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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

VIANNEY: da Contrição

DA CONTRIÇÃO


"Infeliz de mim, pois pequei muito durante minha vida" ("Confissões", de Santo Agostinho)
Tal era, meus irmãos, a lamúria de Santo Agostinho quando ele recordava os anos de sua vida em que ele esteve mergulhado com tanto furor no vício infame da impureza. "Ah! Infeliz de mim, pois pequei muito durante os dias de minha vida." E toda vez que este pensamento lhe vinha, ele sentia o coração devorado e dilacerado pelo remorso.

"Ó meu Deus! Exclamava ele, uma vida passada sem vos amar! Ó meu Deus, quantos anos perdidos! Ah! Senhor, dignai-vos, eu vos conjuro, em não se recordardes de minhas faltas passadas!"

Ah! Que lágrimas preciosas, ah! Que lamentos salutares que de um grande pecador fizeram tão grande santo. Ó! Como um coração despedaçado de dor ganhou prontamente a amizade de seu Deus! Ah! Queira Deus que a cada vez que passarmos diante de nossos olhos os nossos pecados possamos dizer com tanto lamento quanto Santo Agostinho: "Ah! Infeliz de mim, pois pequei muito durante os anos de minha vida! Meu Deus, tendes misericórdia de mim!

Ó! Que nossas lágrimas brotem, e que nossa vida não se parece mais a mesma! Sim, meus irmãos, convenhamos, todos, tanto quanto somos, com tanto de dor quanto de sinceridade,  somos criminosos dignos de carregar toda a cólera de um Deus justamente irritado por nossos pecados, que, talvez, são mais múltiplos que os cabeços de nossa cabeça. Contudo, bendigamos para sempre a misericórdia de Deus que nos abre em seus tesouros um remédio para nossas desgraças! Sim, meus irmãos, qualquer que tenha sido nossa conduta, somos assegurados de nosso perdão, se, ao exemplo do filho pródigo, nos lançarmos com um coração despedaçado de dor aos pés do melhor de todos os pais. Qual é meu propósito, meu irmão? Ei-lo aqui: é de vos mostrar que para obter o perdão de nossos pecados, é preciso que nosso lamento contenha quatro qualidades: 1º é preciso que o pecador odeie e deteste sinceramente seus pecados pela contrição; 2º que ele tenha concebido um firme propósito de não mais cair nesses pecados; 3º que ele faça uma humilde confissão ao ministro do Senhor; e 4º que ele repare, o tanto quanto ele pode, a injuria feita a Deus e o erro ao próximo.


Para entenderem o que é a contrição, ou seja, a dor que devemos sentir por nossos pecados, precisaria vos fazer conhecer, de um lado, o horror que o próprio Deus teve deles, os tormentos que Ele suportou por nós, obtendo o perdão junto de seu Pai; e, do outro, os bens que perdemos ao pecar e os males que nos impelimos para a outra vida, e isso, não será jamais dado ao homem de compreender. Aonde irei vos conduzir, meus irmãos, para vos fazer conhecer isso? Seria no fundo dos desertos, onde tantos grandes santos passaram vinte, trinta, quarenta, cinqüenta e mesmo oitenta anos, chorando por suas faltas, que segundo o mundo não são faltas? Ah! Não, não, vossos corações não seriam ainda aí tocados. Seria na porta do inferno para escutar aí os gritos, os uivos e os ranger de dentes ocasionados pelo único pranto de seu pecado? Ah! Dor amarga, mas dor e lamentos infrutíferos e inúteis! Ah! Não, não, meus irmãos, ainda não é aí em que aprendereis a chorar vossos pecados com a dor e o lamento que deveis ter por eles! Pois isso se dá no pé desta cruz ainda tingida do sangue precioso de um Deus que apenas o derramou para apagar nossos pecados. Ah!
Se me fosse permitido de vos conduzir nesse jardim de dores onde um Deus igual a seu Pai chora nossos pecados, não com lágrimas ordinárias, mas com todo seu sangue que escorre por todos os poros de seu corpo, e, onde sua dor se faz tão violenta que ele a lança em uma agonia que parece lhe retirar a vida enquanto lhe rasga o coração. Ah! Se eu pudesse vos levar em seu rastro, mostrá-lo carregando sua cruz nas ruas de Jerusalém: tantos passos, tantas quedas e tantas vezes levantado com chutes. Ah! Se eu pudesse vos fazer aproximar deste Calvário onde um Deus morre chorando nossos pecados! Ah! Dir-nos-íamos ainda: seria preciso que Deus nos desse este amor ardente do qual Ele tinha abrasado o coração do grande Bernardo, o qual, a única vista da cruz, derramou lágrimas com tanta abundância! Ah! Bela e preciosa contrição, como aquele que te possui é feliz!

Mas para quem eu vou falar disso, quem é aquele que a contém em seu coração? Infelizmente! Eu não sei. Seria para esse pecador endurecido que, talvez, depois de vinte anos, trinta anos, abandonou seu Deus e sua alma. Ah! Não, não, seria fazer o mesmo que aquele que queria amaciar um rochedo jogando água em cima dele, enquanto que ele apenas o endurecia cada vez mais. Seria para esse cristão que tem desprezado as missões, retiros e jubileus e todas as instruções de seus pastores? Ah! Não, não, seria querer aquecer a água a colocando no gelo. Seria para essas pessoas que se contentam em celebrar suas páscoas, continuando no mesmo tipo de vida, que todos os anos tem os mesmos pecados para contar? Ah! Não, não, essas são vítimas que a cólera de Deus engorda para servir de alimento às chamas eternas! Ah! Digamos mais, elas são semelhantes a criminosos que tem os olhos vedados e que, esperando serem executados, se entregam a tudo que seus corações deteriorados podem desejar. Seria para esses cristãos que se confessam a cada três semanas ou a cada mês, que a cada dia caem novamente? Ah! Não, não, esses são cegos que não sabem nem o que fazem nem o que devem fazer. A quem poderei, portanto, dirigir a palavra? Infelizmente! Eu não sei... Ó meu Deus! Onde é preciso ir para encontrá-la, a quem é preciso pedi-la? Ah, Senhor, eu sei de onde ela vem e quem a concede; ela vem do céu, e é Vos que a concedes. Ó meu Deus! Concedei-nos, por favor, esta contrição que rasga e devora nossos corações. Ah! Esta bela contrição que desarma a justiça de Deus, que transforma nossa eternidade desgraçada em uma eternidade bem aventurada! Ah! Senhor, não nos recuseis esta contrição que inverte todos os projetos e os artifícios do demônio; esta contrição que nos dá tão prontamente a amizade de Deus! Ah! Bela virtude, como tu és necessária, mas como tu és rara! Contudo, sem ela, nada de perdão, sem ela, nada de céu; dizemos mais, sem ela, tudo está perdido para nós, penitências, caridade e esmolas e tudo o que podemos fazer.


Sermons de Saint Jean-Baptiste Marie Vianney, Curé d'Ars.


Tradução: Robson Carvalho.
Fonte: Fiéis Católicos da Arquidiocese de Ribeirão Preto.

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