São Vicente Ferrer, OP
Confessor
De uma inteligência rara, já em menino se distinguia vantajosamente dos companheiros. Tendo apenas 7 anos, reunia os amiguinhos e reproduzia-lhes, verbalmente, práticas que tinha ouvido na Igreja. Vendo esta boa disposição intelectual no filho, os pais proporcionaram-lhe os meios para dedicar-se ao estudo das Ciências. Tendo apenas doze anos de idade, Vicente começou o estudo da Filosofia, e aos dezessete anos já tinha terminado o curso de Teologia.
Não menos admirável que sua inteligência era sua piedade. Frequentes vezes procurava a igreja, passando longas horas em oração; às quartas e sextas-feiras observava rigoroso jejum. As devoções mais queridas eram à Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e à Santíssima Virgem.
Na idade de 18 anos, entrou para a Ordem Dominicana. Seis anos depois, fazia preleções sobre Filosofia aos jovens religiosos. Mandado pelos superiores às Universidades de Barcelona e Lerida (na Espanha), com o fim de completar os estudos teológicos, tão brilhante curso fez que, tendo 28 anos, lhe foi conferido o título de Doutor, e nesta qualidade começou a lecionar as matérias teologais em Valença.
Neste ramo de atividade, não abandonou as práticas de piedade; na observação da Regra, foi sempre o mais exemplar. Além disto, começou a dedicar-se à pregação da palavra de Deus, com muito resultado, como se pôde observar no tempo de uma terrível fome, que assolou o País.
A sabedoria e santidade do ilustre dominicano tinham já adquirido grande fama, quando o Cardeal Pedro de Luna foi à França, no caráter de delegado apostólico. A convite deste Cardeal, Vicente dirigiu-se para a França, onde, por algum tempo, trabalhou como missionário; não querendo, porém, seguir o Cardeal até Avignon, voltou para Valença.
Para que lhe fosse provada a virtude, Deus permitiu que tentações horríveis contra a castidade o atormentassem. Mil imagens abjetas o Demônio apresentou-lhe à fantasia, para perturbar a paz do religioso, e, se não sendo possível levá-lo a pecar, pelo menos lhe inoculasse o desânimo. No desejo de vê-lo perder-se, recorreu ao auxílio de uma mulher, que se tinha deixado tomar de forte paixão pelo santo Sacerdote. Fingindo-se doente, mandou chamar a Vicente, pedindo-lhe a ouvisse em confissão. Vicente, nada suspeitando, dirigiu-se à casa da doente artificiosa. Tendo tomado lugar à cabeceira do leito da enferma, para exercer a função de Confessor, esta mudou de atitude e, em vez de se dispor a receber o Sacramento, fez ao Sacerdote propostas indecorosas. Vicente, sem dizer palavra, levantou-se e, imitando o exemplo de José do Egito, fugiu daquele lugar. A mulher, porém, desapontadíssima, resolveu vingar-se, e a exemplo da mulher de Putifar, recorreu à calúnia. Não achou, porém, quem lhe acreditasse, e assim começou a reconhecer o mal que fez. Humilhada e arrependida, procurou o Santo e pediu-lhe perdão. Vicente não só lhe perdoou, como também a curou de um mal oculto, que Deus lhe tinha mandado, em castigo por seus pecados.
As armas que São Vicente usou e que lhe deram a vitória, no combate contra as tentações, foram a oração, a fuga da ocasião, a mortificação, uma grande vigilância sobre os sentidos e um especial cuidado de suprimir as primeiras manifestações da concupiscência. Contra outras ciladas do demônio, defendeu-se pelo Sinal da Cruz.
Trazia o coração constantemente na presença de Deus [Nota do Pale Ideas: sugiro a leitura do livro "O Exercício da Presença de Deus"]. de modo que assim todas as ocupações se lhe transformavam em oração. Esta prática recomendava aos outros, mui particularmente. “Se quiseres tirar muito fruto do estudo, cuida que seja a piedade companheira inseparável dos teus trabalhos intelectuais e formula a intenção de santificar tua alma, por meio da Ciência. Mais que o livro, deve Deus ser teu conselheiro e deves pedir-lhe a graça da compreensão daquilo que lês. O estudo fadiga o espírito e seca o coração. Aviva ambos aos pés de Jesus crucificado. Uns momentos de repouso nas santas chagas renovam as forças e dão luz. Interrompe de quando em vez teu trabalho pelas jaculatórias. Teu trabalho principie e termine pela oração”.
Importantíssimo papel desempenhou o Santo no trabalho de resolver o Grande Cisma do Ocidente, e fortemente instou com Bento XIII (Cardeal Pedro de Luna) para que renunciasse à dignidade pontifícia. Conseguiu do Rei Fernando I de Aragão que se afastasse de Bento XIII, o qual, como Antipapa (e com o nome de Bento XIII), fixara residência em Avignon. Para lá chamou Vicente, ao qual confiou a Mordomia do Palácio. Vicente tudo fez para que se findasse o triste Cisma, que dividia a família de Jesus Cristo na Terra. A todas as instâncias o Antipapa respondeu com evasivas. Vicente procurou então se ocupar fora do Palácio, pregando missões por toda a parte, recusou as dignidades hierárquicas, que repetidamente lhe foram oferecidas, e afinal conseguiu de Bento XIII licença para estender as missões pela França toda, ao Piemonte, Savóia, Alemanha e Lorena.
Em 1405, recebeu de Bento XIII um convite para ir a Gênova. Assim, teve ocasião de santificar, com as missões, as regiões vizinhas. Mais uma vez percorreu toda a França. Quando chegou ao Monte de Calia, o Rei da Inglaterra, Henrique VI, convidou-o para visitar também a Grã-Bretanha. Aceitando este convite, Vicente pregou na Inglaterra, Escócia e Irlanda. Finda a missão nas ilhas britânicas, voltou pela França para Granada.
Grandioso foi, por toda a parte, o resultado desse trabalho apostólico. Contaram-se aos milhares as conversões de Judeus, Mouros, Sarracenos, hereges e maus católicos, em consequência de sua atividade missionária.
Essas missões foram grandemente glorificadas pela santidade de vida, pelo dom da profecia e pelos numerosos milagres que Deus se dignou operar por intermédio do grande missionário.
Fazendo a pregação ao ar livre, diante de um auditório que ascendia a milhares de pessoas deu-se o fato das pessoas mais afastadas terem-lhe ouvido a voz com a mesma nitidez que os que se achavam ao pé do púlpito. Na diocese de Viech se renovou o milagre da multiplicação dos pães. Em Salamanca, na presença de muito povo, a palavra do missionário chamou um morto à vida. Na mesma cidade, como também em Toledo, se converteram tantos Judeus, que as sinagogas passaram a ser igrejas católicas.
No meio de todos estes trabalhos, Vicente conservou a austeridade de vida, que sempre o caracterizava. Religioso exemplar, observava fielmente os votos da castidade, da pobreza e da obediência. Observando o jejum todos os dias, nas quartas-feiras e nos sábados tomava só pão e água. Tinha por leito um colchão de palhas, e todas as noites flagelava o corpo.
A preparação para as práticas era feita ao pé do Crucifixo. Terminada a pregação, ia ao confessionário, onde grande número de pecadores encontraram a paz e o perdão.
Pelo fim da vida, levava consigo cinco religiosos da Ordem, em companhia dos quais percorreu toda a Bretanha francesa, semeando a palavra e a doutrina de Jesus Cristo. A morte colheu-o no meio do trabalho. Vicente morreu aos 5 de abril de 1419, em Vanes, tendo alcançado a idade de 62 anos.
Muitos milagres glorificaram-lhe a morte. A Bula da canonização conta mais de 400 curas que se realizaram por sua intercessão. Pio II inseriu o nome de Vicente no catálogo dos Santos da Igreja Católica em 1455.
Retirado e adaptado do livro: Lehmann, Pe. João Batista , S.V.D., Na Luz Perpétua, Lar Católico, Juiz de Fora, 1956.
Fonte: www.lepanto.com.br.
Outra biografia: aqui.
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Belíssima história! São Vicente Férrer, rogai por nós!
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