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quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Conclavismo. Conceito, história e personagens

De tempos em tempos, surge ou ressurge uma modinha para convulsionar a Tradição, no Brasil e no mundo. Talvez por tédio ou por falta de uma vida espiritual aprofundada e séria. A coqueluche da vez é o conclavismo, em sua terceira tentativa de emplacar, depois de dois retumbantes fracassos. Infelizmente, essas modinhas acabam por atrair um sem-número de adeptos entre pseudo-eruditos, ignorantes/ingênuos e oportunistas. Por causa disso, vi a necessidade de falar a respeito para esclarecimento das pessoas de boa fé e sensatas. O que me move, precipuamente, é o envolvimento indevido e calunioso do nome do Reverendo Padre Ernesto Cardozo, diretor espiritual das Missões Cristo Rei, nesse imbróglio. Deixando BEM CLARO que o Reverendo Padre não é e nem seria conclavista, considero AVISADOS os caluniadores, e, em particular, a famosa senhora Regiane, que levianamente espalhou esse falso, e, intimada extrajudicialmente a se retratar, não o fez. Aguarde! Os atos têm consequências. Os prints são para sempre...

Este texto é um resumo que fiz de um artigo (a referência está no final) que encontrei na internet enquanto pesquisava a linhagem “episcopal” de um tal Merardo Loya. O artigo é sobre Juan José Squetino Schattenhofer, mas trata muito clara e serenamente da questão do conclavismo, sua história e os patéticos personagens. 

Em meu modesto parecer, o conclavismo, se não é uma heresia, tem cheiro de heresia. E, observando o panorama dos “papáveis”, me parece que sobressai mais o interesse pessoal que qualquer outra coisa. Sentar no Trono de Pedro é uma tentação gigantesca, maior do que almejar uma mitra que não merece. Então, acautelai-vos católicos de boa-fé e sensatos; e os demais também, porque está em risco a vossa alma!





Conclavismo. Conceito, história e personagens 



O que é o conclavismo? 


É um movimento surgido dentro do Sedevacantismo, pretendendo solucionar, de uma maneira democrática e humana — e subvertendo a ordem estabelecida por Deus para o governo da Igreja — o problema da Sé vacante, uma das consequências da crise da Igreja. Esse movimento é composto por pessoas que pretendem ter a autoridade, o direito e até mesmo a obrigação de se reunir e eleger um novo papa. Infelizmente, não se trata de um movimento único e homogêneo, mas se podem distinguir até três correntes diferentes, no tempo e nos personagens: fórmula indefectível para o fracasso e clara evidência de que não vem de Deus, porque em Deus tudo é ordem.

Na realidade, “não se trata de uma posição teológica”, em que pese os atores desta pantomima se esforçarem para solidificar esta ideia; seria mais “um sistema teológico no qual várias hipóteses pareceriam coincidir em um mesmo ponto: diante da vacância da Sé, é necessário supri-la através de um concílio imperfeito”... Obviamente, abusam de estratagemas lógicos e ilógicos, misturando verdades e mentiras para alcançar o que almejam: o Trono de Pedro. Contudo, não levam em conta o fator sobrenatural na questão da crise da Igreja. É como se acreditassem que Deus dorme ou se distraiu, e não percebe o que está acontecendo no mundo; e eles, os predestinados, tiveram a brilhante ideia de fazer este favor a Deus! 


História e personagens


Essa modinha não é nova, é um revival. Estamos na terceira geração de conclavistas. Vamos a um pouco de contexto histórico. 


A primeira geração

Este movimento surgiu durante o Concílio Vaticano II, por obra e graça destes personagens: Padre Joaquín Sáenz y Arriaga, Padre Georges De Nantes, Carlos Cuesta Gallardo, Eberhard Heller e Kurt Hiller, entre os principais. A ideia era formalizar uma acusação contra Montini (ou Paulo VI) por heresia (o que foi realmente feito pelo De Nantes) e imediatamente um bispo com jurisdição ordinária, na qualidade de irmão no episcopado do Pontífice, o deporia publicamente, anunciaria a vacância da Sé e convocaria um “concílio imperfeito” (e não “conclave”, como querem eles; esta situação guarda mais similitude com o Concílio de Constança), no qual se derrogaria o Vaticano II e todas as suas reformas e se elegeria o novo Papa. Até haviam escolhido o “Campeão” deles: o Arcebispo Marcel Lefebvre, com o apoio e o aval  ainda do Arcebispo Geraldo de Proença Sigaud, Arrigo Pintonello, os Bispos José Maurício da Rocha, Luigi Maria Carli, Antônio de Castro Mayer, e os Cardeais Giuseppe Siri, Alfredo Ottaviani, Antonio Bacci. Obviamente, Mons. Lefebvre rechaçou essa ideia estapafúrdia quando foi indagado a respeito por vários conclavistas em Kansas, Estados Unidos.  

E a essa aventura findou, não sem antes fazer brotar o primeiro antipapa dos tempos modernosGino Frediani, que se autoproclamou papa com o nome de Emmanuel I, e "reinou" de 1973 a 1984 na Itália. 


A segunda geração

Com o fracasso do primeiro conclavismo, surgiu um segundo, impulsionado por seculares: David Bawden (futuro Antipapa Miguel), Teresa Stanfill Benns (sic), Araí Daniele e Homero Johas. Teriam sido inspirados pelo protagonismo dos leigos do Vaticano II? Perguntar não ofende... 

Enfim, servindo-se dos mesmos teólogos do fracasso anterior, propunham que a eleição de um novo Papa era “um dever gravíssimo e necessário para a sobrevivência da Igreja”, contestando até as constituições apostólicas acerca da eleição de um Romano Pontífice. A reunião, segundo essa “elite pensante” (ironic mood), podia ser realizada por uma parte da Igreja; clérigos ou não, era suficiente que fossem “fiéis católicos” (Cœtus fidelium): um conclave de leigos, bem ao gosto da Teologia da Libertação... Realizado com ou sem a assistência de Bispos, Sacerdotes e outros que tais, o eleito assumiria imediatamente. O consentimento da Igreja... chegaria depois. Democracia e protagonismo leigo, puro e duro

Em 1990, a segunda geração conseguiu reunir o primeiro Concílio imperfeito, em Belvue, Kansas, e saiu eleito o senhor David Allen Bawden (1959-2022), que adotou o nome de Papa Miguel. O “conclave” reuniu seis pessoas, incluído ele mesmo e seus pais. Em 2011, foi ordenado sacerdote e consagrado bispo por Robert Biarnesen, um bispo da linhagem Duarte-Costa. Muito sério o negócio. 

Carlos Duarte Costa foi o fundador da Igreja Católica Brasileira  (ICAB) e já foi declarado São Carlos do Brasil por seus sequazes. Entre suas proezas: defendia o socialismo, o fim do celibato obrigatório para o clero e o divórcio; participou de armas em punho da Revolução Constitucionalista com o seu Batalhão do Bispo; e apoiava e patrocinava os "sem terra". Foi excomungado, enfim, pelo Papa Pio XII por alardear uma suposta Operação Odessa, que teria favorecido a fuga de oficiais nazistas. Após  fundar a ICAB, publicou o seu Manifesto à Nação, que se tornou o credo social e político de sua seita. No mesmo ano, 1945, fundou o Partido Socialista Cristão (que não tem relação com o atual PSC). Então, antes de seguir qualquer padre, religioso, guru ou coacher espiritual, investiguem a que linhagem pertence, porque uma árvore má só pode dar frutos maus. Foi Nosso Senhor Jesus Cristo quem o disse!!! 

No final dos anos 70 e nos anos 80 e 90 houve um estouro da boiada e surgiram diversos antipapas, inclusive vários Pedro II (um deles no Brasil). Em 1978, Clemente Domínguez y Gomez (codinome Padre Fernando de la Santa Faz), foi eleito papa com o nome de Gregório XVII, dando origem à Igreja Palmariana, que está em plena atividade, com o seu 4º Antipapa, eleito às pressas após o 3º ter fugido com a secretária e o dinheiro da seita.  

Em 1994, em Assis, foi eleito Victor von Pentz, que adotou o nome de Lino II. A identidade e a quantidade de eleitores nunca foram definitivamente confirmadas. Guardem este nome, pois ele é o atual papa oficial dos conclavistas Nutella. 

Também foi eleito um papa em Kalispell, Montana, Estados Unidos: o senhor Lucian Pulvermarcher (1918-2009), que adotou o nome de Pio XIII. Participaram dois leigos cardeais, os quais tempos depois impugnaram a eleição porque o “papa” estava a praticar a adivinhação com um pêndulo... O Antipapa Pio XIII os excomungou sem pestanejar!

Bom, o Miguel continua na ativa. Lino II sumiu do mapa; parece que estaria vivendo na Inglaterra, onde o conclavistas Juan José Squetino (falaremos logo dele) se reuniu com ele há algum tempo, antes de sua convocatória de um novo conclave. Pio XIII morreu demente, senil, sem fiéis e tendo excomungado seus “cardeais”... Infelizmente, a lista de “papas” não se resume só aos mencionados. Na internet pode se achar o elenco desses Antipapas conclavistas.


A terceira geração. O nosso tempo...

O conclavismo fracassou no passado, e foi porque, como dissemos, não é uma posição teológica, mas a junção de interesses com um objetivo em comum: o Trono de Pedro. Por não ter intenções puras, está fadado a fracassar ad aeternum. A Igreja pode estar em crise, mas as pessoas de bom senso não caem nessas esparrelas, em que se vê claramente que, acima do bem comum e da verdade, se trata apenas de oportunismo. Ou loucura. 

O primeiro conclavismo pelo menos contava com a existência de um clero romano verdadeiro e lícito, e bispos com jurisdição ordinária capazes de cumprir os requisitos dos canonistas renascentistas e dos séculos XVI e XVII para convocar o conclave. Mas não deu certo, como vimos. 

O segundo conclavismo nasceu do fracasso do primeiro e não passou de um ato de desesperação, que levou pessoas sem capacidade canônica, ordenadas em Igrejas cismáticas ou que acumularam diversas ordenações “sub conditione”, a impor “conclaves” como solução. 

Disso nasceu a terceira geração, que reúne a “fortaleza” (sic), mas também todos os erros e vícios das tentativas anteriores. O Pokémon deles evoluiu mal... Há quem chame de Squetinismo a esta geração de conclavismo, por ser Juan José Squetino seu representante mais fiel. Para eles, o conclave não é apenas possível, mas absolutamente necessário para a salvação das almas. Sic. É um dever da Igreja, dizem, prover-se de um Papa, mas não de qualquer maneira: o conclave deve ser convocado por um Bispo, e devem participar todos os Bispos possíveis. Quanto mais melhor. Não importa que outros Bispos (válidos ou não) não reconheçam o conclave, o que importa é a opinião dos bispos conclavistas porque o conclavismo é a única posição católica válida (sic). Fora do conclavismo não há salvação. “Teje excomungado!”, vociferam eles e seus ascetas contra qualquer um que tente botar juízo naquelas cabeças ocas. Certamente, serei "excomungada" em breve, e poderei dizer, como Monsenhor Marcel Lefebvre: "não posso ser excluída de um lugar onde nunca estive".  

Neste conclavismo de nova geração, estão excluídos, a priori, os bispos modernistas, diferentemente de como ocorreu no “Conclave de Assis”. Só podem participar os conclavistas de carteirinha. Por supuesto!  

Assim, os bispos conclavistas fazem os novos ordenados JURAR que colaborarão, quando chegar a hora, com o conclave, da mesma forma que as missas “pro eligendo pontífice”. Para isso, estão ordenando padres e, especialmente, sagrando bispos a toque de caixa, pouco importando a qualidade dos clérigos que se juntem ao projeto deles. Número é tudo para eles. É a festa da uva para aqueles que tentam de toda forma ter casa, comida e roupa lavada para viver sem precisar verter o suor do próprio trabalho. Conheci alguns em minha caminhada na Tradição. 

O problema é que os conclavistas da terceira geração são desunidos. E só há um único Trono para três principais grupos. No primeiro, temos o Juan José Squetino e Merardo Loya. No segundo, o Julio Aonzo e o finado Gary Alarcón (1940-2021). No terceiro, Pablo De Rojas Sanchez-Franco e José Ramón González Cipitria (ou Sofronio, ou Frei Maximo), retratados na foto acima (precisei acrescentar uma mitra ao pobre do Cipritria porque não achei nenhuma foto dele fantasiado de bispo). Fato é que nenhum deles é Bispo católico válido. São farsantes. A própria desunião já é a assinatura do diabo dessa obra maligna. Tudo que vem de Deus é ordem, união e bem das almas. 

Esses três grupos se caracterizaram por ordenações a pessoas sem capacidade canônica e impõem o prévio reconhecimento de Lino II como “papa legítimo” (ideia certamente de Squetino); bem como uma doutrina esquisita sobre a jurisdição ordinária e a jurisdição eclesiástica (Aonzo e Alarcón), criando e definindo heresias sem autoridade jurisdicional; e, segundo o autor deste texto, uma má intenção e falta de honestidade intelectual (Rojas e Cipitria), demonstrando estarem mais preocupados com os interesses pessoais do que com a salvação das almas, o que é coisa bem diferente de um grupo de ignorantes de suposta boa-fé que querem organizar um conclave...


Conclusão

 
Como vimos, há bem três correntes conclavistas diferentes, no tempo e em seus militantes. Das três, apenas a primeira tinha possibilidade de triunfo ou, ao menos, de criar uma estrutura jurídica à qual, aos poucos, os católicos poderiam ter se somado. As outras duas são projetos natimortos. A desunião no terceiro conclavismo é tanta que está se falando de mais de um conclave. Dai temos que, se o primeiro conclavismo fracassou porque os clérigos válidos e legítimos se negaram a participar dessa aventura, e se o segundo fracassou porque sequer havia eleitores suficientes e válidos, o terceiro fracassará, indefectivelmente, por absoluta falta de sustentação doutrinal, quando não moral e intelectual em muito de seus adeptos, e pelas brigas que fomentam entre os tradicionalistas.


Importante mencionar

 
Embora não seja um dos "bispos" conclavistas, é necessário mencionar outro personagem que, em terras brasileiras, está promovendo e fomentando o conclavismo, enganando as almas: o senhor Christian Augusto Spinola Montandon, mais conhecido como Frei Tiago de São José, que tem colecionado excentricidades como a Terra plana, e, agora, se uniu à entourage do Julio Aonzo. Cuidado, católicos!!! Nem tudo que reluz é ouro. O hábito não faz o monge. 


Tiago auxiliando Aonzo na "sagração episcopal" do Cipitria.
Fonte da notícia

  

Tradução: Giulia d'Amore. 
       

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