Aproveitando o início da Quaresma, quero tratar de algo em que medito há algum tempo. #LeiaQuemQuiser #NinguémÉObrigado
É curioso como alguns reagem às histórias que visam enaltecer alguma virtude, algum fato.
A mais conhecida que me vem à mente é a Parábola do filho pródigo. A maioria das pessoas se reconhece nesta triste e miserável figura do filho pródigo que dissipa sua parte na herança curtindo a vida adoidado, e que, ao encarar a realidade dos fatos, o que tinha antes e o que tinha (ou não tinha) naquele momento, se arrepende do que fez e busca o perdão do pai. Há quem olhe para ele e se sinta representado porque se reconhece miserável e perdido, só, faminto e humilhado, podendo usufruir dos bens paternos e sendo obrigado a cuidar de porcos, os quais, diga-se, eram bem melhor alimentados do que ele... São todas metáforas que representam a vida de pecado que se leva longe do Pai.
A maioria das pessoas se reconhece neste filho caçula dissipador das graças divinas. Mas, curiosamente, há quem se reconheça na figura do filho maior, daquele que sempre obedeceu ao pai e não lhe deu desgostos, o aparentemente servo fiel, mas que rumina em seu coração: "Como é possível que meu pai receba de volta esse ingrato que só lhe deu desgosto? E, ainda por cima, o recebe com festa!!! E lhe devolve a herança... E eu, que sempre estive aqui, sempre o servi, sempre o obedeci, para mim nunca fez um festa dessas!". Há pessoas que se reconhecem nele e se solidarizam com ele, nesta "injustiça" que supostamente lhe é feita. Na verdade, se solidarizam com consigo mesmos. Gritam à injustiça! Suas bocas falam do que seus corações estão cheios: ciúmes e/ou inveja.
Os irmãos da parábola são duas figuras titânicas, nas quais cada um se espelha perfeitamente. Uns, os pecadores contritos e humilhados, que buscam o pai sem esperanças, mas cheios de sincero arrependimento pela dor causada, se espelham no caçula. Outros são os invejosos, os ciumentos.
Sim, o irmão mais velho, o impoluto, o servo fiel, o pavão inflado, tem inveja/ciúmes do irmão perdoado. Não concebe a bondade paterna porque não sabe amar, por ter o coração cheio de rancor e de soberba. Será mesmo que quando fazia seu dever era para agradar ao pai?... ou não terá sido para obter favores? Será mesmo que quando o obedecia em tudo e só lhe dava alegrias era por amá-lo?... ou não terá sido porque guardava em si segundas intenções? Só Deus conhece o coração humano. Cada um de nós deveria pelo menos conhecer o próprio coração.
Tem outra historinha que ilustra bem o espelho das almas. Perdoem porque não recordo detalhadamente a história, a ouvi há tanto tempo de um bom Padre, e me ficou isto:
Havia um mosteiro de eremitas que viviam em grutas e se reuniam apenas em determinadas ocasiões. Havia entre eles um monge humilíssimo, que quase nada tinha de seu em sua paupérrima gruta: um pouco de palha seca onde encostava seu velho corpo cansado e mortificado por penitências e disciplinas e uma pedra para encostar a cabeça para dormir, um caneco velho com um gole d'água do riacho, alguns poucos livros de oração e meditação e... um tapetinho, sabe?, daqueles persas, ricamente bordado, antigo, meio desbotado, mas que, apesar disso, ainda guardava sua original estonteante beleza. Dava para ver que não era um tapete barato comprado na feira. Vamos chamar este monge de "João". Certo dia, outro monge, vamos chamá-lo de "Monge", procurou o superior para se queixar, pois achava inconveniente que um eremita ostentasse um tapete tão rico! Como poderia ser desprendido, humilde e virtuoso com tanto luxo na gruta dele?! E, ademais, o tapete poderia ter sido vendido há tanto tempo, quando ainda era novo e bonito, para benefício de todos. Claro, Monge fez questão de precisar que não se queixava das necessidades que passava (imagina se se queixasse!), mas visava o bem comum, e depois a caridade começa em casa, blá blá blá... O superior, pacientemente, ouviu tudo e resolveu contar a Monge, embora não fosse da conta dele, a gloriosa e extraordinária vida de João, um nobre e riquíssimo cavalheiro que vivia em um luxo que para o pobre Monge era inimaginável, cercado de serviçais e de confortos que só se podem sonhar. Não era má pessoa, mas era um "espírito livre", vivia longe de Deus e da Igreja, a qual benevolentemente até ajudava com certa caridade. Era feliz assim, e assim viveu um certo tempo até que deu de cara com a Cruz, ou melhor, com o Crucificado! Arrependido, resolveu segui-lO e tudo abandonou. Levou consigo apenas aquele tapetinho, não por ostentação, mas para se lembrar de tudo o que poderia ter perdido se continuasse naquela vida, naquele caminho: o Céu! O tapetinho era um açoite perpétuo, um lembrete para ele nunca mais pecar contra Deus. Era o espinho na carne que melhor e mais lhe causaria dor, porque foi por amor ao que é terreno que ele deixara de lado, por tanto tempo, por muito tempo, o que é celestial. E que, pior, muito pior!, poderia ter morrido assim!!! Monge ouviu tudo e nada disse, foi embora calado, mas em seu coração repetia: "não é justo! Eu deixei tudo!"...
Caros amigos, é a voz da inveja/ciúme que ouvis reverberar na boca desta pobre alma. E o curioso é como a palavra "justiça" nasce facilmente em tais bocas. E com que temeridade! Só um ciumento, um invejoso não compreende o "tapetinho". Seja pelo que representa (lembrete dos pecados da vida passada para nunca mais pecar) seja pelo que vale (deixou TUDO tendo MIL VEZES MAIS que Monge. É fácil deixar o pouco que se tem, descer um ou dois degraus. Aquilatem o que é descer 50 andares de escadas! Descer das glórias de uma vida de luxo para viver da caridade alheia. Conseguem?).
As duas histórias têm em comum as mesmas virtudes e os mesmos vícios. E as mesmas reações de quem as ouve ou lê. Lembrem-se, "o hábito não faz o monge", é sua vida espiritual interior que faz. O hábito só cobre o corpo por pudor e o distingue dos demais.
Sem vida espiritual INTERIOR não há progresso na santificação, na conversão, que só será plena naquele dia em que fecharemos pela última vez os nossos olhos nesta vida para abri-los na outra, a eterna, Deus mediante!
Sem vida espiritual INTERIOR, não há avanço no exercício das virtudes ou da piedade. Arrastam-se as saias, desgranam-se os rosários e... nada muda. Sepulcros caiados e nada mais.
Alguns se aprofundam nos estudos temerariamente, sem cultivar uma vida espiritual INTERIOR, e, cheios de soberba e orgulho, não percebem que apenas sabem um pouquinho mais que os outros, mas, no fim e ao cabo, nada mais é do que vaidade. Estes "espíritos livres", se por ventura têm um diretor espiritual, dificilmente o consultam, e se o consultam dificilmente lhe obedecem. Sempre sabem mais do que ele... Sepulcros caiados e nada mais.
Porque usei ciúme/inveja? Porque usar dois termos que parecem sinônimos? Porque não são. Há o ciúme e há a inveja. Nenhum dos dois é uma virtude. As pessoas têm essa ideia equivocada de que o invejoso deseja ter o que o outro tem - esse é o ciumento - podendo ou não tê-lo, tendo ou não as mesmas capacidades. O invejoso simplesmente odeia o outro e deseja a sua morte. Caim foi invejoso. Ele não queria nada do que Abel possuía. Ele queria a morte de Abel. Acho que já falei disto aqui no Pale Ideas, então não vou me delongar. Apenas cuidado ao usarem esses termos. Pois bem, eu usei os dois termos porque alguém que se espelha no filho mais velho ou em Monge se espelha ou porque é ciumento ou porque é invejoso. Ou quer ter o que o outro tem ou quer vê-lo morto. Ou os dois. Cada qual escolha sua arma...
Para encerrar, voltando à parábola do filho pródigo e dessas duas figuras antagônicas... ainda bem que ninguém se reconhece no pai! Já imaginou o tamanho desse ego?!?
No mais, como diz o Presidente do Brasil: boa sorte em seus caminhos, sucesso e um forte abraço!
Fiquem com Deus!
Giulia d'Amore
REAÇÕES
É curioso como alguns reagem às histórias que visam enaltecer alguma virtude, algum fato.
A mais conhecida que me vem à mente é a Parábola do filho pródigo. A maioria das pessoas se reconhece nesta triste e miserável figura do filho pródigo que dissipa sua parte na herança curtindo a vida adoidado, e que, ao encarar a realidade dos fatos, o que tinha antes e o que tinha (ou não tinha) naquele momento, se arrepende do que fez e busca o perdão do pai. Há quem olhe para ele e se sinta representado porque se reconhece miserável e perdido, só, faminto e humilhado, podendo usufruir dos bens paternos e sendo obrigado a cuidar de porcos, os quais, diga-se, eram bem melhor alimentados do que ele... São todas metáforas que representam a vida de pecado que se leva longe do Pai.
A maioria das pessoas se reconhece neste filho caçula dissipador das graças divinas. Mas, curiosamente, há quem se reconheça na figura do filho maior, daquele que sempre obedeceu ao pai e não lhe deu desgostos, o aparentemente servo fiel, mas que rumina em seu coração: "Como é possível que meu pai receba de volta esse ingrato que só lhe deu desgosto? E, ainda por cima, o recebe com festa!!! E lhe devolve a herança... E eu, que sempre estive aqui, sempre o servi, sempre o obedeci, para mim nunca fez um festa dessas!". Há pessoas que se reconhecem nele e se solidarizam com ele, nesta "injustiça" que supostamente lhe é feita. Na verdade, se solidarizam com consigo mesmos. Gritam à injustiça! Suas bocas falam do que seus corações estão cheios: ciúmes e/ou inveja.
Os irmãos da parábola são duas figuras titânicas, nas quais cada um se espelha perfeitamente. Uns, os pecadores contritos e humilhados, que buscam o pai sem esperanças, mas cheios de sincero arrependimento pela dor causada, se espelham no caçula. Outros são os invejosos, os ciumentos.
Sim, o irmão mais velho, o impoluto, o servo fiel, o pavão inflado, tem inveja/ciúmes do irmão perdoado. Não concebe a bondade paterna porque não sabe amar, por ter o coração cheio de rancor e de soberba. Será mesmo que quando fazia seu dever era para agradar ao pai?... ou não terá sido para obter favores? Será mesmo que quando o obedecia em tudo e só lhe dava alegrias era por amá-lo?... ou não terá sido porque guardava em si segundas intenções? Só Deus conhece o coração humano. Cada um de nós deveria pelo menos conhecer o próprio coração.
Tem outra historinha que ilustra bem o espelho das almas. Perdoem porque não recordo detalhadamente a história, a ouvi há tanto tempo de um bom Padre, e me ficou isto:
Havia um mosteiro de eremitas que viviam em grutas e se reuniam apenas em determinadas ocasiões. Havia entre eles um monge humilíssimo, que quase nada tinha de seu em sua paupérrima gruta: um pouco de palha seca onde encostava seu velho corpo cansado e mortificado por penitências e disciplinas e uma pedra para encostar a cabeça para dormir, um caneco velho com um gole d'água do riacho, alguns poucos livros de oração e meditação e... um tapetinho, sabe?, daqueles persas, ricamente bordado, antigo, meio desbotado, mas que, apesar disso, ainda guardava sua original estonteante beleza. Dava para ver que não era um tapete barato comprado na feira. Vamos chamar este monge de "João". Certo dia, outro monge, vamos chamá-lo de "Monge", procurou o superior para se queixar, pois achava inconveniente que um eremita ostentasse um tapete tão rico! Como poderia ser desprendido, humilde e virtuoso com tanto luxo na gruta dele?! E, ademais, o tapete poderia ter sido vendido há tanto tempo, quando ainda era novo e bonito, para benefício de todos. Claro, Monge fez questão de precisar que não se queixava das necessidades que passava (imagina se se queixasse!), mas visava o bem comum, e depois a caridade começa em casa, blá blá blá... O superior, pacientemente, ouviu tudo e resolveu contar a Monge, embora não fosse da conta dele, a gloriosa e extraordinária vida de João, um nobre e riquíssimo cavalheiro que vivia em um luxo que para o pobre Monge era inimaginável, cercado de serviçais e de confortos que só se podem sonhar. Não era má pessoa, mas era um "espírito livre", vivia longe de Deus e da Igreja, a qual benevolentemente até ajudava com certa caridade. Era feliz assim, e assim viveu um certo tempo até que deu de cara com a Cruz, ou melhor, com o Crucificado! Arrependido, resolveu segui-lO e tudo abandonou. Levou consigo apenas aquele tapetinho, não por ostentação, mas para se lembrar de tudo o que poderia ter perdido se continuasse naquela vida, naquele caminho: o Céu! O tapetinho era um açoite perpétuo, um lembrete para ele nunca mais pecar contra Deus. Era o espinho na carne que melhor e mais lhe causaria dor, porque foi por amor ao que é terreno que ele deixara de lado, por tanto tempo, por muito tempo, o que é celestial. E que, pior, muito pior!, poderia ter morrido assim!!! Monge ouviu tudo e nada disse, foi embora calado, mas em seu coração repetia: "não é justo! Eu deixei tudo!"...
Caros amigos, é a voz da inveja/ciúme que ouvis reverberar na boca desta pobre alma. E o curioso é como a palavra "justiça" nasce facilmente em tais bocas. E com que temeridade! Só um ciumento, um invejoso não compreende o "tapetinho". Seja pelo que representa (lembrete dos pecados da vida passada para nunca mais pecar) seja pelo que vale (deixou TUDO tendo MIL VEZES MAIS que Monge. É fácil deixar o pouco que se tem, descer um ou dois degraus. Aquilatem o que é descer 50 andares de escadas! Descer das glórias de uma vida de luxo para viver da caridade alheia. Conseguem?).
As duas histórias têm em comum as mesmas virtudes e os mesmos vícios. E as mesmas reações de quem as ouve ou lê. Lembrem-se, "o hábito não faz o monge", é sua vida espiritual interior que faz. O hábito só cobre o corpo por pudor e o distingue dos demais.
Sem vida espiritual INTERIOR não há progresso na santificação, na conversão, que só será plena naquele dia em que fecharemos pela última vez os nossos olhos nesta vida para abri-los na outra, a eterna, Deus mediante!
Sem vida espiritual INTERIOR, não há avanço no exercício das virtudes ou da piedade. Arrastam-se as saias, desgranam-se os rosários e... nada muda. Sepulcros caiados e nada mais.
Alguns se aprofundam nos estudos temerariamente, sem cultivar uma vida espiritual INTERIOR, e, cheios de soberba e orgulho, não percebem que apenas sabem um pouquinho mais que os outros, mas, no fim e ao cabo, nada mais é do que vaidade. Estes "espíritos livres", se por ventura têm um diretor espiritual, dificilmente o consultam, e se o consultam dificilmente lhe obedecem. Sempre sabem mais do que ele... Sepulcros caiados e nada mais.
Porque usei ciúme/inveja? Porque usar dois termos que parecem sinônimos? Porque não são. Há o ciúme e há a inveja. Nenhum dos dois é uma virtude. As pessoas têm essa ideia equivocada de que o invejoso deseja ter o que o outro tem - esse é o ciumento - podendo ou não tê-lo, tendo ou não as mesmas capacidades. O invejoso simplesmente odeia o outro e deseja a sua morte. Caim foi invejoso. Ele não queria nada do que Abel possuía. Ele queria a morte de Abel. Acho que já falei disto aqui no Pale Ideas, então não vou me delongar. Apenas cuidado ao usarem esses termos. Pois bem, eu usei os dois termos porque alguém que se espelha no filho mais velho ou em Monge se espelha ou porque é ciumento ou porque é invejoso. Ou quer ter o que o outro tem ou quer vê-lo morto. Ou os dois. Cada qual escolha sua arma...
Para encerrar, voltando à parábola do filho pródigo e dessas duas figuras antagônicas... ainda bem que ninguém se reconhece no pai! Já imaginou o tamanho desse ego?!?
No mais, como diz o Presidente do Brasil: boa sorte em seus caminhos, sucesso e um forte abraço!
Fiquem com Deus!
Giulia d'Amore
Belíssima reflexão! Grata pela partilha. Que Deus continue a iluminar o seu espírito!
ResponderExcluirAgradeço, sra. Cidália. Reze por nosso humilde apostolado. Viva Cristo Rei!
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