25 de julho
São Cristovão
Mártir
+ 25/06/254
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Diz o martirológio, numa síntese: "Na Lícia, São Cristovão, mártir, que, sob o imperador Décio, tendo sido ferido com varas de ferro e preservado da violência do fogo pelo poder de Jesus Cristo, foi, afinal, atravessado de flechas e recebeu o martírio, pela decapitação (III Século)".
A vida de São Cristovão está envolta em muitas lendas, a tal ponto que é difícil saber qual a verdade da sua vida. Sabe-se que foi mártir, morreu na cidade de Lícia, no sul da Turquia, durante a perseguição do Imperador Décio ou Diocleciano, capturado e martirizado pelo governador de Antioquia.
A existência de um mártir chamado São Cristóvão não pode ser negada visto ter sido suficientemente provada pelo jesuíta Nicholas Serarius, em seu tratado sobre ladainhas - "Litenutici" (Cologne 1609) e por Molanus em sua historia de pinturas sagradas "De Picturis et imaginibus sacris" (Louvain 1570). Os "Actos de S. Bartolomeu", compostos no século VI, falam de um certo "Christianus cynocephalus (cabeça de cão) e anthropophagus (antropófago)", que o apóstolo converteu.
Existe uma pequena igreja dedicada ao mártir São Cristóvão onde o corpo de São Remigius de Reims foi enterrado 532 (Acta SS,1 Outubro 161). O Papa São Gregório, o Magno, grande estudioso dos santos, refere-se a um monastério a São Cristóvão (Eppx 33). O Breviário e o Missal Mozarábico, revisado e indicado por São Isidoro de Sevilha, contem um Ofício especial em honra de São Cristovão. Em 1386, uma irmandade foi fundada sob o patrocínio de São Cristóvão no Tirol (Vorarlberg) para guiar os viajantes em Arlberg. Em 1517, a "Sociedade de São Cristóvão" foi fundada em Caryntia, Styria, na Saxônia e em Munique. Grande veneração popular ao santo é encontrada em Veneza e às margens do Danúbio, Reno e outros rios onde as enchentes causam frequentes danos. Moedas com a sua imagem são cunhadas em Wurzburg, em Wurtemberg e na Bohemia. Estátuas do santo são colocadas na entrada das igrejas, das pontes, túneis e sua medalha é encontrada nos veículos em geral.
CULTO
Atestado desde 450 por uma inscrição grega da Asia Menor, o culto de São Cristóvão difundiu-se em Constantinopla e na Sicília. A sua popularidade tem a ver com a proteção contra uma das desgraças mais temidas na Idade Média, a morte súbita sem confissão, a que se chamava a má-morte. Bastava olhar a imagem de São Cristóvão para ficar imune, nesse dia, de tal perigo. Tal crença raia, por vezes, a superstição (perspectiva que se afasta do cristianismo que refere a fé autêntica, consentida, celebrada e testemunhada).
Christophorum videas, postea tutus eas.
(Olha Cristóvão e estarás seguro)
Ou:
Christophore sancte, speciem qui eumque tuetur,
Ista nempe die non morte mala morietur.
Ista nempe die non morte mala morietur.
(Olha a imagem de S. Cristóvão e não terás morte-má)
Ou:
Cristofori faciem die quacumque tueris.
lla nempe die morte mala non morieris.
Vigilate quia nescitis diem neque horam.
(Olha a face de Cristóvão e livrar-te-ás de morte-má
Vigiai, pois não sabeis o dia e a hora)
Ou:
Christophore sancte, virtutes saut tibi tantae,
Qui te mane vident, nocturno tempore rident.
Qui te mane vident, nocturno tempore rident.
(Glorioso S. Cristóvão, se te vir pela manhã
Sem temor me deitarei, toda a maldade será vã.)
Isso explica o prodigioso número de imagens gigantescas do santo, pintadas ou esculpidas, nas fachadas e entradas das igrejas ou, como em Berna, sobre as portas das cidades. Era necessário que estivessem à vista tanto como possível e que fossem de grandes dimensões para que os fiéis as pudessem ver facilmente. Tais imagens preventivas ou apotropaicas, seriam inumeráveis se não tivessem sido destruídas após o Concílio de Trento.
Patrocínio
Protetor da morte súbita, também era invocado contra a peste, pertencendo ao grupo dos santos antipestíferos, com S. Sebastião e S. Roque, contra o mal dos olhos, dor de dentes e panarício, etc. Numerosas corporações reivindicavam o seu patrocínio. Os que exerciam ofícios com risco: na Idade Média os arcabuzeiros, na actualidade os marinheiros, barqueiros, montanhistas, automobilistas e aviadores. Pela sua estatura e força, os atletas, os carrejões e moços de fretes. E ainda, os viajantes, peregrinos, jardineiros, etc. Ele é reverenciado como um dos Catorze Santos Auxiliares (Contra a peste bubônica e perigos durante a viagem). Seu patronado é vasto, sendo mais conhecido por assuntos relacionados a viagem. Na diocese do Porto, S. Cristóvão é o patrono de 10 paróquias.
Venera-se a sua memória, tanto no Oriente como no Ocidente, mas, sobretudo, na Espanha. No Ocidente, a ele recorrem para pedir ajuda em momentos de doenças contagiosas e durante viagens ou travessias perigosas.
São Cristóvão foi sempre muito invocado e venerado, sobretudo na Idade Média. Ele é o protetor poderoso dos viajantes que enfrentam perigos no caminho. Também é o padroeiro dos carteiros e dos pilotos.
Santo Ambrósio diz o seguinte no prefácio deste mártir: "Senhor, deste a Cristóvão tanta força e tanta graça à sua pregação que, com os seus milagres fulgurantes, conseguiu arrancar ao erro do paganismo quarenta e oito mil homens e levá-los ao culto da fé cristã. E também arrancou Niceia e Aquilina de um prostíbulo público, onde havia muito serviam a prostituição imunda, e ele levou-as a hábitos de castidade, preparando-as para receberem a coroa do martírio. Depois, amarrado a um estrado de ferro não temeu o ardente calor da fogueira, nem pôde ser atingido pelas setas com que, durante um dia inteiro, os soldados o frecharam. Mas uma delas feriu um olho do seu algoz, a que o sangue do santo mártir, amassado com terra, restituiu a luz, iluminando o seu espírito, ao tirar-lhe a cegueira do corpo. Por isso, pediu-te perdão, Senhor, e com súplicas alcançou que afastasses as doenças e as enfermidades".
As relíquias do Santo Mártir Cristóvão encontra-se no Monastério de São Denis, em Paris, onde foram sepultados os reis franceses, e também em Roma. De acordo com o historiador David Woods, os restos mortais de Cristóvão foram possivelmente levados para Alexandria por Pedro I, onde teriam sido confundidos com os do mártir egípcio São Menas. Ainda segundo a tradição, Cristovão é um dos "Quatorze Santos Ajudantes" que apareceram para Santa Joana D’Arc.
Atribuições: Árvore, ramo, como gigante ou ogro, carregando Jesus, lança, escudo, como um homem com cabeça de cão.
A VIDA DE SÃO CRISTOVÃO
Conta a Legenda Aurea (leia no final, a íntegra) que um rei pagão em Canaã (ou na Arábia), através das preces de sua esposa, teve um filho a quem batizou de Reprobus (ou Auferus), dedicando-o ao deus Apolo. Adquirindo tamanho (media doze cóvados) e força extraordinárias com o tempo, Reprobus resolveu servir apenas aos mais fortes e bravos. Em sua busca por tais indivíduos, ele acabou servindo a um rei poderoso mas descobriu que este tinha medo até do nome do Diabo e resolveu então mudar de senhor e foi trabalhar para o mais forte. A serviço do Diabo, descobriu que este tinha medo da Cruz, indagando o porquê, descobriu que Cristo era o mais poderoso dos soberanos. Procurou então informações sobre ele, pois queria mudar de patrão, ir para o mais forte. E começou a estudar a religião com um eremita que foi lhe indicando o caminho para servir a Cristo: entregando-se à oração, à meditação, e às penitências. São Cristóvão recusou- se a jejuar e rezar para Cristo e objetou: “Não aguento jejuar e não tenho jeito para meditar e nem rezar”. O eremita então falou: “Existe outro meio então, é praticar obras de caridade. Já que és tão robusto e forte, ajuda as pessoas a atravessarem esse rio caudaloso que não tem ponte. Ofereça-se às pessoas para carregá-las de um lado para o outro. Terás a gratidão e orações dos beneficiados e Deus te recompensará”. Cristóvão gostou da ideia, construiu uma choupana na beira do rio e começou o seu transporte gratuito. Uma noite, uma criança veio despertá-lo, suplicando-lhe ajuda para atravessar o rio. À medida que avançava pelas águas, mais aquela tenra criaturinha lhe pesava assustadoramente. Que significava aquilo? Como pesava! Era de derrear! Dir-se-ia que levava aos ombros o peso do mundo! E o gigante, arfando e bufando, arrimado no bordão que arcava ao estranho peso, depois de lutar contra a fadiga, todo cansaço, conseguiu atingir a margem oposta, que levara um tempo infindo para ser alcançada. Limpando o suor do rosto afogueado, Cristovão, de narinas dilatadas, sorvendo sofregamente o ar que lhe fugia dos pulmões, exclamou ao menino, já em terra firme: "O mundo não é mais pesado do que tu!". O Menino, sorrindo, retrucou-lhe muito docemente: “Não fique surpreso! Tiveste às costas mais que o mundo inteiro. Transportasse o Criador de todas as coisas. Sou Jesus, aquele a quem serves”. E lhe revelou que um dia seria mártir. É desse episódio que lhe veio o nome de Cristovão, que significa "aquele que carrega Cristo" ("Christum ferens"), pelo fato de ter carregado Cristo de quatro modos: aos ombros para a travessia, no corpo pelas mortificações, na mente pela devoção e na boca pela confissão ou pregação. Em seguida, a criança ordenou a Reprobus que fixasse seu bastão na terra. Na manhã seguinte, apareceu no mesmo local uma exuberante palmeira. Este milagre converteu muitos, despertando a fúria do rei da região.
Mais tarde, por aquele Jesus que teve a sublime ventura de transportar às costas, o bom gigante inabalavelmente daria a vida, sem se importar com a crueldade dos algozes. Assim, depois de haver recebido o Batismo, São Cristóvão dirigiu-se à cidade de Lícia para ali pregar o Evangelho. Foi martirizado naquela cidade. Flechas perfuraram o seu corpo e depois foi decapitado.
São Cristovão, logo, passou a ser invocado pelos condutores de veículos e pelos viajantes, E a fórmula "Christophorum videas, postea tutus eas" tornou-se comum através dos tempos. E aos que iam viajar, para que o fizessem com segurança e sem atrapalhações, aconselhava-se: "Olha São Cristovão e estarás seguro"!
Outra lenda
O Imperador Décio, ao saber que São Cristóvão possuía uma grande força, ordenou a seus soldados que o trouxessem à sua presença. São Cristóvão, então, já havia sido abençoado com a graça da fé em Jesus Cristo, mas ainda não havia sido batizado. No caminho, seu bastão seco, usado como báculo de peregrino, floresceu em suas mãos. Em seguida, através de suas mãos, os pães que não eram suficientes a todos os peregrinos, foram multiplicados por intermédio de suas orações. Os soldados, assombrados com a maravilha dos milagres, passaram a crer em Jesus Cristo e, com Cristóvão, foram batizados pelo bispo Babillas de Antioquia.
O imperador, ao tomar conhecimento de que São Cristóvão havia aderido à fé cristã, decidiu, com esperteza, persuadi-lo a renunciar a Cristo. Incumbiu, então, duas mulheres que levavam vida de indecências, Callinica e Aquilina, para que o seduzissem e o convencessem a abandonar a Fé Cristã. Mas, ao contrário, Cristóvão converteu estas mulheres, sendo por isso submetidas à tortura, terminando suas vidas como mártires. Os soldados que trouxeram Cristóvão e que se fizeram também batizar, foram decapitados.
Depois, lançaram Cristóvão em um recipiente com cobre ardente, mas ele saiu incólume. São Cristóvão foi então submetido a várias outras formas de torturas e, por fim, seus algozes o decapitaram.
LEGENDA AUREA
Ao que se lê nalgumas das suas histórias, quando estava com determinado rei dos cananeus, lembrou-se de procurar o maior príncipe do mundo para ver se conseguia morar junto dele. Chegou então a um altíssimo rei que, segundo a fama geral, era considerado o maior príncipe do mundo e que, ao vê-lo, de bom grado o recebeu para que morasse no seu palácio.
Um dia, um jogral cantava diante do rei uma canção em que, frequentemente, nomeava o diabo. Como o rei tinha fé em Cristo, quando ouvia falar no diabo, logo fazia o sinal cruz. Ao ver isso, Cristóvão ficou muito admirado com o que fazia e desejou saber que sinal era aquele. Perguntou ao rei, mas ele não lho quis revelar. Então Cristóvão disse-lhe:
– Se não me disseres, não permanecerei mais contigo.
Assim obrigado, o rei respondeu:
– Sempre que ouço nomear o diabo faço este sinal sobre o meu corpo, porque receio que ele se apodere de mim e me faça mal.
– Mas, se tens medo que o diabo te prejudique, é porque estás convencido de que ele é maior e mais poderoso do que tu. Por isso, estou frustrado porque, na minha boa-fé, julgava que já teria encontrado o maior e mais poderoso senhor do mundo. Portanto, fica em paz e adeus, porque quero encontrar o próprio diabo para tê-lo por Senhor e me tornar seu servo. Então, afastou-se daquele rei e foi procurar o diabo.
Quando caminhava por um ermo, viu uma grande multidão de soldados, um dos quais – feroz e terrível – se aproximou dele, a perguntar para onde ia.
– Vou procurar o senhor diabo – respondeu Cristóvão –, para fazer dele meu senhor.
– Sou eu! – disse-lhe o militar.
Cristóvão ficou muito contente e jurou ser seu servo para sempre. Ora, quando ambos passavam por um caminho público, encontraram um cruzeiro. Ao vê-lo, o diabo fugiu aterrorizado, abandonando o caminho e dando uma volta com Cristóvão, por um ermo pedregoso, para voltar novamente ao caminho. Admirado, Cristóvão perguntou-lhe por que razão temia tanto o caminho plano para se desviar por um ermo tão difícil. Como ele não respondia, Cristóvão disse:
– Se não me responderes, deixar-te-ei imediatamente.
Assim obrigado, o diabo disse-lhe:
– Um homem, chamado Cristo, foi pregado numa cruz; quando vejo uma imagem dessa cruz, fico cheio de medo e fujo aterrado.
– Portanto, esse Cristo é maior e mais poderoso do que tu, já que receias tanto o seu sinal. Vejo que procurei em vão e ainda não encontrei o maior príncipe do mundo. Então, passa bem! Vou deixar-te e procurar o próprio Cristo.
Depois, tendo buscado durante muito tempo quem lhe desse notícias desse Cristo, chegou finalmente junto de um eremita que lhe falou de Cristo e o instruiu diligentemente na Fé. O eremita disse a Cristóvão:
– Este Rei que desejas servir exige-te que jejues frequentemente.
– Que peça outra coisa, pois isso não farei.
– Deverás fazer muitas orações - continuou o eremita.
– Não sei o que é isso; portanto, não posso satisfazer essa exigência.
– Conheces aquele rio, em que muitos transeuntes correm perigo e morrem?
– Conheço - respondeu Cristóvão.
– Então, como és muitíssimo alto e cheio de força, poderás servir Cristo-Rei, morando junto do rio e transportando os que passam, de uma margem para a outra. Isso ser-lhe-á muito grato e espero que, um dia, Ele te apareça.
– Posso fazer esse serviço e juro que O hei-de servir bem.
Foi para junto do rio e construiu uma choça. Agarrado a um enorme bordão, em vez de um simples cajado, a que se arrimava na água, não se cansava de passar toda a gente de uma para a outra margem. Muitos dias depois, quando descansava na sua casinha, ouviu a voz de uma criança a chamar por ele, dizendo:
– Cristóvão! Sai fora e passa-me para a outra banda!
Correu fora, mas não encontrou ninguém. Voltou para dentro e, de novo, ouviu a mesma voz a chamá-lo. Pela segunda vez, correu, mas não encontrou ninguém.
Chamado pela terceira vez pelo mesmo menino, saiu e encontrou-o junto da margem do rio, pedindo-lhe encarecidamente que o passasse. Cristóvão pôs o menino ao ombro, pegou no seu bordão e entrou no rio para o vadear, levando o menino. Mas a água foi subindo gradualmente e o menino tornava-se pesado como chumbo. E, quanto mais avançava, mais as águas subiam e, mais e mais, um peso insuportável desabava sobre os seus ombros, a ponto de ficar muito angustiado e com medo de se afogar. Mas, depois de, muito a custo, ter passado o rio e saído da água, pousou o menino na margem e disse-lhe:
– Olha, menino, puseste-me num grande perigo, pois pesavas tanto, como se eu tivesse todo o mundo em cima de mim. Penso até que dificilmente haverá algo mais pesado.
– Não te admires, Cristóvão – respondeu o menino –, porque não só tiveste todo o mundo sobre ti, como levaste aos ombros Aquele que criou o mundo. Olha: Eu sou o teu Rei, Jesus Cristo, Aquele a quem serves neste trabalho. Para que saibas que é verdade o que te digo, quando atravessares, espeta na terra o teu bastão junto da tua casinhota e, amanhã, vê-lo-ás com flores e frutos. E logo desapareceu de seus olhos.
Então, Cristóvão passou e espetou o bordão na terra. De manhã, quando se levantou, encontrou-o como se fosse uma palmeira carregada de tâmaras
Depois, foi para Samos, uma cidade da Lícia, cuja língua não entendia. Pediu ao Senhor que o fizesse entendê-la. Quando estava em oração, os juízes deixaram-no, julgando-o louco. Mas, tendo obtido o que pedira, Cristóvão cobriu o rosto, foi até ao circo e começou a confortar, em nome do Senhor, os cristãos que eram torturados. Então, um dos juízes deu-lhe uma bofetada; Cristóvão, destapando o rosto disse-lhe:– Se eu não fosse cristão, vingaria imediatamente a tua afronta.
E, cravando o seu bastão na terra, pela conversão do povo, pediu ao Senhor que ele florescesse, que logo realmente aconteceu, tendo-se convertido oito mil homens.
Ora, o rei enviou contra ele duzentos soldados para o levarem até junto de si. Mas, como o encontraram a orar, recearam dar-lhe essa ordem. Mandou, de novo, igual número de homens que, ao vê-lo a rezar, fizeram o mesmo. Então Cristóvão levantou-se e disse-lhes:
– O que procurais?
Ao ver o seu rosto, disseram:
– O rei mandou-nos para te levarmos acorrentado.– Se eu quisesse, nem solto, nem amarrado, me levaríeis.
– Se não queres vir - disseram os soldados -, vai livremente para onde quiseres e diremos ao rei que não conseguimos encontrar-te.– Não, assim não! Irei convosco.
Então, converteu-os à fé e mandou que lhe atassem as mãos atrás das costas e o apresentassem ao rei assim amarrado.
Ao vê-lo, o rei ficou aterrado e caiu do seu trono. Levantado pelos seus servos, interrogou-o acerca do seu nome e da sua pátria. Disse-lhe Cristóvão:
– Antes do baptismo, chamava-me Réprobo agora o meu nome e Cristóvão. Antes do baptismo, era cananeu, mas agora sou cristão.
– O nome que te deste é estupido, pois é o nome de Cristo crucificado que nem foi proveitoso a ele, nem a ti beneficiará. Portanto, cananeu maldito, porque não sacrificas aos nossos deuses?
– Com toda a propriedade te chamas Dagnus, porque és a morte do mundo e o sócio do diabo e os teus deuses são obra das mãos dos homens.– Foste criado entre as feras e só podes falar a língua delas, desconhecida dos homens. Mas, se sacrificares agora, conceder-te-ei muitas honras. Caso contrário, morreras no meio de suplícios atrozes.
Pela oração e pelas maravilhas que, por seu intermédio, o Senhor operava, à Igreja acrescentava o número de fiéis. Foi preso, sob o imperador Décio, na cidade de Samo, província da Lícia. O juiz procurando atraí-lo com promessas e atemorizá-lo com ameaças, em vão o persuadiu a adorar os falsos deuses.
Depois, fez com que encerrassem, com ele, duas jovens – uma chamava-se Niceia e a outra Aquilina – prometendo-lhes muitos presentes se conseguissem que ele pecasse com elas. Ao ver isto, Cristóvão logo se entregou à oração, mas como elas o importunavam, batendo palmas, e o abraçavam, levantou-se e disse-lhes:
– Que quereis e porque fostes metidas aqui?
Elas, aterradas com a luz do seu rosto, disseram:
– Tem pena de nós, santo de Deus, para que possamos acreditar nesse Deus que pregas.
Sabendo disto, o rei mandou que lhas levassem e disse-lhes:
– Até vós vos deixastes seduzir?! Juro pelos deuses que, se não sacrificardes, morrereis de má-morte.
– Se queres que sacrifiquemos – responderam –, manda limpar as ruas e praças, e reunir todo o povo no templo.
Feito isto, entraram no templo, desataram os cintos, puseram-nos ao pescoço dos deuses, puxaram-nos para baixo, quebraram-nos em pedaços e disseram aos presentes:
– Ide chamar médicos que tratem dos vossos deuses!
Por ordem do Rei, dependuraram Aquilina, armaram-lhe nos pés uma pesada pedra e assim lhe arrancaram os membros. Tendo migrado para o Senhor, sua irmã Niceia foi lançada ao fogo; e, como saiu ilesa, logo a decapitaram.
Enviou-lhe, ao cárcere, mulheres lascivas e desonestas, a fim de o provocarem para o mal, porque estimava que, se ele perdesse a castidade, mais facilmente perderia a fé e a graça de Cristo que, como enviado de Deus, pregava. Mas, ao entrarem no cárcere, as infames mulheres, tiveram um pavor e repulsa tal que, reconhecendo a sua maldade, se lhe lançaram aos pés, suplicando que lhes alcançasse o perdão de Deus. Tendo sido tão bem instruídas por ele e confirmadas na verdadeira fé do Senhor, acabaram por se entregar ao martírio, por Cristo. E com elas muitos outros cavaleiros, pela mesma causa, padeceram a mesma pena e derramaram o seu sangue pelo Senhor.
Como o juiz não obtivesse o resultado desejado, determinou executar na sua fúria e furor, fazendo-o morrer com novos e requintados tormentos. Em primeiro lugar, que o açoitassem cruelmente. Depois, apresentaram Cristóvão ao rei, que ordenou lhe batessem com vergas de metal e lhe pusessem um elmo de ferro em brasa na cabeça; depois, mandou fazer um estrado de ferro, onde acorrentaram Cristóvão, besuntando-o com pez que incendiaram. Mas o estrado derreteu-se como cera e ele saiu ileso.
O fortíssimo mártir, com rosto sereno, pôde dizer ao Tirano: Pela força de Jesus Cristo, não sinto os teus tormentos. Ao vê-lo livre deste tormento, sem qualquer lesão, muitos dos presentes se converteram ao Senhor.
A seguir, mandou que o amarrassem a uma estaca, para que quatrocentos soldados o crivassem de setas. Mas todas as setas paravam no ar sem que nenhuma conseguisse atingi-lo. O rei, julgando que tinha sido morto, começou a insultá-lo. De repente, uma seta virou-se no ar e foi contra ele, ferindo-o num olho, que logo ficou cego. Disse-lhe Cristóvão:
– Amanhã, vou morrer. Mas tu, tirano, deves fazer lama com o meu sangue e untar com ela o teu olho para seres curado.
O rei ordenou que o decapitassem. Então, o santo fez uma oração e foi degolado. O rei apanhou um pouco de sangue, pô-lo no seu olho e disse:
– Em nome de Deus e de S. Cristóvão.
E imediatamente o olho ficou são. Por isso, o rei acreditou e determinou que quem blasfemasse contra Deus ou S. Cristóvão logo fosse morto à espada.
Ungido com o sangue do mártir que tinha caído por terra, recuperou a vista do corpo e da alma, iluminado pelo Senhor. No fim, cortaram-lhe a cabeça. Mas antes, pediu humildemente a Deus que nem granizo, nem pedra, nem fogo, nem fome, nem peste fizessem dano no lugar onde o seu corpo fosse sepultado. Com esta oração, entregou a sua bendita alma nas mãos do Senhor que o havia criado e concedido a vitória sobre a própria morte. Converteram-se à fé de Cristo, pela sua pregação, quarenta e oito mil pessoas.
Fontes:
"Vida dos Santos", Padre Rohrbacher, Volume XIII, p. 341 à 343
http://www.bcdp.org/v2/images/documentos/s.cristovao.pdf - PDF
http://www.christophoros-asso.org/3.html
Pesquisa, tradução e organização: Giulia d'Amore
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Belíssima história de São Cristovão!!! Que Ele rogue por nós pecadores a Nosso Senhor...
ResponderExcluirSim, nossa Igreja é rica de histórias edificantes que mostram que ser santo é possível. Pode não ser sempre fácil, às vezes é doloroso, mas é possível a qualquer ser humano que queira ser santo.
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