O Cardeal Siri e Padre Pio, as confidências do Cardeal sobre o Frade do Gargano.
por Benny Lai
Foi nos meses sucessivos à morte de João XXIII que o Cardeal Siri me falou pela primeira vez de Padre Pio. Aconteceu no decorrer de um daqueles colóquios que se davam em uma saleta do apartamento privado do cardeal, como toda qual vez que eu ia a Gênova, domingo pela manhã, para voltar a Roma na mesma noite. Duas noites no trem e um dia a Gênova, que sendo festiva me consentia de passar quase que inobservado no palácio do arcebispo, onde todos os gabinetes eram fechados. Uma precaução ditada pela discrição, útil a ambos: ao cardeal, que não precisava sopesar os pensamentos e contar as palavras, por temor de vir a ser citado, e a mim, por não ser profissionalmente assimilado por um determinado ambiente prelatício.
O que deu a deixa para as confidências do cardeal sobre o frade do Gargano não foi o desaparecimento de Roncalli e a já acontecida sucessão de Paolo VI, mas o que havia acontecido na Ação Católica, onde o assistente eclesiástico Monsenhor Carlo Maccari se tornou – “promoveatur ut admoveatur” [nota: promover para remover] – bispo de Mondovì. E, visto que Monsenhor Maccari devia o seu alto cargo na Ação Católica também à inspeção que ele promoveu alguns anos antes, no verão-outono de 1960, a São Giovanni Rotondo, era inevitável que se falasse desta atividade que ele desenvolveu, de uma “visita apostólica” que havia ocasionado largo eco e contrastantes interpretações.
“Olhe – disse o Cardeal Siri – quando soube que o Santo Ofício havia mandado um visitador apostólico ao convento de São Giovanni Rotondo fiquei estupefato. Primeiro pela pessoa escolhida, que me parecia pouco aparelhada do ponto de vista cultural para conduzir uma investigação relativa a um personagem como padre Pio, já alvo de outras investigações e cercado pela devoção popular. Naquela época, eu conhecia pouco o enviado do Santo Ofício para o assunto do Gargano, o qual até então tinha se ocupado quase exclusivamente do Vicariato de Roma, eu ignorava sobretudo se tivesse ou não a graça e a sabedoria necessárias para uma tarefa que devia ser conduzida com a máxima discrição. E o que aconteceu depois, como falaram da história os jornais de direita, de centro e de esquerda, as tomadas de posições que se criaram pro e contra padre Pio, me deram razão. Eu o disse até ao Papa João”.
O cardeal nunca conheceu pessoalmente padre Pio, nem tampouco foi alguma vez ao convento de Santa Maria das Graças enquanto vivo o frade. “Uma vez encontrando-me em Bari – contou em outra ocasião o cardeal – pensei em chegar até àquela crista do Carso que é o Gargano onde se trovava o padre. Eu teria gostado de permanecer junto dele, mas entendi que não poderia fazê-lo sem que me notassem e isso poderia causar algum dano. A minha presença, a presença de um cardeal, teria suscitado sensação ou, pelo menos, teria dado lugar a quem sabe quais suposições. E é de se excluir que eu poderia ter ido incógnito. Sabe o que aconteceu a outro cardeal que, sem avisá-lo com antecedência e sem ter consigo qualquer insígnia de sua dignidade, bateu à porta do convento de San Giovanni Rotondo? Muito antes da chegada do hospede, padre Pio [notem que Pe. Pio não sabia da visita] chamara o padre guardião para informá-lo que estava para chegar um cardeal, viria vestido como um simples padre, e era necessário acolhê-lo com as devidas honras. E o cardeal, o qual acreditava estar sendo tratado como um comum eclesiástico, foi acolhido com grandes honras. De padre Pio não se podia esconder nada”[o Cardeal Siri comenta isso em razão de que Pe. Pio via o futuro].
Mesmo de longe, Siri havia sempre seguido os acontecimentos do capuchinho. Era ainda seminarista quando se espalhou a notícia dos estigmas do frade e, em seguida, da recusa que ele opôs a padre Agostino Gemelli de lhe examinar as chagas sem a autorização dos superiores. Uma recusa ditada em parte por já haver aceitado por obediência de submeter-se às visitas médicas e, em parte, pelo seu temperamento relutante, que havia suscitado a hostilidade de Gemelli, o qual então não fez mistério de não atribuir às feridas algo de sobrenatural. Diagnóstico que, dada a fama desfrutada por Gemelli, contribuirá depois da eleição de Pio XI para mal predispor o Santo Ofício, seja quanto aos estigmas considerados em nada um evento transcendental, seja quanto aos pretensos milagres de padre Pio.
Siri, que havia conhecido padre Gemelli quando, para seguir os cursos universitários da Gregoriana, havia se transferido de Gênova ao Seminário Lombardo de Roma, não partilhava da mesma opinião. Dirá sobre padre Gemelli: “Tive grande estima pelo fundador da Universidade Católica, que era um estudioso de grande prestígio e meu amigo, mas, infelizmente, naquela ocasião errou. Emitiu um veredito superficial, tanto é verdade que às suas afirmações, segundo as quais todos os estigmas, à exceção daqueles de São Francisco de Assis e de Catarina de Sena, deveriam ser considerados fruto da histeria, do auto-lesionismo, a própria “Civilização Católica” declarou de não estar de acordo”. Todavia a declaração do Santo Ofício, à qual seguiram outros decretos, levou a um tipo de segregação de padre Pio. Um isolamento que durou até 1933, quando Pio XI reintegrou o capuchinho em seus direitos, permitindo a seus fieis de visitá-lo e de escrever-lhe sem temer os rigores do dicastério vaticano.
Foi isso que induziu Siri a intervir junto a João XXIII, depois da inquisição de Monsenhor Maccari. “Acontecia com frequência – dirá o cardeal – que me encontrava em audiência com o Papa por causa dos meus compromissos de presidente da CEI e das Semanas Sociais e toda vez acabávamos por falar de padre Pio. João XXIII, um homem bom, verdadeiro santo, estava preocupado. Chegavam até o Vaticano graves acusações sobre padre Pio. Às vezes eram os próprios defensores mais ferrenhos do capuchinho que com zelo deles e a pressa deles contribuíam a criar dificuldades. Muitos agiam de boa fé, pensando de fazer o bem, só que a pagar as consequências era sempre padre Pio. No fim, o Papa se convenceu de que o pobre frade era estranho às acusações que lhe faziam”.
Ainda antes de a Igreja se manifestar, o cardeal Siri era mais do que convencido dos dons místicos recebidos por padre Pio. “Os fatos são fatos – fazia notar – e não há dúvidas de que ele visse o futuro, lesse as mentes, se movesse em bi-locação. E depois as curas, a capacidade de converter um ateu com um olhar, uma palavra, uma benção. Não são prodígios estes?”.
Para provar tais afirmações, Siri contava o “singular entendimento” que se criou entre ele e padre Pio seja por meio dos genoveses, que, indo a San Giovanni Rotondo, entregavam ao arcebispo deles as saudações enviadas pelo frade, seja por um mais do que curioso episódio. “Tinha que tomar uma grave decisão sobre uma importante questão relativa à diocese de Gênova. E estava perplexo e angustiado porque as soluções possíveis eram duas, mas não sabia qual era a melhor. Acuado decidi por uma das duas. No dia seguinte recebi um telegrama de padre Pio no qual me confirmava que a decisão tomada era aquela justa e me exortava a continuar naquele caminho. Havia vivenciado minhas perplexidades sem ter falado com ninguém. Como fez padre Pio para saber disso?” Uma questão publicamente revelada pelo cardeal, na comemoração de 1972, quando do quarto ano da morte do frade, e, sucessivamente, na carta a Paolo VI com a qual postulava que se aviasse o procedimento para a beatificação e a canonização de padre Pio. A carta a Paolo VI é de 1975, ano em que foi até São Giovanni Rotondo para celebrar uma missa sobre a tumba do frade e escreveu no registro dos visitadores: “Com gratidão”.
Foi nos meses sucessivos à morte de João XXIII que o Cardeal Siri me falou pela primeira vez de Padre Pio. Aconteceu no decorrer de um daqueles colóquios que se davam em uma saleta do apartamento privado do cardeal, como toda qual vez que eu ia a Gênova, domingo pela manhã, para voltar a Roma na mesma noite. Duas noites no trem e um dia a Gênova, que sendo festiva me consentia de passar quase que inobservado no palácio do arcebispo, onde todos os gabinetes eram fechados. Uma precaução ditada pela discrição, útil a ambos: ao cardeal, que não precisava sopesar os pensamentos e contar as palavras, por temor de vir a ser citado, e a mim, por não ser profissionalmente assimilado por um determinado ambiente prelatício.
O que deu a deixa para as confidências do cardeal sobre o frade do Gargano não foi o desaparecimento de Roncalli e a já acontecida sucessão de Paolo VI, mas o que havia acontecido na Ação Católica, onde o assistente eclesiástico Monsenhor Carlo Maccari se tornou – “promoveatur ut admoveatur” [nota: promover para remover] – bispo de Mondovì. E, visto que Monsenhor Maccari devia o seu alto cargo na Ação Católica também à inspeção que ele promoveu alguns anos antes, no verão-outono de 1960, a São Giovanni Rotondo, era inevitável que se falasse desta atividade que ele desenvolveu, de uma “visita apostólica” que havia ocasionado largo eco e contrastantes interpretações.
“Olhe – disse o Cardeal Siri – quando soube que o Santo Ofício havia mandado um visitador apostólico ao convento de São Giovanni Rotondo fiquei estupefato. Primeiro pela pessoa escolhida, que me parecia pouco aparelhada do ponto de vista cultural para conduzir uma investigação relativa a um personagem como padre Pio, já alvo de outras investigações e cercado pela devoção popular. Naquela época, eu conhecia pouco o enviado do Santo Ofício para o assunto do Gargano, o qual até então tinha se ocupado quase exclusivamente do Vicariato de Roma, eu ignorava sobretudo se tivesse ou não a graça e a sabedoria necessárias para uma tarefa que devia ser conduzida com a máxima discrição. E o que aconteceu depois, como falaram da história os jornais de direita, de centro e de esquerda, as tomadas de posições que se criaram pro e contra padre Pio, me deram razão. Eu o disse até ao Papa João”.
O cardeal nunca conheceu pessoalmente padre Pio, nem tampouco foi alguma vez ao convento de Santa Maria das Graças enquanto vivo o frade. “Uma vez encontrando-me em Bari – contou em outra ocasião o cardeal – pensei em chegar até àquela crista do Carso que é o Gargano onde se trovava o padre. Eu teria gostado de permanecer junto dele, mas entendi que não poderia fazê-lo sem que me notassem e isso poderia causar algum dano. A minha presença, a presença de um cardeal, teria suscitado sensação ou, pelo menos, teria dado lugar a quem sabe quais suposições. E é de se excluir que eu poderia ter ido incógnito. Sabe o que aconteceu a outro cardeal que, sem avisá-lo com antecedência e sem ter consigo qualquer insígnia de sua dignidade, bateu à porta do convento de San Giovanni Rotondo? Muito antes da chegada do hospede, padre Pio [notem que Pe. Pio não sabia da visita] chamara o padre guardião para informá-lo que estava para chegar um cardeal, viria vestido como um simples padre, e era necessário acolhê-lo com as devidas honras. E o cardeal, o qual acreditava estar sendo tratado como um comum eclesiástico, foi acolhido com grandes honras. De padre Pio não se podia esconder nada”[o Cardeal Siri comenta isso em razão de que Pe. Pio via o futuro].
Mesmo de longe, Siri havia sempre seguido os acontecimentos do capuchinho. Era ainda seminarista quando se espalhou a notícia dos estigmas do frade e, em seguida, da recusa que ele opôs a padre Agostino Gemelli de lhe examinar as chagas sem a autorização dos superiores. Uma recusa ditada em parte por já haver aceitado por obediência de submeter-se às visitas médicas e, em parte, pelo seu temperamento relutante, que havia suscitado a hostilidade de Gemelli, o qual então não fez mistério de não atribuir às feridas algo de sobrenatural. Diagnóstico que, dada a fama desfrutada por Gemelli, contribuirá depois da eleição de Pio XI para mal predispor o Santo Ofício, seja quanto aos estigmas considerados em nada um evento transcendental, seja quanto aos pretensos milagres de padre Pio.
Siri, que havia conhecido padre Gemelli quando, para seguir os cursos universitários da Gregoriana, havia se transferido de Gênova ao Seminário Lombardo de Roma, não partilhava da mesma opinião. Dirá sobre padre Gemelli: “Tive grande estima pelo fundador da Universidade Católica, que era um estudioso de grande prestígio e meu amigo, mas, infelizmente, naquela ocasião errou. Emitiu um veredito superficial, tanto é verdade que às suas afirmações, segundo as quais todos os estigmas, à exceção daqueles de São Francisco de Assis e de Catarina de Sena, deveriam ser considerados fruto da histeria, do auto-lesionismo, a própria “Civilização Católica” declarou de não estar de acordo”. Todavia a declaração do Santo Ofício, à qual seguiram outros decretos, levou a um tipo de segregação de padre Pio. Um isolamento que durou até 1933, quando Pio XI reintegrou o capuchinho em seus direitos, permitindo a seus fieis de visitá-lo e de escrever-lhe sem temer os rigores do dicastério vaticano.
Foi isso que induziu Siri a intervir junto a João XXIII, depois da inquisição de Monsenhor Maccari. “Acontecia com frequência – dirá o cardeal – que me encontrava em audiência com o Papa por causa dos meus compromissos de presidente da CEI e das Semanas Sociais e toda vez acabávamos por falar de padre Pio. João XXIII, um homem bom, verdadeiro santo, estava preocupado. Chegavam até o Vaticano graves acusações sobre padre Pio. Às vezes eram os próprios defensores mais ferrenhos do capuchinho que com zelo deles e a pressa deles contribuíam a criar dificuldades. Muitos agiam de boa fé, pensando de fazer o bem, só que a pagar as consequências era sempre padre Pio. No fim, o Papa se convenceu de que o pobre frade era estranho às acusações que lhe faziam”.
Ainda antes de a Igreja se manifestar, o cardeal Siri era mais do que convencido dos dons místicos recebidos por padre Pio. “Os fatos são fatos – fazia notar – e não há dúvidas de que ele visse o futuro, lesse as mentes, se movesse em bi-locação. E depois as curas, a capacidade de converter um ateu com um olhar, uma palavra, uma benção. Não são prodígios estes?”.
Para provar tais afirmações, Siri contava o “singular entendimento” que se criou entre ele e padre Pio seja por meio dos genoveses, que, indo a San Giovanni Rotondo, entregavam ao arcebispo deles as saudações enviadas pelo frade, seja por um mais do que curioso episódio. “Tinha que tomar uma grave decisão sobre uma importante questão relativa à diocese de Gênova. E estava perplexo e angustiado porque as soluções possíveis eram duas, mas não sabia qual era a melhor. Acuado decidi por uma das duas. No dia seguinte recebi um telegrama de padre Pio no qual me confirmava que a decisão tomada era aquela justa e me exortava a continuar naquele caminho. Havia vivenciado minhas perplexidades sem ter falado com ninguém. Como fez padre Pio para saber disso?” Uma questão publicamente revelada pelo cardeal, na comemoração de 1972, quando do quarto ano da morte do frade, e, sucessivamente, na carta a Paolo VI com a qual postulava que se aviasse o procedimento para a beatificação e a canonização de padre Pio. A carta a Paolo VI é de 1975, ano em que foi até São Giovanni Rotondo para celebrar uma missa sobre a tumba do frade e escreveu no registro dos visitadores: “Com gratidão”.
Fonte original: Associazione Lucci sull’Est
Fonte secundária: saopio.wordpress.com.
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