Mohammed al-Sayyid al-Moussaoui, um descendente de Maomé, fala sobre sua conversão ao Cristianismo.
Traduções e Glossário por Giulia d'Amore di Ugento
Livro de Mohammed Moussaoui O preço a pagar |
Uma fatwa sobre a sua cabeça por ter se convertido ao Cristianismo. A história de um homem que foge por causa de sua Fé. Do autor, fulminado por uma fatwa por ter-se convertido do Islã ao Cristianismo, não sabemos o nome real. Em seu caminho, como para São Paulo em Damasco, o encontro com a Fé cristã torna-se um obstáculo intransponível e dramático, que o leva a uma vida sofrida, de um homem em fuga com sua família, para salvar suas vidas e dar um sentido à nova Fé. A história começa em Basra, no Iraque, em 1987. Mohammed Moussaoui (pseudônimo) narra, em primeira pessoa, o seu aproximar-se da religião cristã e a conversão. Perseguido, agredido por seus próprios irmãos, que chegam a ameaçá-lo de morte com uma arma apontada para sua testa, ele decide fugir e se refugiar na França, onde ainda vive na clandestinidade. Joseph Fadell é o pseudônimo sob o qual se esconde Mohammed, o autor do livro ‘O preço a pagar’, forçado a usar um nome falso também na vida real, para escapar da terrível fatwa. (Edizioni San Paolo)
UM RESUMO DA HISTÓRIA
Mohammed Moussaoui |
A sua
conversão data de 1987. Enquanto cumpre o serviço militar, a Basra, vê-se
dividindo um quarto com um cristão. Para ele, é uma humilhação: “em meu país, os cristãos são considerados apostadores
impuros, gente ruim com a qual precisa de toda forma evitar misturar-se. No
Alcorão que eu recito todo dia desde minha primeira infância, são os heréticos
que adoram a três Deuses”. Massoud, seu colega de quarto, o convida a simplesmente reler o Alcorão.
Esta releitura faz balançar a sua vida. Não reconhece no texto o Deus de amor
no qual quer acreditar. “O texto sagrado
perdeu para mim sua força de convicção, a ponto de duvidar que seja a palavra
de Alá”. O verdadeiro abalo, porém, se opera quando seu colega lhe põe nas
mãos a Bíblia; e a partir dai que começa a ler com paixão “por este Cristo de quem falam os Evangelhos”.
Uma paixão que viverá em sua carne.
Uma paixão que viverá em sua carne.
Visto que no
Iraque abjurar a religião islâmica é arriscar a morte, por dez anos Mohammed
foge à sorte que lhe é prometida, escondendo sua conversão de sua família.
Junto com seu pai e seus irmãos, se inclina cinco vezes ao dia em direção à
Meca, mas é Jesus quem ele invoca, ao invés de dizer Al-Fâtiha, o prólogo do Alcorão que milhões de muçulmanos recitam
todos os dias.
Por sua grande
surpresa, é a Igreja, sobretudo, que o rejeitará. Mohammed quer receber o batismo. Todas as
vezes ouve uma negação. Para os cristãos do Iraque, um muçulmano que bate à
porta é uma ameaça, seja se trate de um espião, seja que queira se converter. O proselitismo é passível de morte: “Pedindo o batismo, você arrisca sua vida,
mas também a dos cristãos que atenderam ao teu pedido”, explica o padre.
Outro é ainda mais direto: “Não é
possível sacrificar um rebanho inteiro para salvar apenas uma ovelha”.
Mesmo sob o presumido regime laico de Saddam Hussein, os cristãos do Iraque
viviam em um clima de constante temor e opressão. Eram mais de um milhão nos
anos oitenta, devem ser menos da metade hoje. “Foi penoso ver todas aquelas portas fechadas. Mas refletindo sobre o passado, compreendo a
situação. Tremem de medo”. Com
perseverança, Mohammed acaba conseguindo permissão para ir à Missa.
Ao saber de
sua conversão, a sua família o rejeita. Mais por uma questão de reputação que
por uma verdadeira convicção teológica. Seu pai não pode suportar a vergonha
que representa ter um filho cristão. Sobretudo porque Mohammed, que tem nove
irmãos e dez irmãs, é o herdeiro, o ‘preferido’, designado para suceder ao pai.
Sua mãe soltou apenas duas palavras: “Matem-no”. Mas o pai o salva. Contudo, a
mais alta autoridade xiita do Iraque, o aiatolá Mohammad Sadeq
al-Sadr, pronuncia a condenação à morte
que sela a sua sorte: “Se for confirmado
que é cristão, então ele deverá ser morto, e Alá recompensará aquele que
cumprir esta fatwa”.
Como advertência, é preso em Hakimieh,
onde estão detidos os prisioneiros políticos. Se torna o número 318. Durante três meses, é espancado e torturado
por um parente: querem que dê os nomes daqueles que o levaram a abraçar a Fé
Cristã. Mohammed nada revela. Passará dezesseis meses na prisão. Pesava 120 quilos quando chegou, pesará somente 50
ao sair. Durante os meses de solidão e privações, um só pensamento o manteve
vivo: viver até o batismo e receber a
comunhão.
Mas arriscaria
sua vida permanecendo no Iraque. Um sacerdote o aconselha a deixar o país, com
seus dois filhos e a esposa, que também se converteu. Mohammed escolhe ir para
a Jordânia, onde é recebido por uma família cristã. Na clandestinidade, recebe o batismo com sua
família e muda de nome. O perigo continua onipresente; seus irmãos o
procuram, o encontram e querem levá-lo de volta ao Iraque. Diante de sua negativa,
seu primo atira nele a queima-roupa. Misteriosamente, a bala não o alcança, enquanto “uma voz feminina interior (lhe sussurra) que corra com todas as suas forças”. Ele desmaia e acorda no
hospital, sem saber como chegou lá nem porque não está morto.
Novamente forçado
a se exilar para proteger sua família, obtém com dificuldade o visto para a
França. Deixar o Oriente é doloroso, mas ele não tem mais escolha: “O Islã
e a sociedade que emana dessa religião me privaram da liberdade mais elementar.
Somente ela [liberdade] me permitiria
viver em paz nesta terra do oriente que é também a terra dos cristãos (…).
Sinto-me arrancado de minha terra, tal como uma folha de arvore caída no chão e
levada pelos ventos, esmigalhada”.
A família
Fadelle chega a Paris no dia 15 de agosto de 2001. Joseph, sua mulher e os seus
dois filhos participam imediatamente, em solo francês, de uma procissão
dedicada à Santa Virgem. Impensável
em terras muçulmanas. Joseph Fadelle obteve, em seguida, a nacionalidade
francesa. Escreveu o livro ‘Le prix a
payer’ [O preço a pagar], para dar
seu testemunho de vida: “Este livro
corresponde à minha missão: anunciar o perigo do Islã”. Uma religião que
deseja impor a todos os seus dogmas e seus costumes.
Joseph Fadelle não se arrepende de sua
conversão. Espera somente ser ouvido por aqueles que o acolheram. E, talvez, um
dia, “viver em um Iraque em que os
cristãos possam ser cidadãos iguais aos demais”. “Quero que a sociedade mude, ou melhor, que se torne Cristã”,
assegura.
Fonte: Per
um Islam migliore
UM TRECHO DA ENTREVISTA DE MOHAMMED AL-SAYYID AL-MOUSSAOUI
À REVISTA CATÓLICA FRANCESA ‘FAMILLE CHRÉTIENNE’
Mohammed Moussaoui com seu livro |
Tornando-se José pelo batismo, o iraquiano xiita refugiado na França com sua família publica a incrível história de sua conversão ao Cristianismo em terra do Islã. Um testemunho de coragem na Fé, cuidadosamente recolhido perto da Semana Santa.
Como o xiita que o senhor era se converteu ao Cristianismo?
Graças ao encontro com um cristão durante o meu serviço
militar. Foi em Basra (Iraque) em 1987. Eu tinha 23 anos. Coabitar com um cão cristão(1)
foi uma provação terrível para um Moussaoui – minha família é descendente direta
do Profeta – mas eu não poderia escapar disso, meu pai ainda não tinha conseguido
subornar o Chefe do Estado Maior.
No começo, eu desprezava este tal Massoud, um agricultor de
44 anos. Então ele, aos poucos, me amansou com seu saber ouvir e sua benevolência. Eu
queria convertê-lo ao Islamismo: precisava tirá-lo de seu erro. Prudentemente –
ele não poderia falar sobre sua Fé sem arriscar a morte –, ele me remeteu à minha
própria religião: “Você realmente leu o
Alcorão? Você entende o significado de cada palavra, de cada verso?”, me
perguntou um dia. Eu corei pelo embaraço. Os imãs nos explicam que é a leitura
do Alcorão, do princípio ao fim, que será recompensada no Dia do Juízo, mais do
que a compreensão do texto. Aproveitei de uma permissão para ir à minha casa
para refletir. Foi lá que meus aborrecimentos começaram...
Seus ‘aborrecimentos’,
o senhor diz?
Assim que cheguei à segunda sura, tropecei, praticamente, em todos os versos. Eu não entendia
porque Alá se rebaixaria a definir as regras do repúdio, dos prazos... Eu não
entendia a insistência do Alcorão na superioridade e no poder dos homens sobre
as mulheres, consideradas como inferiores e possuidoras da metade do cérebro de
um homem etc.
Fui ver um imã, amigo da família, para apresentar-lhe algumas
de minhas dificuldades como esta Sura (2, 223): “Vossas mulheres são como uma terra a ser cultivada para vocês, se
aproximem delas quando e como desejarem” – O que significa que os
homens podem fazer delas o que eles quiserem, inclusive sexualmente! Ele me
respondeu que um homem pode fazer amor em qualquer lugar, mas não na mesquita;
a qualquer momento, exceto durante o Ramadã; e de qualquer maneira... Diante de
meu ceticismo, ele me aconselhou mergulhar em reflexão na vida do Profeta.
E o senhor realmente mergulhou na vida de Maomé?
Sim. Mas, novamente, fui obrigado a me desiludir quando li
que Maomé casou-se com uma menina de sete anos, Aisha; ou ainda que, após ter feito seu filho adotivo Zayd ibn Harith Ibn Char’habil casar com Zaynab, que era, portanto, sua enteada,
tomou a esposa dele para torná-la sua sétima esposa. Em suma, após vários dias
de intensa reflexão, o comportamento e a vida do Profeta não me pareceram nada exemplares.
Sua Fé vacilou neste
momento?
Eu ainda acredito em Deus, cuja bondade é maior do que tudo,
mas eu começava a duvidar de que o Alcorão era a Sua palavra. Sobre o que posso basear
minha vida se o Islã não é mais o pilar? Eu estava desmoronado. E humilhado,
porque eu sabia que, nestas circunstâncias, não tinha chance alguma de
convencer Massoud. E mais, como um digno representante dos Moussaoui, eu detestava
ser humilhado. Assim, para salvar a honra, ia tentar convencer Massoud que
sua religião é igualmente uma ilusão.
O senhor pensou, então, em abalar a Fé de Massoud, o
cristão?
Massoud saiu de licença. Naquela noite, eu tive um sonho – e
pela primeira vez na minha vida eu me lembro –: eu tento em vão atravessar um
riacho, quando um homem muito bonito, do outro lado, tende a mão para mim
dizendo: “para atravessar o rio, você
deve comer o pão da vida”. Esta frase era incompreensível para mim.
Nisso, Massoud retorna da licença e me entrega um livro: “Eis o Evangelho”. Não seguindo o seu
conselho, eu começo imediatamente a ler o Evangelho de São João, o mais
difícil, segundo ele. Absorvido pela obra, eu esqueço até de almoçar. Chegado
ao Capítulo 6, eu paro, atordoado: acabo de ler exatamente essas palavras ouvidas, há algumas horas, em meu
sonho: “o pão da vida”. Eu reli
lentamente: “Eu sou o pão da vida, aquele
que vem a mim jamais terá fome...”.
Encontrar no Evangelho uma frase que o senhor havia
sonhado, isso muda tudo?
Aconteceu em mim algo de extraordinário, como uma explosão,
uma luz que ilumina minha vida de uma luz totalmente nova, um relâmpago. Provo no
meu coração um sentimento de força inaudita, uma paixão quase que violenta e
amorosa por esse Jesus Cristo de que falam os Evangelhos. Ao mesmo tempo, eu compreendo
que em meu sonho há mais do que um sonho: um apelo, uma mensagem pessoal. Doravante,
eu não vou mais ter que um desejo: poder um dia comer desse ‘pão da vida’, mesmo
que eu ainda não compreenda muito bem o que seja. Precisarei esperar treze longos
anos.
Como reagiu Massoud quando o senhor confessou sua Fé em
Jesus?
Eu imaginei que ele iria pular de alegria e me abraçar
diante desta boa notícia. Pelo contrário. Aconteceu o oposto: ele empalideceu,
seu rosto permanece fechado, ele começa a pensar. Eu vejo o medo, um medo
beirando o pânico, sacudindo o interior deste homem robusto. Eu não entendo mais
nada. Quando eu digo a ele que pretendo anunciar à minha família sobre minha Fé
nova neste Jesus Cristo, ele explode:
- Você não percebe! Eles vão matá-lo...
- Mas isso não é possível! Minha família me ama, não pode me
querer mal...
- Ouça, eu lhe suplico, me diz ele. Você coloca sua vida em
perigo e a minha também. Neste país, não podemos mudar de religião assim. É punido
com a morte!
O que o senhor faz, então?
Em primeiro lugar, eu compreendia por que, no início do
nosso encontro, Massoud parecia tão relutante em falar comigo sobre sua Fé, da
maneira como ele a vivia. Ele sabia dos riscos que ele estava assumindo... Mas,
ainda sob o fogo da minha leitura da história trágica de Jesus, eu respondi:
- Cristo também morreu, e seus seguidores conheceram grandes
perigos por segui-lo. Por que eu não faria o mesmo, afinal, se amo o Cristo?
- Mas Cristo não quer que você morra!, responde-me ele. Se
você crê verdadeiramente nEle, vamos rezar ao seu Espírito para nos iluminar. E
eu lhe suplico, novamente, acalme a sua exaltação e me jure que não falará sobre
tudo isso quando você voltar para sua família.
Eu não estava certo de realmente ter compreendido a realidade do
perigo que Massoud evocava, mas eu confiava nele: era o único cristão que eu
conhecia. É por isso que eu concordei, com relutância. Eu coloquei, então, um
véu de silêncio sobre aquilo que iria constituir, doravante, eu o sentia, o novo
motor – e o coração – da minha vida.
Leia o resto da entrevista com Mohammed Moussaoui e seu retrato “cristãos
arriscando sua vida”, no n º 1.680 de Famille Chrétienne, disponível na edição digital.
Fonte: Famille Chrétienne
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Mohammed Moussaoui |
Mohammed Moussaoui, um jovem iraquiano, o filho mais velho
de uma família iraquiana xiita e descendente do profeta Maomé, se destinava a levar
uma vida de empresário. Seu caminho estava todo traçado. Aos 23 anos, ele não
pode evitar o serviço militar imposto pelo então regime de Saddam Hussein. Seu colega
de quarto, Massoud, é cristão. Entre os dois inicia-se uma amizade paradoxal,
que não exclui o debate ideológico e religioso. Surpreendido pela fé doce e viva
de Massoud, Muhammad procura submetê-la à crítica. Mas Massoud é prudente, é
Mohammed que vai voltar mudado para casa. Ele deseja se tornar um cristão.
Forçado a se esconder para viver sua fé, sua família finalmente descobre seu segredo. A fatwa é lançada contra ele. Preso, espancado, banido por sua família, Mohammed deixou o Iraque em direção à Jordânia. Encontrado em Amã por seus irmãos e seu tio, ele escapa milagrosamente da morte. Suas balas, disparadas à queima-roupa, o ferem, mas não o matam.
Forçado a se esconder para viver sua fé, sua família finalmente descobre seu segredo. A fatwa é lançada contra ele. Preso, espancado, banido por sua família, Mohammed deixou o Iraque em direção à Jordânia. Encontrado em Amã por seus irmãos e seu tio, ele escapa milagrosamente da morte. Suas balas, disparadas à queima-roupa, o ferem, mas não o matam.
Ao ler a história de Mohammed que se tornou Joseph arriscando
sua vida, não podemos deixar de lembrar desta passagem do Evangelho de Lucas: “Sereis traídos até por vossos pais, vossos
irmãos, vossa família e vossos amigos, e matarão muitos de vós. Sereis odiados
por todos por causa do meu nome. Mas nem um só cabelo da vossa cabeça se
perderá. Pela vossa perseverança que obtereis a vida”. (21,16-19)
Fadell Joseph vive, atualmente, no Val d’Oise(2), com
sua família.
1 NdTª.: Os mulçumanos se referem aos não-muçulmanos como infiéis ou, ainda, cães infiéis. Aqui, por se tratar de um cristão: cão cristão.
2 NdTª.: Val d'Oise é um departamento francês.
GLOSSÁRIO
Aiatolá é considerado, sob as leis do Islã xiita, o mais
alto dignitário na hierarquia religiosa. Para ser um aiatolá, além de
conhecimento e discernimento, ele deve ser descendente direto de Maomé. Aiatolá
significa ‘sinais de Alá’, isto é, o aiatolá é o expoente do conhecimento
dentro do Islã Xiita.
Aisha (nome próprio que pode ser tanto masculino quanto
feminino e significa: a passagem de Adão
para Eva) foi a terceira esposa do Profeta Maomé e era filha de Abu Bakr, um
dos companheiros de Maomé e primeiro califa do Islã, em 632 d.C. Ela era
quarenta e quatro anos mais nova do que Maomé (nasceu em Meca – 614 d.C.); não
se sabe ao certo com que idade foi desposada (alguns dizem seis anos, outros
sete, outro, ainda, nove), mas o casamento teria sido consumado quando ela
tinha cerca de quatorze anos. Quando Maomé morreu, ela tinha cerca de dezoito
anos e se distanciou da vida política até ao assassinado de Otman, ou Uthman
ibn Affan (570-656, que foi o terceiro califa muçulmano, sucedendo a Omar, que
também fora assassinado). Aisha passou a combater o califa Ali ibn Abu Talib,
mas, durante a chamada Batalha do Camelo,
foi derrotada e feita prisioneira. Libertada, foi viver em Medina, onde morreu
(678 d.C.). Aisha é uma figura central nesses primeiros anos do Islã.
Inteligente, articulada e dona de uma memória prodigiosa, ela foi a mais
querida e respeitada das mulheres do profeta, as quais eram tão assediadas por
pessoas em busca de favores e influência que talvez por isso tenham sido as
primeiras muçulmanas (e, por algum tempo, as únicas) a usar véu e ficar
recolhidas em casa, ainda assim, só nos últimos anos da vida de Maomé.
Alá (ou Allah) é a palavra utilizada no árabe para designar Deus.
Os cristãos árabes atuais utilizam termos como Allāh al-ʼAb (Deus, o
Pai) para distinguir seu uso daquele feito pelos islâmicos. Existem
semelhanças e diferenças entre o conceito de Deus expresso pelo Alcorão e pela Bíblia
hebraica. Pensa-se, erroneamente, que Alá seja o nome próprio de um Deus particular
dos muçulmanos; no entanto, o termo é utilizado também pelos cristãos e judeus
de língua árabe, ao se referirem ao Deus de suas religiões. A palavra é uma
contração de Al-ilāh, isto é, ‘O Deus’,
e sua tradução correta é ‘Deus’, com maiúscula, porque se refere ao Deus único. A palavra ‘deus’, que se
refere a qualquer outra divindade, é ilāh.
Diferentemente dos cristãos e dos judeus, os muçulmanos não conferem atributos
humanos a Deus, afirmando sua unidade. Dentre esses atributos, existem 99
atributos de Alá mencionados no Alcorão, os quais muitos podem ser também
atribuídos a humanos, porém, nota-se que é utilizado o artigo ‘al’ (‘o...’) do
árabe, para cada atributo, afirmando novamente a unicidade de Deus, tais como ‘O
Clemente’ (Al-Rahmān), ‘O Querido’ (Al-’Azīz), ‘O Criador’ (Al-Khāliq), entre outros. O conjunto
desses noventa e nove nomes de Alá recebe em árabe o nome de al-asmā’ al-husnà (os melhores nomes). Algumas tradições afirmam que existe um
centésimo nome; dessas, muitas acreditam que o centésimo seja o próprio nome de
Deus, ou seja, Alá. Curiosidade:
A palavra Alá está na origem de algumas palavras do espanhol e do português
como ojala/oxalá (w[a] shā-llāh, ‘queira
Deus’), ‘olé’ (w[a]-llāh, ‘por Deus’)
e ‘hala’ (yā-llāh, ‘oh, Deus’).
Alcorão (ou Corão) – ‘a recitação’ – é o livro sagrado do
Islã. Os muçulmanos creem que o Alcorão é a palavra literal de Alá revelada ao
profeta Maomé ao longo de um período de vinte e três anos. A palavra Alcorão
deriva do verbo árabe que significa declamar ou recitar; é, portanto, uma ‘recitação’
ou algo que deve ser recitado. Os muçulmanos podem-se referir ao Alcorão usando
um título que denota respeito, como Al-Karim
(‘o Nobre’) ou Al-Azim (‘o Magnífico’).
É prática generalizada nas sociedades muçulmanas que o Alcorão não seja
vendido, mas dado. O Alcorão está organizado em 114 capítulos (suras – vide
nota a respeito), divididas em livros, seções, partes e versículos.
Considera-se que 92 capítulos foram revelados ao profeta Maomé em Meca, e 22 em
Medina. Não surgiu estruturado como um livro, mas foi transcrito, a pedido de
Maomé, por jovens letrados que o acompanhavam. Não se tem certeza que de Maomé
soubesse ler e escrever fluentemente. O texto era preservado em materiais
dispersos tão variados como folhas de tamareira, pedaços de pergaminho,
omoplatas de camelos, pedras e também na memória dos primeiros seguidores.
Durante as noites do Ramadã, Maomé recapitulava as revelações em uma conferência
onde estavam presentes os logógrafos (escritores profissionais) e os hafiz, ou seja, pessoas que conheciam
passagens de memória. Após sua morte, foram reunidos os extratos. Os três
primeiros Alcorões estariam em três museus (Iraque, Egito e Uzbequistão). Somente
em 1694 uma versão completa do Alcorão foi publicada no Ocidente, na cidade de Hamburgo,
por Abraham Hinckelmann, um estudioso não-muçulmano. O Alcorão descreve as
origens do Universo, o Homem e as suas relações entre ele e o Criador. Define
leis para a sociedade, moralidade, economia e muitos outros assuntos. Para os
muçulmanos, o Alcorão é a palavra de Deus, sagrada e imutável, que fornece as
respostas acerca das necessidades humanas diárias, tanto espirituais como
materiais. Ele discute Deus e os seus nomes e atributos, os crentes e suas
virtudes, e o destino dos não-crentes (kuffar).
Além do Alcorão, os muçulmanos seguem a Sunnah
(ou Suna, ‘caminho trilhado’, ou
seja, os meios pelos quais o Profeta aplicou e ensinou o Islã, para e com seus
companheiros) e a Hadith (interpretação
do Alcorão contida nos ensinamentos do Profeta). Além do Alcorão, é ensinado
aos muçulmanos que Deus enviou também outros livros: o ‘livro de Ibrahim’ (que se perdeu), a ‘lei de Moisés’ (a Torá),
os ‘Salmos de David’ (o Zabûr) e o ‘Evangelho de Jesus’ (o Injil).
O Alcorão chama os Cristãos e os Judeus como ‘povos do Livro’ (ahl al Kitâb).
Os ensinamentos do Islã englobam muitas das personagens do Judaísmo e do
Cristianismo, como: Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus, sua mãe Maria e João
Baptista são mencionados no Alcorão como profetas
do Islã. No entanto, os muçulmanos frequentemente se referem a eles por outros
nomes em língua árabe, o que pode criar a ilusão de que se trata de pessoas
diferentes (exemplos: Alá para Deus, Iblis para Diabo, Ibrahim para Abraão etc.). Normalmente, os muçulmanos guardam o Alcorão numa
prateleira alta do quarto, em sinal de respeito pelo livro sagrado; alguns levam
consigo pequenas versões para seu uso. Apenas a versão original em árabe é
considerada o Alcorão; as traduções são vistas como sombras fracas do
significado original. É considerado um pecado gravíssimo modificar, cortar,
excluir ou adicionar as palavras do Alcorão.
Al-Fatiha, ‘A
Abertura’, é o primeiro capítulo (sura) do livro sagrado dos muçulmanos. Seus
sete versos são uma oração por orientação divina e um louvor ao senhorio e à
misericórdia de Alá. Este capítulo tem um papel especial nas tradicionais
orações diárias, por ser recitado no início de cada unidade de oração, ou rak’ah.
Basra, Baçorá, Bassorá ou Bassora (al-Baṣrah) é uma das três maiores cidades do Iraque. Capital da
província de Basra, a cidade é o principal porto do País. Encontra-se às
margens do rio Xatalárabe, a 55 km do
Golfo Pérsico e a 545 km de Bagdá.
Califa era o líder do mundo muçulmano. O título vem da frase
árabe que quer dizer ‘sucessor do Enviado
de Alá’. Foi adotado por sucessores do profeta Maomé depois de sua morte,
em 632 d.C. O primeiro califa, Abu Bakr, era sogro de Maomé e ordenou as
conquistas árabes da Pérsia, Iraque e Oriente Médio, que só seriam alcançadas
nos dois seguintes califados. Abu Bakr e seus três sucessores – Omar, Otman e
Ali – são conhecidos como os califas ‘perfeitos’ ou ‘corretamente guiados’ (Al-Rashidun). O detentor deste título
clama a soberania sobre todos os muçulmanos e era escolhido através de uma eleição
na Majlis al Ummah, órgão que
congregava as principais lideranças tribais. Com o tempo, o califado se dividiu
em dois e, alguns anos depois, em três. E foi se desintegrando, até que, no
final do século XII, o sultão do Egito, Saladino, reestruturou o califado
através de alianças entre os estados. O título de califa deixou de existir
quando a República da Turquia aboliu o Império Otomano, em 1924.
Fatwa é um pronunciamento legal no Islã, emitido por um
especialista em lei religiosa, sobre um assunto específico.
Imã, imame, imamo ou imam (aquele que guia) é o pregador do culto islâmico e também designa os
principais líderes religiosos do Islã que sucederam ao profeta Maomé.
Islamismo, Islão (português europeu) ou Islã (português
brasileiro) (em árabe: al-Islām) é
uma religião abraâmica monoteísta (cujo calendário começa a ser contado no ano
622 da Era Cristã) articulada pelo Alcorão
e pelos ensinamentos e exemplos normativos (Hadith) de Maomé. Um adepto do islamismo é chamado, em português, de
muçulmano. Para eles, o Islã é a
versão completa e universal de uma fé primordial que foi revelada em muitas
épocas e lugares anteriores, até por meio de Abraão, Moisés e Jesus, que eles
consideram profetas. Os conceitos e
as práticas religiosas incluem os cinco
pilares do Islã [ou seja, os cinco principais atos exigidos pelo Islã:
professar e aceitar o Credo (Chahada
ou Shahada); orar cinco vezes ao
longo do dia (Salá, Salat ou Salah); pagar dádivas rituais (Zakat
ou Zakah); observar as obrigações do Ramadã (Saum ou Siyam); e fazer a
peregrinação à Meca (Hajj ou Haj)], que são conceitos e atos básicos
e obrigatórios de culto, e a prática
da lei islâmica, que atinge praticamente todos os aspectos da vida e da
sociedade, fornecendo orientação sobre temas variados. Eles estão divididos em Sunitas (ramo maior do Islã, o nome
deriva da palavra Suna e se refere
aos preceitos estabelecidos no século VIII baseados nos ensinamentos de Maomé e
dos três califas ortodoxos) e Xiitas (vide
nota a respeito).
Maomé (570 d.C. - Medina), chamado o Profeta, segundo o Islã é o último profeta do Deus de Abraão. Seu
nome completo era Muhammad Bin Abdullah
Bin Abdul Mutalib Bin Hachim Bin Abd Manaf Bin Kussay. Para os muçulmanos,
Maomé foi precedido em seu papel de profeta por Jesus, Moisés, Davi, Jacob, Isaac,
Ismael e Abraão. Como figura política, ele unificou várias tribos árabes, o que
permitiu as conquistas árabes daquilo que viria a ser um império islâmico que
se estendeu da Pérsia até à Península Ibérica. Não é considerado um ser divino,
mas um dos mais perfeitos seres humanos. Em 610 d.C., fazendo um de seus
retiros espirituais em uma caverna no Monte Hira, teria sido visitado pelo anjo
Gabriel, que lhe teria ordenado que recitasse uns versos enviados por Deus, e lhe
comunicou que Deus o havia escolhido como o último profeta enviado à
Humanidade. Maomé obedeceu e, após sua morte, estes versos foram reunidos e
integrados no Alcorão. Maomé não rejeitou completamente o Judaísmo e o
Cristianismo, as duas religiões monoteístas já conhecidas pelos árabes, mas
esclareceu que tinha sido enviado por Deus para restaurar os ensinamentos originais
destas religiões, que tinham sido ‘corrompidos e esquecidos’. A sua morte (632
d.C. - Medina) deu origem a uma grande crise entre os seus seguidores, que
originou a Islã nos ramos dos Sunitas
e dos Xiitas. Os Xiitas acreditam que o profeta designou Ali ibn Abu Talib como seu
sucessor, num sermão público na sua última peregrinação à cidade de Meca, mas os
Sunitas discordam. Maomé foi casado
dezesseis vezes, na sua maioria com mulheres viúvas, a não ser Aisha (vide nota
a respeito) que era ainda uma criança.
Mesquita é um local de culto para os seguidores do Islã.
Mohammad Sadeq al-Sadr (1943-1999), também chamado de Grande Ayatollah Mohammad Sadeq al-Sadr,
foi um proeminente clérigo xiita do Iraque. Sua família considera-se Sayyid, termo utilizado pelos Xiitas para
designar os descendentes diretos de Maomé. Foi assassinado na cidade iraquiana
de Najaf, durante o regime de Saddam
Hussein.
Ramadão (português) ou Ramadã (português brasileiro), também
grafado Ramadan, é o nono mês do calendário islâmico (que é lunar e, portanto,
a celebração pode se dar em qualquer mês do ano, e dura entre 29 e 30 dias. O
mês inicia-se com a aparição da lua no final do mês de sha’ban), durante o qual os muçulmanos praticam o seu jejum ritual
(suam), e é também o quarto dos cinco pilares do Islã (arkan al-Islam – vide nota Islamismo a respeito). Este
período é um tempo de renovação da fé, da prática mais intensa da caridade e
vivência profunda da fraternidade e dos valores da vida familiar. Neste período
pede-se ao fiel maior proximidade dos valores sagrados, leitura mais assídua do
Alcorão, frequência à mesquita, correção pessoal e autodomínio. É o único mês
mencionado pelo nome, por Alá, no Alcorão.
Saddam Hussein Abd al-Majid al-Tikriti (1937-2006) foi um
político e estadista iraquiano e uma das principais lideranças do mundo árabe. Governou
o Iraque no período de 1979–2003. Em 1979, o Xá do Irã, Mohammad Reza Pahlavi, foi derrubado pela Revolução Islâmica, dando
lugar a uma república islâmica liderada pelo Aiatolá Ruhollah Musavi Khomeini. A influência do Islã xiita
revolucionário cresceu deste modo de forma abrupta, particularmente em países
com grandes populações xiitas, como o Iraque. Saddam receava que as ideias
radicais islâmicas, hostis ao seu domínio secular pudessem se alastrar no seu
país, entre a população. Iraque e Irã iniciaram, então uma guerra aberta em 22
de Setembro de 1980. Não houve um vencedor declarado. Saddam Hussein foi
julgado por um Tribunal Especial iraquiano que o condenou à morte na forca, por
crimes de guerra, em 5 de novembro de 2006.
Sura, Surata ou Surat é o nome dado a cada capítulo do Alcorão,
que possui 114 suras, por sua vez subdivididas em versículos (ayat). O número de versículos é de 6536
ou 6600, conforme a forma de contá-los. A maior Sura é a segunda, com 286
versículos; as Suras menores possuem apenas três versículos. Os capítulos estão
dispostos aproximadamente de acordo com o seu tamanho e não de acordo com a
ordem cronológica da revelação, e são tradicionalmente identificados mais pelos
nomes do que pelos números. Estes receberam nomes de palavras distintivas ou de
palavras que surgem no início do texto, como, por exemplo: A Vaca, A Abelha, O Figo ou A Aurora. Contudo, o conteúdo da Sura não está relacionado com o seu título.
Xiitas (do árabe ‘partido de Ali’) são o segundo maior ramo
de fieis do Islã, constituindo 30% do total dos muçulmanos (o maior ramo é o
dos muçulmanos Sunitas, que são 84% da totalidade dos muçulmanos). Os Xiitas consideram
Ali ibn Abu Talib, o genro e primo do profeta Maomé, como o seu sucessor
legítimo, e, portanto, consideram ilegítimos os três califas Sunitas que
assumiram a liderança da comunidade muçulmana após a morte de Maomé.
Zaynab: Maomé casou-se com dezesseis mulheres, inclusive com
uma parente, Zaynab, a esposa de um seu filho adotivo, Zayd ibn Harith Ibn Char’habil,
um escravo que Khadija (primeira mulher de Maomé) dera ao Profeta, e que ele
adotou como filho.
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