Catedral de Sens, imagem da fachada |
Os espanhóis têm fama de serem muito ciumentos e ele o era em excesso.
Não se saberia descrever o sofrimento de sua mulher pelos ciúmes do marido. Esses foram tais que acabaram virando doença.
O comerciante viajava com muita frequência e deixava sua casa para fazer os negócios, os quais, aliás, ele conduzia perfeitamente.
Porém, durante toda a sua ausência, devoram-no a desconfiança e a dúvida.
E quando voltava à casa já chegava com os nervos na flor de pele, prestes a explodir numa cólera tão violenta quanto injustificada.
Sua infeliz esposa era a que menos justificava esse tratamento.
Ela não recebia ninguém na ausência do marido, nunca saía e vivia sozinha na companhia de seus filhos e de algumas domésticas.
No fim de uma viagem de mais de uma semana, o mercador voltou a Sens bem tarde da noite.
Início Salmos Penitenciais, Plimpton MS 037 |
Naquela noite, contudo, ele acreditou ter encontrado a prova de suas suspeitas ao perceber duas sombras dormindo em sua cama.
A cólera o impediu de verificar melhor: puxou a espada e feriu sem piedade duas vezes.
Agindo assim, num segundo de loucura ele destruiu toda sua vida: acabara de matar seu pai e sua mãe, a quem em sinal de hospitalidade sua esposa havia oferecido seu próprio quarto por ser o dormitório mais confortável da casa.
O desespero de Bond foi tão insensato como seu ciúme.
Ele disse adeus a uma esposa que havia tido em conta de tão pouco e saiu para encontrar o perdão e o esquecimento na pobreza e na poeira das estradas.
Essa via o levou junto com outros peregrinos até Jerusalém.
Salmos penitenciais, Gar 08, 38r |
Olhando tudo com sabedoria, o Papa por sua vez viu que a hora do perdão ainda não tinha chegado e encaminhou-o de novo a Sens para falar com seu bispo.
O bispo de Sens recebeu o penitente, entregou-lhe o galho de uma árvore morta e fez-lhe uma promessa:
“Teu perdão será concedido no dia em que desta madeira morta plantada no monte Paron nasçam folhas, flores e frutos”.
Bond fez o que o bispo mandou. Durante dias e mais dias ele ia procurar água no rio Yonne, no fundo do vale, carregando-a até o topo do monte Paron onde plantara o galho seco.
Ia e voltava por uma trilha abrupta que ele acabou criando com seus próprios pés.
Ele regou o galho com a água fresca do rio, mas também com suas amargas lágrimas.
Só Deus saberia dizer quantas viagens fez o penitente, e quantas foram as suas orações.
Numa manhã, porém, um tenro broto verde apareceu na cortiça enegrecida.
Passaram-se ainda muitas outras madrugadas antes que ele visse o galho morto transfigurado: folhas imensas proporcionavam uma doce sombra e suntuosas flores geravam frutos cuja simples vista saciava a alma mais sedenta de perdão.
Em lembrança desse milagre, a trilha que leva ao monte Paron se chama “A trilha de São Bond”.
A árvore está sempre lá, sem se incomodar com as estações. Mas só é visível pelos corações puros.
(Fonte: Sophie e Béatrix Leroy d’Harbonville, “Au rendez-vous de la Légende Bourguignonne”, ed. S.A.E.P., Ingersheim 68000, Colmar, França)
P.S.: As relíquias de São Bond foram recuperadas 486 anos após sua morte por Dom Richier (†1096), Arcebispo de Sens, e transladadas para igrejas dessa cidade. A capela erigida sobre o túmulo do santo, por disposição do mesmo Dom Richier, foi confiada à abadia de Saint-Rémy.
[Sua memória é celebrada no dia 29 de outubro].
Visto em: http://contoselendasmedievais.blogspot.com.br/2013/08/a-penitencia-que-fez-florir-o-galho-seco.html.
Visto em: http://contoselendasmedievais.blogspot.com.br/2013/08/a-penitencia-que-fez-florir-o-galho-seco.html.
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