Texto apropriado para o momento. Como sempre.
Cristo Rei - Tela de Kiko Arguello - 1960 |
"Unidade na diversidade"
Dom Lourenço Fleichman OSB
Um leitor nos envia interessante e-mail contendo citações tiradas do Movimento Neocatecumenal.1
"Não
digam nada às pessoas de todas estas coisas: simplesmente revalorizem o
valor comunitário do pecado, sua índole social, o poder da Igreja,
etc." (Kiko, Apostilas cit., 9º Dia, p. 137).
"O
Cristianismo não é, de jeito nenhum, uma doutrina que se pode aprender
com catecismos e teologias. O Cristianismo é uma Boa Notícia, um
acontecimento histórico, o que o distingue de todas as filosofias e
religiões" (Kiko, Apostila cit. p. 98).
Lembro-me,
por exemplo, de um moço de Florença que, diante de todo o mundo, disse:
'Eu sou homossexual e bendigo a Deus com todo o meu coração porque sou
assim. Ia ao psiquiatra, nunca a psicologia me salvou. Hoje, posso
testemunhar, diante de todos vocês, que eu sou salvo pelo poder de Jesus
Cristo"
"Dizia
isso porque Deus o tinha feito sentir, com uma potência imensa, e ver,
com uma clareza enorme, que Deus tinha permitido tal coisa em sua vida
para que ficasse para sempre amarrado a Ele. Isso tinha-lhe feito sentir
o Senhor até o ponto de ser capaz de dizer diante de todos que Deus,
através disto, o tinha apanhado para si e sabia que nunca mais se
separaria dele". (Kiko, Apostila cit. pp. 73-74).
"Existe,
pois, uma grossa nuvem que nos tem impedido de receber a NOTÍCIA, o
acontecimento que Deus fez para nós. Os termos teológicos são termos
jurídicos segundo a mentalidade da Idade Média. Agora já se cancelou o
"JURISDICISMO". O Concílio Vaticano II não fala mais em termos
jurídicos, mas fala do MISTÉRIO PASCAL, o que é totalmente outra coisa,
pois "pascal" refere-se diretamente à História, à intervenção histórica
de Deus com o povo de Israel. Falar da Redenção é uma abstração, ao
passo que falar do mistério pascal é história concreta' (Carmem,
Apostila cit. O Querigma. 2a. parte, p. 123 III e 123 IV)
"O
Concílio Vaticano II faz uma NOVA TEOLOGIA que nós trazemos. Não se
fala mais de REDENÇÃO, mas de MISTÉRIO PASCAL: que é como uma nova
primavera" (Carmem, Apostila, cit. p. 123 VI).
"É
verdade que nós dançamos após a celebração, porque a Eucaristia é uma
festa. E, se houver no chão migalhas, é possível que, sem querer,
pisemos em cima delas. Mas é tomado todo o cuidado possível no sentido
de evitar que caiam migalhas no chão."
"Jesus Cristo não é qualquer coisa de ideal que nós possamos realizar, não é um modelo." (Carmem, Apostila, cit, p. 123 VI)
"O
Presidente [o sacerdote] seja breve. Digam-lhe que não faça sermões
(...) que os padres não façam discursos às pessoas" (Kiko, Apostila
citada, p. 158).
Não há eucaristia sem assembléia.
É a assembléia inteira que celebra a festa e a eucaristia; porque a
eucaristia é a exaltação da assembléia humana em comunhão; porque é o
lugar exato no qual se manifesta que Deus agiu nesta Igreja criada,
nesta comunhão. É desta assembléia que surge a eucaristia.
“Por
isso quando na idade Média começa-se a discutir o sacrifício, no fundo
discutem coisas que não existiam na eucaristia primitiva. Porque
sacrifício na religião é "sacrum facere", fazer o sagrado, colocar-se em
contato com a divindade através de sacrifícios cruentos. Neste sentido
não há sacrifício na eucaristia: a Eucaristia é sacrifício, mas em outro
sentido, porque na eucaristia há sim, a morte, mas há também a
ressurreição da morte. A Eucaristia é Páscoa, passagem da morte à
ressurreição. Por isso dizer que eucaristia é sacrifício é certo, mas é
incompleto. A Eucaristia é sacrifício de louvor, um louvor completo de
comunicação com Deus por.... Não é meu intuito analisar a que se propõe
este movimento, definido como uma “ação” e não como uma “instituição”. O
jornal SimSimNãoNão nº 68 de Set. 1998, pag. 4 já analisou mais
profundamente estas heresias de um movimento que se instala em não
poucas paróquias do mundo inteiro. Agora bem: o Vaticano acaba de
aprovar seus estatutos tornando-o oficial dentro da vida da Igreja. Com
toda a pompa, com a presença de Cardeais de cinco Congregações Romanas
que trabalharam para esta aprovação. A informação é confirmada pela
agência de notícias Zenit, em 28 de junho de 2002. A Igreja de Vaticano
II continua favorecendo as heresias.
Mas
não foi dito que Roma havia mudado? Que havia sinais evidentes de
“conversão”? Que o Santo Padre estava empenhado em combater o
Modernismo?
A
verdade é bem outra, e não podemos esquecer que este novo escândalo vem
juntar-se a tantos outros que, dia após dia, se foram consumando no
pontificado de João Paulo II: acordo com os Luteranos, acordo com os
cismáticos orientais, reuniões ecumênicas anuais contrariando as
proibições da Santa Igreja e difundindo o indiferentismo religioso e a
perda da fé.
Peço
ao leitor um pouco de atenção, pois não quero tratar aqui de mais um
escândalo, de mais um favorecimento de heresias por parte do Vaticano.
Creio perceber nas atitudes dos detentores do Poder, tanto religioso
quanto político, certas atitudes e métodos que precisamos conhecer para
que nossa defesa seja mais séria, mais inteligente e eficaz.
Já
passou o tempo em que os homens do poder escravizavam com as armas e
gulags, perseguindo e destruindo os opositores do regime comunista.
Já
se foi, igualmente, o tempo do início da revolução de Vaticano II,
quando as reformas foram impostas sem piedade ao povo católico, mediante
uma tremenda perseguição contra os defensores da Tradição. Hoje, com o
recuo dos anos e com as novas experiências que vivemos, podemos
compreender melhor o quanto os métodos empregados pelos chefes da
Igreja, entrincheirados atrás da autoridade de um concílio ecumênico, se
assemelhavam aos horrores do regime soviético. Talvez isso tenha que
ver com a recusa formal dos padres conciliares a condenar solenemente o
comunismo. Como publicou a Revista Permanência, em seu número 188-189,
de julho de 1984, o Papa João XXIII selou um acordo com o Kremlin, em
1962, de não fazer críticas ao regime soviético, como condição para que o
Patriarca cismático da Igreja Ortodoxa assistisse ao concílio, como
observador.
Esta
comparação que faço dos métodos empregados pelos chefes da Igreja com
os métodos dos chefes comunistas deve ser entendida em sentido
analógico. Não acuso aqueles homens de usar metralhadoras e campos de
concentração, mas de usar uma força abusiva da autoridade para impor uma
nova ordem dentro da Igreja, para impor uma nova religião, sem nenhuma
possibilidade de recusa da parte dos padres tradicionais ou das famílias
católicas. Toda a máquina da estrutura jurídica do Vaticano foi usada
como um canhão destruidor, ameaçador, causando o terror na alma de
milhões de católicos no mundo inteiro. O resultado desse massacre não
demorou a se fazer sentir, quando virou moda dizer que Mgr. Lefebvre era
“contra o Papa”, “bispo rebelde”, “cismático”. Mais do que isso, foi
crescendo o número daqueles que queriam a Tradição, não gostavam da
missa nova e das inovações do concílio, mas não tinham forças para
reagir, para enfrentar o Regime. E muitas inteligências privilegiadas se
recolheram a um mutismo enfraquecido, como um animal assustado que
esquece sua força e corre procurando esconder-se. Muitas almas piedosas
preferiram abandonar a Missa verdadeira, seu terço, sua fita do
Apostolado, para bater palmas e tocar violão nas igrejas. E a fé foi
desaparecendo. São os frutos diretos do concílio.
Mgr.
Lefebvre era o alvo dos principais ataques vindos diretamente dos papas
Paulo VI e João Paulo II, apesar de este último, no início do seu
pontificado, ter afirmado que não via nele nenhum motivo de condenação.
Mas os cardeais Seper, Villot, Casarolli e cia. não achavam isso.
O
auge da perseguição aconteceu no momento das Sagrações, em 1988, quando
um decreto de excomunhão, inválido e nulo, foi emitido pelo cardeal
Gantin. A máquina vaticana mexeu suas peças no tabuleiro da mídia e, no
mundo inteiro, os jornais fizeram troça do bispo de Ecône, insinuando
histórias absurdas, ridicularizando o gesto de salvação da vida da
Igreja. Grande estardalhaço na imprensa do mundo inteiro.
Roma mudou!
Ah,
sim, com certeza, Roma mudou. No início, não compreendemos muito bem
esta mudança. Constatamos algo diferente, sem saber explicar o porquê.
Em 1991, quando da Sagração Episcopal de Dom Licínio Rangel, em São
Fidélis, por três bispos da Fraternidade São Pio X, tanto da parte de
Roma quanto da parte dos jornais do mundo inteiro não houve nada. Mas
nada mesmo! Silêncio absoluto. Nem foto, nem charge, nem decreto de
excomunhão. Estranho. Ao menos na época, parecia estranho.
Querem
ver algo mais estranho? No ano seguinte, o império soviético
desmoronou, do modo que sabemos. Também lá não haveria mais prisões, e
mortes, e tanques destruindo a fina flor da sociedade da Rússia e demais
países dominados.
Enquanto
o mundo assistia a uma nova maneira de ser comunista, os homens do
Vaticano iniciavam um novo tratamento aos recalcitrantes, os
tradicionalistas. Não haveria mais excomunhão nem grandes oposições das
dioceses. Roma levantara uma estrutura bem afiada para trazê-los de
volta, culturalmente, sem choques. É a época da Comissão Ecclesia Dei,
dos grandes convites para almoços, e de correspondência freqüente.
Tentaram a isca suave do acordo prático. Não pegaram o peixe grande, mas
os padres de Campos lhes serviram muito bem. Já voltaram ao ataque,
agora com a isca do estudo teológico, mostrando que estão abertos a
todas as tentativas, treinados que estão em tirar proveito até mesmo do
recuo dos seus adversários.
A
coisa é mais ou menos assim. Para que o muro de Berlim, se podemos
controlar os homens pelo planeta inteiro? Vamos expandir as grades da
prisão e cercar a terra com elas, com grades virtuais, no mundo da
comunicação. Eles mesmos vão-nos informar onde estão e o que estão
fazendo, livres para caminhar, para visitar os amigos, para ver
televisão e ir ao cinema. Pois, ao chegar a casa, irão direto
“interagir” pela Internet, ou beberão alguma dose suave do envenenamento
universal num mundo globalizado.
Os
homens da Igreja de Vaticano II, filhos deste século, adotam o mesmo
método. Que os saudosos da Missa antiga tenham a liberdade de celebrar a
Missa que querem: basta estabelecer uma situação em que eles queiram
avisar onde estão, o que estão pensando. E nem perceberão que estão
sendo manipulados. Basta que estejam presentes ao mundo do Vaticano II e
ao espírito de Assis.
Não
é apenas o aspecto de autocontrole o que marca a nova escravidão. Há
também uma espécie de dinâmica das antíteses que, para eles, deve estar
presente em todo o mundo da Informação, para que haja “democracia”.
Vocês
não viram o que aconteceu com o jornal O Globo? Todo o mundo sabe que o
Sr. Roberto Marinho fez um pacto com o PT. Saiu até na primeira página
do jornal. De lá para cá, O Globo tornou-se a casa dos petistas de
diversos matizes. Todos alegres, encontram-se em família. Ah! sim, havia
o Roberto Campos, que escrevia o que uma pequena minoria antiquada
ainda queria ouvir. É claro que o Roberto Campos era um homem
respeitado. Mas não era por amores às suas idéias que ele escrevia no
Globo do PT. Escrevia porque era preciso não deixar escapar os da
“direita” que sempre leram aquele Globo onde tinham escrito Gudin,
Corção, Nelson Rodrigues e outros “reacionários”, como diziam. Escrevia
porque, dentro da Revolução Cultural, é importante que uma minoria possa
exprimir as antíteses que alimentarão o “debate democrático” da
manipulação das consciências.
Um
dia, o Sr. Roberto Campos ficou doente e já não conseguia escrever.
Grande problema para O Globo. Imagino com que cuidado foram buscar um
substituto para Roberto Campos. Tão importante é a presença de um
escritor “antítese”, que não se importaram em chamar um “excomungado” da
mídia, escritor que chegara ao ponto de cometer o gravíssimo pecado de
elogiar o Movimento de 1964. Pois foi assim que entregaram este lugar ao
Sr. Olavo de Carvalho. Era necessário, mesmo trazendo artigos contra o
PT.
Agora,
também é assim na Igreja de Vaticano II. É importante para a “religião
da democracia” que a minoria recalcitrante encontre seu lugar dentro da
grande massa, dentro da humanidade feliz. Outros que celebrem a missa
pop, ou a missa afro, ou a missa carismática. Desde que a minoria
tradicionalista tenha seu cantinho reservado na grande confraternização
universal e no culto “democrático” baseado no ecumenismo.
É
por isso que não nos devemos espantar ao ver o Vaticano aprovar os
estatutos do herético Movimento Neocatecumenal, seis meses apenas após
ter aprovado os estatutos da tradicional Administração São João Maria
Vianney. É a dinâmica democrática.
E não é que deram até um nome a esse sincretismo do Vaticano II?
Chamaram a essa festa de “Unidade na Diversidade”.
- 1. Notas: Citações das heresias do movimento Neo-catecumenal Francisco Arguelo -- Kiko -- Apostilas, Orientações às Equipes de Catequistas para a fase de Conversão, Anotações tiradas das gravações dos encontros realizados por Kiko e Carmem, para orientarem as equipes de catequistas de Madri, em Fevereiro de 1972.
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