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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Adequações litúrgicas na Capela Sistina

Traduzi este artigo sobre a festa da uva que tem se transformado a 'adequação litúrgica' inclusive na Arte Sacra Católica. Com a desculpa de implementar a reforma benedetiana13, as nossas belíssimas igrejas estão sendo sistematicamente despidas de toda sua beleza, a qual, em última análise, é também uma forma de adoração a Deus. Como estão adorando Deus os 'modernos', os que, rompendo com uma Tradição bimilenar, querem estar na moda e no mundo? Esta pia nem é uma aberração, em termos artísticos, porque os detalhes em si, cada folhinha, o tronco, as raízes, o sol... são de uma beleza única, sem contar que se trata de uma peça em ouro de 24 quilates! Não é pouca coisa e deve ter custado caríssimo. Sim, esta pia não é uma aberração, das que vemos comumente sair das mentes e mãos dos açogueiros da Fé. Trata-se de arte, e poderia até se tratar de Arte Sacra - e católica - se não estivesse inequivocadamente ligada a crenças supesticiosas e heréticas, até. Eu a veria muito bem representando o encontro de Moisés com seu Amigo: a Sarça Ardente... embora esta esfera esteja completamente fora da narração sacra desse encontro entre amigos (este é!). Mas, definitivamente, não há como fazer uma ligação - emocional, doutrinária, teológica, filósofica etc. - entre esta peça e o Batismo. Parece-me estar diante daquelas telas em que há uma figura abstrata e você fica se perguntando o que deveria estar vendo; no fim, nem mesmo lendo o título da obra você consegue enxergar a mensagem. Tem razão o articulista, essa é uma peça de ourivesaria que poderia ser aproveitada de outra forma, como, por exemplo, em lembranças de casamento típicas da Apúlia, minha cara terra: as belíssimas bombonières recheadas de confeitos de amêndoas que eu aprecio demais. Não aprecio a feiura artística. Não é o caso em tela, mas me pergunto o que Sua Santidade pensou ao ver a obra e se ele soube enxergar a ligação com o Batismo. Eu, confesso, tenho dificuldades.
Tive dificuldades também com as notas sobre vestimentas e paramentos litúrgicos porque não há, em Português (pelo menos na Net), sites que tragam material completo ou pelo menos abrangente. Tive que garimpar pela Net, em sites italianos e espanhois. Se há algum erro, por gentileza, me avise. E fica ao leitor a sugestão para escrever um artigo - ou quiçá um livro - sobre o assunto.

GdA

ACERCA DA NOVA PIA BATISMAL DA CAPELA SISTINA

A nova pia da Capela Sistina

Eu conheço Padre Salvatore Vitiello1 e o considero um amigo. Eu aprecio e estimo Monsenhor Guido Marini2. Conheço menos o arquiteto Angelo Molfetta e não conheço o artista e arquiteto Alberto Cicerone (que, aliás, assinou o Apelo ao Papa em 20093). No entanto, acredito que, com relação a questões fundamentais, tais como as relativas à arte sacra, a conversa direta é o melhor remédio para evitar que iniciativas cheias de boas intenções acabem por ladrilhar o caminho para o inferno...
Refiro-me à operação ‘nova pia batismal da Capela Sistina4’. A pia foi encomendada por Mons. Marini, como indicado no site do artista Cicerone, em 08 de Agosto de 2011. O curador teológico da obra foi Padre Vitiello, enquanto o mentor artístico de Cicerone é o arquiteto Angelo Molfetta, que este ano o associou à sua cátedra na Universidade Europeia (informação também contida no site do artista) e o envolveu em uma série de adaptações litúrgicas nos Abruzos5.
A obra é exibida hoje [08/01/12] na Capela Sistina, por ocasião dos batismos ministrados pelo Santo Padre. De que se trata? Em minha opinião, de uma excelente peça de ourivesaria que não tem relação alguma com uma obra de arte sacra e menos ainda com uma pia batismal. Mas antes de passarmos à crítica da obra, faço questão de esclarecer alguns pontos.

1. A seleção do artista

A responsabilidade pelo sucesso ou fracasso das obras de arte sacra é toda de quem as encomenda. Neste caso, o Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice6. Ao se encomendar uma nova pia baptismal para a Capela Sistina deveria se levar em conta: o seu uso, o contexto no qual é inserida, a continuidade ou descontinuidade com a pia precedente, alguns critérios estéticos fundamentais (basta ater-se ao Catecismo) e o significado teológico da obra. Neste caso, foi encomendada uma obra que não estivesse ligada à tradição das pias batismais (bacias octogonais com cenas sacras tiradas do Antigo e do Novo Testamento, apoiadas sobre uma coluna e encimada por uma cobertura que termina com uma cruz). Agora, eu me pergunto: é possível – graciosamente – fazer ostentação de roquetes7 cheios de pizzi e merletti8, de dalmáticas9 e tunicelas10, de casulas11 borromeas12 ou não, em suma de todo esse arsenal barroco e, depois, encomendar uma obra sem ligação alguma com a tradição artística precedente?
Evidentemente, a obra foi mal encomendada. E o foi também porque não foi feito um concurso internacional para a realização de um pia batismal benedetiana13. Não se envolveram artistas de todo o mundo, na tentativa de oferecer à Capela Sistina uma pia digna de seu altíssimo contexto artístico. Em vez disso, recorreu-se à designação direta, em cujos mecanismos não nos foi dado entrar.


2. O contexto

A pia batismal anterior foi obra de Mario Toffetti14, que a doou a João Paulo II em 1994, por ocasião do 50º aniversário de seu sacerdócio. A obra tinha alguns méritos indiscutíveis, se comparada com a nova pia: Cristo dominava a pia; um Cristo que ressuscita para nossa salvação. E logo acima da bacia havia uma pequena escultura de Jesus batizado no Rio Jordão por S. João. Em suma, a narração sacra era evidente. E o véu movido pelo vento que envolve Cristo piscava explicitamente para o Juízo Universal de Michelangelo15. Se essa obra não era mais considerada digna de estar na Capela Sistina, poderia ter sido feita uma profícua pesquisa para manter uma continuidade estilística com o resto da Capela. Em vez disso, recorreu-se a uma obra naturalista, mas sem relação alguma com a tradição artística das pias batismais, desprovida de qualquer sinal narrativo (não há uma cruz ou um Cristo ou qualquer outro elemento que vá além da mera representação da natureza). Dessa maneira, Monsenhor Marini pregou uma peça aos defensores da reforma beneditiana, reforçando os argumentos da CEI16 (na nota pastoral de 1996) que defendem a ‘descontinuidade estilística’ nos casos de adequação litúrgica17. Simplificando: se devo reconstruir um altar voltado para o povo, este deve ser criado em descontinuidade com o anterior (talvez até barroco). Do mesmo modo, a nova pia baptismal não tem qualquer relação com as demais obras da Capela Sistina. É inadequada ao seu contexto. E, veja bem, não creio que colocar na Capela Sistina uma obra muda18 e descontinuada seja um sinal de ‘humildade’, uma renúncia a confrontar-se com os grandes mestres do século XVI. Creio, ao contrário, que é presunçoso dar a entender que os mestres do século XVI são extraordinários, mas que nós, no século XXI, realizamos obras diferentes no estilo e nos conteúdos.

A nova pia aberta...

3. A obra em si e o substrato teológico

A obra representa ‘a árvore da vida’. Um tema desafiador que, de qualquer modo – por ser profano – não me parece tenha alguma ligação com o batismo. Tem apenas se interpretado simbolicamente. Reporto-me, assim, a uma obra, ‘O Simbolismo de Templo Cristão’, de Jean Hani19, que expressou esse gênero de elucubrações simbólico-esotéricas: “Se no templo natural a pedra representava a duração, a árvore e a pia anunciavam, cada uma de seu modo, a vida e a regeneração: de fato, a árvore se renova a cada primavera, e a água é a condição necessária de toda vida” (p. 86). A partir dessas associações simbólicas nasce uma obra constituída por uma pedra, uma oliveira e uma esfera de ouro que representa o sol. Mas o que faz o sol sobre a árvore da vida? Para entender isso, temos que recuperar a mitologia assíria, os baixos-relevos que nos mostram a árvore da vida encimada pelo disco solar. E temos que tomar a Cabala20 e a doutrina dos sefirot21 ligados à árvore da vida22. Descobriremos, assim, que o sefirot que representa o sol é aquele de onde se desenvolve a vida, é Keter, a Coroa. A árvore da vida é, em suma, um tema fascinante; está presente em várias culturas e também no Apocalipse de S. João. Mas temos certeza de que era o tema ideal para uma pia batismal?

Cristo ‘Árvore da Vida’ na Basílica de San Clemente:
Símbolo e Narração sacra não podem estar separados!

Vou articular melhor a pergunta: temos certeza de que, tendo escolhido a árvore da vida como tema da pia, a sua mera representação naturalista era o melhor caminho? Vivemos aqui a mesma ambiguidade da arte simbólica do santuário de Padre Pio, em San Giovanni Rotondo. O problema é que o símbolo não é cristão se [é apenas] posto dentro de uma Igreja. O símbolo é sacralizado pela narração sacra dentro da qual está retratado. Torna-se, dessa forma, mais uma forma de interpretar a narração sacra. Mas se eliminamos toda e qualquer narração sacra e deixamos apenas um símbolo – além do mais não próprio do Catolicismo, mas presente em numerosas outras culturas –, como podemos esperar de ter avançado em direção àquela reforma benedetiana que, mesmo na arte sacra, deve se exprimir em continuidade com o passado e a Tradição da Igreja? Como podemos esperar de cumprir o que diz o Catecismo: “A arte sacra verdadeira leva o homem à adoração, à oração e ao amor de Deus Criador e Salvador, Santo e Santificador23? A adoração, a oração e o amor de Deus não resultam certamente de um processo de evocações simbólicas, de uma série de raciocínios intelectuais, mas a partir da evidência da narração sacra. Da empatia com a história da salvação. Para entender isso, bastava olhar para cima e dar uma olhada ao redor da Capela Sistina...

Conclusões

Mesmo apreciando o esforço, o resultado da operação é medíocre, e, sob certo aspecto, até mesmo preocupante. Esta obra representa um contratempo nos esforços para melhorar a arte sacra católica em continuidade com a Tradição. É uma vitória de Ravasi24, da CEI e até mesmo daquele simbolismo ambíguo exaltado por Crispino Valenziano25. Em resumo, é um retrocesso e um gol contra. Francamente, ainda uma vez me escapam as razões que levaram Mons. Marini a encomendar uma obra para um contexto tão importante por meio da simples atribuição direta, sem anunciar um concurso, sem se expor com coragem, sem proclamar a beleza de uma arte sacra alinhada com a Tradição da Igreja.
Entenderia se quisessem realizar uma obra ‘tradicional’ na surdina, sem levantar poeira. Na verdade, não foi assim. Portanto, continuo a me perguntar por que pizzi e merletti caem bem nas celebrações pontifícias, mas não uma pia batismal digna desse nome na Capela Sistina. Mistério!
A obra é, ademais, repito, mais uma bela peça de ourivesaria que uma obra de arte sacra. Há algum tempo, poderia vir a calhar, em miniatura, para as bombonières matrimoniais, aqui na Apúlia, mas hoje temos certeza que pode ser digna de instalar-se na Capela Sistina?
Última questão: quanto custou a obra e quem pagou por ela? Em tempos de austeridade não vejo porque até mesmo o Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice não deva se adequar à sobriedade, evitando encomendar obras de ouro de 24 quilates... Especialmente se uma pia batismal digna desse nome já estava à disposição do Papa.

Em suma, uma oportunidade perdida e um sinal inequívoco da falta de coragem e de vontade por parte dos mais próximos colaboradores do Papa de ir adiante no caminho da reforma beneditiana. Melhor26 o fácil conformismo ravasiano27, que gera consensos e abre caminhos a novas encomendas.


Francesco Colafemmina
Jornalista italiano de renome, nasceu em Roma (1980). Diplomado com láurea em Letras Clássicas (2004) pela Universidade dos Estudos de Bari.


Fonte: Fides et Forma
Tradução e notas: Giulia d'Amore di Ugento






Imagens de Pias Batismais
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Catedral de Palermo (Italia) - Pia Batismal
  
Siena - Battistero - 1416-1434



[1] NdTª.: Don Salvatore Vitiello é sacerdote e docente de Teologia, na Universidade Católica de Roma.
[2] NdTª.: Guido Marini (1965) é um sacerdote católico italiano e atual Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, em substituição ao Arcebispo Piero Marini, agora nomeado Presidente do Pontifício Comitê para os Congressos Eucarísticos Internacionais. Segundo alguns vaticanistas a troca teria sido articulada entre o Papa e o Cardeal Tarcísio Bertone, para colocar no posto um clérigo mais afinado com linha litúrgica do papa atual.
[3] NdTª.: Apelo a Sua Santidade o Papa Bento XVI para o regresso a uma arte sacra autenticamente católica é um apelo assinado em 2009, por 1829 expoentes dos mais diversos segmentos da sociedade religiosa, política e cultural de vários países do mundo, clamando pelo fim das ‘adequações litúrgicas’ que estavam destruindo o patrimônio histórico-cultural da Igreja, na Itália e no mundo. Alberto Cicerone é o 1976º signatário do apelo que conta entre as firmas: o próprio Francesco Colafemmina (do comité promotor do apelo), Roberto De Mattei (historiador e escritor), Andrea Tornielli (vaticanista) e Enrico Spitali (co-redator do Messainlatino.it). O apelo continua recebendo assinaturas: Link.
[4] NdTª.: A Capela Sistina é a mais famosa capela católica, situada no Palácio Apostólico, residência oficial do Papa na Cidade do Vaticano. É famosa pela sua arquitetura inspirada no Templo de Salomão do Antigo Testamento e pela sua decoração com afrescos pintados pelos maiores artistas da Renascença, incluindo Michelangelo, Rafael, Bernini e Sandro Botticelli. A capela tem o seu nome em homenagem ao Papa Sisto IV, que restaurou a antiga Capela Magna, entre 1477 e 1480. Durante este período, uma equipe de pintores que incluiu Pietro Perugino, Sandro Botticelli e Domenico Ghirlandaio criou uma série de painéis de afrescos que retratam a vida de Moisés e de Cristo, juntamente com retratos papais e da ancestralidade de Jesus. Estas pinturas foram concluídas em 1482, e em 15 de agosto de 1483 Sisto IV consagrou a primeira missa em honra a Nossa Senhora da Assunção. Desde a época de Sisto IV, a capela serviu como um lugar para atividades papais. Hoje é o local onde se realiza o conclave, o processo pelo qual um novo Papa é escolhido.
[5] NdTª.: Abruzos ou Abruzo (em italiano Abruzzo ou Abruzzi) é uma região da Itália central, cuja capital é Áquila (em italiano L’Aquila). Em 2009, a região foi sacudida por terremotos (6.7 graus na escala de Richter), sendo o epicentro em Áquila.
[6] NdTª.: O Ofício de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice é um organismo da Cúria Romana responsável pela organização litúrgica das missas e de outros ritos litúrgicos presididos pelo Papa. É liderado por um mestre de cerimônias e tem em seu gabinete os cerimoniários pontifícios, os oficiais, os responsáveis pela sacristia pontifícia e os demais consultores. Os atuais cerimoniários são: Mons. Francesco Camaldo (decano), Mons. Giulio Viviani, Mons. Enrico Viganò, Mons. Konrad Krajewski, Mons. Pier Enrico Stefanetti, Mons. Stefano Sanchirico, Mons. Diego Giovanni Ravelli, Mons. Guillermo Javier Karcher, Mons. Marco Agostini e Mons. Jean-Pierre Kwambamba Mais. O Mestre das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice é, desde 2007, o Mons. Guido Marini.
[7] NdTª.: Roquete é uma veste litúrgica geralmente feita de linho branco, parecida com a alva(*), mas mais curta, chegando aos joelhos, e frequentemente é enfeitada com rendas. Assemelha-se também à sobrepeliz(*), mas difere desta porque possui as mangas mais longas e mais estreitas, é fechado no pescoço com um gancho ou uma fita, e tem bordados e rendas mais ricas e elegantes e mais extensa, sobrando pouco pano sobre o busto de quem o traja. Geralmente, são forrados internamente, nos punhos e na barra, de vermelho ou branco (Papa). Esta peça é usada por bispos e alguns prelados, podendo ser concedido o uso aos cônegos da igreja catedral. Não é uma veste sacra, não podendo ser utilizado como um substituto para a sobrepeliz. Quando o bispo se troca, pode manter o roquete sobre a batina, colocando sobre eles o amito(*), a alva e os demais paramentos. O sacerdote não pode, porém usar a sobrepeliz sobre o roquete, no caso de administrar algum sacramento. Seu nome deriva do latim roccus ou do alemão rock (hábito). Se uso se dá com a veste coral(*) pelo Papa, Cardeais, Bispos, Prelados Superiores dos Dicastérios da Cúria Romana que não tem dignidade episcopal, pelos Ouvidores da Sacra Rota Romana, pelo Promotor Geral de Justiça e pelo Defensor do Vínculo no Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, pelos Protonotários Apostólicos de numero, pelos Clérigos da Câmara Apostólica e pelos Prelados da Antecâmara Pontifícia. E não só, pode ser utilizado por qualquer clérigo que, encarregado de particulares ofícios, pode ter as mangas forradas segundo o seu grau. O Papa, os cardeais e os bispos o vestem embaixo da mozeta(*) os demais prelados, embaixo do mantelete(*).
(*) A alva é uma túnica branca, larga e que desce até os pés do sacerdote. Remete à túnica branca com a qual Herodes mandou vestir a Cristo, para dizer que era louco. A alva recorda-nos de que seremos chamados de loucos pelo mundo se formos fiéis a Nosso Senhor, seguindo-Lhe os passos e renunciando às ilusões deste mundo para alcançarmos nossa recompensa no Céu. O fato de a alva descer até os pés significa que devemos perseverar nas boas obras. É o símbolo da pureza que o padre deve ter ao rezar a Santa Missa e que os fiéis dever também ter ao assisti-la.
(*) A sobrepeliz é uma veste litúrgica que faz parte das vestes corais. É usada por todos os clérigos, acólitos e seminaristas por cima da batina, sobretudo quando assistem o coro para o Ofício Divino, mas também para as outras celebrações litúrgicas, quando não tomem parte nelas como celebrante. É uma espécie de alva encurtada e com as mangas largas, sempre de cor branca e normalmente de linho; algumas têm também rendas, bordados e um laço a guarnecer.
(*) O amito é um véu branco que o sacerdote passa sobre a cabeça e com que cobre os ombros. Remete à coroa de espinhos com a qual Nosso Senhor Jesus Cristo foi coroado. O amito recorda-nos que devemos sempre ter pensamentos puros, combatendo sobretudo aqueles que nos vêm contra a castidade. Lembra-nos também a modéstia das palavras e o cuidado que devemos ter de não conversar inutilmente na Igreja.
(*) O hábito coral toma o nome do fato de que é o hábito trajado pelos consagrados quando assistem às celebrações litúrgicas, ou seja do coral. O hábito coral pode ser composto, dependendo de quem o usa, por: batina, sobrepeliz, almutia, faixa, roquete, mozeta, mantelete, barrete, solidéu, galero e cruz peitoral.
[O barrete, solidéu, galero são paramentos litúrgicos que cobrem a cabeça]. 
[A almutia é um pequeno mantel preto usado nos países mais frios para agasalhar. É usada dobrada sobre o ombro ou no braço, como uma estola. Não é litúrgica]. 
[A cruz peitoral, pendente sobre o peito do dignitário com um cordão, cuja cor indica a ocasião e o grau hierárquico do portador, é uma Insígnia Pontifical. Seu tamanho e forma variam, seu uso é obrigatório em atividades cotidianas e litúrgicas, sendo concedido extensivamente aos Abades. Quando do uso de paramentos litúrgicos, a Cruz Peitoral se sobrepõe as demais indumentárias, exceto à casula, ao pluvial e à dalmática. Os arcebispos usam, por privilégio especial, uma cruz com duplas hastes, símbolo de jurisdição sobre as dioceses]. 
[O pluvial ou capa de asperges é um paramento litúrgico usado sobretudo fora das igreja, mas também dentro, para bençãos e aspersões com água benta, casamentos sem missa e para os solenes ofícios divinos].
(*) A mozeta é uma capa curta que cobre os ombros, parte das costas e dos braços. Ela é usada sobre a sobrepeliz como parte da roupa coral de alguns dos clérigos da Igreja Católica, entre eles o Papa, cardeais, bispos, abades, cônegos e superiores de ordens religiosas.
(*) O mantel (mantae, mantum ou mantelete) é uma veste eclesiástica, mas não litúrgica, que desce até os joelhos, aberta na frente, sem manga e com abertura para os braços, cuja cor varia de acordo com a dignidade do prelado e com a ocasião. É usado, sobre o roquete, mas sem a mozeta, por bispos e outros dignitários eclesiásticos. 
[8] NdTª.: Pizzi e merletti, ambos têm o mesmo significado em português: rendas. Em espanhol seria encajes y puntillas.Deixei em italiano porque não faria sentido: rendas e rendas.
[9] NdTª.: A Dalmática é uma veste litúrgica que consiste em uma longa túnica, aberta dos lados, com amplas mangas, que chega até a altura dos joelhos. É o hábito próprio dos diáconos, na celebração da Missa. Como a casula para o sacerdote, a dalmática é a veste mais externa, colocada sobre a alva e a estola(*). O Bispo pode colocá-la embaixo da casula (planeta) durante as Missas Pontificais ou de maior importância. No Rito Ambrosiano sobre a dalmática é colocada a estola. Pode ter diferentes cores litúrgicas, dependendo do período em que é usada. HISTÓRIA: O seu nome deriva de uma peça luxuosa de vestuário usada na Dalmácia (região ao sul da Europa), por volta do século II. A Igreja a adotou como veste litúrgica nas missas solenes para os clérigos encarregados de ler a Epístola e o Evangelho, por iniciativa do Papa Silvestre I (314 a 335). Considera-se que no tempo de São Cipriano, Bispo de Cartago (249 a 258), já era uma veste usada no serviço do altar. Por ordem do Papa Eutiquiano (275 a 283), os mártires eram enterrados vestidos com dalmáticas. No tempo dos romanos, era bordada de ouro, tecida também em filigrana de ouro, com esmalte (uma substância vítrea e lúcida que é fundida e aplicada ainda quente sobre um suporte metálico por meio de técnicas: champlevé, repoussé ou cloisonné) e pérolas, e até hoje é feita com estes materiais. A dalmática foi uma veste dos imperadores romanos do Oriente e foi adotada também pelo imperador Paulo I da Rússia como veste da coroação. Os cruzados usavam a dalmática como veste de batalha, sobre a armadura, como um escapulário com uma abertura para a testa e duas asas caindo por sobre os braços. 
(*) A estola é um ornamento que o sacerdote traz em torno do pescoço e que cruza sobre o peito. Remete-nos à Cruz que Nosso Senhor carregou. Ela é o símbolo da dignidade e do poder do sacerdote, e nos lembra o respeito que devemos ter para com os padres. O fato de a estola ser cruzada no peito do sacerdote significa também a troca que os judeus e gentios fizeram na crucificação de Jesus Cristo, passando os judeus da mão direita para a esquerda e os gentios da mão esquerda para a direita de Deus. 
[10] A Tunicela (literalmente pequena túnica) é a veste exterior própria e característica do Subdiácono, mas pode ser vestida também pelo Bispo, que a usa sob a dalmática e a casula, representando a plenitude do poder de todos os graus da hierarquia da ordem que ele possui. Tem forma de um T e assemelha-se à dalmática, mas dela se distingue por alguns detalhes e pelo uso: a tunicela é mais curta e estreita e possui mangas mais estreitas e mais cumpridas. Geralmente, é de tecido precioso e ornada por bordados e/ou galões, e pode ter várias cores litúrgicas.
[11] NdTª.: A Casula é o paramento sacerdotal próprio para o Santo Sacrifício da Missa e o mais solene. Trata-se de um manto aberto dos lados e que o sacerdote põe por cima de todos os outros paramentos. Remete-nos ao pano vermelho com o qual os soldados romanos vestiram a Nosso Senhor, para zombá-Lo (Jo 19, 1-3). Lembra-nos a virtude da caridade, que deve animar as nossas obras e orações e também o jugo da Cruz de Cristo que assumimos no Batismo. E por isso que se desenha uma cruz atrás da casula. Embaixo dela, o sacerdote veste o amito, a alva, o cíngulo(*), o manípulo(*) e a estola, nesta ordem, sendo a estola logo abaixo da casula.
(*) O cíngulo é uma corda com a qual o sacerdote aperta a alva na altura da cintura. Remete-nos aos açoites da flagelação de Nosso Senhor, bem como à corda com a qual amarraram Nosso Senhor para puxá-lo. Lembra-nos as virtudes da fortaleza e da castidade.
(*O manípulo é um pano que o sacerdote traz no braço esquerdo. Remete-nos às cordas que ataram as mãos de Nosso Senhor. Lembra-nos a autoridade que o sacerdote tem para pregar a verdade, bem como de que devemos trabalhar para conseguirmos o Céu, fazendo boas obras.
[12] NdTª.: É uma casula de estilo renascentista, chamada de borromea porque repropõe o modelo usado por São Carlos Borromeu, Arcebispo de Milão.
[13] NdTª.: Faz referência ao Papa Bento XVI e sua hermenêutica da continuidade. Bento, em italiano, é Benedetto, de onde benedettiano (para diferenciá-lo de beneditino – São Bento), que em português seria ‘benedetiano’. Este termo foi cunhado por um grupo de fieis que se alinhou com o pensamento teológico do Papa e criou uma associação chamada Movimento Liturgico Benedettiano, em plena comunhão com a teologia de Bento XVI.
[14] NdTª.: Chamado de ‘o artista dos Papas’, Mario Toffetti é um escultor modernista de Bergamo, na Itália, nascido em 1948. 
[15] NdTª.: O Juízo Universal de Michelangelo é a obra que orna uma das paredes da Capela Sistina, bem atrás do altar que já não se usa mais; a pia, segundo Colafemmina, chega a ‘piscar o olho’ para o famoso afresco.
[16] NdTª.: CEI: Conferenza Episcopale Italiana (Conferência Episcopal Italiana) é a assembleia permanente dos bispos italianos, formada em 1952, e a única em que o presidente não é eleito pelos membros, mas nomeado pelo Papa, na qualidade de Primaz da Itália. A CEI administra o otto per mille (oito por mil), que é um mecanismo pelo qual o Estado italiano distribui, de forma igual (independentemente de quanto cada um recolha e para qual entidade queira enviar) entre o Estado e as diferentes denominações religiosas (Igreja Católica, Igreja Adventista do Sétimo Dia, Assembleias de Deus na Itália, União das Igrejas Metodistas e Valdeses, Igreja Luterana, União das Comunidades Hebraicas Italianas), 8‰ da receita total do imposto de renda, na forma e para os fins definidos por lei. O contribuinte pode optar por não autorizar o desconto, mesmo assim a parte daqueles que não assinam e também dos pensionistas e dos isentos é redistribuída entre as entidades concorrente, de acordo com percentuais calculados com base nos valores recolhidos por quem assinou. Em 2007, o Estado italiano assinou convênios com diversas outras denominações, que ainda não fora ratificados pelo Parlamento. Ficaram de fora as diferentes organizações muçulmanas italianas. Antes de 1984 (revisão do Tratado de Latrão), este valor era recebido apenas pela Igreja Católica. Ultimamente, tem ocorrido um fenômeno de excomunhões voluntárias a fim de ‘escapar’ dos 8‰: os católicos têm pedido o ‘cancelamento’ da certidão de batismo e a consequente excomunhão; muitas paroquias têm concedido. Em 2010, foram repassados 1067 milhões de Euros.
[17] NdTª.: A mudança da posição do sacerdote na celebração da Missa, após o Concílio Vaticano II, fez com que se tornassem ‘necessárias’ mudanças arquitetônicas em quase todas as igrejas, os chamados ‘adeguamenti liturgici’ (adequações litúrgicas), isto é, a demolição ou substituição dos altares para instalar o banco do celebrante e a mesa eucarística, e o desmantelamento dos balaústres diante do altar: as mesas da comunhão, onde os fieis se ajoelhavam para receber a Eucaristia na boca.
[18] NdTª.: Muda porque lhe falta a narração sacra.
[19] NdTª.: Jean Hani (1917) é um filósofo francês, seguidor do escritor exotérico René Guénon; foi professor emérito de Civilização e Literatura Grega, na University of Picardie Jules Verne, de Amiens (França), e fundou o Centro de Pesquisas sobre a Antiguidade Clássica, conduzindo, por muitos anos, um Seminário de História da Religião Grega. Celebrou-se por seus estudos clássicos, em especial de Plutarco e encontrou na obra de Guénon inspiração para muitos estudos sobre o simbolismo, particularmente cristão. Após sua aposentadoria, além de autor de obras tradicionalistas, se tornou um colaborador frequente de revistas como Connaissance des Religions e Vers la tradition. Três grupos de obras podem ser discernidas dentro da produção de Hani: obras de filologia clássica, obras relacionadas com a história das religiões e obras que dizem respeito ao simbolismo tradicional e sagrado. De acordo com Jean Borella, os princípios expostos no O Simbolismo de Templo Cristão – do segundo grupo e citado no artigo - já foram postos em prática na criação de alguns fundamentos monásticos contemporâneos.(SIC)
[20] NdTª.: Cabala é uma palavra de origem hebraica que significa recepção e refere-se a uma filosofia esotérica que pretende investigar a natureza divina e o Universo. A Cabala conteria as chaves para os segredos do Universo, as quais teriam permanecido ocultas durante um longo tempo, bem como as chaves para os mistérios do coração e da alma humana. Os ensinamentos cabalísticos explicariam as complexidades do Universo material e imaterial, bem como a natureza física e metafísica de toda a Humanidade. A Cabala pretende mostrar, em detalhes, como navegar por este vasto campo, a fim de eliminar toda forma de caos, dor e sofrimento. Segundo os antigos cabalistas, cada ser humano nasce com o potencial para ser grande, e a Cabala seria um dos meios para ativar este potencial. A Cabala sempre teve a intenção de ser usada e não apenas estudada para, segundo os cabalistas, trazer clareza, compreensão e liberdade para o homem.
[21] NdTª.: Sefirot seriam as dez emanações de Ain Soph na Cabala. Segundo a Cabala, Ain Soph é um princípio que permanece não manifestado e é incompreensível à inteligência humana. Deste princípio emanam os Sefirot em sucessão. Esta sucessão de emanações forma a árvore da vida. Os Sefirot emanados são, na sequência: Kether (Coroa), Chokmah (Sabedoria), Binah (Entendimento), Chesed (Misericórdia), Geburah (Julgamento), Tipareth (Beleza), Netzach (Vitória), Hod (Esplendor), Yesod (Fundamento) e Malkuth (Reino). Há, ainda, um décimo-primeiro Sefira (singular de Sefirot) chamado Daath, que representa o abismo, o caos, e normalmente não é representado na árvore da vida, sendo considerado um portal para as Qliphoth, os Sefirot adversos. Na árvore da vida, os Sefirot estão alinhados em três pilares e dispostos em três camadas triangulares e sucessivas, cada uma delas associada a um mundo: Atziluth (Mundo das Emanações: Kether, Chokmah, Binah), Beriah (Mundo das Criações: Chesed, Geburah, Tipareth) e Yetzirah (Mundo das Formações: Netzach, Hod, Yesod), tendo Malkuth na base (correspondendo a Asiyah, o Mundo das Ações).
[22] NdTª.: A árvore da vida é um conceito cabalístico. Ela é formada pelas dez emanações de Ain Soph, chamadas Sefirot (vide nota acima). Segundo a cabala, a síntese da árvore da vida é Adam Kadmon, o Homem Arquetípico. Essas emanações se manifestam em quatro diferentes planos, interconectando os dez Sefirot em três camadas cada vez mais densas: Atziluth, Beriah, Yetzirah e Asiyah (vide nota acima). Os três Sefirot superiores formam um mundo abstrato e representam o Estado Potencial. Os seis Sefirot inferiores se agrupam em uma dimensão conhecida como Zeir Anpin, formando o elo entre o abstrato e a matéria. Estão firmemente interconectadas. O último Sefira inferior é a representação do nível material. No pilar esquerdo da árvore rege o princípio feminino. No pilar direito da árvore rege o princípio masculino. No pilar central da árvore existe a ligação entre os dois princípios. O topo da árvore representa o bem, e a base, o mal.
[23] NdTª.: Catecismo da Igreja Católica (pós CVII), V.9 (VERDADE), V.9.26 (Verdade beleza e arte sacra), §2502.
[24] NdTª.: Gianfranco Ravasi (1942) é um cardeal (2010, Papa Bento XVI) católico italiano, biblista, teólogo, hebraísta. Também é, desde 2007, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura no Vaticano, da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja e da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra. Ainda em 2007, ao apresentar o livro "Jesus de Nazaré", do Papa Bento XVI, defendeu a necessidade de não separar as pesquisas sobre o Jesus histórico daquelas sobre o Jesus da Fé. Em 2008, afirmou que o Evolucionismo darwiniano e a Fé Cristã não são incompatíveis entre si.
[25] NdTª.: Crispino Valenziano (1932) é professor de antropologia litúrgica e espiritualidade litúrgica no Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo, de Roma. É membro da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja e da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, e é considerado um dos maiores especialistas do mundo em arte sacra. De inspiração modernista.  
[26] NdTª.: Sarcasmo final, bem ao gosto dos italianos.
[27] NdTª.: Referência ao cardeal Ravasi.

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