadores e literatos europeus (principalmente na França). Com base nas profecias do herético Joaquim de Fiore, abade cisterciense e filósofo místico, defensor do Milenarismo e do advento da idade do Espírito Santo, os libertinistas acreditavam em um tipo de panteísmo e praticavam a liberdade de costumes, especialmente os sexuais: A vida do homem é estritamente natural, e a natureza é a perfeição divina. Os instintos não devem ser contidos, e não há pecado se nos guiamos pelo chamado natural do prazer físico.
[7] S. Mateus 10,34.
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