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quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A Verdade e o Número

A Verdade e o Número


Por Santo Atanásio

 

Sermão de Santo Atanásio contra os que consideram o número como prova da verdade ou que não julgam de acordo com a verdade, senão, pelo número.
"De Deus devemos esperar a força e as luzes necessárias para combater a mentira e o erro, e a Ele recorremos para obtê-las. Ele é o Deus da Verdade, Ele nos tirou do seio do erro e da ilusão, Ele nos diz no fundo do coração: 'Eu sou a Verdade'; Ele sustenta a nossa esperança e anima nosso zelo, quando nos diz: 'Tende confiança, eu venci o mundo'.

Depois disso, como não sentir compaixão por todos os que só medem a força e o poder da Verdade pelo grande número? Esqueceram, por conseguinte, que Nosso Senhor Jesus Cristo não elegeu senão doze discípulos, gente simples, sem letras, pobres e ignorantes, para opor-se, com uma misericórdia totalmente gratuita, ao mundo inteiro, e que não lhes deu como única defesa senão a confiança nEle? Ignoram, por acaso, que lhes deu como instrução, a estes doze enviados, não o seguir ao grande número e a estes milhões de homens que se perdiam, mas ganhar a essa multidão e comprometê-la a segui-los? Quão admirável é a força da Verdade! Sim, a Verdade é sempre vencedora, mesmo que não esteja sustentada senão por um número muito pequeno. Não ter outro recurso senão o grande número, recorrer a ele com uma muralha contra todos os ataques, e como uma resposta para todas as dificuldades, é reconhecer a debilidade de sua causa, é concordar com a impossibilidade em que se está de se defender; é, em uma palavra, reconhecer-se vencido.

Que pretendeis, com efeito, quando nos objetais vosso grande número? Quereis, como em outro tempo, levantar uma segunda Torre de Babel para por limites a Deus e atacá-lO em caso de necessidade? Que exemplo, o dessa multidão insensata!

Que o vosso grande número me apresente a Verdade com toda a sua pureza e seu brilho, estou disposto a render-me, e minha derrota é segura; mas que não me deem como prova e razão nada mais que o seu próprio grande número e sua autoridade: é querer causar terror e dar medo, mas de nenhum modo irá persuadir-me. Se dez mil homens se houvessem reunido para fazer-me crer, em pleno dia, que é de noite, para fazer-me aceitar uma moeda de cobre por uma de ouro, para persuadi-me a tomar um veneno às claras e sabido por mim como um alimento útil e conveniente, estaria obrigado, por isso, a acreditar-lhes?

Por conseguinte, posto que não estou obrigado a crer no grande número, que está sujeito a erro em suas coisas puramente terrestre, porque quando se trata dos Dogmas da Religião e das coisas do Céu estaria eu obrigado a abandonar aos que estão apegados à Tradição dos seus Pais, a quem crê com todos os que existiram antes que eles o que se tem crido nos séculos mais remotos e confirmado, ademais, pela Sagrada Escritura? Porque, digo, estaria eu obrigado a abandoná-los para seguir uma multidão que, de alguma forma, não prova o que afirma? Acaso o Senhor mesmo não nos disse que havia muitos chamados, mas poucos escolhidos; que a porta da vida é pequena, que a estrada que leva a ela é estreita e que são poucos os que a encontram? Por conseguinte, qual é o homem razoável que não prefere ser deste pequeno número que entra na vida eterna por este caminho estreito, a ser do grande número que corre e se precipita à morte pelo caminho largo? Quem de vós, se tivesse estado nos tempos em que Santo Estevão foi apedrejado e exposto aos insultos do grande número, não teria preferido e, inclusive, não teria desejado ser do seu partido, mesmo que ele estivesse sozinho, antes de seguir ao povo, que, pelo testemunho e a autoridade da multidão, acreditava estar na verdadeira Fé?

Um só homem de probidade reconhecida merece mais fé e mais atenção do que outros dez mil que não contam senão com o seu número e seu poder. Buscai nas Escrituras e encontrareis as provas. Lede o Antigo Testamento, ali vereis Fineés [neto de Arão, Êxodo 6,25], que se apresenta sozinho diante do Senhor e sozinho apazigua Sua cólera e faz cessar a matança dos israelitas, dos quais acabavam de perecer vinte quatro mil. Se se tivesse contentado em dizer a si mesmo, 'então, quem ousará opor-se a um  número tão grande que está unido para cometer o crime?, que posso contra a multidão?, do que me serviria opor-me ao mal que cometem com vontade plena?, haveria trabalhado valentemente e teria detido o mal que cometia o grande número?'. Não, sem dúvida, o resto dos israelitas teria perecido e Deus não teria perdoado a este povo graças ao zelo de Fineés. É necessário, por conseguinte, que se prefira o sentimento de um homem com probidade, que trabalha e fala com a liberdade que a Religião dá, do que as opiniões e as máximas corrompidas de um multidão.

Enquanto a vós, segui, se quereis, o grande número que perece nas águas e abandona a Noé, o único que é conservado; mas, ao menos não me impedis de salvar-me na Arca com o pequeno numero. Segui, se quereis, ao grande número dos habitantes de Sodoma, enquanto a mim, eu acompanharei a Ló; e mesmo que ele esteja só, não o abandonarei para seguir a multidão da qual se separou para buscar sua salvação.

Não creiais, contudo, que desprezo o grande número; não, o respeito, e sei os cuidados que se deve ter com ele: mas refiro-me a esse grande número que dá prova e faz ver a Verdade do que afirma, e não este grande número que teme e evita a discussão e o exame; não esse grande número que aparece sempre disposto ao assalto e que ataca com orgulho, senão este grande número que repreende com bondade; não este grande número que triunfa e se compraz com a novidade, senão este grande número que conserva a herança que seus Pais lhes legaram e está apegado a ela.

Mas, quanto a vós, qual é esse grande número de que vos jactais? Referem-se aos indivíduos vencidos, seduzidos e ganhos pelas carícias, os presentes, aos indivíduos cegos e arrastados por sua incapacidade e sua ignorância, aos indivíduos que, uns por timidez e outros por temor, sucumbem ante vossas ameaças e vosso crédito, aos indivíduos que preferem um prazer de momento, mesmo que pecando, à vida que deve ser eterna?

Assim, por conseguinte, pretendeis sustentar o erro e a mentira por meio do grande número, e estabelecê-lo com prejuízo da Verdade, que um grandíssimo número não enrubesceu em confessar publicamente às expensas de sua vida? Ah, por certo, fareis ver a magnitude do mal e fareis conhecer a profundidade da chaga, pois a desgraça é tanto maior quanto mais indivíduos se encontram envolvidos nela!

'Não sigais a multidão para fazer o mal, nem o juízo acomodes ao parecer do maior número, se com eles te desvias da Verdade'." (grifos nossos [do blog Missão Sagrada Família])


*Tradução livre feita por este blog. Ao compartilhar o texto, favor citar a fonte. Texto original extraído daqui: PDF (pp. 67-70).
 

Visto em: http://missaosagradafamilia.blogspot.com.br/2015/09/a-verdade-e-o-numero-por-santo-atanasio.html.
 

No PDF, tem uma Antologia com textos de Santo Atanásio, a maioria em espanhol. Vale a pena ler.  
 
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