8 de setembro
Nossa Senhora da Nazaré
Nossa Senhora da Nazaré é o nome de uma imagem esculpida em madeira, com cerca de 25 cm de altura, representando a Santíssima Virgem Maria sentada num banco a amamentar o Menino Jesus, com as caras e as mãos pintadas de cor morena. Conforme a tradição oral, a imagem foi esculpida por São José quando Jesus era ainda um bebê, e as caras e as mãos pintadas, décadas mais tarde, por São Lucas. A imagem é venerada no Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, no Sítio da Nazaré, em Portugal.
A história da imagem foi publicada, em 1609, pela primeira vez, por Frei Bernardo de Brito, na "Monarquia Lusitana". Este monge de Alcobaça, cronista mor de Portugal, relata ter encontrado no cartório do seu mosteiro uma doação territorial, de 1182, na qual constava a história da imagem, que tinha sido venerada nos primeiros tempos do Cristianismo em Nazaré, na Galileia, cidade natal de Maria. Daí a invocação de Nossa Senhora de Nazaré. Da Galileia fora trazida, no século quinto, para um convento perto de Mérida, em Espanha, e dali, em 711, para o Sítio (de nossa Senhora) da Nazaré, onde continua a ser venerada.
A história desta imagem é indissociável da aparição mariana que ocasionou o milagre que salvou D. Fuas Roupinho, em 1182, episódio a que se convencionou chamar de "a Lenda da Nazaré" (vide adiante).
Durante a Idade Média apareceram centenas de imagens de Virgens Negras por toda a Europa, a maioria das quais, tal como esta, esculpidas em madeira, de pequenas dimensões e ligadas a uma lenda miraculosa. Hoje, existem cerca de quatrocentas destas imagens, antigas ou as suas réplicas, em igrejas por toda a Europa, bem como algumas mais recentes no resto do mundo.
A verdadeira e sagrada imagem de Nossa Senhora da Nazaré ainda não foi sujeita a uma perícia laboratorial para a datar científicamente e paralelamente obter a confirmação de se estar perante uma imagem bi-milenar, ou de uma réplica produzida posteriormente.
A LENDA DE NAZARÉ
Conta a Lenda da Nazaré que, na manhã do dia 14 de setembro de 1182, D. Fuas Roupinho, alcaide do castelo de Porto de Mós, caçava junto ao litoral, envolto por um denso nevoeiro, perto das suas terras, quando avistou um veado que de imediato começou a perseguir. O veado dirigiu-se para o cume de uma falésia. D. Fuas, no meio do nevoeiro, isolou-se dos seus companheiros. Quando se deu conta de estar no topo da falésia, à beira do precipício, em perigo de morte, reconheceu o local. Estava mesmo ao lado de uma gruta onde se venerava uma imagem de Nossa Senhora com o Menino. Rogou, então, em voz alta: Senhora, Valei-me!. De imediato, miraculosamente, o cavalo estacou, fincando as patas no penedo rochoso suspenso sobre o vazio, o Bico do Milagre, salvando-se assim o cavaleiro e a sua montada da morte certa que adviria de uma queda de mais de cem metros.
D. Fuas desmontou e desceu à gruta para rezar e agradecer o milagre. De seguida, mandou os seus companheiros chamar pedreiros para construírem uma capela sobre a gruta, em memória do milagre, a Ermida da Memória, para aí ser exposta à veneração dos fiéis a milagrosa imagem. Antes de fechar a gruta, os pedreiros desfizeram o altar ali existente e entre as pedras, inesperadamente, encontraram um cofre em marfim contendo algumas relíquias e um pergaminho, no qual se identificavam as relíquias como sendo de São Brás e São Bartolomeu, e se relatava a história da pequena imagem esculpida em madeira, policromada, representando a Santíssima Virgem Maria sentada num banco baixo a amamentar o Menino Jesus.
Segundo o pergaminho, a imagem fora venerada desde os primeiros tempos do Cristianismo em Nazaré, na Galileia, terra natal da Virgem Maria. No século quinto, o monge grego Ciríaco transportou-a até ao mosteiro de Cauliniana, perto de Mérida. Ali permaneceu, até 711, ano da batalha de Guadalete, após a qual desbaratadas pelos muçulmanos, as forças cristãs fugiram desordenadamente para norte. Quando a notícia da derrota chegou a Mérida, os monges de Cauliniana prepararam-se para abandonar o mosteiro.
Entretanto D. Rodrigo, o rei cristão derrotado, conseguira escapar do campo de batalha e disfarçado de mendigo refugiara-se incógnito em Cauliniana. Porém, ao confessar-se a um dos monges, frei Romano, teve de dizer quem era. O monge propôs-lhe, então, fugirem juntos para o litoral atlântico e levarem consigo a muito antiga imagem de Nossa Senhora da Nazaré, que se venerava no mosteiro com fama de muito miraculosa. A 22 de Novembro de 711, chegaram ao seu destino e instalaram-se no monte Seano, hoje Monte de São Bartolomeu, numa igreja abandonada que lá encontraram. A existência de um mosteiro nas imediações, do qual subsiste a igreja de São Gião, deve ter sido um fator determinante para a escolha deste destino final da fuga. Passado pouco tempo, separaram-se para viver como eremitas. O rei ficou, e o monge levou consigo a imagem e instalou-se, a três quilómetros do monte, numa pequena gruta no topo de uma falésia sobre o mar. O rei Rodrigo, passado um ano, decidiu abandonar a região. Frei Romano continuou a viver no eremitério subterrâneo até à sua morte. A sagrada imagem de Nossa Senhora da Nazaré continuou sobre o altar onde o monge a colocou até 1182, quando foi mudada para a capela que D. Fuas mandou construir sobre a gruta. A imagem permanece pois, desde 711-712, no mesmo sítio, o Sítio da Nazaré.
Em 1377, o rei D. Fernando (1367-1383), devido à significativa afluência de peregrinos, mandou construir, perto da capela, uma igreja para a qual foi transferida a imagem de Nossa Senhora da Nazaré, decorrendo esta denominação, do seu lugar de origem, a aldeia de Nazaré na Galileia.
A popularidade desta devoção na época dos Descobrimentos era tamanha entre as gentes do mar, que tanto Vasco da Gama, antes e depois da sua primeira viagem à Índia, quanto Pedro Álvares Cabral, vieram em peregrinação ao Sítio da Nazaré. Entre os muitos peregrinos da família Real destacamos, a rainha D. Leonor de Áustria, terceira mulher do rei D. Manuel I, irmã do imperador Carlos V, futura rainha de França, que permaneceu no Sítio alguns dias, em 1519, num alojamento de madeira construído especialmente para esta ocasião. Também S. Francisco Xavier, padre jesuíta, o Apóstolo do Oriente, veio em peregrinação à Nazaré antes de partir para Goa. Foram, aliás, os Jesuítas portugueses os grandes propagadores deste culto em todos os continentes.
Nos séculos dezessete e dezoito, ocorreu a grande divulgação do culto de Nossa Senhora da Nazaré em Portugal e no Império Português. Ainda hoje se veneram algumas réplicas da verdadeira imagem, e existem várias igrejas e capelas dedicadas a esta invocação espalhadas pelo mundo. É de destacar a imagem de Nossa Senhora da Nazaré que se venera em Belém do Pará, no Brasil, cuja festa anual recebeu o nome de Círio de Nazaré e é uma das maiores romarias do mundo atingindo os dois milhões de peregrinos em um só dia.
No século dezesseis, o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré fundado por D. Fernando começou a ser reconstruído e aumentado, tendo as obras sido prolongadas por várias empreitadas até finais do século dezenove. O edifício atual é o resultado destas obras sucessivas que lhe conferiram um caráter peculiar com grande qualidade.
A sagrada imagem, de madeira policromada, com pouco mais de um palmo de altura, representa Maria de Nazaré sentada num banco a amamentar o menino Jesus sentado na sua perna esquerda. Está exposta na capela-mor, num nicho iluminado, integrado no retábulo barroco, ao qual os devotos podem chegar subindo uma escada que parte da sacristia.
Segundo a tradição oral inscrita numa lápide colocada na capela da memória, em 1623, a imagem fora esculpida por São José carpinteiro, em Nazaré, na Galileia, quando Jesus era bebê. Algumas décadas depois, São Lucas evangelista pintara os rostos e as mãos. Conservou-se em Nazaré até ser trazida para Belém pelo monge grego Ciríaco, que a entregou a São Jerônimo de Estridão, que a ofereceu a Santo Agostinho, que por sua vez a ofereceu ao mosteiro de Cauliniana, de onde foi trazida para o seu Sítio atual. Assim sendo, poderá ser a mais antiga imagem venerada por cristãos.
Até hoje, a tradição aponta aos visitantes a marca deixada pela ferradura de uma das mãos do cavalo de D. Fuas, no extremo do Bico do Milagre, ao lado da Capela da Memória, no Sítio da Nazaré.
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_da_Nazar%C3%A9.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lenda_da_Nazar%C3%A9.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ermida_da_Mem%C3%B3ria_(Nazar%C3%A9).
https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%ADrio_de_Nossa_Senhora_de_Nazar%C3%A9.
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