03 de Outubro
Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face
Virgem
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A igreja modernista transferiu a festa para outra data. Nós continuamos seguindo o Calendário Litúrgico da Igreja Católica.
Se Deus dá à Igreja Santos e Santas, não menos verdade é, que uma das primeiras condições de santidade é, fora da graça de Deus, a santidade dos progenitores. É justamente esta circunstância particular que se observa em relação à Santa Teresinha do Menino Jesus. Eram santos os pais.
Luís José Estanislau Martin, aos vinte anos, teve ardente desejo de tomar o hábito de São Bernardo, mas, reconhecendo que os desígnios Da Divina Providência eram outros, desistiu do plano. Zélia Guerin, jovem de muita piedade e caráter enérgico e franco, aspirava a ser admitida entre as irmãs de São Vicente de Paulo, e para este fim solicitou entrada na Congregação das mesmas, em Alençon. As superioras reconheceram não ser esta a vontade de Deus e, sem hesitação, disseram-lhe sua opinião a este respeito. Zélia, resignando-se com esta decisão, repetia , muitas vezes no íntimo da alma esta prece:
“Meu Jesus, já que não sou digna de ser vossa esposa, como minha irmã querida (**), abraçarei o estado de matrimônio, para cumprir a vossa vontade santíssima. Peço-vos, porém, encarecidamente, sejais servido concerder-me muitos filhos, e que todos vos sejam consagrados”.
Deus, em sua paternal bondade, reservava para esta alma predileta o virtuoso jovem já mencionado e, graças a circunstâncias visivelmente providenciais, realizou-se o enlace matrimonial de ambos, aos 12 de julho de 1858, na Igreja de Nossa Senhora de Alençon.
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Houve Deus por bem aceitar com agrado a santa disposição do piedoso casal e deu-lhe nove filhos, que no santo batismo tiveram os seguintes nomes: Maria Luísa, Maria Paulina, Maria Leônia, Maria Helena (falecida aos cinco anos e meio de idade), José Maria, Maria José, João Batista, Maria Celina, Maria Melania Tereza (falecida três meses depois do nascimento) e Maria Francisca Tereza.
Depois do nascimento das quatro filhas mais velhas era ardente o desejo do piedoso casal de ter um filho, que futuramente servisse a Deus como missionário, e nesta aspiração dirigiram-se confiadamente a São José. As orações foram ouvidas e o coração dos pais encheu-se de doce júbilo, quando lhes nasceu o primeiro filho, a quem deram o nome de José Maria. Mas os pensamentos do Senhor não são os nossos, nem os seus caminhos são os nossos. Assim aconteceu que ao cabo de cinco meses apenas, o pequeno José trocasse este deserto pelos tabernáculos do Senhor.
Empenhados em alcançar do céu para sua família um sacerdote, um missionário, os pais instaram novamente com ardentes súplicas, e grande lhes foi a alegria quando um outro pequenino José veio tomar o lugar do irmãozinho falecido. Nove meses se passaram e também esta florzinha se viu transplantada para os canteiros celestes.
Desistiram então de pedir aos céu outro missionário. Contudo realizou-se-lhes plenamente o desejo na pessoa da última filha, de todas a mais abençoada e privilegiada, alma providencial, a quem Deus deu uma missão grandiosa, verdadeiramente divina.
Nos pais os filhos viam o exemplo de cristãos santos. Amigos da oração, todas as manhãs se reuniam aos pés do altar e à mesa eucarística. Rigorosamente observavam a lei do jejum e da abstinência, eram escrupulosos na santificação do domingo, faziam com assiduidade as práticas de piedade, como a leitura espiritual e a oração em comum. Não faltavam, certamente, provocações, mas a única resposta que davam a Deus, era sempre uma total resignação a tudo que a alta Providência quisesse determinar.
Embora houvesse certo bem-estar na família Martin, ninguém se excedia em luxos desnecessários, e em tudo reinava grande simplicidade.
Em família de sentimentos tão cristãos e generosos, a virtude da caridade achava terreno mais amplo de atividade.
Das economias o piedoso casal reservava anualmente avultosa quantia para a Obra da Propagação da Fé. A casa estava-lhes sempre aberta para os pobres, e grandes eram as esmolas que lá recebiam. Na distribuição da caridade o Sr. Martin não conhecia o respeito humano, e muitos são os casos em que com as próprias mãos servia a pobres desamparados. Não é, pois, caso de estranhar que o nobre homem em suas empresas se visse acompanhado da benção de Deus.
Foi em Alençon, na rua São Brás, que nasceu a celeste florzinha, Santa Teresa do Menino Jesus, geralmente conhecida pelo nome que o povo cristão lhe deu – Santa Teresinha.
Às 11 horas e meia da noite de 2 de janeiro Teresa abria os olhos para este mundo.
No dia do nascimento da “rainhazinha”, (assim o extremoso pai chamava sua filhinha) veio um pobre bater à porta da ditosa família e entregar um papel com estas loas, que mais pareciam uma profecia:
Aos 4 de janeiro a graciosa menina foi levada ao batismo, onde recebeu o nome de Maria Francisca Teresa, servindo-lhe de madrinha a irmã mais velha, Maria Luísa.
Teresa contava apenas quatro anos e meio, quando a morte lhe arrebatou a querida mãe. Foi então que o Sr. Martin resolveu mudar a residência para Lisieux, onde morava o cunhado Guérin, cuja esposa velaria pela educação das órfãsinhas.
Pelo belíssimo exemplo que Teresinha tinha constantemente diante dos olhos, bem cedo se acostumou à prática das virtudes, e decerto é a expressão da verdade o que afirma a autobiografia: que desde a idade de 3 anos nunca recusou coisa alguma a Deus.
Dotada de inteligência superior, treinada pelas experiências colhidas no caminho da provação e da dor, a menina, em bem poucos anos, chegou a demonstrar uma madureza admirável em julgar as coisas divinas e humanas. A esta firmeza de caráter, ao conhecimento profundo das coisas divinas, ao desejo de pertencer a Deus deve-se atribuir o fato de , com 15 anos apenas, se ter resolvido a entrar na Ordem do Carmelo, cuja regra é uma das mais austeras.
Em sua “História de uma alma”, escrita por ordem da superiora, Madre Inês de Jesus, a nossa santa, com uma simplicidade encantadora, narra os fatos principais que se ligam à sua vida junto aos pais, no seio da família, a entrada na Ordem, descreve as dificuldades de ordem material e espiritual, consolações que teve e graças extraordinárias que recebeu do divino Esposo.
Dos fatos narrados na “ História de uma alma” , tenham aqui lugar só os mais notáveis.
Teresinha, bem pequenina ainda, fez a primeira confissão e saiu do confessionário muito satisfeita, achando que nunca até então tinha experimentado uma alegria igual.
Certo dia teve uma visão um tanto profética, que muito a impressionou. Estando o pai em viagem, que por longo tempo o afastava da família, Terezinha teve a impressão de ver diante de si um homem alquebrado, de cabeça encanecida, e embuçada em véu espesso. Tudo daquele homem, o traje, o andar, a figura, tudo lhe fazia crer que fosse o pai querido. Tomada de estranho terror, chamou por ele com voz trêmula: “Papai, ó papai !” Mas o personagem assim interpelado não dava sinais de ter ouvido estas palavras e continuou a andar, afastando-se pelas alamedas do jardim. Teresinha nunca mais perdeu de memória esta misteriosa visão, presságios de futuros padecimentos, de que o pai seria vítima. O sr. Martin pelo fim da vida sofreu diversos ataques de paralisia, que lhe comprometeram a luz do espírito, de tal modo que durante três anos, foi preciso ser entregue aos cuidado de pessoas estranhas.
Terezinha tinha oito anos e meio, quando se matriculou como externa no colégio das religiosas beneditinas, em Lisieux.
Embora muito mais nova que as companheiras de classe, tirava as melhores notas em composição, e era muito querida entre as religiosas, razões estas que não poucas humilhações lhe importavam, da parte de alunas menos consideradas e menos inteligentes. Foi neste espaço de tempo que na mente de Teresinha surgiu o primeiro pressentimento de ser por Deus chamada a abraçar o estado religioso no Carmelo. Esse pressentimento tomou feições de desejo em 1885, quando a prima e amiga Maria Guérin entrou para o Carmelo de Lisieux.
No retiro que a irmã Celina fazia, em preparação para a primeira Comunhão, Teresa a acompanhou e experimentou as mais suaves impressões. O dia da primeira Comunhão considera-o um dos mais belos da vida.
Comparando-se com as irmãs, Teresa se reconhece menos afeita aos brinquedos próprios da idade infantil, porém mais sensível e choraminga até o excesso. Na família reinava sempre a mais perfeita harmonia e entre as irmãs e as primas havia o maior entendimento, a mais franca cordialidade.
Tereza era sempre fraquinha e dores de cabeça atrozes atormentavam-na por dias, semanas e meses, acompanhadas às vezes, por estranhos temores. Por vezes caía em delírio, sem entretanto perder o uso da razão. Vinham desmaios, que lhe tolhiam o mais leve movimento. O leito parecia-lhe rodeado de demônios e de precipícios horríveis. Os pregos cravados nas paredes do quarto tinham-lhe aos olhos a forma de dedos enormes pretos e carbonizados, cuja vista lhe provocava gritos de horror. Em tão tristes lances se via como sempre, rodeada do mais afetuoso carinho do pai e das irmãs e parentes.
Desta doença, que resistia a todos os recursos da ciência médica, a santa menina se viu curada por Maria Santíssima. Celina, vendo baldados todos os esforços para conservar a vida da querida irmã, invocou, com todo o fervor de mãe que suplica, a Maria santíssima, representada numa estátua que a família Martin tinha em muita veneração. A estátua, a mesma que se vivificava aos olhos da mãe de Teresa, animou-se de súbito também na presença desta: “ A Virgem Santíssima adiantou-se para mim e sorriu...” Celina, ao vê-la fitar os olhos na estátua disse de si para si: “ Teresa está curada” . De fato estava. No momento em que a irmã dizia isto consigo, o rosto de Teresa tornara-se diáfano e estava transfigurado. A fisionomia denunciava-lhe algo de sobrenatural. As pessoas presentes a esta cena sentiram-se tomadas de pasmo e admiração. Não havia dúvida que Teresa em êxtase vira Maria Santíssima.
Restabelecida do terrível mal que a acometera e quase a levara às portas da eternidade, o pai proporcionou-lhe o grande prazer de um passeio agradabilíssimo, ocasião em que começou a conhecer o mundo. Via-se então muito festejada; admirada por todos, sem entretanto compreender o motivo de tantas atenções. Embora não fosse insensível às carícias de pessoas amigas, bem cedo chegou à conclusão de que tudo é vaidade, exceto amar e servir a Deus.
Pessoas da intimidade, por exemplo as mestras, notaram em Teresa grande inclinação à oração mental. A menina meditava de fato, sem contudo dar conta de tal e chamava a isto pensar.
Fez a primeira Comunhão nas melhores disposições. Três meses empregou na preparação. Ela mesma confessa ser-lhe impossível contar as impressões que teve, no momento de receber a sagrada Hóstia. “ Meu encontro com Jesus naquele dia não podia ser apenas um simples olhar, mas era sim uma fusão. Já não éramos dois. Teresa desaparecera, como a gota d’água que se abisma no seio do oceano. Restava só Jesus e era o Senhor, o Rei ! “
Pouco tempo depois da primeira Comunhão recebeu o sacramento da Confirmação, em preparação do qual fez novo retiro.
O ideal de ser religiosa Carmelita desenhava-se cada vez mais nítido, na alma da piedosa donzela. Obter o consentimento do pai e das irmãs e pedir admissão na Ordem não era tão fácil como a princípio se lhe afigurava. Mas o tio era de parecer contrário. Não só declarou contrário à idéia, mais ainda acrescentou que se havia de opor à execução de tal plano, caso não houvesse a intervenção de um milagre.
Poucos meses depois, porém, deixou de lado a sua resistência e deu seu consentimento.
“Vai em paz, querida filhinha, - disse-lhe, abraçando-a paternalmente – és uma florzinha privilegiada, que o Senhor quer para si e a isto não me hei de opor”.
Levantou-se, entretanto, outra dificuldade, e era de natureza muito séria, mesmo insuportável: a recusa formal do Superior do Carmelo de receber na Ordem uma donzela de quinze anos. Idêntica foi a decisão do Bispo de Bayeux, se bem que este muito comovido pela insistência com que Teresa apresentou o pedido, secundado pelas afirmações do pai, não lhe cortasse o fio da esperança, prometendo-lhe falar com o Superior a respeito e responder-lhe então.
Em 7 de novembro de 1887 organizou-se em Paris uma peregrinação a Roma, na qual tomaram parte o sr. Martin com suas filhas Teresa e Celina. Estava também entre os peregrinos o Padre Revérony, Vigário geral de Bayeux, de quem Teresa diz que a observava diligentemente, em toda a viagem.
Chegados à Roma, só em 20 de novembro tiveram a ventura de serem recebidos em audiência no Vaticano. A Santa mesma conta-nos, com toda a minudência, o histórico dessa audiência.
“Na manhã de domingo ( 20 de novembro) fomos ao Vaticano. Às 8 horas assistimos à Missa do Sumo Pontífice. Acabada a Missa de ação de graças, que se seguiu à do Santo Padre, principiou a audiência. Leão XIII estava assentado na poltrona, em trono elevado, vestido de batina branca e murça da mesma cor. Ladeavam-no diversos Prelados e as mais altas dignidades eclesiásticas. Conforme as prescrições do cerimonial, cada um dos peregrinos ia por sua vez ajoelhar-se, beijar primeiro o pé e logo a mão do augusto Pontífice e receber-lhe a benção; em seguida dois guardas nobres, tocando-o de leve, com o dedo, significavam-lhe que se levantasse para passar à outra sala ceder o lugar ao seguinte.
Ninguém tugia, mas eu estava resolvidíssima a falar, quando o Revmo. Pe. Revérony, que se pusera à direita de Sua Santidade, nos fez saber publicamente que proibia terminantemente que se falasse ao Santo Padre. Voltei-me para Celina, a interrogá-la com o olhar; entretanto dava-me o coração pancadas de fazê-lo estalar.
- Fala ! disse-me ela.
Momentos depois estava eu ajoelhada diante do Papa. Beijei-lhe o pé e apresentou-me a mão. Levantando então para ele os olhos cheios de água, dirigir-lhe esta súplica:
- Santíssimo Padre, desejo pedir-vos uma graça importante ! – Inclinou logo a fronte até junto do meu rosto; como se os seus olhos pretos e profundos quisessem penetrar até o âmago de minha alma.
- Santíssimo Padre – insisti – em memória do vosso jubileu, autorizai-me a entrar no Carmelo aos quinze anos !
O Revmo. Vigário Geral de Bayeux, estupefato e descontente, atalhou imediatamente:
- Santíssimo Padre, é uma criança que deseja abraçar a vida do Carmelo, mas os Superiores estão atualmente examinando o caso.
- Pois bem, minha filha – disse então Sua Santidade – esteja pelo que decidirem os superiores.
De mãos postas, e encostadas aos seus joelhos, fiz esta última tentativa:
- Ó Santíssimo Padre, é só dignar-vos de responder-me sim, para concordarem todos !
Olhou-me fixamente e proferiu estas palavras, martelando cada sílaba, em tom de voz penetrante:
- Pois não... vamos... entrará, se assim aprouver Deus.
Ia eu insistir ainda, quando se aproximaram dois guardas nobres, acenando que me levantasse. Ao verem que não bastava este aviso, travaram-me dos braços e o Revmo. Padre Revérony veio também os ajudar a erguer-me, visto como ainda me deixava ficar queda, de mãos postas e apoiadas nos joelhos do Papa.
No momento em que era assim removida, o bom do Santo Padre pôs suavemente a mão sobre os meus lábios e ergueu-os logo depois para abençoar e pôr largo espaço de tempo esteve me acompanhando com o olhar” .
Tornados a Lisieux, a primeira visita foi ao Carmelo. Um novo requerimento que Teresa fez ao Prelado diocesano, não teve pronto despacho, como desejava e esperava. Passou-se o Natal do ano de 1887, sem obter resposta alguma. O dia 1º de janeiro de 1888 tirou-a afinal da incerteza. Foi nesse dia que a Madre Maria de Gonzaga lhe comunicou ter recebido autorização do Bispo para recebe-la imediatamente, como postulante no Carmelo. Na carta a Superiora acrescentava que só depois da quaresma a entrada se poderia efetuar.
O dia 9 de abril de 1888 trouxe-lhe afinal a ventura da entrada no Carmelo.
Desde o começo da vida religiosa no claustro, pode Teresa experimentar as provações com que Nosso Senhor costuma mimosear seus prediletos. Uma aridez espiritual parecia ser-lhe o pão quotidiano, e a Madre Superiora introduziu-a logo nas práticas costumeiras do Carmelo, tratando-a sempre com extraordinária severidade, não lhe perdoando a mínima falta que cometesse. Destarte Teresa bem cedo se habituou a considerar na Superiora não a criatura, mas a pessoa de Nosso Senhor, ficando assim preservada de afeições humanas no claustro, que sempre que as houver, são uma verdadeira calamidade.
Extraordinária e mui significativa é a declaração que Teresa fez, no exame do canônico que lhe precedeu a profissão, dizendo: “ Vim para salvar as almas e especialmente para rezar pelos sacerdotes” . Fiel a este propósito ofereceu-se a Jesus como vítima, convencida que só pelo sofrimento poderia fazer algum bem às almas. Durante cinco anos realizou esta prática, sem que pessoa alguma soubesse.
Em 10 de janeiro de 1889 recebeu o hábito, cerimônia a que presidiu o Bispo Diocesano, e que se revestiu de grande solenidade, estando presentes as irmãs de Teresa. Acompanhada pelo pai, entrou solenemente na capela.
Para o sr. Martin foi um triunfo e também sua última festa no mundo, pois um mês depois foi acometido de grave doença que o levou à sepultura seis anos depois.
O tempo do noviciado passou célebre, entre as práticas de piedade, de virtude e mortificação, sem que houvesse ocorrido fato de maior relevância.
Decorrido um ano, passou pela decepção de não poder professar, Declaro-lhe a Superiora que, devido à oposição formal do Revmo. Padre Superior, havia de esperar mais oito meses. A própria Santa confessa que a princípio he custou aceitar tamanho sacrifício, mas, ajudada pela graça divina, conformou-se inteiramente com a decisão de quem fazia às vezes de Jesus.
Passado o tempo da provação, ficou marcado o dia 8 de setembro de 1890 para a profissão religiosa.
Horas antes da profissão religiosa, recebeu de Roma a benção do Santo Padre, fato que muito consolou, tendo durante o retiro espiritual experimentado a mais completa aridez. Permitiu Deus que sua serva, no dia que precedia a profissão, fosse horrivelmente perturbada por tentações a respeito da vocação. “ A minha vocação – assim escreve – afigurou-se-me de improviso, simples sonho e quimera; o demônio – pois era ele mesmo – inspirava-me a convicção de que a vida do Carmelo não me convinha por forma alguma e que enganava os Superiores, metendo-me por um caminho ou instituto de vida para o qual não fora chamada. Tão densas se amontoaram estas trevas, que cheguei a persuadir-me duma coisa única: não tenho vocação religiosa, devia voltar ao mundo”. Foram angústias indescritíveis e para dissipá-las Teresa foi ter-se com a mestra e manifestou-lhe a tentação. Foi o bastante para lhe voltar a calma e o sossego.
Se procurarmos saber que meios Santa Teresa empregou para chegar a tão alto grau de perfeição, que a igreja e com esta todos os fiéis lhe admiram, descobriremos três: - a oração, a vida unida a Nosso Senhor, a mortificação e o amor a Deus.
O espírito de sacrifício era-lhe universal. Tudo quanto havia de mais penoso e menos agradável, por isso mesmo o procurava com sofreguidão. Tudo o que Deus lhe pedia, dava-lho sem reserva. O que mais a martirizou fisicamente, como confessa, foi a privação do fogo durante o inverno. “ O frio tem sido para mim um tormento de morte”.
Na Sexta-feira Santa (3 de abril de 1896) apareceram os primeiros anúncios da “chegada do Esposo”. Freqüentes eram as hemoptises que lhe sobrevinham, mas a Santa sabia habilmente as disfarçar, tanto que só em maio de 1897 as irmãs souberam do verdadeiro estado de sua saúde.
Em julho do mesmo ano foi preciso transferi-la definitivamente para a enfermaria. Os últimos meses foram de sofrimentos incalculáveis, causados por um desânimo que o demônio lhe preparava, atormentando-a com tentações contra o amor de Deus. “ Tens certeza – dizia-lhe a voz maldita – de ser realmente amada por Deus?”
Quando em 30 de julho recebeu a Extrema-Unção, disse jubilosa, às irmãs: “ A porta da minha escura prisão está entreaberta; estou radiante, principalmente depois que o nosso Padre Superior me assegurou que minha alma se assemelha hoje à de uma criancinha recém-batizada”.
Desde o dia 16 de agosto até 30 de setembro as freqüentes hemoptises não lhe permitiam receber a santa Comunhão, sacrifício este que de todos lhe era em extremo sensível.
São dos últimos dias de sua existência estas memoráveis palavras: “Nunca dei a Deus senão amor e com amor também me há de recompensar. Depois da minha morte farei cair uma chuva de rosas. Sinto que está chegando a hora de desempenhar a minha missão a de fazer amar a Nosso Senhor como o amo...de dar a conhecer a minha veredazinha às almas. Quero passar o meu céu empenhada em fazer bem na terra”.
Muitas coisas edificantes disse ainda Santa Teresa às Irmãs, nos últimos dias de doença.
Entretanto, a dor aumentava de dia para dia. A fraqueza chegou a tais extremos, que a doente sem auxílio não podia fazer o mais leve movimento. Causava-lhe aflição horrível falar perto de si. A febre martirazava-a de tal maneira, que só com grande esforço podia pronunciar uma palavra. Mas no meio de todo este sofrimento, um leve sorriso lhe aflorava aos lábios.
Chegou, afinal, o dia 30 de setembro, o dia de sua santa morte. Estreitando o crucifixo nas mãos, parecia absorta em profunda meditação. Quando o sino do Mosteiro tocou as Ave-Marias vespertinas, fixou na Virgem Imaculada um olhar inexprimível. Cobria-lhe o rosto um suor copioso: tremia. Às sete horas e poucos minutos perguntou à Madre Priora:
- Minha Madre, não será talvez a agonia? Não estou nas últimas?
- Pois não, minha filha, é a agonia; mas Jesus quer prolongá-la talvez algumas horas.
E ela, muito resignada:
- Pois bem... vamos... vamos... oh ! não quisera que se me abreviassem os sofrimentos...
E olhando para o crucifixo:
- Oh !... Amo-o !... Meus Deus, eu vos... amo !
Foram estas suas últimas palavras; pronunciando-as deixou-se cair sobre o leito, numa atitude semelhante à de algumas virgens mártires, que se dispunham a receber o último golpe. De repente, se ergueu, como se fosse para atender a uma voz misteriosa, abriu os olhos, e fitou-os com uma expressão de jubilo indizível, um pouco acima da imagem de Nossa Senhora. Isso durou mais ou menos a recitação de um “credo” e sua alma voou para os páramos celestes.
Logo depois da morte de Teresinha, começaram a dar-se na comunidade fatos extraordinários. Verificou-se a profecia da Santa, que disse: Depois da minha morte farei cair uma chuva de rosas.
O mundo católico encheu-se de admiração pela santidade da humilde carmelita de Lisieux, e Deus glorificou-a, fazendo-a benfeitora da humanidade, como provam os milagres, que apareceram às centenas.
Treze anos depois da morte, procedeu-se-lhe à exumação do corpo e nesta ocasião foi encontrada intacta e verde a palma que as religiosas lhe tinham posto na mão, logo após a morte.
Beatificada em 1923, S.S. o Papa Pio XI, no ano do jubileu de 1925, lhe deu a honra dos altares. As relíquias, depositadas na capela do Mosteiro do Carmelo em Lisieux, repousam numa riquíssima urna de prata dourada, oferecida pelos católicos do Brasil.
Fonte: http://www.paginaoriente.com/santos/teres0110.htm.
Leia mais aqui: https://farfalline.blogspot.com/2015/09/santa-teresinha-de-lisieux.html.
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Depois do nascimento das quatro filhas mais velhas era ardente o desejo do piedoso casal de ter um filho, que futuramente servisse a Deus como missionário, e nesta aspiração dirigiram-se confiadamente a São José. As orações foram ouvidas e o coração dos pais encheu-se de doce júbilo, quando lhes nasceu o primeiro filho, a quem deram o nome de José Maria. Mas os pensamentos do Senhor não são os nossos, nem os seus caminhos são os nossos. Assim aconteceu que ao cabo de cinco meses apenas, o pequeno José trocasse este deserto pelos tabernáculos do Senhor.
Empenhados em alcançar do céu para sua família um sacerdote, um missionário, os pais instaram novamente com ardentes súplicas, e grande lhes foi a alegria quando um outro pequenino José veio tomar o lugar do irmãozinho falecido. Nove meses se passaram e também esta florzinha se viu transplantada para os canteiros celestes.
Desistiram então de pedir aos céu outro missionário. Contudo realizou-se-lhes plenamente o desejo na pessoa da última filha, de todas a mais abençoada e privilegiada, alma providencial, a quem Deus deu uma missão grandiosa, verdadeiramente divina.
Nos pais os filhos viam o exemplo de cristãos santos. Amigos da oração, todas as manhãs se reuniam aos pés do altar e à mesa eucarística. Rigorosamente observavam a lei do jejum e da abstinência, eram escrupulosos na santificação do domingo, faziam com assiduidade as práticas de piedade, como a leitura espiritual e a oração em comum. Não faltavam, certamente, provocações, mas a única resposta que davam a Deus, era sempre uma total resignação a tudo que a alta Providência quisesse determinar.
Embora houvesse certo bem-estar na família Martin, ninguém se excedia em luxos desnecessários, e em tudo reinava grande simplicidade.
Em família de sentimentos tão cristãos e generosos, a virtude da caridade achava terreno mais amplo de atividade.
Das economias o piedoso casal reservava anualmente avultosa quantia para a Obra da Propagação da Fé. A casa estava-lhes sempre aberta para os pobres, e grandes eram as esmolas que lá recebiam. Na distribuição da caridade o Sr. Martin não conhecia o respeito humano, e muitos são os casos em que com as próprias mãos servia a pobres desamparados. Não é, pois, caso de estranhar que o nobre homem em suas empresas se visse acompanhado da benção de Deus.
Foi em Alençon, na rua São Brás, que nasceu a celeste florzinha, Santa Teresa do Menino Jesus, geralmente conhecida pelo nome que o povo cristão lhe deu – Santa Teresinha.
Às 11 horas e meia da noite de 2 de janeiro Teresa abria os olhos para este mundo.
No dia do nascimento da “rainhazinha”, (assim o extremoso pai chamava sua filhinha) veio um pobre bater à porta da ditosa família e entregar um papel com estas loas, que mais pareciam uma profecia:
Sorri, cresce depressinha,
Tudo te chama à ventura:
Amor, desvelos ternura...
Sorri à fúlgida Aurora,
Botão que nasceste agora,
Rosa mais tarde serás !
Aos 4 de janeiro a graciosa menina foi levada ao batismo, onde recebeu o nome de Maria Francisca Teresa, servindo-lhe de madrinha a irmã mais velha, Maria Luísa.
Teresa contava apenas quatro anos e meio, quando a morte lhe arrebatou a querida mãe. Foi então que o Sr. Martin resolveu mudar a residência para Lisieux, onde morava o cunhado Guérin, cuja esposa velaria pela educação das órfãsinhas.
Pelo belíssimo exemplo que Teresinha tinha constantemente diante dos olhos, bem cedo se acostumou à prática das virtudes, e decerto é a expressão da verdade o que afirma a autobiografia: que desde a idade de 3 anos nunca recusou coisa alguma a Deus.
Dotada de inteligência superior, treinada pelas experiências colhidas no caminho da provação e da dor, a menina, em bem poucos anos, chegou a demonstrar uma madureza admirável em julgar as coisas divinas e humanas. A esta firmeza de caráter, ao conhecimento profundo das coisas divinas, ao desejo de pertencer a Deus deve-se atribuir o fato de , com 15 anos apenas, se ter resolvido a entrar na Ordem do Carmelo, cuja regra é uma das mais austeras.
Em sua “História de uma alma”, escrita por ordem da superiora, Madre Inês de Jesus, a nossa santa, com uma simplicidade encantadora, narra os fatos principais que se ligam à sua vida junto aos pais, no seio da família, a entrada na Ordem, descreve as dificuldades de ordem material e espiritual, consolações que teve e graças extraordinárias que recebeu do divino Esposo.
Dos fatos narrados na “ História de uma alma” , tenham aqui lugar só os mais notáveis.
Teresinha, bem pequenina ainda, fez a primeira confissão e saiu do confessionário muito satisfeita, achando que nunca até então tinha experimentado uma alegria igual.
Certo dia teve uma visão um tanto profética, que muito a impressionou. Estando o pai em viagem, que por longo tempo o afastava da família, Terezinha teve a impressão de ver diante de si um homem alquebrado, de cabeça encanecida, e embuçada em véu espesso. Tudo daquele homem, o traje, o andar, a figura, tudo lhe fazia crer que fosse o pai querido. Tomada de estranho terror, chamou por ele com voz trêmula: “Papai, ó papai !” Mas o personagem assim interpelado não dava sinais de ter ouvido estas palavras e continuou a andar, afastando-se pelas alamedas do jardim. Teresinha nunca mais perdeu de memória esta misteriosa visão, presságios de futuros padecimentos, de que o pai seria vítima. O sr. Martin pelo fim da vida sofreu diversos ataques de paralisia, que lhe comprometeram a luz do espírito, de tal modo que durante três anos, foi preciso ser entregue aos cuidado de pessoas estranhas.
Terezinha tinha oito anos e meio, quando se matriculou como externa no colégio das religiosas beneditinas, em Lisieux.
Embora muito mais nova que as companheiras de classe, tirava as melhores notas em composição, e era muito querida entre as religiosas, razões estas que não poucas humilhações lhe importavam, da parte de alunas menos consideradas e menos inteligentes. Foi neste espaço de tempo que na mente de Teresinha surgiu o primeiro pressentimento de ser por Deus chamada a abraçar o estado religioso no Carmelo. Esse pressentimento tomou feições de desejo em 1885, quando a prima e amiga Maria Guérin entrou para o Carmelo de Lisieux.
No retiro que a irmã Celina fazia, em preparação para a primeira Comunhão, Teresa a acompanhou e experimentou as mais suaves impressões. O dia da primeira Comunhão considera-o um dos mais belos da vida.
Comparando-se com as irmãs, Teresa se reconhece menos afeita aos brinquedos próprios da idade infantil, porém mais sensível e choraminga até o excesso. Na família reinava sempre a mais perfeita harmonia e entre as irmãs e as primas havia o maior entendimento, a mais franca cordialidade.
Tereza era sempre fraquinha e dores de cabeça atrozes atormentavam-na por dias, semanas e meses, acompanhadas às vezes, por estranhos temores. Por vezes caía em delírio, sem entretanto perder o uso da razão. Vinham desmaios, que lhe tolhiam o mais leve movimento. O leito parecia-lhe rodeado de demônios e de precipícios horríveis. Os pregos cravados nas paredes do quarto tinham-lhe aos olhos a forma de dedos enormes pretos e carbonizados, cuja vista lhe provocava gritos de horror. Em tão tristes lances se via como sempre, rodeada do mais afetuoso carinho do pai e das irmãs e parentes.
Desta doença, que resistia a todos os recursos da ciência médica, a santa menina se viu curada por Maria Santíssima. Celina, vendo baldados todos os esforços para conservar a vida da querida irmã, invocou, com todo o fervor de mãe que suplica, a Maria santíssima, representada numa estátua que a família Martin tinha em muita veneração. A estátua, a mesma que se vivificava aos olhos da mãe de Teresa, animou-se de súbito também na presença desta: “ A Virgem Santíssima adiantou-se para mim e sorriu...” Celina, ao vê-la fitar os olhos na estátua disse de si para si: “ Teresa está curada” . De fato estava. No momento em que a irmã dizia isto consigo, o rosto de Teresa tornara-se diáfano e estava transfigurado. A fisionomia denunciava-lhe algo de sobrenatural. As pessoas presentes a esta cena sentiram-se tomadas de pasmo e admiração. Não havia dúvida que Teresa em êxtase vira Maria Santíssima.
Restabelecida do terrível mal que a acometera e quase a levara às portas da eternidade, o pai proporcionou-lhe o grande prazer de um passeio agradabilíssimo, ocasião em que começou a conhecer o mundo. Via-se então muito festejada; admirada por todos, sem entretanto compreender o motivo de tantas atenções. Embora não fosse insensível às carícias de pessoas amigas, bem cedo chegou à conclusão de que tudo é vaidade, exceto amar e servir a Deus.
Pessoas da intimidade, por exemplo as mestras, notaram em Teresa grande inclinação à oração mental. A menina meditava de fato, sem contudo dar conta de tal e chamava a isto pensar.
Fez a primeira Comunhão nas melhores disposições. Três meses empregou na preparação. Ela mesma confessa ser-lhe impossível contar as impressões que teve, no momento de receber a sagrada Hóstia. “ Meu encontro com Jesus naquele dia não podia ser apenas um simples olhar, mas era sim uma fusão. Já não éramos dois. Teresa desaparecera, como a gota d’água que se abisma no seio do oceano. Restava só Jesus e era o Senhor, o Rei ! “
Pouco tempo depois da primeira Comunhão recebeu o sacramento da Confirmação, em preparação do qual fez novo retiro.
O ideal de ser religiosa Carmelita desenhava-se cada vez mais nítido, na alma da piedosa donzela. Obter o consentimento do pai e das irmãs e pedir admissão na Ordem não era tão fácil como a princípio se lhe afigurava. Mas o tio era de parecer contrário. Não só declarou contrário à idéia, mais ainda acrescentou que se havia de opor à execução de tal plano, caso não houvesse a intervenção de um milagre.
Poucos meses depois, porém, deixou de lado a sua resistência e deu seu consentimento.
“Vai em paz, querida filhinha, - disse-lhe, abraçando-a paternalmente – és uma florzinha privilegiada, que o Senhor quer para si e a isto não me hei de opor”.
Levantou-se, entretanto, outra dificuldade, e era de natureza muito séria, mesmo insuportável: a recusa formal do Superior do Carmelo de receber na Ordem uma donzela de quinze anos. Idêntica foi a decisão do Bispo de Bayeux, se bem que este muito comovido pela insistência com que Teresa apresentou o pedido, secundado pelas afirmações do pai, não lhe cortasse o fio da esperança, prometendo-lhe falar com o Superior a respeito e responder-lhe então.
Em 7 de novembro de 1887 organizou-se em Paris uma peregrinação a Roma, na qual tomaram parte o sr. Martin com suas filhas Teresa e Celina. Estava também entre os peregrinos o Padre Revérony, Vigário geral de Bayeux, de quem Teresa diz que a observava diligentemente, em toda a viagem.
Chegados à Roma, só em 20 de novembro tiveram a ventura de serem recebidos em audiência no Vaticano. A Santa mesma conta-nos, com toda a minudência, o histórico dessa audiência.
“Na manhã de domingo ( 20 de novembro) fomos ao Vaticano. Às 8 horas assistimos à Missa do Sumo Pontífice. Acabada a Missa de ação de graças, que se seguiu à do Santo Padre, principiou a audiência. Leão XIII estava assentado na poltrona, em trono elevado, vestido de batina branca e murça da mesma cor. Ladeavam-no diversos Prelados e as mais altas dignidades eclesiásticas. Conforme as prescrições do cerimonial, cada um dos peregrinos ia por sua vez ajoelhar-se, beijar primeiro o pé e logo a mão do augusto Pontífice e receber-lhe a benção; em seguida dois guardas nobres, tocando-o de leve, com o dedo, significavam-lhe que se levantasse para passar à outra sala ceder o lugar ao seguinte.
Ninguém tugia, mas eu estava resolvidíssima a falar, quando o Revmo. Pe. Revérony, que se pusera à direita de Sua Santidade, nos fez saber publicamente que proibia terminantemente que se falasse ao Santo Padre. Voltei-me para Celina, a interrogá-la com o olhar; entretanto dava-me o coração pancadas de fazê-lo estalar.
- Fala ! disse-me ela.
Momentos depois estava eu ajoelhada diante do Papa. Beijei-lhe o pé e apresentou-me a mão. Levantando então para ele os olhos cheios de água, dirigir-lhe esta súplica:
- Santíssimo Padre, desejo pedir-vos uma graça importante ! – Inclinou logo a fronte até junto do meu rosto; como se os seus olhos pretos e profundos quisessem penetrar até o âmago de minha alma.
- Santíssimo Padre – insisti – em memória do vosso jubileu, autorizai-me a entrar no Carmelo aos quinze anos !
O Revmo. Vigário Geral de Bayeux, estupefato e descontente, atalhou imediatamente:
- Santíssimo Padre, é uma criança que deseja abraçar a vida do Carmelo, mas os Superiores estão atualmente examinando o caso.
- Pois bem, minha filha – disse então Sua Santidade – esteja pelo que decidirem os superiores.
De mãos postas, e encostadas aos seus joelhos, fiz esta última tentativa:
- Ó Santíssimo Padre, é só dignar-vos de responder-me sim, para concordarem todos !
Olhou-me fixamente e proferiu estas palavras, martelando cada sílaba, em tom de voz penetrante:
- Pois não... vamos... entrará, se assim aprouver Deus.
Ia eu insistir ainda, quando se aproximaram dois guardas nobres, acenando que me levantasse. Ao verem que não bastava este aviso, travaram-me dos braços e o Revmo. Padre Revérony veio também os ajudar a erguer-me, visto como ainda me deixava ficar queda, de mãos postas e apoiadas nos joelhos do Papa.
No momento em que era assim removida, o bom do Santo Padre pôs suavemente a mão sobre os meus lábios e ergueu-os logo depois para abençoar e pôr largo espaço de tempo esteve me acompanhando com o olhar” .
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Tornados a Lisieux, a primeira visita foi ao Carmelo. Um novo requerimento que Teresa fez ao Prelado diocesano, não teve pronto despacho, como desejava e esperava. Passou-se o Natal do ano de 1887, sem obter resposta alguma. O dia 1º de janeiro de 1888 tirou-a afinal da incerteza. Foi nesse dia que a Madre Maria de Gonzaga lhe comunicou ter recebido autorização do Bispo para recebe-la imediatamente, como postulante no Carmelo. Na carta a Superiora acrescentava que só depois da quaresma a entrada se poderia efetuar.
O dia 9 de abril de 1888 trouxe-lhe afinal a ventura da entrada no Carmelo.
Desde o começo da vida religiosa no claustro, pode Teresa experimentar as provações com que Nosso Senhor costuma mimosear seus prediletos. Uma aridez espiritual parecia ser-lhe o pão quotidiano, e a Madre Superiora introduziu-a logo nas práticas costumeiras do Carmelo, tratando-a sempre com extraordinária severidade, não lhe perdoando a mínima falta que cometesse. Destarte Teresa bem cedo se habituou a considerar na Superiora não a criatura, mas a pessoa de Nosso Senhor, ficando assim preservada de afeições humanas no claustro, que sempre que as houver, são uma verdadeira calamidade.
Extraordinária e mui significativa é a declaração que Teresa fez, no exame do canônico que lhe precedeu a profissão, dizendo: “ Vim para salvar as almas e especialmente para rezar pelos sacerdotes” . Fiel a este propósito ofereceu-se a Jesus como vítima, convencida que só pelo sofrimento poderia fazer algum bem às almas. Durante cinco anos realizou esta prática, sem que pessoa alguma soubesse.
Em 10 de janeiro de 1889 recebeu o hábito, cerimônia a que presidiu o Bispo Diocesano, e que se revestiu de grande solenidade, estando presentes as irmãs de Teresa. Acompanhada pelo pai, entrou solenemente na capela.
Para o sr. Martin foi um triunfo e também sua última festa no mundo, pois um mês depois foi acometido de grave doença que o levou à sepultura seis anos depois.
O tempo do noviciado passou célebre, entre as práticas de piedade, de virtude e mortificação, sem que houvesse ocorrido fato de maior relevância.
Decorrido um ano, passou pela decepção de não poder professar, Declaro-lhe a Superiora que, devido à oposição formal do Revmo. Padre Superior, havia de esperar mais oito meses. A própria Santa confessa que a princípio he custou aceitar tamanho sacrifício, mas, ajudada pela graça divina, conformou-se inteiramente com a decisão de quem fazia às vezes de Jesus.
Passado o tempo da provação, ficou marcado o dia 8 de setembro de 1890 para a profissão religiosa.
Horas antes da profissão religiosa, recebeu de Roma a benção do Santo Padre, fato que muito consolou, tendo durante o retiro espiritual experimentado a mais completa aridez. Permitiu Deus que sua serva, no dia que precedia a profissão, fosse horrivelmente perturbada por tentações a respeito da vocação. “ A minha vocação – assim escreve – afigurou-se-me de improviso, simples sonho e quimera; o demônio – pois era ele mesmo – inspirava-me a convicção de que a vida do Carmelo não me convinha por forma alguma e que enganava os Superiores, metendo-me por um caminho ou instituto de vida para o qual não fora chamada. Tão densas se amontoaram estas trevas, que cheguei a persuadir-me duma coisa única: não tenho vocação religiosa, devia voltar ao mundo”. Foram angústias indescritíveis e para dissipá-las Teresa foi ter-se com a mestra e manifestou-lhe a tentação. Foi o bastante para lhe voltar a calma e o sossego.
Se procurarmos saber que meios Santa Teresa empregou para chegar a tão alto grau de perfeição, que a igreja e com esta todos os fiéis lhe admiram, descobriremos três: - a oração, a vida unida a Nosso Senhor, a mortificação e o amor a Deus.
O espírito de sacrifício era-lhe universal. Tudo quanto havia de mais penoso e menos agradável, por isso mesmo o procurava com sofreguidão. Tudo o que Deus lhe pedia, dava-lho sem reserva. O que mais a martirizou fisicamente, como confessa, foi a privação do fogo durante o inverno. “ O frio tem sido para mim um tormento de morte”.
Na Sexta-feira Santa (3 de abril de 1896) apareceram os primeiros anúncios da “chegada do Esposo”. Freqüentes eram as hemoptises que lhe sobrevinham, mas a Santa sabia habilmente as disfarçar, tanto que só em maio de 1897 as irmãs souberam do verdadeiro estado de sua saúde.
Em julho do mesmo ano foi preciso transferi-la definitivamente para a enfermaria. Os últimos meses foram de sofrimentos incalculáveis, causados por um desânimo que o demônio lhe preparava, atormentando-a com tentações contra o amor de Deus. “ Tens certeza – dizia-lhe a voz maldita – de ser realmente amada por Deus?”
Quando em 30 de julho recebeu a Extrema-Unção, disse jubilosa, às irmãs: “ A porta da minha escura prisão está entreaberta; estou radiante, principalmente depois que o nosso Padre Superior me assegurou que minha alma se assemelha hoje à de uma criancinha recém-batizada”.
Desde o dia 16 de agosto até 30 de setembro as freqüentes hemoptises não lhe permitiam receber a santa Comunhão, sacrifício este que de todos lhe era em extremo sensível.
São dos últimos dias de sua existência estas memoráveis palavras: “Nunca dei a Deus senão amor e com amor também me há de recompensar. Depois da minha morte farei cair uma chuva de rosas. Sinto que está chegando a hora de desempenhar a minha missão a de fazer amar a Nosso Senhor como o amo...de dar a conhecer a minha veredazinha às almas. Quero passar o meu céu empenhada em fazer bem na terra”.
Muitas coisas edificantes disse ainda Santa Teresa às Irmãs, nos últimos dias de doença.
Entretanto, a dor aumentava de dia para dia. A fraqueza chegou a tais extremos, que a doente sem auxílio não podia fazer o mais leve movimento. Causava-lhe aflição horrível falar perto de si. A febre martirazava-a de tal maneira, que só com grande esforço podia pronunciar uma palavra. Mas no meio de todo este sofrimento, um leve sorriso lhe aflorava aos lábios.
Chegou, afinal, o dia 30 de setembro, o dia de sua santa morte. Estreitando o crucifixo nas mãos, parecia absorta em profunda meditação. Quando o sino do Mosteiro tocou as Ave-Marias vespertinas, fixou na Virgem Imaculada um olhar inexprimível. Cobria-lhe o rosto um suor copioso: tremia. Às sete horas e poucos minutos perguntou à Madre Priora:
- Minha Madre, não será talvez a agonia? Não estou nas últimas?
- Pois não, minha filha, é a agonia; mas Jesus quer prolongá-la talvez algumas horas.
E ela, muito resignada:
- Pois bem... vamos... vamos... oh ! não quisera que se me abreviassem os sofrimentos...
E olhando para o crucifixo:
- Oh !... Amo-o !... Meus Deus, eu vos... amo !
Foram estas suas últimas palavras; pronunciando-as deixou-se cair sobre o leito, numa atitude semelhante à de algumas virgens mártires, que se dispunham a receber o último golpe. De repente, se ergueu, como se fosse para atender a uma voz misteriosa, abriu os olhos, e fitou-os com uma expressão de jubilo indizível, um pouco acima da imagem de Nossa Senhora. Isso durou mais ou menos a recitação de um “credo” e sua alma voou para os páramos celestes.
Logo depois da morte de Teresinha, começaram a dar-se na comunidade fatos extraordinários. Verificou-se a profecia da Santa, que disse: Depois da minha morte farei cair uma chuva de rosas.
O mundo católico encheu-se de admiração pela santidade da humilde carmelita de Lisieux, e Deus glorificou-a, fazendo-a benfeitora da humanidade, como provam os milagres, que apareceram às centenas.
Treze anos depois da morte, procedeu-se-lhe à exumação do corpo e nesta ocasião foi encontrada intacta e verde a palma que as religiosas lhe tinham posto na mão, logo após a morte.
Beatificada em 1923, S.S. o Papa Pio XI, no ano do jubileu de 1925, lhe deu a honra dos altares. As relíquias, depositadas na capela do Mosteiro do Carmelo em Lisieux, repousam numa riquíssima urna de prata dourada, oferecida pelos católicos do Brasil.
Fonte: http://www.paginaoriente.com/santos/teres0110.htm.
Leia mais aqui: https://farfalline.blogspot.com/2015/09/santa-teresinha-de-lisieux.html.
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