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sábado, 4 de maio de 2013

Um mês com a Virgem Maria: Belíssimas Colocações diárias do Monsenhor Ascâni...

Um mês com a Virgem Maria

Belíssimas Colocações de Monsenhor Ascânio Brandão (1/10)




30 de abril – Véspera do mês de Maria


Louvemos a Maria

O louvor de Maria é um tão abundante manancial que quanto mais se escoa, mais aumenta, e quanto mais aumenta mais se escoa. (Biblioteca dos Radres). Em outras palavras: Esta Virgem é tão grande e sublime, que, quanto mais a louvamos, mais nos resta a louvar. Tanto é isso verdade, que – diz Sto. Agostinho – todas as línguas dos homens não bastariam para exaltá-la, ainda que eles só línguas tivessem no corpo.

No mundo é uso dos que se amam falar muitas vezes e tecer frequentemente o panegírico da pessoa amada. Pois querem vê-la louvada e aplaudida por todos. Bem mesquinho é, portanto, o amor daqueles que se gabam de amar a Maria e, não obstante, mal se lembram de falar dela muitas vezes, e tão pouco procuram torna-la amada por outros. Os verdadeiros servos desta amabilíssima Senhora não procedem assim. Preferem celebrá-la por toda parte e vê-la amada pelo mundo inteiro. Quer em público, quer em particular, procuram sempre atear nos corações as abençoadas chamas de que eles mesmos se sentem abrasados para com sua querida rainha.



A propagação da devoção a Maria Santíssima é de muita importância para cada um de nós e para o povo. Convencer-se-ão dessa verdade as palavras de sábios e acatados doutores. É recomendável ouvi-las. Na frase de S. Boaventura, têm o paraíso seguro todos os que anunciam as glórias de Maria. E isso confirma Ricardo de S. Lourenço, dizendo: Venerar a Rainha dos anjos é adquirir a vida eterna; pois essa gratíssima Senhora saberá honrar na outra vida quem nesta a procurou celebrar. Quem haverá que desconheça a promessa feita pela própria Virgem, a quantos se empenham em torna-la conhecida e amada neste mundo? Possuirão a vida os que me esclarecerem (Ecli 24, 31), – eis as palavras que lhe aplica a Santa Igreja na festividade de sua Imaculada Conceição. Exulta, minha alma – exclama S. Boaventura, o solícito cantor dos louvores de Maria – exulta e alegra-te em Maria, porque muita ventura está prometida aos que a louvarem. E já que as Sagradas Escrituras, ajunta ele, cantam os louvores de Maria, empenhemo-nos também nós em louvar sempre a Mãe de Deus, com a língua e com o coração, para que por ela sejamos um dia introduzidos na mansão dos bem-aventurados.

Lemos nas revelações de Sta. Brígida que o beato Hemingo, bispo, costumava celebrar os louvores de Maria no começo de cada sermão. Um dia, apareceu, pois, a Santíssima Virgem à referida Santa e disse-lhe: Faz ciente ao bispo, que sempre começa os sermões por meus louvores, de que lhe quero servir de Mãe e apresentarei sua alma a Deus, depois da boa morte que lhe alcançarei. De fato, o bispo morreu como um Santo, orando na mais celeste paz. A um religioso dominicano, cujos sermões terminavam sempre com Maria, apareceu a Virgem na hora da morte, defendeu-o contra os demônios, confortou-o e consigo levou-lhe a alma ao céu. O devoto Tomás de Kempis representa Maria Santíssima assim encomendando a seu Filho quantos lhe publicam os louvores: Meu filho, compadecei-vos da alma daquele por quem fostes amado e eu fui louvada!

Quanto ao proveito do povo em geral, diz Eadmero (discípulo de Sto. Anselmo) ser impossível que se não salvem e convertam os pecadores pelos sermões sobre a Santíssima Virgem. Para isso estriba-se no fato de ter sido o puríssimo seio de Maria o caminho por onde passou a salvação dos pecadores. Provarei no capítulo V que todas as graças são dispensadas pelas mãos de Maria, e que todos os eleitos só se salvam pela mediação dessa divina Mãe. E se esta sentença tem a verdade por si, tal é minha firme convicção, dizer então se pode, como necessária consequência, que, da pregação sobre Maria e sobre a confiança em sua intercessão, depende a salvação de todos. Foi assim, todos os sabem que S. Bernardino de Sena santificou a Itália e que S. Domingos converteu tantas províncias. Em seus sermões, nunca S. Luís Beltrão deixava de exortar os fiéis à devoção para com Nossa Senhora. Assim praticaram igualmente muitos outros.

Li que também o padre Paulo Segneri Júnior, afamado missionário, fazia em todas as suas missões um sermão em honra de Maria. Dava-lhe o nome de "sermão predileto". Jamais omitir o sermão sobre Nossa Senhora, é igualmente uma regra impreterível em nossas missões. E podemos atestar, com toda a verdade, que nada opera tanto proveito e compunção no povo, como o sermão sobre a misericórdia de Maria. Digo sobre a misericórdia de Maria. Pois, louvamos, diz S. Bernardo, sua humildade, admiramos sua virgindade, mas, sendo pobres pecadores, o que mais nos deleita é ouvir falar de sua misericórdia. A esta apegamo-nos com mais ternura, mais vezes a recordamos e invocamo-la com mais frequência. A outros autores remeto o cuidado de escrever sobre as demais prerrogativas de Maria. Quero falar principalmente de sua grande misericórdia e poderosa intercessão. Nesse sentido tenho recolhido, durante muitos anos, tudo quanto os Santos Padres e os mais célebres autores têm dito sobre a bondade e o poder da Mãe de Deus.

Feliz aquele que se abraça amorosa e confiadamente a essas duas âncoras de salvação: Jesus e Maria! Não perecerá eternamente. Digamos, pois, devoto leitor, no fundo de nosso coração, como o beato Afonso Rodrigues: Jesus e Maria, doces objetos do meu amor, por vós quero sofrer, por vós morrer; fazem que eu deixe de pertencer-me, para ser todo vosso. – Amemos a Jesus e Maria, e santifiquemo-nos. Eis aí a maior fortuna que podemos aspirar e esperar. Adeus! Até a vista no paraíso, aos pés dessa Mãe suavíssima e desse Filho muito amado. Juntos haveremos então de louvá-los, de agradecer-lhes, de amá-los, face a face, por toda a eternidade. Assim seja.

(Um mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria segundo Santo Afonso de Ligório, por Mons. Ascânio Brandão. Edições Paulinas, 2ª edição. pg. 13-16.)



1º de maio – E necessário recorrer à Maria


Que seja Jesus Cristo único Mediador de justiça, a reconciliar-nos com Deus, pelos seus merecimentos, quem o nega? Não obstante isto, compraz-se Deus, em conceder-nos suas graças pela intercessão dos santos e especialmente de Maria, sua Mãe, a quem tanto deseja Jesus ver amada e honrada.

Seria impiedade negar semelhante verdade. Quem ignora quem a honra prestada às mães redunda em glória para os filhos? Os pais são as glórias dos filhos, lemos nos Provérbios (17, 6). Quem muito enaltece a mãe, não precisa ter receio de obscurecer a glória do filho. Pois quanto mais se honra a Mãe, tanto mais se louva o Filho, diz S. Bernardo. E observa Sto. Ildefonso: É tributada ao Filho e ao Rei toda a honra que se presta à Mãe e à Rainha. Ao mesmo tempo está fora de dúvida que pelos merecimentos de Jesus Cristo foi concedida à Maria a grande autoridade de ser medianeira da nossa salvação, não de justiça, mas de graça e de intercessão, como bem lhe chamou Conrado de Saxônia com o título de "fidelíssima medianeira de nossa salvação". E S. Lourenço Justiniano pergunta: Como não ser toda cheia de graça, aquela que se tornou a escada do paraíso, a porta do céu e a verdadeira medianeira entre Deus e os homens?

Portanto, bem adverte Suarez: Quando suplicamos à Santíssima Virgem nos obtenha as graças, não é que desconfiemos da misericórdia divina, mas é muito antes porque desconfiamos da nossa própria indignidade. Recomendamo-nos, por isso, a Maria, para que supra sua dignidade a nossa miséria.

Que o recorrer, pois, à intercessão de Maria Santíssima seja coisa utilíssima e santa, só podem duvidar os que são faltos de fé. O que, porém, temos em vista provar é que esta intercessão é também necessária à nossa salvação. Necessária, sim, não absoluta, mas moralmente falando, como deve ser. A origem desta necessidade está na própria vontade de Deus, o qual pelas mãos de Maria quer que passem todas as graças que nos dispensa. Tal é a doutrina de S Bernardino, doutrina atualmente comum a todos os teólogos e doutores, conforme assevera o autor do Reino de Maria.

Seguem esta doutrina Vega, Mendoza, Pacciucchelli, Segneri, Poiré, Crasset e inúmeros outros autores. Até Alexandre Natal, aliás, tão reservado em suas proposições, diz ser vontade de Deus que pela intercessão de Maria esperemos todas as graças. Em seu apoio cita a célebre passagem de S. Bernardo: Esta é a vontade de Deus, que recebamos tudo por meio de Maria. Da mesma opinião é também Contenson, como se vê do seu comentário às palavras de Jesus, dirigidas a S. João, do alto da cruz.

A necessidade de intercessão de Maria provém da sua cooperação na Redenção. Uma sentença de S. Bernardo diz: Cooperaram para nossa ruína um homem e uma mulher. Convinha, pois, que outro homem e outra mulher cooperassem para nossa reparação. E estes foram Jesus e Maria, sua Mãe. Não há dúvida, diz o Santo: Jesus Cristo, só, foi suficientíssimo para remir-nos. Mais conveniente era, entretanto, que para nossa reparação servissem ambos os sexos, assim como havia cooperado ambos para nossa ruína. Pelo que St. Alberto chamou a Maria cooperadora da redenção. A própria Virgem revelou a Sta. Brígida que assim como Adão e Eva por um pouco venderam o mundo, assim também ela e seu Filho com um coração o resgataram. Do nada pôde Deus criar o mundo, observa Sto. Anselmo, mas não quis repará-lo sem a cooperação de Maria.

Nessa convicção confirmam-nos muitos teólogos e Santos Padres. Injustiça fôra afirmar que eles, como diz o sobredito autor, exaltando Maria, tenham caído em hipérbole e exagerações desmedidas. Tanto uma como outra saem dos limites do verdadeiro. Não podemos, pois, atribuí-las aos santos que falaram inspirados por Deus, que é espírito de verdade.

Permitam-me fazer aqui uma breve digressão para externar o que sinto. Quando uma sentença de qualquer modo honrosa para a Santíssima Virgem tem algum fundamento e não repugna à verdade, deixar de adotá-la e combate-la, porque a sentença contrária pode também ser verdadeira, é indício de pouca devoção à Mãe de Deus. Não quero estar, nem desejo ver meus leitores entre esses poucos devotos de Maria. Desejo pelo contrário vê-los entre os que creem plena e firmemente tudo quanto sem erro podem crer das grandezas de Maria, segundo as palavras do abade Roberto, que conta semelhante fé entre um dos obséquios mais agradáveis à Maria. Quando não houvesse outro a nos livrar do temor de ser excessivo nos louvores de Maria, é pouco em relação ao que merece por sua dignidade de Mãe de Deus. Confirma isto a Sta. Igreja, a qual faz ler na Missa da Santa Virgem as seguintes palavras: Bem-aventurada és tu, Santa Virgem Maria, e mui digna de todo louvor.

Voltemos, porém, ao nosso assunto e vejamos o que dizem os Santos Padres sobre a sentença proposta. Segundo S. Bernardo, Deus encheu Maria com todas as graças para que por seu intermédio recebam os homens todos os bens que lhes são concedidos. Faz aqui o Santo uma profunda reflexão, acrescentando: Antes do nascimento da Santíssima Virgem, não existia para todos, essa torrente de graça, porque não havia ainda esse desejado aqueduto: Maria foi dada ao mundo – continua ele – a fim de que por seu intermédio, como por um canal, até nós corresse sem cessar a torrente das graças divinas. Diz Ricardo de S. Lourenço, nas mãos dela está nossa salvação, e, com mais direito que os egípcios a José, podemos nós, cristãos, dizer à Santíssima Virgem: Nossa Salvação está em tuas mãos! O mesmo escreve o abade de Celes: Em tuas mãos foi colocada nossa salvação. Em termos mais enérgicos acentua-o Pseudo-Cassiano, quando diz sem ambages que a salvação depende dos favores e da proteção de Maria. Quem é protegido por ela, se salva; perde-se quem o não é. Isto leva S. Bernardino de Sena a exclamar: Ó Senhora, porque sois a dispensadora de todas as graças, e só de vossas mãos nos há de vir a salvação, de vós também depende nossa salvação.

E por isso, razão tinha Ricardo ao escrever: Assim como a pedra cai logo que é atirada a terra que a sustém, assim uma alma, tirado o socorro de Maria, cairá primeiramente no pecado e depois no inferno. Deus não nos há de salvar sem a intercessão de Maria, assevera S. Boaventura; pois, assim como uma criancinha não pode viver sem a ama, da mesma forma ninguém se pode salvar sem a proteção de Maria. Tenha, por conseguinte, a tua alma, exorta o Santo, uma verdadeira sede de devoção à Maria; conserva-a sempre, não a deixeis até que vás receber no céu a maternal bênção de Maria. Ó Virgem Santíssima, exclamava S. Germano, ninguém pode chegar ao conhecimento de Deus, senão por vós, ó Mãe de Deus, Virgem Mãe, ó cheia de graça! E de novo: Se não nos abrísseis o caminho, ninguém escaparia às solicitações da carne e do pecado.

Como só por meio de Jesus Cristo temos acesso junto ao Padre eterno, igualmente, observa S. Bernardo, só por meio de Maria temos acesso junto a Jesus Cristo. E a tal resolução de Deus, isto é, que sejamos salvos por intermédio de Maria, dá o Santo este belo motivo: Por meio de Maria receba-nos àquele Salvador, que por meio dela nos foi dado! Dá-lhe, por isso, o nome de Mãe da graça e da nossa salvação. Que seria, pois, de nós, indaga S. Germano, que esperança nos restaria de salvação, se nos abandonásseis, ó Maria, ó vida dos cristãos?

(Um mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria segundo Santo Afonso de Ligório, por Mons. Ascânio Brandão. Edições Paulinas, 2ª edição. pg. 19-24.)



2 de maio – O devoto de Maria não se perde

Um verdadeiro devoto de Maria não se perde. É impossível que se perca um devoto de Maria, que fielmente a serve e a ela se encomenda. À primeira vista talvez pareça um tanto ousada esta proposição. Antes, porém, que se a rejeite, peço que se leia o que a respeito eu vou apresentar. Afirmo que é impossível perder-se um devoto da Mãe de Deus. Não me refiro àqueles que abusam dessa devoção para pecarem com menos temor. Desaprovam alguns que muito se celebrem as misericórdias de Maria para com os pecadores, dizendo que estes dela abusavam para mais pecarem. Mas injustamente o desaprovam. Pois esses presumidos, por esta sua temerária confiança, merecem castigo e não misericórdia. Falo tão somente daqueles devotos de Maria que, ao desejo de emenda, unem a perseverança em obsequiá-la. Quanto a estes, repito, é moralmente impossível que se percam. O mesmo afirma o padre Crasset, em seu livro sobre "A verdadeira devoção à Virgem Maria". E antes já o afirmaram Veja em sua Teologia Mariana, Mendoza e outros teólogos. Que não falaram irrefletidamente, vê-lo-emos pelas afirmações dos Doutores e dos santos. Ninguém se admire à vista de tantas sentenças uniformes dos autores. Quis referi-las todas, a fim de provar o acordo geral dos escritores sobre este ponto.

A devoção a Maria é penhor de eterna bem-aventurança. É impossível salvar-se quem não é devoto de Maria e não vive sob sua proteção, diz Sto. Anselmo, e também é impossível que se condene quem se encomenda à Virgem, e por ela é olhado com amor. Quase com os mesmo termos, isso confirma Sto. Antonino. Não podem salvar-se aqueles, escreve o Santo, dos quais Maria tem afastado seus misericordiosos olhos; mas salvam-se necessariamente os que por ela são vistos com amor e protegidos por sua intercessão. Repare-se, porém, na primeira desta proposição e tremam aqueles que fazem pouco caso da devoção à Mãe de Deus, ou que a abandonam por negligência. Estes santos afirmam que não há possibilidade de salvação para quem não é amparado por Maria. A mesma coisa asseveram outros, como Sto. Alberto Magno: Todos os que não são vossos servos hão de perder-se, ó Maria. E S. Boaventura: Aquele que se descuida de servir à Santíssima Virgem morrerá em pecado. Em outro lugar: Quem a vós não recorre, Senhora, não entrará no paraíso. No Salmo 99 de seu Saltério Mariano chega a dizer que não só não se salvará, mas que nem esperança de salvação terá aquele do qual Maria aparta seu rosto. E primeiro o disse Pseudo-Inácio mártir, afirmando que não pode salvar-se um pecador senão por meio da Santa Virgem, cuja misericordiosa intercessão salva muitos que deveriam ser condenados pela justiça divina. O abade de Celes repete essas palavras. É nesse sentido que a Igreja aplica a Maria esta passagem dos Provérbios (8, 36): Todos os que me odeiam amam a morte eterna. Sobre o texto: "Ela é semelhante ao navio de um mercador" (Pv. 31, 14), diz Ricardo de S. Lourenço: Todos os que não estiverem a bordo desse navio, serão submergidos no mar deste mundo. Até o protestante Ecolampádio tinha por indício certo de reprovação a pouca devoção à Mãe de Deus.

Por outro lado, diz Maria: Aquele que me serve não será condenado (Ecli. 24, 30). Quem a mim recorre e ouve minhas palavras não se perderá. Pelo que diz S. Boaventura: Senhora, quem se esforça por servir-vos está longe da condenação. E isso acontecerá, afirma Pseudo-Hilário, ainda que no passado tenha alguém ofendido muito a Deus.

Por isso o demônio trabalha para que os pecadores, depois de perderem a graça de Deus, percam também a devoção de Maria. Observando Sara que Isaac ia pegando os maus costumes de Ismael, com quem brincava, pediu a Abraão que expulsasse este e também sua mãe Agar. "Expulsa a escrava com seu filho!" Não se contentou em mandar embora o filho. Exigiu que se expulsasse também a mãe. Pois imaginou que, se esta ficasse, a cada passo o filho viria a casa para vê-la. Da mesma forma o demônio não se contenta com ver uma alma separar-se de Jesus Cristo. Quer vê-la também separada da Mãe de Jesus. "Expulsa a escrava com seu filho!" Pois teme que a Mãe com seus rogos reconduza o Filho a essa alma. E é com razão que o teme, porquanto, afirma Pacciucchelli, não tarda a encontrar a Deus quem é fiel em obsequiar a Mãe de Deus.

Salvo-conduto que nos livra do inferno, é, por isso, o acertado nome que Sto. Efrém dá à devoção a Maria. Segundo S. Germano, é Maria a protetora dos condenados. Realmente, é certo e fora de dúvida que a Maria, conforme a sentença de S. Bernardo, não lhe falta poder, nem vontade para nos salvar. Tem poder porque é impossível ficar desatendida uma oração sua, garante-nos Sto. Antonino. Ou, como diz S. Bernardo, seus rogos jamais ficam sem resultado, mas sempre alcançam o que pretendem. Tem vontade de salvar-nos, porque, como Mãe, deseja nossa salvação mais do que nós a desejamos. Ora, assim sendo, como poderá perder-se um fiel devoto de Maria? E ainda que seja pecador, salvar-se-á se com perseverança e propósito de emenda se encomendar a essa boa mãe. Ela o levará ao conhecimento de seu miserável estado, ao arrependimento de seus pecados. Obter-lhe-á a perseverança no bem e finalmente uma boa morte. Qual é a mãe que podendo, com um simples pedido ao juiz, livrar seu filho da morte, não o faria? E poderíamos nós pensar que Maria, tão devotada Mãe para com seus devotos, deixe de livrar, um filho da morte eterna quando lhe é possível e tão fácil consegui-lo?

Ó Mãe de Deus, se em vós puser minha confiança, serei salva. Se estiver sob vossa proteção, nada tenho a recear porque a devoção para convosco é uma segura arma de salvação, por Deus concedida só aos que deseja salvar. Por isso até Erasmo assim saudava a Santíssima Virgem: Deus vos salve, ó terror do inferno, ó esperança dos cristãos; a confiança em vós assegura a salvação.

A devoção a Maria protege contra a fúria de Satanás. Oh! Quanto desagrada ao demônio a perseverante devoção de uma alma à Mãe de Deus! Afonso Alvarez, muito devoto de Maria, foi atormentado pelo demônio com violentas tentações impuras, uma vez que estava rezando. Deixa esta tua devoção para com Maria, disse-lhe o inimigo, que eu deixarei de tentar-te. Foi revelado a Sta. Catarina de Sena, como atesta Luís Blósio, que Deus concedera a Maria, em consideração a seu unigênito, a graça de não cair presa do inferno pecador algum que a ela se recomendar devotamente. O próprio profeta Davi pedia ao Senhor que o livrasse pelo amor que tinha à honra de Maria: Senhor, eu amei o decoro da vossa casa…; não percais com os ímpios a minha alma (Sl. 25, 8).

Diz "vossa casa", porque Maria foi certamente aquela casa que o próprio Deus se preparou na terra para sua habitação, e onde ao fazer-se homem achou seu repouso. Assim está escrito nos Provérbios (9, 1): Senhor, eu amei o decoro da vossa casa…; não perderá certamente, dizia Pseudo-Inácio mártir, quem é fiel na devoção a essa Virgem Mãe. E isso confirma S. Boaventura com as palavras: Senhora, os que vos amam gozam grande paz nesta vida, e na outra não verão a morte eterna. Nunca sucedeu, nem sucederá, assegura-nos o piedoso Blósio, que um humilde e diligente servo de Maria se perca eternamente.

Oh! Quantos permaneceriam obstinados e se condenariam para sempre, se não se houvesse Maria empenhado junto ao Filho para usar a misericórdia em favor deles!

(Um mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria segundo Santo Afonso de Ligório, por Mons. Ascânio Brandão. Edições Paulinas, 2ª edição. pg. 27-32.)


3 de maio – Maria cheia de Graças para nos salvar

Inegavelmente foi a alma de Maria a mais bela que Deus criou. Depois da Encarnação do Verbo foi esta a obra mais formosa e mais digna de si, feita pelo Onipotente neste mundo. Uma maravilha enfim que só é excedida pelo próprio Criador, como diz Nicolau monge. Por isso não desceu a graça em Maria, gota a gota como nos outros santos. Desceu ao contrário tal como "a chuva sobre o velo" (Sl. 71, 6). Semelhante à lã do velo sorveu a Virgem com alegria toda a grande chuva da graça, sem perder uma só gota.

Era-lhe, pois lícito exclamar: Possui em sua plenitude dos santos está minha morada (Ecli. 24, 16). Isto significa, conforme a explicação de S. Boaventura: Possui em sua plenitude o que só em parte possuem os outros santos. E S. Vicente Ferreri, referindo-se particularmente à santidade de Maria, antes de seu nascimento, diz que excedeu a de todos os anjos e santos.

A graça que adornou a Santíssima Virgem sobrepujou não só a de cada um em particular, mas a de todos os santos reunidos, como prova o doutíssimo padre Francisco Pepe, jesuíta, em sua bela obra das Grandezas de Jesus e de Maria. Nela afirma que essa tão gloriosa opinião para nossa Rainha é hoje em dia comum e certa entre os teólogos modernos, como Cartagena, Suarez, Spinelli, Recupito, Guerra e outros. Todos examinaram a questão ex-professo, coisa que não haviam feito os doutores antigos. Conta Pepe que a Mãe de Deus agradeceu a Suarez, por meio do padre Guttierez, o haver defendido com tanto valor essa probabilíssima sentença. Em seu Devoto de Maria, atesta Segneri, que essa proposição é sustentada pela comum opinião da escola de Salamanca. Ora, se esta outra sentença: Maria, desde o primeiro instante de sua Conceição Imaculada, recebeu uma graça superior à de todos os anjos e santos juntos. Suarez defende-a com energia, sendo nisso acompanhado por Spinelli, Recupito e Colombière.

Maria foi fiel à divina graça. Dizem muitos e graves teólogos que uma alma virtuosa produz um ato de virtude, em intensidade igual ao hábito que possui, cada vez que corresponde às graças atuais que de Deus recebe. Adquire assim, vez por vez, um novo e duplo merecimento que é igual à totalidade de todos os méritos adquiridos até então. Esse aumento, dizem eles, foi concedido aos anjos durante o tempo de sua provação. Ora, se os anjos possuíam semelhante graça, quem ousará sonega-la à Divina Mãe, enquanto viveu na terra, principalmente no mencionado tempo de sua existência no seio materno, no qual foi certamente mais fiel que os anjos, em corresponder à graça? Durante ele duplicou a cada momento aquela graça sublime que possuía desde o começo. Pois, correspondendo-lhe com todas as forças e perfeitamente, duplicava, por conseguinte seus méritos a cada ato que fazia, em todo instante. Só por aí podemos avaliar que tesouros de graças, de merecimentos e de santidade trouxe Maria ao mundo, quando nasceu.

Alegremo-nos, portanto, com nossa Mãe querida, que nasce tão santa, tão cara a Deus, e cheia de graça. E alegremo-nos não só por ela, mas também por nós. Pois veio ao mundo enriquecida de graça, tanto para a glória como para o bem nosso. Adverte Sto. Tomás que de três modos foi cheia de graça a Santíssima Virgem. Na alma, porque desde o princípio sua bela alma foi inteiramente de Deus. No corpo, pois quede sua puríssima carne mereceu revestir o Verbo Eterno. Finalmente o foi em nosso comum benefício, para que todos os homens pudessem participar da sua graça. Alguns santos, ajunta o Doutor Angélico, possuem tanta graça que não só lhes basta a eles, como é suficiente para salvar a muitos, ainda que não a todos os homens. Só a Jesus e a Maria foi dada tão abundante graça, que seria suficiente para salvar a todo o gênero humano. Por isso S. João diz de Jesus Cristo: Nós todos temos recebidos de sua plenitude (Jo. 1, 16). De Maria afirmam também a mesma verdade. Sto. Tomás de Vilanova, por exemplo, escreve: Ela é cheia de graça e de sua plenitude recebem todos. E assim – afirma Pacciuchelli – não há quem não participe da graça de Maria. Quem existiu jamais no mundo, pergunta ele, a quem Maria não tenha sido tão benigna, ou não haja dispensado alguma misericórdia? É preciso notar, porém que recebemos a graça de Jesus Cristo, como de seu autor, e de Maria, como medianeira; de Jesus como Salvador, de Maria, como advogada; de Jesus, como fonte, de Maria, como canal.

Eis o motivo porque S. Bernardo diz que Deus constituiu Maria qual aqueduto das misericórdias, que quer dispensar aos homens. Encheu-a de graça, para que de sua plenitude cada um recebesse sua parte. À vista disso o Santo exorta-nos a considerarmos com que amor quer o Senhor que honremos essa grande Virgem, na qual colocou todos os tesouros de sua riqueza. Fê-lo assim, a fim de que quanto temos de esperança, de graça e de salvação, tudo agradeçamos à nossa amantíssima Rainha. Pois tudo nos provém de suas mãos e pela sua intercessão. Infeliz da alma que, descuidando-se de se recomendar a Maria, se fecha assim este canal de graças! Holofernes, quando quis apoderar-se da cidade de Betúlia, procurou cortar-lhe os aquedutos. E isto faz também o demônio quando quer tomar posse de uma alma: fala abandonar a devoção à Maria Santíssima. Fechado este canal, perderá ela facilmente a luza, o temor de Deus, e enfim a salvação eterna.

(Um mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria segundo Santo Afonso de Ligório, por Mons. Ascânio Brandão. Edições Paulinas, 2ª edição. pg. 34-37.)

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