Mandamentos ou Virtudes?
Pe. Jean Marie Salaun |
Existem
dois modos de considerar a vida Cristã, quer como uma série de Mandamentos,
quer como uma vida virtuosa.
Para aquele que faz consistir a religião
católica numa longa lista de obrigações e interditos, a vida cristã torna-se rapidamente pesada, até mesmo intolerável, e estas pessoas
libertam-se dessa canga logo desde a primeira provação. É o caso de muitos
católicos que, após terem recebido uma educação católica e observado mais ou
menos os Mandamentos, consideram, uma vez atingida a idade adulta, que pela Fé já
fizeram o suficiente, e que é tempo de recuperarem a sua liberdade e de gozarem
finalmente a vida.
Mesmo
se estes católicos não perderam todos a Fé, mesmo que saibam que o Decálogo está inscrito no coração de cada homem, e mesmo que
reconheçam que o respeito pelos dez Mandamentos é necessário para a
constituição do Bem Comum da Sociedade, nada impede que a sua Fé seja morta.
Eles perderam esta Caridade que constitui a alma da vida Cristã, e não compreenderam
que a nossa religião Católica é uma religião de Amor, não num sentido humanitarista,
mas no sentido onde a Caridade constitui uma AMIZADE COM DEUS, como diz São
Tomás.
Como
prova do Seu amor, Deus Se encarnou e morreu por nós na Cruz. Mas, ai de nós, o
que muitos não logram alcançar é que a amizade não pode ser verdadeira sem
reciprocidade, quer dizer, não se pode dizer que se ama verdadeiramente a Deus
sem Lhe querer Bem (e o Bem de Deus consiste no anúncio da Sua Glória extrínseca, proclamada pela criatura racional) e sem fazermos tudo
o que está ao nosso alcance para que tal se realize.
É
portanto urgente o compreender e ensinar à juventude que a vida cristã é uma
vida virtuosa. Se as virtudes, que são boas disposições da alma para praticar o
Bem, se não encontram solidamente ancoradas na alma das
nossas crianças, é de temer que a religião não seja senão convencional,
resumindo-se numa vaga oração quotidiana e numa assistência passiva à Missa
dominical.
Rodolfo Papa, As Virtudes Teologais Catedral de Sulmona (Itália) clique na imagem para ampliar |
Rodolfo Papa, As Virtudes Cardeais Catedral de Sulmona (Itália) clique na imagem para ampliar |
Embora a aquisição duma virtude requeira a repetição
de atos bons, ela necessita igualmente da ajuda de Deus e, portanto, da oração. Efetivamente, as virtudes Teologais ultrapassam as forças humanas na exata
medida em que tais virtudes possuem Deus como objeto; quanto às virtudes
Cardeais Sobrenaturais, seria presunção o pretender aí chegar com as nossas
próprias forças, pois que a nossa humana natureza está profundamente ferida
pelo pecado original. Possa esta expressão de Santo Afonso de Ligório ser
melhor compreendida: Aquele que reza salva- se, aquele
que não reza condena-se.
Pe. Jean Marie Salaun
Fonte: Revista “Semper” – Priorado da FSSPX em Lisboa, Portugal.
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