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segunda-feira, 25 de março de 2019

O decreto da encarnação do verbo

 

O decreto da encarnação do verbo


Et audivi vocem dicentís : Quem mittam? Et quis ibit nobis? Et dixi: Ecce ego. mitte me. "E ouvi a voz de quem dizia: Quem enviarei eu? e quem nos irá lá? Então disse eu: Aqui me tens a mim, envia-me" (Isa. 6; 8).

Sumário. Embora o Filho de Deus previsse a vida penosa que teria de levar, submeteu-se contudo de boa vontade ao decreto da Encarnação, ofereceu-se mesmo a fazer-se homem. E isso não só a fim de satisfazer plenamente à justiça divina, mas também para nos mostrar seu amor, e obrigar-nos a que o amemos sem reserva. Como é que até o dia de hoje temos respondido a tão grande beneficio?

I. Afigura-se a São Bernardo (1) em sua contemplação sobre a condição do gênero humano depois do pecado do primeiro homem, ver travarem contenda a justiça divina e a misericórdia.

Estou perdida – diz a justiça — se Adão não for punido.

A misericórdia, ao contrário, replica: Estou eu perdida, se o homem não for perdoado.

Em vista de tal contenda, o Senhor decide que, para salvar o homem réu de morte, há de morrer um inocente: Moriatur qui nihil debeat morti.

Na terra, porém, não se achava um que fosse inocente.

Portanto — disse o Pai Eterno — já que entre os homens não há quem possa satisfazer à minha justiça, quem irá resgatar o homem? Os anjos, os querubins, os serafins, todos guardam silêncio, ninguém responde; só responde o Verbo Eterno e diz: Ecce ego, mitte me — "Aqui me tens a mim, envia-me".

Meu Pai — diz o Filho unigênito — a vossa majestade, por ser infinita, e ofendida pelo homem, não pode ser plenamente satisfeita por um anjo, que é uma pura criatura. E ainda que Vós quisésseis contentar com as satisfações de um anjo, considerai que, apesar de tantos benefícios prestados ao homem, apesar de tantas promessas e ameaças, não conseguimos ganhar o seu amor, porque até hoje não conheceu o amor que lhe tínhamos. Se quisermos obrigá-lo irresistivelmente a amar-nos, que ocasião se nos pode deparar mais própria do que esta? Permite que, para remir o homem, eu, vosso Filho, desça sobre a terra e tome a natureza humana; permite que, pagando com a minha morte as penas devidas ao homem, satisfaça plenamente á vossa justiça divina, e o homem fique bem convencido do nosso amor.

Mas considera, meu Filho — assim torna o Pai — considera que, encarregando-te de pagar pelos homens, terás de levar uma vida toda de trabalhos, e os homens te pagarão com a mais negra ingratidão. Depois de teres vivido trinta anos como simples auxiliar de um pobre artífice, quando afinal saíres a pregar e a manifestar quem és, haverá, é verdade, uns poucos que te queiram seguir; mas a maior parte dos homens te desprezará, chamando-te impostor, feiticeiro, louco, samaritano, e finalmente te farão morrer ignominiosamente, exausto de tormentos, sobre um lenho infame.

Não importa — responde o Filho — a tudo me sujeito, contanto que seja salvo o homem: Ecce ego, mitte me — "Aqui me tens a mim, envia-me".

E assim foi decretado que o divino Filho se fizesse homem e redentor dos homens. O amor incompreensível de Deus! Mas como temos nós até este momento respondido a tão grande beneficio?

II. Ó Verbo Eterno, Vós Vos fizestes homem para nos remir e acender em nossos corações o divino amor; como foi possível que encontrásseis nos corações dos homens tão grande ingratidão? Vós nada poupastes para Vos fazer amado dos homens; chegastes a dar o vosso sangue e a vossa vida; como é que os homens se mostram tão ingratos para convosco? Ignoram-no por ventura? Não; sabem e crêem que por eles viestes do céu para revestir-Vos de carne humana e tomar sobre Vós as nossas misérias; sabem que por amor deles levastes uma vida penosa e abraçastes uma morte ignominiosa: como vivem então assim esquecidos de Vós? Amam aos parentes, amam aos amigos, amam os próprios animais; somente para convosco são tão frios, tão ingratos.

Mas ai de mim! Acusando aqueles ingratos, acuso-me a mim próprio, que pior do que os outros Vos tenho tratado! Anima-me, porém, a vossa bondade, que me tem tolerado tanto tempo a fim de perdoar-me, contanto que eu queira arrepender-me e amar-Vos. Sim, meu Deus, quero arrepender-me; pesa-me de toda a minha alma de Vos ter ofendido e quero amar-Vos de todo o meu coração. Reconheço, ó meu Redentor, que o meu coração já não merece mais ser por Vós aceito, visto que Vos tem deixado por amor ás criaturas; mas vejo que, não obstante isso, Vós ainda o quereis, e eu, com todo o poder de minha vontade, Vô-lo dou e consagro. Abrasai-o, pois, todo em vosso santo amor, e fazei com que de hoje em diante não ame senão a Vós, bondade infinita, digna de infinito amor. Amo-Vos, Jesus meu, amo-Vos, meu sumo Bem, amo-Vos, ó amor único de minha alma. — Ó Maria, minha Mãe, vós, que sois a mãe do belo amor, impetrai-me a graça de amar o meu Deus; de vós a espero. (III 668.)

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1. Opusc. 63.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 12-15.)

segunda-feira, 18 de março de 2019

O peixe morre pelo Twitter...

AVISO AOS NAVEGANTES (para os mentecaptos apenas! )
#LeiaQuemQuiser #NinguémÉObrigado 


O peixe morre pelo Twitter... 


O inimigo dentro de casa

Todo happy, o bispo modernista Philip Egan tuíta em sua conta sobre a visita "de supervisão" que fez à escola São Miguel, da Neofrat, em Burghclere (Inglaterra), comentando: 

Made a happy visit today to St Michael’s School in Burghclere. Here I am with Fr. John Brucciani headteacher (on my left), Fr. Robert (on my right), Fr Bruce Barnes parish priest (at end on my right) and some of the priests on the teaching staff. May God bless them all. 
Fiz uma feliz visita hoje à St Michael's School, em Burghclere. Aqui, estou com o pe. John Brucciani diretor (à minha esquerda), pe. Robert (à minha direita), o padre da paróquia pe. Bruce Barnes (no final, à minha direita), e alguns dos padres da equipe de professores. Que Deus abençoe todos eles. (Tradução livre nossa). 

(*) Os comentários são interessantes, para quem quiser ler. 

Antes da visita, os pais dos alunos da Neofrat receberam uma cartinha avisando que, no dia 8 de março passado, a escola receberia a visita do "nosso bispos diocesano", Philip Egan, bispo de Portsmouth... "Nosso bispo", já estão em "plena comunhão", 🙄 pelo visto...   

sexta-feira, 15 de março de 2019

ESCLARECIMENTO DO REV. PE. FERNANDO ALTAMIRA

Numa vã tentativa de buscar um protagonismo na História da Igreja, está havendo, atualmente, em ambientes sedevacantistas, uma onda de ataques à figura do Venerável Monsenhor Marcel Lefebvre, numa nefasta tentativa de desmerecer todo o serviço que ele prestou à Igreja Católica. Estamos ainda trabalhando na transcrição de um dos sermões do Padre Cardozo que fala justamente sobre os ataques a Monsenhor Lefebvre feitos pela internet por um desses sedevacantistas. Como filho espiritual de Monsenhor Lefebvre, Padre Cardozo deixou bem claro que, no ambiente das Missões Cristo Rei, não será tolerado este comportamento desrespeitoso com Monsenhor Lefebvre. A pedido do Padre Cardozo, que adere a esta declaração do Padre Altamira e a faz dele, segundo suas próprias palavras, traduzimos este texto que nos foi enviado pelos fiéis da Capela São Pio X de Bogotá, Colômbia:



ESCLARECIMENTO DO PADRE FERNANDO ALTAMIRA

(traduzido por Carla d’Amore)



Como geralmente não presto muita atenção às coisas da internet, alguns fiéis me falaram sobre publicações em diferentes sites, as quais podem causar confusão. Por isso, queria esclarecer alguns pontos, de maneira semelhante ao que um sacerdote amigo já fez, nos referimos ao Padre Ramiro Ribas. Minhas palavras são as seguintes: 

1) Os sermões que alguém faz como sacerdote são públicos, e, ademais, são enviados semanalmente para várias centenas de pessoas. Se diferentes pessoas, no “mundo” da internet, têm conhecimento desses sermões e os publicam, isso – é evidente – não significa que o autor deles concorde com tudo o que é publicado nesses diferentes sites (dos quais, muitas vezes, o sacerdote nem toma conhecimento). 

2) Aderimos e desejamos aderir, com todo nosso intelecto e toda nossa vontade e coração, à única religião verdadeira, a Religião Católica, Apostólica e Romana, e queremos para nós, e para todos os que seja possível, o nascer, viver e morrer no nosso amado Catolicismo. 

3) Sobre a figura de Monsenhor Marcel Lefebvre: 

a. Mons. Lefebvre lutou contra a nova (e falsa) Religião do Homem, ou Religião Moderna e Modernista, antecipação e talvez realização da Religião do Falso Profeta e do Anticristo, religião humanista criada pelo Concílio Vaticano II, através da falsificação e adulteração de nossa Santa Religião Católica; como bem dizia Mons. Lefebvre, sobre esta falsa religião: “eles criaram outra coisa que não é a Igreja Católica”. 

b. Devo a Mons. Lefebvre o fato de possuir o sacerdócio católico, ele foi o instrumento; vai aqui o meu imenso agradecimento. 

c. Se hoje em dia eu, como sacerdote, luto ou tento lutar contra a acima mencionada falsa religião, e manter e cuidar a Fé Católica em toda a sua pureza, devo isso também a Monsenhor Lefebvre, e estou muito agradecido por todos os bens que me chegaram através dele; exclamo e desejo exclamar estas coisas com afeto de piedade filial. 

d. Mas se alguém objetar que [ele] teve erros e que não viu todas as coisas, respondo muito filialmente, de maneira semelhante ao Padre acima mencionado [Pe. Ribas]: claro que pôde ter havido erros e não ter visto todas as coisas que esta crise apocalíptica e terrível envolve, mas não é o mesmo a nossa realidade e visão, mais de 50 anos após o mencionado conciliábulo (CVII) e sua criação falsificada, e aquilo que ele viveu (a passagem e transformação de uma estrutura que era da verdadeira Igreja Católica, a estar “ocupada” - esta estrutura - pela falsa Religião do Homem, ut supra); ele tinha a coisa em sua imediata realização e traspasso (e algo ou muito de dissimulação com que o fizeram); e, além disso, ele estava a lutar contra o mundo inteiro e sua imprensa, e contra essa nova falsa religião e todos os chefes dela. 

e. Por isso, creio que não é honesto criticar, denegrir e atirar ao chão a figura de Monsenhor Lefebvre, senão que ela deve ser defendida. 

4) Esta falsa e nova religião criada com o Concílio Vaticano II, que não é a Igreja Católica” (Mons. Lefebvre), tem seus “chefes próprios”, que, por isso mesmo, não são os chefes ou autoridades do Catolicismo, mas os hierarcas de outra religião diferente da Igreja Católica.  

5) Por outro lado, o atual chefe da Religião Moderna e Modernista, Francisco, mostra, mais evidentemente ainda, o que acabamos de dizer, pois tem total desfaçatez ao dizer e fazer “suas coisas”: 

a. Sem adentrar, neste texto, a fazer uma análise profunda de todas as suas expressões e as heresias (“creio em Deus, não em um Deus Católico, não existe um Deus Católico” etc. etc.), trago à colação uma das últimas e das mais recentes, na qual ele disse, de forma evidente, UMA HERESIA contra a Santíssima Virgem, contra a Imaculada Conceição, e, portanto, contra o Dogma Católico (21 de dezembro de 2018; palavras dirigidas em Roma aos funcionários do Vaticano): “La Madonna e San Giuseppe  sono pieni di gioia… Sono 'straripanti' di santità e quindi di gioia. E voi mi direte: per forza! Sono la Madonna e San Giuseppe! Sì, ma non pensiamo che per loro sia stato facile: santi non si nasce, si diventa, e questo vale anche per loro”: “A Virgem Maria e São José estão cheios de alegria ... Eles estão 'transbordando' de santidade e, portanto, de alegria. E vocês me dirão: mas é claro! Eles são a Virgem Maria e São José! Sim, mas não pensemos que para eles foi fácil: santos não se nasce, torna-se, e isso vale para eles também”; ou seja, para este herege de Francisco, a Virgem não foi sempre santa, mas foi primeiro pecadora e se tornou santa (quando ele disse “isto se aplica a eles também”) (nota: e nem entramos no que disse nos Emirados Árabes). 

b. Diante do que dito anteriormente, trazemos à colação o que ensinam grandíssimos teólogos (nos primeiros Séculos, na Idade Média, e em parte da Idade Moderna, em forma comum), e o trazemos na figura de alguns santos: 

- Santo Afonso Maria de Ligório, que, além de santo é doutor da Igreja: “Se alguma vez um Papa, como pessoa privada, caísse em heresia, imediatamente ele cairia do Pontificado” (“Oeuvres Complètes”, 9:232).  

- São Roberto Belarmino, também doutor da Igreja: “Um Papa que seja um herege manifesto automaticamente deixa de ser Papa e cabeça (...) Este é o ensinamento de todos os Padres antigos, os quais ensinam que os hereges manifestos imediatamente perdem toda jurisdição” (“De Romano Pontífice”, II.30).  

- Santo Antonino de Florença: “No caso em que o Papa se tornasse um herege, ele se encontraria, por este único fato e sem nenhuma outra sentença, separado da Igreja [Católica] (...) Um Papa que foi separado da Igreja por heresias por isso mesmo deixaria de ser a cabeça da Igreja, por este único e puro fato”. Poder-se-ia citar, falando nesse mesmo sentido: o Papa Paulo IV e sua célebre Bula “Cum ex apostolatus officio”, o Papa Inocêncio III e muitíssimo outros. Cada um tire suas conclusões. 

6) Outro ponto a se aclarar: Eu não estou na tese do conclavismo.  

7) Minha intenção, como sacerdote católico, é ajudar todas as pessoas, todas as almas de boa vontade, muitas das quais vagam enganadas em sua boa-fé, confundidas e traídas pela falsa Igreja Moderna, ovelhas sem pastor, às quais devemos ajudar e fazer o bem. 

8) Que Deus e a Santíssima Virgem Maria me ajudem e me valham com Sua graça e proteção para tudo o que nos cabe viver. 

Saúdo a todos, em Maria Santíssima. Padre F. Altamira (Bogotá, quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019). 

segunda-feira, 11 de março de 2019

Novos Bispos para a Neofrat - Mas acordo não existe!

AVISO AOS NAVEGANTES: 
#LeiaQuemQuiser #NinguémÉObrigado 
(para os mentecaptos apenas! )


NOVOS BISPOS PARA A NEOFRAT 

Mas sem acordo, abiguinhos! 


Ingenuidade é fofa nas crianças! 
Nos adultos, é RIDÍCULA!

Tem sido divulgado em vários sites/blogues pelo mundo afora que D. Williamson ouviu dizer que a Neofrat, em 28 de abril próximo, vai sagrar mais dois bispos com as bençãos bergoglianas (ou "mandato papal"). Mas acordo não ecziste!  


Fala disso de  7'5" até 10'55"
Está em inglês

Bom. Primeiro, é de se perguntar de onde o Bispo de Kent tira essas informações? De alguma vidente à la Valtorta? Ou de alguma fonte neofratiana?... Eu apostaria nesta segunda opção. Que há ligação entre ele e a Neofrat é algo que nos faz pensar há algum tempo, como já nos referimos aqui ("Sobre 'P' e 'M'..."). O que se diz por aí é que, apesar de todas as tonterias, heresias e excentricidades de DW, não é dado a fazer anúncios que carecem de credibilidade.  

Enfim...  O tempo é o senhor da razão. Veremos. Até agora, tudo que foi denunciado aconteceu, em algum momento. A única coisa que não aparece é a foto/vídeo do momento da assinatura/firma, por óbvias razões. Desenho para os mentecaptos: acordos podem ser verbais. Mas basta olhar para a Neofrat hoje e ver que não é a mesma de uma década atrás!!!  

Bom, "mitra como recompensa" nem é uma novidade, se é que me entendem! 

quarta-feira, 6 de março de 2019

Reações...

Aproveitando o início da Quaresma, quero tratar de algo em que medito há algum tempo.  #LeiaQuemQuiser #NinguémÉObrigado  




REAÇÕES


É curioso como alguns reagem às histórias que visam enaltecer alguma virtude, algum fato.  

A mais conhecida que me vem à mente é a Parábola do filho pródigo. A maioria das pessoas se reconhece nesta triste e miserável figura do filho pródigo que dissipa sua parte na herança curtindo a vida adoidado, e que, ao encarar a realidade dos fatos, o que tinha antes e o que tinha (ou não tinha) naquele momento, se arrepende do que fez e busca o perdão do pai. Há quem olhe para ele e se sinta representado porque se reconhece miserável e perdido, só, faminto e humilhado, podendo usufruir dos bens paternos e sendo obrigado a cuidar de porcos, os quais, diga-se, eram bem melhor alimentados do que ele... São todas metáforas que representam a vida de pecado que se leva longe do Pai.  

A maioria das pessoas se reconhece neste filho caçula dissipador das graças divinas. Mas, curiosamente, há quem se reconheça na figura do filho maior, daquele que sempre obedeceu ao pai e não lhe deu desgostos, o aparentemente servo fiel, mas que rumina em seu coração: "Como é possível que meu pai receba de volta esse ingrato que só lhe deu desgosto? E, ainda por cima, o recebe com festa!!! E lhe devolve a herança... E eu, que sempre estive aqui, sempre o servi, sempre o obedeci, para mim nunca fez um festa dessas!". Há pessoas que se reconhecem nele e se solidarizam com ele, nesta "injustiça" que supostamente lhe é feita. Na verdade, se solidarizam com consigo mesmos. Gritam à injustiça! Suas bocas falam do que seus corações estão cheios: ciúmes e/ou inveja

Os irmãos da parábola são duas figuras titânicas, nas quais cada um se espelha perfeitamente. Uns, os pecadores contritos e humilhados, que buscam o pai sem esperanças, mas cheios de sincero arrependimento pela dor causada, se espelham no caçula. Outros são os invejosos, os ciumentos

Sim, o irmão mais velho, o impoluto, o servo fiel, o pavão inflado, tem inveja/ciúmes do irmão perdoado. Não concebe a bondade paterna porque não sabe amar, por ter o coração cheio de rancor e de soberba. Será mesmo que quando fazia seu dever era para agradar ao pai?... ou não terá sido para obter favores? Será mesmo que quando o obedecia em tudo e só lhe dava alegrias era por amá-lo?... ou não terá sido porque guardava em si segundas intenções? Só Deus conhece o coração humano. Cada um de nós deveria pelo menos conhecer o próprio coração. 

Tem outra historinha que ilustra bem o espelho das almas. Perdoem porque não recordo detalhadamente a história, a ouvi há tanto tempo de um bom Padre, e me ficou isto: 

Havia um mosteiro de eremitas que viviam em grutas e se reuniam apenas em determinadas ocasiões. Havia entre eles um monge humilíssimo, que quase nada tinha de seu em sua paupérrima gruta: um pouco de palha seca onde encostava seu velho corpo cansado e mortificado por penitências e disciplinas e uma pedra para encostar a cabeça para dormir, um caneco velho com um gole d'água do riacho, alguns poucos livros de oração e meditação e... um tapetinho, sabe?, daqueles persas, ricamente bordado, antigo, meio desbotado, mas que, apesar disso, ainda guardava sua original estonteante beleza. Dava para ver que não era um tapete barato comprado na feira. Vamos chamar este monge de "João". Certo dia, outro monge, vamos chamá-lo de "Monge", procurou o superior para se queixar, pois achava inconveniente que um eremita ostentasse um tapete tão rico! Como poderia ser desprendido, humilde e virtuoso com tanto luxo na gruta dele?! E, ademais, o tapete poderia ter sido vendido há tanto tempo, quando ainda era novo e bonito, para benefício de todos. Claro, Monge fez questão de precisar que não se queixava das necessidades que passava (imagina se se queixasse!), mas visava o bem comum, e depois a caridade começa em casa, blá blá blá... O superior, pacientemente, ouviu tudo e resolveu contar a Monge, embora não fosse da conta dele, a gloriosa e extraordinária vida de João, um nobre e riquíssimo cavalheiro que vivia em um luxo que para o pobre Monge era inimaginável, cercado de serviçais e de confortos que só se podem sonhar. Não era má pessoa, mas era um "espírito livre", vivia longe de Deus e da Igreja, a qual benevolentemente até ajudava com certa caridade. Era feliz assim, e assim viveu um certo tempo até que deu de cara com a Cruz, ou melhor, com o Crucificado! Arrependido, resolveu segui-lO e tudo abandonou. Levou consigo apenas aquele tapetinho, não por ostentação, mas para se lembrar de tudo o que poderia ter perdido se continuasse naquela vida, naquele caminho: o Céu! O tapetinho era um açoite perpétuo, um lembrete para ele nunca mais pecar contra Deus. Era o espinho na carne que melhor e mais lhe causaria dor, porque foi por amor ao que é terreno que ele deixara de lado, por tanto tempo, por muito tempo, o que é celestial. E que, pior, muito pior!, poderia ter morrido assim!!! Monge ouviu tudo e nada disse, foi embora calado, mas em seu coração repetia: "não é justo! Eu deixei tudo!"... 

Caros amigos, é a voz da inveja/ciúme que ouvis reverberar na boca desta pobre alma. E o curioso é como a palavra "justiça" nasce facilmente em tais bocas. E com que temeridade! Só um ciumento, um invejoso não compreende o "tapetinho". Seja pelo que representa (lembrete dos pecados da vida passada para nunca mais pecar) seja pelo que vale (deixou TUDO tendo MIL VEZES MAIS que Monge. É fácil deixar o pouco que se tem, descer um ou dois degraus. Aquilatem o que é descer 50 andares de escadas! Descer das glórias de uma vida de luxo para viver da caridade alheia. Conseguem?). 

As duas histórias têm em comum as mesmas virtudes e os mesmos vícios. E as mesmas reações de quem as ouve ou lê. Lembrem-se, "o hábito não faz o monge", é sua vida espiritual interior que faz. O hábito só cobre o corpo por pudor e o distingue dos demais. 

Sem vida espiritual INTERIOR não há progresso na santificação, na conversão, que só será plena naquele dia em que fecharemos pela última vez os nossos olhos nesta vida para abri-los na outra, a eterna, Deus mediante! 

Sem vida espiritual INTERIOR, não há avanço no exercício das virtudes ou da piedade. Arrastam-se as saias, desgranam-se os rosários e... nada muda. Sepulcros caiados e nada mais. 

Alguns se aprofundam nos estudos temerariamente, sem cultivar uma vida espiritual INTERIOR, e, cheios de soberba e orgulho, não percebem que apenas sabem um pouquinho mais que os outros, mas, no fim e ao cabo, nada mais é do que vaidade. Estes "espíritos livres", se por ventura têm um diretor espiritual, dificilmente o consultam, e se o consultam dificilmente lhe obedecem. Sempre sabem mais do que ele... Sepulcros caiados e nada mais.  

Porque usei ciúme/inveja? Porque usar dois termos que parecem sinônimos? Porque não são. Há o ciúme e há a inveja. Nenhum dos dois é uma virtude. As pessoas têm essa ideia equivocada de que o invejoso deseja ter o que o outro tem - esse é o ciumento - podendo ou não tê-lo, tendo ou não as mesmas capacidades. O invejoso simplesmente odeia o outro e deseja a sua morte. Caim foi invejoso. Ele não queria nada do que Abel possuía. Ele queria a morte de Abel. Acho que já falei disto aqui no Pale Ideas, então não vou me delongar. Apenas cuidado ao usarem esses termos. Pois bem, eu usei os dois termos porque alguém que se espelha no filho mais velho ou em Monge se espelha ou porque é ciumento ou porque é invejoso. Ou quer ter o que o outro tem ou quer vê-lo morto. Ou os dois. Cada qual escolha sua arma... 

Para encerrar, voltando à parábola do filho pródigo e dessas duas figuras antagônicas... ainda bem que ninguém se reconhece no pai! Já imaginou o tamanho desse ego?!?    

No mais, como diz o Presidente do Brasil: boa sorte em seus caminhos, sucesso e um forte abraço!

Fiquem com Deus!

Giulia d'Amore  

Leitores