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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Os novos Macabeus

A época dos Macabeus, figura da situação atual da Igreja
Padre José Maria Mestre

Todas as coisas que se escreveram, se escreveram para nosso ensinamento, a fim de que, mediante a paciência e o consolo das Escrituras, conservemos a esperança”. (Rom. 15,4)

Matatias mata o judeu apóstata
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Neste quadro conceitual, o primeiro Livro dos Macabeus[1] encontra-se cheio de instruções para conosco, ao assinalarmos duas realidades: por um lado, as tremendas provas que o povo eleito sofreu por não querer imitar os pagãos. Por outro, o auxílio que a Divina Providência proporcionou, naquela luta de vida ou morte, a qual, humanamente falando, deveria ter tido como consequência a aniquilação total do pequeno povo judeu.
Propomo-nos, assim, aplicar em breves traços o tema deste livro inspirado à crise atual da Igreja, também em dois pontos:

Antes de tudo, descrevendo a situação provocada no seio da Igreja, por esta pretender aceitar os princípios do homem moderno, racionalista, independente de Deus; e, consequentemente, destacar os remédios que a Providência legou à Sua Igreja: Para uma situação semelhante à dos Macabeus, remédios análogos àqueles que então foram outorgados pelo auxílio Divino.


I – Situação descrita no Livro Inspirado e aplicação à nossa

Ensina-nos este livro como foi poderoso o reino de Alexandre Magno, o qual chegou a ocupar rapidamente o mundo então conhecido. Este Império impôs por todas as partes os seus deuses e os seus costumes, com exceção do povo eleito, ao qual de início respeitou. Todavia mais tarde, sob o rei Antíoco Epifânio, este Império constituiu-se em perseguidor da verdadeira religião, bem como do povo que a professava, o povo judeu. As coisas passaram-se da seguinte forma:

Por esse tempo “apareceram uns iníquos israelitas que persuadiram outros em grande número, para que se conformassem com os costumes dos gentios, pois desde que se haviam deles separado, não haviam experimentado mais que desastres[2]. O segundo livro dos Macabéus precisa que estes iníquos israelitas eram sobretudo homens de estirpe sacerdotal. Muitos deixaram-se seduzir, então, pelas suas propostas, e edificou-se então em Jerusalém um ginásio (símbolo do culto ao homem), aboliu-se o uso da circuncisão e abandonou-se o conceito da Santa Aliança.

-Vendo o rei Antíoco que tanto Israel como os demais povos se haviam conformado com os seus costumes, ensoberbeceu-se e editou um decreto para que todos os povos abandonassem os seus costumes particulares e constituíssem um só povo. Foram muitos no seio do povo de Israel que aquiesceram com este decreto; as consequências foram que se sacrificou aos ídolos, se violou o sábado, se proibiu oferecer no Templo de Deus holocaustos, sacrifícios e orações pelos pecados, profanaram-se os lugares santos, despojando-os de todas as suas riquezas e vasos sagrados, proibiu-se a circuncisão, permitindo-se que as gentes transgredissem os Mandamentos do Senhor.

-Mas e o que aconteceu com todos quantos não queriam submeter-se a estes decretos? O mesmo livro nos diz que deviam perder a vida, ou serem perseguidos: as mulheres que circuncidavam os seus filhos eram precipitadas das muralhas da cidade, os que se refugiavam nas cavernas eram atacados em dia de sábado e exterminados; e somos informados do martírio heroico de vários Israelitas por fidelidade à Lei de Deus; entre eles o de sete irmãos instruídos e edificados pela sua mãe, também com eles martirizada.

Será que todas estas realidades não nos recordam a situação em que vivemos?

-Um reino poderoso, orgulhoso e ímpio disseminou-se por toda a parte, o reino do mundo, o reino da revolução, o reino da contra-Igreja. Muitos Israelitas, quer dizer, muitos homens da Igreja, acreditaram que era necessário se conformarem a este novo reino, com a desculpa de que muitos males proviriam desta falta de acordo entre a Igreja e o mundo. Proclama-se a abertura ao mundo: num concílio, aceitam-se oficialmente os ideais e os costumes deste novo Império: liberdade, igualdade, fraternidade, direitos do homem.

Consequentemente, abandona-se a Santa Aliança: renuncia-se à proclamação de que somente a Igreja Católica possui a verdade, de que apenas no seu seio é possível a salvação; revoga-se o sacrifício do Templo, e proíbe-se a continuação da oferenda, a Deus, do holocausto e do sacrifício que Lhe era tão agradável: o Santo Sacrifício da Missa. Tendo este último sido substituído por ceias, por sinaxis[3]; profanam-se os templos, espoliando-os e esbulhando- os de todas as suas riquezas, das suas imagens, de tudo quanto possuía ressaibos de triunfalismo; fazem-se decretos segundo os quais todos os povos hão de abandonar todos os costumes e crenças particulares, que dividem, para não considerar senão aquilo que os une, e constituir assim um só povo, uma só religião; e, como consequência de tudo isto, trespassam-se todos os Mandamentos do Senhor, e a corrupção dos costumes atinge níveis nunca antes conhecidos.

-E o que acontece àqueles que não querem acatar este compromisso com o novo Império, que pretendem simplesmente serem fiéis à Fé dos seus antepassados? Pois são perseguidos, tratados como excomungados, como rebeldes; encerram-se-lhes as igrejas, e veem-se constrangidos a viver separados de todos os demais.


II – A reação contra tais situações

Surge então um homem de linhagem sacerdotal, Matatias[4], O QUAL SE NEGA A PROCEDER COMO TODOS OS OUTROS: “Ainda que todas as gentes obedeçam ao rei Antíoco, e todos abandonem a observância da Lei dos seus Pais, e se submetam aos mandatos do rei, eu, bem como os meus filhos, e meus irmãos, obedeceremos à Lei dos nossos Pais. Não nos é proveitoso abandonar a Lei e os preceitos do Senhor, para seguir outro caminho[5]. E gritando: “Todo o que tenha zelo pela Lei, e queira permanecer fiel à Aliança, siga-me[6], com os seus cinco filhos, também de linhagem sacerdotal como ele, foge para os montes, onde começam a ser acompanhados por muitos que amavam a Lei e a justiça. Formam-se, assim, pequenos batalhões de homens que empreendem a destruição dos altares destinados aos ídolos, combatem os adversários da única religião verdadeira e circuncidam os meninos que encontram incircuncisos.

Há que assinalar que Matatias não travou os combates mais ásperos e duros, os quais Deus reservava a seus filhos, especialmente a Judas e a Simeão; todavia constituiu os fundamentos desse prélio, iniciando a reação e indicando os princípios de fidelidade que haviam de ordenar o procedimento futuro, mostrou o caminho que teria de ser percorrido, formou e instruiu, encorajou e estimulou a todos aqueles que almejavam serem fieis à Lei de Deus, assegurando para os seus cinco filhos a continuidade do combate. Antes de morrer, Matatias reuniu junto a si os seus cinco filhos e admoestou-os dizendo: “Ó filhos meus, permanecei zelosos da Lei, e entregai vossa vida em defesa do Testamento dos vossos Pais[7].

Judas Macabeu, filho de Matatias
Os seus filhos, sob a direção de Judas Macabeu, prosseguiram a luta. Primeiramente, este reconquistou o Templo, purificou-o, reedificou-o e nele voltou a oferecer sacrifícios e holocaustos segundo a Lei de Deus. Para isso, a Sagrada Escritura nos ensina que Judas selecionou sacerdotes sem mácula e voltou a fortificar a cidade de Sião, com o objetivo de que o inimigo não reincidisse em impedir o sacrifício perpétuo.

É certo que não são mais do que um pequeno grupo (mais uma vez verificamos que o número não é critério da verdade); todavia tenhamos na devida conta as muito sábias palavras de Judas Macabeu: “Como poderemos nós pelejar contra um tão grande e valoroso exército, sendo, como somos, tão poucos?”[8] perguntavam-lhe. “Quando o Deus dos Céus quer conceder a vitória, é para Ele o mesmo que haja muitos ou haja poucos; porque o triunfo nos combates não depende da multidão das tropas, mas de Deus. Nós pelejamos pela Lei do Senhor; o Senhor mesmo despedaçará os nossos inimigos na nossa presença, não os temais[9]. Desta forma, Judas logrou inspirar enormíssimo temor e respeito aos seus inimigos, bem como aos prevaricadores da Santa Aliança.

Não é verdade que todas estas realidades nos recordam as vicissitudes que estamos presentemente a viver? E, como a nossa situação é parecida com a dos Macabeus, Deus suscitou uma reação semelhante.

Um novo Matatias, de linhagem sacerdotal, Monsenhor Lefebvre, afirma tal como o primeiro Matatias: “Ainda que todos obedeçam ao espírito do mundo e aos seus ideais, eu não o servirei, muito pelo contrário, obedecerei à Lei dos meus Pais; não abandonarei a Lei de Deus para seguir outro caminho. Todo aquele que nutra zelo pela Lei de Deus e Sua Igreja e queira permanecer na Fé – siga-me!”. Muitos o seguiram e, formando grupos pouco numerosos, mas valentes, reuniram-se ao seu redor para conservar a Fé (bonita definição dos nossos priorados). Certo é que a Monsenhor Lefebvre não lhe tocaria sustentar a parte mais rude do combate, que Deus está reservando para nós; todavia não é menos certo que Monsenhor Lefebvre assinalou e personificou de tal forma as pautas de fidelidade à Igreja de sempre, que continua sendo, mesmo depois da sua morte, a referência para quem quer ser fiel à Tradição. 
Como no tempo dos Macabeus, a primeira atitude assumida por Monsenhor Lefebvre foi a de combater os falsos sacrifícios ecumênicos, a nova missa, estabelecendo e reconstituindo em todo o lado o holocausto e sacrifício abolido pelos homens ímpios – O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA DE SEMPRE. Para poder assegurar no seio da Igreja este sacrifício perpétuo, impunha-se a formação dum clero santo, alimentado com a doutrina de sempre e pleno do espírito de Igreja. A isso dedicou toda a sua vida, fundando a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, edificando Seminários nos cinco continentes. Ao falecer, este novo Matatias confiou a luta a quatro dos seus filhos, também de linhagem sacerdotal – os quatro bispos por ele consagrados.

Matatias Macabeu e S. E. Mons. Marcel Lefebvre
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E, tal como no tempo dos Macabeus, ainda que sejam relativamente poucos os sacerdotes e fiéis que guardam a Tradição, têm conseguido impor a atenção e o respeito de todos os prevaricadores, que universalmente os temem. Não há nada que um bispo ataque tanto hoje em dia como a presença da Fraternidade São Pio X na sua diocese. Não há nada que tanto moleste a Roma ecumênica como os contínuos protestos e censuras da Fraternidade.

Os novos Macabeus - 1988


III – Conclusão

Todas estas realidades deverão constituir para nós um precioso ensinamento, e simultaneamente uma grande esperança. O exemplo dos Macabeus demonstra-nos que, perante a atual situação da Igreja, a nossa forma de resistir, com o objetivo de conservar a Fé e o Santo Sacrifício da Missa, é aquela que Deus nos solicita; demonstra-nos que é de somenos importância que sejamos pouco numerosos, que sejamos excluídos das Igrejas e tratados como excomungados ou cismáticos; demonstra-nos o zelo com que devemos estar munidos na defesa dos interesses de Deus e da Sua Igreja; demonstra-nos, finalmente, a certeza que possuímos na nossa vitória, pois que pelejamos pela Lei de Deus e sob Suas ordens, e Deus não pode deixar de facultar-nos o Seu amparo.

O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA DE SEMPRE
MONS. LEFEBVRE
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O Padre José Maria Mestre Roc, sacerdote da Fraternidade São Pio X, ordenado em 1989, é atualmente professor no Seminário de língua espanhola, Nossa Senhora Corredentora, na localidade de La Reja (Argentina).


 
Fonte: Revista “Semper” – Priorado da FSSPX em Lisboa, Portugal. 
Revisão: Giulia d'Amore di Ugento


[1] NdRª: O Primeiro Livro dos Macabeus, também conhecido como I Macabeus, é um dos livros deuterocanônicos do Antigo Testamento da Bíblia católica. Possui 16 capítulos. Os dois livros dos Macabeus são assim denominados por causa do apelido do mais ilustre filho de Matatias, Judas chamado o Macabeu (I Mc 2,4) (‘Martelo’). Os livros não constam na Bíblia Hebraica e são considerados apócrifos pelos judeus e pelas Igrejas protestantes. Na Igreja Católica foram incluídos nas listas dos sete livros deuterocanônicos. O tema geral dos dois livros é o mesmo: descrevem as lutas dos judeus, liderados por Matatias e seus filhos, contra os reis sírios (selêucidas) e seus aliados judeus, pela libertação religiosa e política da nação, opondo-se aos valores do helenismo. O Primeiro Livro dos Macabeus ocupa-se de um período mais amplo da guerra de libertação do que o Segundo Livro dos Macabeus. Começa com a perseguição de Antíoco Epifânio (175 a.C.) e vai até a morte de Simão (134 a.C.), o último dos filhos de Matatias. Depois de uma breve introdução sobre os governos de Alexandre Magno e seus sucessores (1,1-9), o autor passa a mostrar como Antíoco Epifânio tenta introduzir à força os costumes gregos na Judéia (1,10-63). Descreve a revolta de Matatias (2,1-70), cuja bandeira da libertação passa primeiro a Judas Macabeu (3,1-9,22), depois a seu irmão Jônatas (9,23-12,53) e por fim a Simão (13,1-16,24). Graças a estes três líderes, a liberdade religiosa é recuperada, o país torna-se independente por um breve período e o povo torna a gozar de paz e tranquilidade. O livro é considerado uma prova do cumprimento das profecias do Livro de Daniel. - Wikipedia.
[2] NdRª: 1Macabeus 1,12.
[3] NdRª: palavra grega que significa ‘assembleia de cunho religioso’.
[4] NdRª: Matatias (מתתיהו Matitiyahu ou Matisyahu ben Yochanan HaCohen em Hebreu) foi um grande sacerdote do templo Judeu, de quem é contada a história nos Livros dos Macabéus. É o pai de Judas Macabeu, o líder dos Macabeus. Em 170 AC, quando o rei sírio (selêucida) Antióco IV lhe ordenou que oferecesse sacrifício aos deuses gregos, ele não apenas recusou mas matou com as suas próprias mãos alguém que avançou para o matar. Depois de ter sido ordenada a sua detenção, ele se refugiou no deserto da Judéia com os seus 5 filhos, sendo seguido por muitos dos seus compatriotas. Este foi o primeiro episódio da guerra dos Macabeus contra o império selêucida, que resultou na independência dos Judeus após 400 anos de domínio estrangeiro. Os eventos da guerra dos Macabeus formam a base para o feriado da Chanucá ou Hanucá, celebrado pelos Judeus a 25 de Kislev do calendário judaico, o que corresponde a um período entre meados de Novembro e fins de Dezembro, no Calendário Gregoriano. - Wikipedia.
[5] NdRª: 1Macabeus 2,19.
[6] NdRª: 1Macabeus 2,27.
[7] NdRª: 1Macabeus 2,50.
[8] NdRª: 1Macabeus 3,17.
[9] NdRª: 1Macabeus 18,19-21,22.

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