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segunda-feira, 12 de maio de 2014

CHUTOMETRIA ESTATÍSTICA

Na segunda-feira seguinte à ignominiosa Parada Gay em São Paulo, eu li, pela manhã, que havia 100.000 pessoas no evento. Pelas imagens, eu ainda acho muito - e pela saúde das pobres almas também - mas é bem mais realista do que a espalhafatosa cifra de 4 ou 5 milhões de participantes, fato em que nunca acreditei. Ainda mais porque, logo depois, já surgia gente que se deu ao trabalho de medir a Avenida Paulista e calcular a quantidade de pessoas que caberia, ocupada de ponta a ponta, coisa que nunca alcançou mais do que algumas centenas de milhares de pessoas (pelo que me lembro, umas 200.000 no máximo). E pelas imagens dava para ver que nunca foi ocupada de ponta a ponta. Quando se fez aquela manifestação em comemoração à Intervenção Militar de 1964, em março, a mídia insistia em números irrisórios ("500" participantes, em alguns jornais, "1000 e pouco" nos jornais mais generosos), com algum tom de deboche, mas a Polícia Militar - sempre parcimoniosa com os números - falou em mais de 30.000 pessoas. Então, eu recebi este artigo por e-mail e achei por bem compartilhá-lo porque faz uma análise interessante das estatísticas.


* * *



Estávamos quatro amigos num carro, saindo de São Paulo para uma viagem. Parados no primeiro semáforo, observamos um menino fazendo papel de malabarista, com três bolas de tênis lançadas ao ar em sequência cíclica. No semáforo seguinte, outro menino lidando com quatro bolas deixou uma cair no chão, quando tentava a manobra de lançá-la por baixo da perna. Um dos amigos comentou:

— Se usasse ovos, ia chover dinheiro para recompor o instrumento de trabalho.

Mais adiante, outro menino lançava ao ar um bastão e o aparava com outro, mantendo-o no ar. Mais um semáforo, e outro menino equilibrava no queixo um bastão com um disco na ponta. Travou-se então este diálogo:

— Parece que a meninada de São Paulo virou malabarista de semáforo.

— Que exagero! Acabamos de passar em frente a um colégio cheio de meninos que não são malabaristas.


— É claro que estou falando de meninos pobres.

— Mesmo assim. Aqueles dez jogando pelada ali não são malabaristas.

— Está bem. Os quatro malabaristas são 40%, o que não é pouco.

— Você precisa aprender a calcular. Primeiro tem de somar os quatro com os dez. No total de quatorze, quatro são 28%, e não 40%. Tem ainda que descontar...

Assim, de redução em redução, chegou-se a meros 0,2%. E ainda cairia muito, mas daí em diante a discussão enveredou pela falsidade de “estatísticas” que circulam por aí. Tentarei resumi-la.

O caso da fome no Brasil é um bom exemplo. Quando gente do governo decidiu enfiar goela abaixo dos brasileiros um projeto – Fomiséria, ou algo assim – falou-se em 30 milhões, 40 milhões, 50 milhões de famintos, e chegou-se a um requinte de precisão mencionando 53 milhões. Milhões surgem ou desaparecem, e ninguém sabe de onde surgiram nem como desapareceram. Quem os apurou? Qual o método de pesquisa utilizado? É de se duvidar que alguém saiba, enquanto isso a sanfona ruidosa espicha e encolhe (principalmente espicha) ao gosto do interessado.

A FAO encolheu esse chutômetro estatístico para 18,5 milhões, e mesmo isso já é um evidente exagero, lamentado pelo próprio Lula. Não tem sentido atribuir fome a tanta gente num país que lidera a exportação mundial de alimentos. O mais provável é o contrário, pois agora as estatísticas falam em número crescente e preocupante de brasileiros com excesso de peso, especialmente entre a população pobre. O que parece confirmar uma estatística jocosa, mas sensata: A metade da população mundial passa fome, a outra metade faz regime (passando fome, naturalmente...).

A um cearense residente em SP, perguntei sobre a fome no Ceará. Ele reagiu:

— O que é isso, doutor!? Talvez no Piauí, mas no Ceará não tem disso não.

Para um piauiense, a fome estaria em outro lugar, pois está sempre lá longe.

Outra estatística — dessas que não se sabe onde, nem como, nem quem — pendura a mão de obra informal no nível de 60%. Informal, no caso, significa trabalho sem carteira assinada. Sendo informal, não se sabe como isso foi computado, pois o informal não costuma deixar documentos contabilizáveis. Não vamos discutir as causas da informalidade – encargos trabalhistas acachapantes, impostos extorsivos, desestímulo aos geradores de empregos – mas evidentemente o número é exagerado, levando a suspeitar que se esconde atrás dele alguma finalidade inconfessável.

Acompanhei de perto as “estatísticas” de participantes da passeata homossexual em São Paulo. Iam aumentando ao ritmo de 500.000 cada ano. Já estava próximo de atingir o equivalente à metade da população paulistana, mas alguém se deu o trabalho de medir o espaço disponível na Av. Paulista (2.500 metros de comprimento por 50 de largura), e calculou que a lotação máxima (5 pessoas por metro quadrado) não poderia ultrapassar 600.000 pessoas. Apesar disso as “estatísticas” continuaram aumentando. Agora está comprovado que na última não passaram de 100.000. Mas os interessados insistem nos insensatos três a quatro milhões. Para quê? Suponho que queiram demonstrar uma força que não têm, para obter privilégios legais que não merecem.

Inventar ou falsificar estatísticas não é atividade recente. Sempre se praticou durante as guerras, como afirma um provérbio conhecido: Em tempo de guerra, boato é como terra. E uma frase espirituosa de Churchill mostra outro lado do assunto: Eu só acredito nas estatísticas que eu mesmo falsifico.

Se quer exagerar, não seja ridículo. Mas chutar quatro milhões na Paulista?!!!


Jacinto Flecha
médico e colaborador da Abim - www.jacintoflecha.blog.br.


Fonte: Agência Boa Imprensa – (ABIM): http://www.abim.inf.br/chutometria-estatistica
(recebido por e-mail).

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