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domingo, 8 de dezembro de 2013

Entrevista com o mons. Bernard Fellay, Menzingen, novembro 2013.

OPERAÇÃO MEMÓRIA: para que os que dorme não digam que ele não disse o que disse. Do blog FratresInUnum

Bom, lida a entrevista, segundo a tradução recebida, o que dizer? 

Dom Fellay foi o primeiro a se lançar em congratulações quando Francisco/Bergoglio foi eleito papa-embora-ele-prefira-bipo-de-roma. Depois disso... silêncio sepulcral. Oito meses depois de inúmeras manifestações públicas de Bergoglio que beiram a heresia, dom Fellay se limita a dar uma declaração polida e redondinha. De asco! 

Por outro lado, é nítido o apego e o apreço por Bento XVI, com ecos de certa nostalgia. 

A ingenuidade antológica de Fellay é absimal!!! Qualquer menino de catequese de Primeira Comunhão na Tradição sabe perfeitamente que Bergoglio e Bento são farinha do mesmo saco, alunos do mesmo mestre, executores do mesmo plano. Haja paciência! 

Bergoglio só veio acelerar as coisas, porque alguém está cansado de tanto esperar! Talvez - e friso no talvez - Bento foi substituído justamente porque alguém temia que estivesse amolecendo o coração ou... se convertendo! Mas isso são suposições. O que temos como fato é que, durante longos meses, a equipe comandada por Bento XVI enrolou os emissários de Fellay que acreditavam piamente nas boas intenções de um acordo colóquio doutrinal que visaria restaurar a Igreja... E, para quem tenha esquecido, é bom lembrar que o Papa Bento XVI, embora tenha mudado de nome, é o mesmo Cardeal Joseph Ratzinger que dirigia uma equipe similar comandada por João Paulo II, com as mesmas e idênticas intenções, que foram denunciadas por Mons. Lefebvre: pegar a FSSPX em uma armadilha e arrastá-la para a igreja conciliar!!! Sim, porque "naquela" igreja nós nunca estivemos, embora Fellay estivesse pronto a correr prá lá se Bento o chamasse!!! Surreal, não?


  1. As declarações que cheiram a heresia são tidas por Fellay como "quase contradição" e que apenas "irritaram" os católicos. 
  2. O combate ao herético porque modernista Vaticano II é para Fellay "iniciativas direcionadas a restabelecer de algum modo a situação com algumas correções". Algumas? 
  3. Para Fellay, Bergoglio é um homem de ação. Isso tem um cheiro de aprovação que causa enjoo. 
  4. Sobre ter chamado Bergoglio de "modernista" - Eu utilizei a palavra “modernista”; creio que não fui compreendido por todos. Talvez devesse ter dito “um modernista em suas ações”. Mais uma vez, [Francisco] não é um modernista no sentido absoluto, teórico, um homem que desenvolve todo um sistema coerente; não existe esta coerência - e sua "justificação"... onde está o sim, sim, não, não? Se ele mesmo afirma que Bergoglio quer por que quer implementar o Vaticano II de uma vez... e se o Vaticano II é a apoteose do Modernismo... como é possível desdizer que Bergoglio é um modernista??? Fellay tem sangue de barata. 
  5. Quando fala sobre a ambivalência tipicamente modernista de Bergoglio, chega até a citar Descartes,  mas logo volta atrás, deixando apenas um "isto cria um ambiente"... São Pio X diria a Fellay: Esto Vir!
  6. Absurdo o seu reconhecimento de uma encíclica (vide no fim) que estaria no Index, se ainda houvesse um! Limita-se apenas a dizer que ela só não basta. Certamente, junto com a exortação apostólica (vide no fim) de dezembro acabem se completando, não é?!?! Aliás, a esse respeito, Fellay até hoje, pelo que veio a público, não disse absolutamente nada! Ainda sobre a encíclica, o DICI, órgão de comunicação de Menzingen, limitou-se a descrever o que ela continha, sem críticas.
  7. "Em outras palavras, nós estamos um pouco surpresos com o que está acontecendo. Estou falando aqui da história da Igreja". Surpreso, excelência? Com o que, exatamente? Aquele menino de catequese de Primeira Comunhão de que falei... não está! Essa sua ingenuidade é de matar! 
  8. Chega a ser cômico quando começa a falar do Anticristo e a vaticinar sobre quem ele seria... 
  9. "Portanto, é por isso que sou profundamente grato ao Papa Bento XVI por haver restabelecido a Missa". 1) Bento XVI não restabeleceu nada, porque a Missa nunca foi proibida. Aquele menino da catequese de Primeira Comunhão sabe disso perfeitamente! 2) essa gratidão cheira a uma subserviência que não tem nada de virtuoso. 3) Esse "Bento XVI" é o mesmo que não retirou as excomunhões do Venerável Fundador Mons. Lefebvre e de Mons. de Castro Mayer. Me parece meio hipócrita isso. Tudo bem que as excomunhões de João Paulo II valiam tanto quanto valeriam as excomunhões do Dalai Lama, mas o problema aqui é outro. Não sei se é ingenuidade, estupidez ou caso pensado!!! 
  10. "Porém não é uma questão de provocar antagonismos, mas uma questão de unir o que se supõe que deve estar unido". Antagonismos? Entre que termos? Não certamente entre "sacerdote" e "missa" que menciona a seguir e pode levar a engano. Antagonismo aqui é entre a Missa de sempre e a missa do Vaticano II, de que fala alguns parágrafos antes. Oras, dom Fellay: sim, sim, não, não!!!
  11. O que me incomodou sobremaneira, sobretudo nos parágrafos finais, foi um eco dos discursos sobre o amor bem ao gosto de Bergoglio. Sim, a fé sozinha não é nada se não houver a caridade, mas essa teologia da caridade, do amor que parece deixar de fora a justiça divina... é coisa de hippie, não de católico. O fato de usar os mesmos termos, até mesmo os mesmos versículos que a Bíblia contém, não faz, de per si, que algo seja católico. Não fazem o mesmo os protestantes? O discurso de Fellay - embora fale en passant de combate - é um discurso morno, em que o combate é substituído pelo amor ao próximo, como se um excluísse o outro! Como se não fosse por amor ao próximo que a Tradição resistente da Igreja brada que há uma Missa de sempre válida e uma missa protestantizada espúria, uma hierarquia comprometida com o erro doutrinário e um concílio que deve ser varrido da face da terra!!! O fundador da Fraternidade deixou um consistente e profícuo material - em escritos, vídeos e áudios - no qual ele denuncia isso tudo e muito mais e deixa claro que a FSSPX não veio a passeio neste mundo. 
  12. Por fim, quando Fellay fala do que um Papa deve ou não dizer... não pude, não consegui segurar um sorriso irônico e uma expressão de surpresa... De que púlpito vem esse sermão!!!

Antes de concluir, abro um parêntese para lembrar que até agora, Fellay também não se pronunciou sobre os fatos de Buenos Aires, a quixotada cheia de boas intenções que acabou por revelar uma entrevista do Superior do Distrito da América Latina, Pe. Bouchacourt, na qual ele teria afirmado que os Judeus não são deicídas. Traduzindo para quem não saiba: deicida é quem mata Deus. Uma afirmação terrível, diante da qual rasgaria minha barba (se a tivesse), vestiria sacos e me cobriria de cinzas!!! Oras, se eles não mataram Deus, então... Cristo não é Deus? Que Deus tenha piedade da alma desse pobre padre confuso e perdido no mar de confusão criado pelo seu Superior, o próprio dom Fellay, com sua empreitada na busca do reconhecimento por parte de uma seita modernista que ocupou os Templos Católicos e a própria Hierarquia da Igreja!!! Contudo, seu superior não disse nada. Nem mesmo em privado, porque pe. Bouchacourt não se retratou. 

Que Nossa Senhora da Imaculada Conceição possa trazer luz e verdade a esses corações sujos. E nos alivie dos sofrimentos que estão por vir. Ou nos dê forças e perseverança para nos mantermos fieis a Deus, na Santíssima Trindade, e principalmente a Cristo Nosso Senhor, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, que morreu na Cruz para nos salvar. 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!!!

Giulia d'Amore



* * *

Entrevista de Dom Bernard Fellay, superior da FSSPX, sobre o Papa Francisco


Traduzido do original francês por Carlos Wolkartt – Blog Renitência

Esta entrevista foi realizada em vídeo pelo site dici.org, no qual também está disponível a gravação em áudio. Apresentamos a seguir a transcrição completa, onde o estilo oral foi mantido.


A chegada de um novo Papa



A chegada de um novo Papa é como recomeçar a contar do zero. Especialmente com um Papa que se distingue de seus predecessores por sua forma de atuar, falar e intervir, com grande contraste. Isso pode fazer com que esqueçamos o pontificado anterior, e é basicamente isso que está acontecendo. Pelo menos em relação a certas linhas conservadoras ou reformistas marcadas pelo Papa Bento XVI. É certo que as primeiras intervenções do Papa causaram muita confusão e inclusive quase contradição, em todo caso, uma oposição em relação a essas linhas reformistas.

Um exemplo: os Franciscanos da Imaculada


Em sua espiritualidade, eles seguem as indicações do padre Maximiliano Kolbe. Isso é muito interessante porque Maximiliano Kolbe desejava um combate para a Imaculada, um combate pela Imaculada, a vitória de Deus sobre os inimigos de Deus – podemos realmente usar esse termo – isto é, contra os franco-maçons. Essa observação é muito interessante. O combate contra o mundo, contra o espírito do mundo, tornou-os próximos a nós, quase por natureza, pode-se dizer; porque para iniciar um combate contra o mundo, a Cruz deve estar envolvida em alguma parte. Isso implica os princípios eternos da Igreja: o chamado “espírito cristão”. Esse espírito cristão se manifesta magnificamente na antiga missa, na missa tridentina. Assim, quando Bento XVI publicou seu Motu Proprio, que deu mais espaço à missa [antiga], essa congregação decidiu em seu capítulo (isto é, toda a congregação) voltar à antiga missa de um modo geral, em plena consciência de que iam ter um monte de problemas devido às suas paróquias – mas, no entanto, esses problemas não eram insuperáveis.

Um ou outro [membro da congregação] também começou a plantear certas perguntas sobre o Concílio. Com isso, alguns infelizes (um pequeno número, tendo em conta que a congregação é composta por cerca de 300 padres e irmãos), aproximadamente uma dezena foi queixar-se com Roma, dizendo: “Estão querendo nos impor a antiga missa, estão atacando o Concílio”. Isso provocou uma reação muito forte por parte de Roma, já sob o pontificado de Bento XVI – é necessário que isto fique claro; no entanto as conclusões, as medidas disciplinares foram tomadas sob o pontificado de Francisco. Estas medidas incluem, entre outras, a proibição da celebração da missa antiga para todos os membros da congregação, com poucas exceções, algumas eventuais permissões, aqui e acolá... Isto é um atentado direto ao Motu Proprio, que falou de um direito que os sacerdotes têm de celebrar a missa antiga, e portanto não havia necessidade de permissões, nem do ordinário, nem mesmo da Santa Sé. Isso é muito importante; obviamente, isto é um sinal.

Uma nova abordagem da Igreja


“Estamos fechando o parêntese”. Este é o termo utilizado por vários progressistas após o advento do Papa Francisco. Creio que, em todo caso, para os que são chamados progressistas, era exatamente isso o que queriam. Em outras palavras, queriam pôr em esquecimento o pontificado de Bento XVI e as iniciativas direcionadas a restabelecer de algum modo a situação com algumas correções (podemos dizer “restauração”?); em todo caso, havia pelo menos um desejo de tirar a Igreja da catástrofe em que se encontra.

O novo Papa chega com diversas posições, atacando um pouco de tudo. Todo mundo sabe disto: Bento XVI foi esquecido! Seria bom poder dizer: “Mas não! Este é o mesmo combate; Bento e Francisco, o mesmo combate!”. Obviamente, a atitude não é a mesma em ambos [os pontificados]. A abordagem, a definição dos problemas que afetam a Igreja, não é a mesma! Essa ideia de introduzir reformas que são ainda mais amplas que tudo o que foi feito até agora... Em todo caso, não temos a impressão de que serão somente mudanças cosméticas, essas reformas do Papa Francisco!

Então, como isso afetará a Igreja? Isto é muito difícil de dizer.

Um clima de confusão


A chegada de um novo papa faz com que a gente se esqueça (de seu predecessor), como se recomeçássemos do zero, com um monte de surpresas, uma grande quantidade de erros – pois com suas palavras ele irritou a quase todo o mundo, não só a nós, mas a todos os conservadores em geral. Em questões morais, tomou posições surpreendentes; por exemplo, a pergunta sobre os homossexuais: “Quem sou eu para julgá-los?”. Bom, o Papa é o juiz supremo aqui embaixo! Portanto, se há alguém que pode julgá-los, esse alguém é ele! É ele quem deve julgar e estabelecer a lei de Deus no mundo. Não nos interessa o que o Papa pensa pessoalmente, o que esperamos dele é que seja a voz de Cristo e, portanto, a voz de Deus, que nos diga o que Deus disse! E Deus não disse: “Quem sou eu para julgar?”. Na realidade, Ele disse outra coisa: as condenações que encontramos nos escritos de São Paulo, não somente as do Antigo Testamento – podemos pensar em Sodoma e Gomorra – são muito explícitas. São Paulo e o Apocalipse são muito enérgicos em condenar esse mundo [de pecados] contra a natureza. Assim, expressões como essas, mesmo que tenham sido “recuperadas”, dão a impressão de que em muitos casos se diz o contrário de tudo o que foi dito. Isto cria um clima de confusão, as pessoas ficam desestabilizadas: esperam necessariamente mais clareza sobre a moral, e ainda mais sobre a fé, pois essas duas coisas estão intrinsecamente conectadas. A fé e a moral são dois pontos sobre os quais a Igreja ensina e onde a infalibilidade pode ser invocada, e de repente vemos um Papa fazer declarações confusas...

A situação vai mais além: em uma entrevista com os jesuítas, o Papa ataca aqueles que querem clareza. É incrível!... Ele não usa a palavra clareza; ele usa a palavra certeza, aqueles que querem a segurança doutrinal. É óbvio que queremos isso! Com as palavras do próprio Deus, Nosso Senhor, que diz que nem sequer um jota deve ser mudado [nota da tradução: o jota é a menor letra do alfabeto hebraico], é melhor ser preciso!

Um Papa menos crível


É difícil chegar a um juízo sobre suas palavras, porque pouco depois, quase ao mesmo tempo, encontramos outras palavras suas sobre a fé, sobre pontos de fé, sobre a moral, que são muito claras e condenam o pecado, o diabo; declarações que explicam com muita força e muito claramente que ninguém pode ir ao céu sem verdadeira contrição dos pecados, e que ninguém pode esperar a misericórdia do Bom Deus a menos que se arrependa verdadeiramente de seus pecados. Tudo isso são recordações das quais estamos muito contentes, recordações muito necessárias! Mas, infelizmente, já perderam grande parte de sua força devido às declarações contrárias.

Creio que uma das coisas mais lamentáveis sobre essas declarações é que elas tiram a credibilidade, tiram grande parte da credibilidade do Sumo Pontífice, de modo que quando for necessário falar de coisas importantes, agora ou no futuro, essas declarações se colocarão no mesmo nível das demais. Nós diremos: “Ele está tentando agradar a todo o mundo: um pouco para a esquerda, um pouco para a direita”. Espero estar equivocado, mas tenho a impressão de que esta será uma das características deste pontificado.

Quanto mais alta é a posição de autoridade à qual alguém se eleva, maior é o cuidado que se deve ter sobre o que se diz, e isto é especialmente válido para as palavras do Papa. Creio que ele fala demais. Consequentemente, suas palavras se tornam confusas, vulgares, talvez no sentido mais profundo do termo. Non decet: não é apropriado, e não é como um Papa deve atuar.

Já não se sabe o que é uma opinião pessoal e o que é a doutrina... As confusões são imediatas. “Mas quem fala é o Papa!”. Mas o Papa não é uma pessoa privada. É claro que ele pode falar como teólogo privado, mas de qualquer maneira é o Papa! E os jornais não vão dizer: “Isto é uma opinião particular do Papa”, mas “este é o Papa, é a voz da Igreja, que pensa desta maneira”.

O Papa, um homem de ação


Não sei se poderia ousar dizer que já posso fazer uma síntese. Vejo muitos elementos díspares, vejo um homem de ação – é a primazia da ação, sem dúvida; este não é um homem de doutrina. Um argentino me disse: “Vocês europeus terão muita dificuldade para entender sua personalidade, porque o Papa Francisco não é um homem de doutrina, é um homem de ação, de práxis. Ele é um homem muito pragmático, muito próximo à terra”. É visível em seus sermões que ele está perto da gente, e isso é talvez o que o faz muito popular, porque o que ele diz afeta a todos. Também irrita um pouco a todos, mas ele está muito próximo do chão. Não há muita teoria. Vemos isso claramente: trata-se de ação, pura e simples.

Isto é o que se vê. Mas, como isto afetará a Igreja? Quais serão as consequências para a vida da Igreja em seu conjunto? É simplesmente uma voz que clama no deserto, que não terá nenhum efeito em absoluto, ou pelo contrário, será uma parte da Igreja, a parte progressista, que se beneficiará dela? Pode-se dizer que eles gostariam muito de tirar vantagem disso.

O que é interessante, inclusive agora, nesta análise da situação da Igreja, é ver que das torpes palavras que são pronunciadas [pelo papa Francisco], alguns tiram certas conclusões e depois disso surge um “esclarecimento”, uma tentativa de restabelecer a doutrina. Já houve um ou dois esclarecimentos ou intervenções notáveis por parte do Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que reafirma, com toda clareza e firmeza, os pontos abalados pelo Papa. É como se o Prefeito da Fé tivesse que censurá-lo ou corrigi-lo... É um tanto embaraçoso! Finalmente os progressistas, em determinado instante, vão se decepcionar e dirão que não é o que esperavam. Enquanto isso, o Papa lhes dá uma esperança, uma falsa esperança...

Um Papa modernista?


Eu utilizei a palavra “modernista” [veja aqui]; creio que não fui compreendido por todos. Talvez devesse ter dito “um modernista em suas ações”. Mais uma vez, [Francisco] não é um modernista no sentido absoluto, teórico, um homem que desenvolve todo um sistema coerente; não existe esta coerência. Há linhas – por exemplo, a linha evolutiva – que estão precisamente relacionadas à ação. Quando o Papa diz que quer uma nebulosidade na doutrina, se introduz a dúvida, não só a nebulosidade, mas a dúvida, indo tão longe a ponto de dizer que até mesmo os grandes líderes da fé, como Moisés, deram margem a dúvidas... Só conheço uma dúvida em Moisés: quando duvidou em ferir a rocha! Por causa disso, o Bom Deus o castigou e ele não pôde entrar na Terra Prometida. Pois bem, não creio que esta dúvida seja em favor de Moisés, que em outros momentos era bastante contundente em suas afirmações... sem dar margem a dúvidas.

É realmente surpreendente esta ideia de que deve haver dúvidas sobre tudo. É muito bizarro! Não vou dizer que isto é uma reminiscência de Descartes, mas... isto cria um ambiente. E o que é atualmente perigoso é que se insista sobre isso nos jornais, nos meios de comunicação...

Ele é, de certa forma, o queridinho da mídia; é bem visto, é elogiado, é posto em destaque, mas não chega ao fundo da questão.

Uma situação imutável


Trata-se de um ambiente que passa próximo da situação real da Igreja, mas a situação em si não mudou. Temos passado de um pontificado a outro, e a situação da Igreja permanece a mesma. As linhas básicas continuam sendo as mesmas. Na superfície, há variações: pode-se dizer que se trata de variações sobre um tema muito conhecido! As afirmações básicas são feitas, por exemplo, sobre o Concílio. O Concílio é uma reinterpretação do Evangelho à luz da civilização contemporânea ou moderna – o papa usou ambos os termos.

Creio que deveríamos começar pedindo uma definição muito séria do que é a civilização contemporânea, moderna. Para nós e para os homens comuns, é simplesmente a rejeição de Deus, é a morte de Deus. É Nietzsche, é a Escola de Frankfurt, é uma rebelião quase generalizada contra Deus. Isto se vê em quase todas as partes. Vemos na União Europeia que em sua Constituição se nega em reconhecer suas raízes cristãs. Vemos em tudo que é propagado pela mídia, na literatura, na filosofia, na arte: tudo tende ao niilismo, à afirmação do homem sem Deus, e até mesmo em rebelião contra Deus.

Então, como podemos reler o Evangelho à luz dessa civilização moderna? Simplesmente não é possível, é um círculo quadrado! Estamos de acordo com a definição que acabamos de dar, e dela extraímos consequências que são radicalmente diferentes das do Papa Francisco, que vai tão longe a ponto de expor seu pensamento dizendo: “Olhem para os belos frutos, os maravilhosos frutos do Concílio: olhem a reforma litúrgica!”. Obviamente, isso nos causa um arrepio na espinha! Tendo em conta que a reforma litúrgica foi descrita por seu último predecessor como a causa da crise da Igreja, é difícil ver e entender como, de repente, deve ser qualificada como um dos melhores frutos do Concílio!

Certamente, isto é um fruto do Concílio, mas se este é um belo fruto, então o belo é bom ou mau? Ficamos perdidos!

Por enquanto, nada se faz para curar a Igreja


Até agora, nada foi feito para remediar a situação de desvio, de decadência da Igreja, absolutamente nada, nenhuma medida que afete toda a Igreja. Poderíamos falar da encíclica sobre a fé, mas eu não acho que podemos considerá-la como sendo uma medida eficaz. Certamente que não. Isso não afeta, não cura os enfermos do Corpo Místico, enfermos a ponto de morrer – a Igreja moribunda. O que estão fazendo para sair desta situação? Nada, até agora nada. São só palavras, palavras que entram por um ouvido e saem pelo outro. Alguém poderia dizer que estou sendo muito duro, não sei, mas na prática, onde estão sendo tomadas as medidas anunciadas para acabar com a confusão? Em lugar nenhum. Simples assim.

A Igreja, no entanto, tem as promessas da vida eterna


Nosso Senhor disse muito claramente: “as portas do inferno não prevalecerão contra Ela” (Mt. 16,18). Com base nestas palavras, gostaríamos de dizer a Nosso Senhor: “Mas, o que estais fazendo? Veja, vós estais deixando que as coisas aconteçam, que pareçam ir de encontro à vossa promessa!”. Em outras palavras, nós estamos um pouco surpresos com o que está acontecendo. Estou falando aqui da história da Igreja. Essas palavras [do Evangelho segundo Mateus] – estou convencido disso – foram para a maioria dos teólogos a fonte de declarações sobre a impossibilidade de ver na Igreja justamente o que estamos vendo agora. Consideramos que é absolutamente impossível, por causa da promessa de Nosso Senhor. Bom, então, não vamos negar as promessas de Nosso Senhor, vamos tratar de dizer como essas promessas, que são infalíveis, são no entanto possíveis em uma situação que pareça contrária a elas. Parece que, desta vez, as portas do inferno fizeram uma entrada de primeira classe na Igreja. Creio que devemos ter cuidado, não devemos equivocar-nos. Sobretudo com esses tipos de declarações, declarações proféticas de Nosso Senhor, é preciso manter o significado básico. Essas analogias são muito fortes, há uma realidade que se afirma aqui e que é inegável: as portas do inferno não prevalecerão. E isso é tudo. Mas isso não significa que a Igreja não vai sofrer. Bom, então, até que ponto pode ir este sofrimento? E aqui não há espaço para a interpretação: somos obrigados a ir um pouco mais além do que pensávamos.

Quando pensamos em São Paulo, que fala do Filho da perdição, que será adorado como Deus, vemos que não se trata de um anticristo militar ou, por assim dizer, civil; trata-se de uma pessoa religiosa, uma pessoa que será adorada, que afirma os atos da religião por si mesmo. E a “abominação da desolação” se encaixa nisto? Creio que sim. Portanto, isto significa que há, junto com este anúncio das promessas de indefectibilidade da Igreja, os anúncios de uma época terrível para a Igreja, onde as pessoas farão perguntas, especificamente esta pergunta: mas então, o que aconteceu com esta indefectibilidade, estas promessas de Nosso Senhor? A Santíssima Virgem... As famosas palavras de La Salette, que são repetidas quase literalmente por Leão XIII, não são revelações; é a Igreja, e poderíamos dizer, a própria Igreja em um ato: Leão XIII escreve um exorcismo, esse famoso exorcismo de Leão XIII, porém mais tarde as expressões mais solenes desse exorcismo são eliminadas, [expressões] anunciando que Satanás reinará e estabelecerá seu trono em Roma. Simples assim. Dessa forma, a sede da Igreja de repente se converterá na sede do Anticristo. Essas são as mesmas palavras da Santíssima Virgem: “Roma se converterá na sede do Anticristo”. Estas são as palavras de La Salette. Palavras como “Roma perderá a fé”, “o eclipse da Igreja” são muito fortes e vão de encontro à promessa. Isto não quer dizer que a promessa é nula, é evidente que permanece; mas não descarta um momento de grande sofrimento para a Igreja, que poderia ser considerado como uma aparente morte.

Paixão de Cristo, Paixão da Igreja


Creio que chegamos a esse ponto. A questão permanece: em que medida o Bom Deus pedirá a seu Corpo Místico acompanhar e imitar o que Seu corpo físico teve de suportar, que foi até a morte. Será que chegaremos a esse ponto, ou vamos parar antes? Todos nós esperamos que pare o quanto antes. Creio – não seria a primeira vez – que o Bom Deus vai intervir para restabelecer as coisas, no momento em que todo o mundo estiver pensando: “desta vez acabou”. Creio que esta será uma das provas da origem divina da Igreja. No momento em que todos os esforços humanos se esgotarem, exaustos, em outras palavras, quando tudo estiver terminado, esse será justamente o momento em que Ele atuará. Eu creio. E então será uma manifestação extraordinária de que esta Igreja é a única que é verdadeiramente divina.

A atitude dos fiéis


Em primeiro lugar, devem manter a fé. Pode-se dizer que esta é a principal mensagem de São Paulo, e também foi a mensagem dos tempos de perseguição: ser firme, state [em latim], seguro, permanecer de pé, firmes na fé. Manter a fé não pode ser meramente teórico. O que eu chamo de fé “teórica” existe: é a fé de alguém que é capaz de recitar o Credo, que aprendeu seu catecismo, que é capaz de repeti-lo, e isto é o começo. Mas esta fé não leva ao céu. Isto é o que se tem que aprender. A fé descrita nas Escrituras é a fé que – de acordo com o termo técnico – é informada pela caridade. São Paulo estava falando desta relação entre a fé e a caridade quando disse aos coríntios: “Se eu tivesse toda a fé, até ao ponto de transportar montanhas,” (que não é pouca coisa, já que uma fé que pode mover montanhas não é algo que se vê todos os dias!) “se não tiver caridade, não sou nada... Não sou mais que um bronze que soa, ou um címbalo que tine” (Cf. 1 Cor. 13, 1-2).

Não é suficiente fazer grandes profissões de fé, não é suficiente atacar ou condenar os erros; muitos pensam que cumprem com seu dever como cristãos quando fazem isto, mas é um erro. Não estou dizendo que não se deve fazer isso: deve-se fazer isso, faz parte. Mas a fé que São Paulo e a Sagrada Escritura falam é impregnada de caridade. A caridade é o que dá forma à fé. A caridade é o amor de Deus e, consequentemente, o amor ao próximo. Portanto, trata-se de uma fé que se volta para o próximo, que está, sem dúvida, em erro, e lhe recorda a verdade, mas de tal maneira que, graças a essas recordações, o cristão pode semear a fé, restabelecer alguém na verdade, levar esta alma à verdade. Portanto, não é um zelo amargo, pelo contrário, trata-se de uma fé aquecida pela caridade.

O dever de estado


O que os fiéis devem fazer é o seu dever de estado de vida. Manter a fé, uma fé imbuída de caridade, profundamente ancorada na caridade, que lhes permita evitar o desalento, o zelo amargo e o pesar, e em vez disso, experimentar a alegria, a alegria cristã, que consiste em saber que Deus nos ama tanto que Ele está disposto a viver conosco, viver em nós pela graça. Ele ilumina tudo o que está acontecendo, e dá uma alegria que nos faz esquecer os problemas, remetendo-lhes ao seu lugar – problemas que certamente são muito sérios. Mas, o que são [esses problemas] em comparação com o Céu que se ganha justamente por meio destes sofrimentos? Esses sofrimentos são preparados, organizados pelo Bom Deus, não com o intuito de fazer-nos cair, mas com o propósito de fazer-nos vencer. Como disse São Paulo: “E vivo, já não eu, mas é Cristo que vive em mim”. Isto é tão belo! O cristão é um tabernáculo da Santíssima Trindade, um templo de Deus, um templo vivo!

O papel da Fraternidade São Pio X


Sua principal preocupação é com aquilo que de fato mantém a Igreja viva: a Missa, o Santo Sacrifício da Missa, que é a aplicação concreta, quotidiana dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tudo foi merecido na Cruz, que é verdadeiramente a totalidade das graças para todos os homens, desde os primeiros pais, Adão e Eva, até os que estão no fim do mundo. Todas as graças que recebemos nos foram merecidas por Nosso Senhor na Cruz. A Missa é a perpetuação, a renovação, a representação deste sacrifício; no altar há um sacrifício idêntico ao da Cruz, que em cada um e em todos os lugares estão à disposição dos cristãos (por extensão, pode-se dizer à disposição da humanidade) os méritos de Nosso Senhor, sua satisfação, sua reparação, a fim de obter o perdão de todos os pecados, desse oceano de pecados cometidos todos os dias, e também para obter as graças que necessitamos. A missa é realmente a bomba que distribui em todo o Corpo Místico as graças merecidas na Cruz. É por isso que podemos dizer: é o coração que distribui através do sangue tudo o que as células do corpo necessitam. Assim podemos dizer da missa: é o coração. Ao cuidar deste coração, nos encarregamos de toda a vida da Igreja.

Restaurar a Igreja através da Missa


Se queremos uma restauração da Igreja, e certamente queremos, devemos ir a este lugar: à fonte, e a fonte é a Missa. Não qualquer liturgia, mas uma liturgia extremamente santa. Santa a um grau inimaginável. Uma liturgia que tem uma santidade extraordinária, que foi verdadeiramente forjada pelo Espírito Santo através dos séculos, redigida pelos papas santos e, portanto, com uma profundidade extraordinária. Não há absolutamente nenhuma comparação entre a missa nova e esta missa antiga. Na realidade, são dois mundos diferentes e, estava a ponto de dizer, os cristãos ao menos um pouco sensíveis à graça se dão conta disso rapidamente. Muito rapidamente. Infelizmente, hoje em dia observamos que muitas pessoas nem sequer a conhecem. Mas pra mim é evidente que a restauração da Igreja tem que começar por aí. Portanto, é por isso que sou profundamente grato ao Papa Bento XVI por haver restabelecido a Missa. Isto foi de uma importância capital. É de uma importância capital.

Formação dos sacerdotes


A Fraternidade preserva a Missa, quer esta Missa, e também preserva quem a diz, e não há outro que possa fazê-lo senão o sacerdote, somente o sacerdote. Portanto, este é propriamente o verdadeiro propósito da Fraternidade: o sacerdócio, o sacerdote, formar sacerdotes, ajudar os sacerdotes, sem nenhuma limitação, sem restrições, nada deve ser descartado, nada! É o sacerdote como Nosso Senhor quer. Lembrando-lhe justamente dos tesouros que muitos ignoram hoje, o que é uma tragédia.

Redescobrir o espírito cristão


A missa é ainda mais importante. A missa é o que transmitirá a fé, é o que alimentará a fé. Obviamente, se alguém celebra a Missa sem fé, é um grande problema. Porém não é uma questão de provocar antagonismos, mas uma questão de unir o que se supõe que deve estar unido. Mas creio que com esses dois elementos [sacerdócio e missa] já temos grandes recursos para a sobrevivência da Igreja. Todo mundo sabe que a Igreja foi atacada em vários níveis; no entanto, o problema mais profundo – estou convencido disso – é a perda do espírito cristão. Os cristãos chegaram a ser como o mundo. Disseram a todo instante que era o objetivo do Concílio para acomodar-se ao mundo moderno. Bem, não, isso não é possível! Vivemos neste mundo, por isso utilizamos um monte de coisas que são da ordem de circunstâncias históricas concretas, que passam. No fundo, o que permanece é o apego ao Bom Deus, o serviço prestado ao Bom Deus, que inclui, é claro, a fé, a graça e este espírito cristão. Queremos ir para o céu, temos que ir para o céu, e para isso devemos evitar o pecado e fazer o bem. As duas coisas. Enquanto não nos voltarmos a esses fundamentos, a Igreja vai continuar, por assim dizer, a ser maltratada por um vírus letal, que é o vírus do mundo moderno, especificamente da civilização moderna.

O triunfo do Imaculado Coração de Maria


“Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”. Esta é uma declaração absoluta, que não está condicionada pelo que se passou antes. E é de fato uma declaração que fixa e estabelece a esperança, como uma rocha. Obviamente, como este triunfo parece estar relacionado com a consagração (da Rússia), estamos pedindo a consagração – isso é completamente normal. Quanto tempo teremos que esperar para ver cumprir-se o que foi solicitado? Ou será que o Bom Deus, mais uma vez, terá que contentar-se com o de menos? Não sabemos. O que sabemos é que no final este triunfo chegará. E, portanto, isto é uma certeza. Não vamos falar de uma certeza de fé, porque isto não é uma questão de fé, mas uma palavra dada pela Santíssima Virgem, e sabemos muito bem o quanto vale a sua palavra! Isso é tudo.


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Fonte: DICI. Entretien avec Mgr Bernard Fellay, Menzingen, novembre 2013. Em: http://www.dici.org/documents/entretien-avec-mgr-bernard-fellay-menzingen-novembre-2013/.


Visto em: http://fratresinunum.com/2013/12/06/entrevista-de-dom-bernard-fellay-superior-da-fsspx-sobre-o-papa-francisco/. Tradução original em: http://renitencia.wolkartt.com/2013/12/mons-fellay-sobre-francisco-este-nao-e.html.  



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