GUERRA CRISTERA - a perseguição aos Cristãos no Mexico, de 1926 a 1929.
A guerra dos Cristeros
“No dia 31 de Julho de 1926, alguns homens fizeram com que Nosso Senhor se ausentasse de seus templos, de seus altares, dos lugares dos católicos, mas outros homens fizeram com que voltasse; estes homens não viram que o governo tinha muitos soldados, muito armamento e muito dinheiro para fazer-lhes a guerra; isto eles não viram, o que viram foi defender seu Deus, sua Religião, sua Mãe, que é a Santa Igreja, isto é o que eles viram. A estes homens não importou deixar suas casas, seus pais, seus filhos, suas esposas e tudo o que possuíam; foram aos campos de batalha procurar Deus Nosso Senhor. Os rios, as montanhas, os montes, as colinas são as testemunhas de que aqueles homens falaram a Deus Nosso Senhor com o Santo Nome de Viva Cristo Rei, Viva a Santíssima Virgem de Guadalupe, Viva o México. Os mesmos lugares são o testemunho de que aqueles homens regaram o solo com seu sangue e, não contentes com isto, deram mesmo suas vidas para que Deus Nosso Senhor voltasse. E vendo Deus Nosso Senhor que aqueles homens realmente o procuravam, se dignou vir outra vez a seus templos, a seus altares, aos lugares dos católicos como estamos vendo agora, e recomendou aos jovens de hoje que, se no futuro aparecer novamente o problema, não se esqueçam do exemplo que nos deixaram nossos antepassados” (carta de Francisco Campos, Santiago Bayacora, Durango).
Capítulo 1
A Premeditação — 31 de julho a 31 de dezembro de 1926
31 de Julho; Último Dia de Cultos.
“Desde o dia em que o Episcopado anunciou sua decisão de suspender o culto público, começou a aparecer gente para colocar em ordem suas consciências, apesar de ser tempo de cultivo na lavoura. Cada dia que passava, aumentava a aglomeração de gente nas povoações, de todos os ranchos vizinhos acudia gente, em todos os semblantes se via a inquietação, em todos os olhos se via a tristeza, e das bocas só saía a pergunta: A que se deve isto? Por que fecham as igrejas, o que está acontecendo? E só se respondia: Quem sabe? Eu não sei. Em uma paróquia havia três sacerdotes, mas foram insuficientes para confessar tanta gente, não tinham tempo nem descanso para tomar seus alimentos, passavam os dias desde muito cedo até altas horas de noite sentados nos confessionários, mas não lhes foi possível confessar aquela multidão. Os dias e as horas transcorriam e passavam e se dissipavam. E a gente cabisbaixa e pensativa, que não acatava e não aceitava, decidia (sic) que não estava de acordo com aquela lei dada a conhecer e executada tão de repente; havia caído como um raio em todos os corações e em todas as mentes... Mas não havia remédio, tinham de obedecer. Mas não era somente isto: a lei arbitrária ditada por Plutarco Elías Calles não terminava com fechar os templos, mas que Deus tinha de sair dali, apesar de Ele ter dito: ‘Estarei convosco até a consumação dos séculos’. Esta promessa tinha de ser quebrada, Ele tinha de ir para as matas, Ele tinha de abandonar sua casa, assim como Ele um dia expulsou os mercadores do templo dizendo-lhes: ‘Minha casa é casa de oração’, mas um dia teve de deixá-la e fugir como um criminoso porque Calles o havia ordenado. Fechou-se o templo, o sacrário ficou deserto, ficou vazio, Deus já não está aí, foi-se para ser hóspede de quem queria dar-lhe pousada mesmo temendo ser prejudicado pelo governo; já não se ouvia o badalar dos sinos que chamam o pecador para que vá fazer sua oração. Só nos restava um consolo: que a porta do templo estava aberta e os fiéis, de tarde, iam rezar o Rosário e chorar suas culpas. O povo estava de luto, acabara-se a alegria, já não havia bem-estar nem tranqüilidade, o coração se sentia oprimido, e para completar tudo isso o governo proibiu reunião na rua como acontece se uma pessoa fica de pé diante de outra, pois isto era um delito grave” 1.
“Neste dia haveria missa solene às 12 horas da noite, e, desde que terminou o exercício vespertino, a nave do templo era materialmente insuficiente para a imensa multidão de fiéis. As visitas de joelhos, desde a porta até o altar, sucediam-se. Ninguém queria ver chegado aquele momento tão doloroso, mas Deus permitiu que assim fosse. Às 11:30h, os sinos com um alegre repicar, ou então com lúgubre canto, chamam para a missa. A Adoração Noturna, as associações piedosas e os agrupamentos católico-sociais, com seus contingentes e respectivas bandeiras, fizeram ato de presença com todos os fiéis. Às 12 em ponto foi feita a Exposição do Santíssimo, e, na seqüência, começou a Santa Missa. Depois do Evangelho, nosso querido Pe. González ocupou o púlpito... Logo que ele apareceu na tribuna, começou o pranto de todo o povo reunido aos pés de Jesus Hóstia. As palavras do padre, também cheias de dor, eram interrompidas... A missa continuou, e nela houve comunhão geral, e, terminado o Santo Sacrifício, nos foi dada a bênção com o Ostensório... Finalmente, o padre, sem os paramentos, ajoelhou-se ao pé do altar, com os olhos fixos na imagem do senhor das Misericórdias, despediu-se d’Ele e saiu misturado com os fiéis; Cristo e seu Ministro tinham ido embora.” 2
"Mas naquele dia já não havia alegria, já não havia tranqüilidade, sentia-se algo estranho, todos os ânimos exaltados, exclamações de dor. Valha-nos Deus! Que nos irá acontecer? Certamente é o fim do mundo, diziam outros, e também outros diziam que são nossos pecados, que é isto e nada mais, e por todas as ruas se viam como multidões quando se pressente que vai chover. Muita surpresa causava ver pessoas que viviam afastadas dos sacramentos procurar o confessor para receber o perdão de seus pecados, outros, que viviam amasiados, pedindo que fossem unidos pelo matrimônio como Deus manda, e grande quantidade de batismos. Por fim foi rezado o rosário com grande fervor, com um eloqüente sermão, e depois o Santo Sacrifício da missa, pois era meia-noite, nem a igreja se fechou porque tantos fiéis acudiam aos sacramentos... não houve quem dormisse nessa inesquecível noite, comentando o futuro... Terminada a missa foi dada como despedida a bênção com o Santíssimo Sacramento, ficando tudo escuro. Meu Deus! Como descrever esta tremenda hora? Meus nervos se crispam, minha mão treme ao descrever o que se via e o que se ouvia. Acabava de se retirar o pai, e seus filhos... ficamos órfãos... Ficou aquele santo lugar como um mar de lágrimas; no meio das trevas saía a gente... repercutindo nas abóbadas todos os ais de dor que saíam de todas as bocas... ao sair em meio de tanta confusão tinham medo, porque gente em todos os lados gritava ‘o diabo, o diabo’...” 3