A Visita dos Doentes
Pe. John Brucciani |
Todo o bom cristão deveria portanto ser costumeiro nas
visitas aos doentes. O mais frequente é serem os doentes pessoas de idade: uma
velha tia, um avô, um membro da Capela tornado entrevado... Infelizmente, certas
pessoas negligenciam esta caridade elementar, não por malícia, mas por falta de
habilidade. Eis, portanto, alguns conselhos práticos, lançados um pouco
desordenadamente sobre o papel.
Antes de tudo, não esqueçamos nunca a dimensão espiritual do
empreendimento. O Cristão visita os doentes certamente para os distrair, para
os alegrar, para os encorajar; mas igualmente para prepará-los, ainda que de
forma longínqua, para a morte. Nós devemos recordar aos sofredores, com
delicadeza e doçura, que as enfermidades da velhice oferecem uma ocasião de
praticar a renúncia, atitude esta que nós negligenciamos frequentemente durante
os anos sãos da nossa vida. As longas horas de solidão oferecem igualmente
ocasião de rezar, particularmente o terço. É necessário, efetivamente,
recuperar as orações perdidas duma juventude sem dúvida um pouco tíbia. É
necessário, igualmente, substituir os monges e monjas, os quais não mais
existem, e que, portanto, não oxigenam já a Igreja militante e padecente com a
sua piedade discreta e regular.
Tomemos, assim, o hábito de recitar o terço com os nossos
doentes, na medida do possível. Tal ministra-lhes um enorme conforto. Se os
doentes se manifestam reticentes, não hesitemos em insistir junto deles sobre a
necessidade desta oração, e deixemos- lhes um terço. Diante de vós, eles não o
recitarão; todavia regressados à sua solidão...
Facultemos-lhes livros de devoção simples e sólidos,
proponhamos-lhes de lermos um pouco com eles, discutamos sobre as alegrias dos
Céus, da bondade de Deus que parte em busca da ovelha perdida.
Ulteriormente, questionemos os doentes, com tacto e
discrição, no que concerne ao seu passado. Toda a gente gosta de contar a sua
juventude. É refrescante o reviver as nossas alegrias passadas. Interessemo-nos
por suas famílias. Os doentes ficarão, frequentemente, felizes por falarem dos
seus filhos, netos etc. Por vezes, estarão mesmo, justificadamente, orgulhosos
deles. Estarão os doentes muitas vezes desolados, porque os seus filhos vivem
longe da Fé e da Graça. Muitos doentes idosos vivem solitariamente acabrunhados
sob este fardo bem pesado, e nós devemos procurar ajudá-los, com um ouvido
paciente e atento, com os nossos encorajamentos, com a segurança honesta e real
da nossa oração.
Se for necessário, falemos aos doentes do sacerdote, dos
Sacramentos: da Confissão, da Comunhão. Frequentemente, os nossos amigos,
doentes ou idosos, não ousam solicitar o sacerdote, porque têm medo de
incomodar. É necessário explicar-lhes que o sacerdote está lá precisamente para
isso, a exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, O Qual foi literalmente
assoberbado pela multidão de doentes, estropiados e coxos.
Ousemos solicitar aos nossos doentes os seus conselhos e
advertências. Mesmo alguém muito diminuído fisicamente pode revelar-se duma
sabedoria extraordinária, ou dum pragmatismo fabuloso. Os nossos avós possuem
ainda assim uma experiência de vida bem maior do que a nossa. E,
fundamentalmente, o nosso gesto pode-lhes revelar "que eles servem ainda
para qualquer coisa" - para falar sem rodeios. Efetivamente, o mundo
moderno não sabe mais o que fazer com os doentes e os moribundos (a total
descristianização tornou a morte uma realidade obscena - daí a cremação), e os nossos veteranos da vida
sentem-no. Eles podem sentir-se excluídos, ou "a mais". Demonstremos
que, muito pelo contrário, pela sua sabedoria, a sua experiência e a sua
piedade, eles de maneira nenhuma se encontram a mais!
Em poucas palavras: Quando das nossas visitas junto dos
infelizes e sofredores, mostremos-lhes o quanto são amados, o quanto se tem
necessidade das suas orações e do seu apoio, como eles são afortunados em
dispor de tempo para prepararem o seu decesso. Invejemos esses doentes,
enchamo-los de alegria. Recordemo-nos, QUE NÃO SE DEVE DESPREZAR UM HOMEM NA
SUA VELHICE, PORQUE TAMBÉM NÓS ENVELHECEREMOS (Ecl. 8,6).
P. John Brucciani,
FSSPX
Fonte: Revista “Semper” – Priorado da FSSPX em Lisboa,
Portugal.