Santo Afonso Maria de Ligório
(27/09/1696 - 02/08/1787)
Bispo de Santa Àgata
Confessor
Doutor Zelosíssimo da Igreja
Fundador dos Missionários Redentoristas
A Selva
PREFÁCIO
Há uns vinte anos que nos vimos dedicando principalmente à formação eclesiástica, para a qual temos publicado alguns opúsculos, a que a tradução da Selva vem agora por o remate. Em conseqüência da revolução de cinco de outubro de 1910, tivemos de emigrar em maio de 1911 e só regressamos a 27 de fevereiro de 1912. Assim a Providência nos deparou ensejo de preparar lá fora as Considerações Íntimas, que logo ao regressar cuidamos de fazer imprimir. Escrevíamos então no prefácio:
“Diante dos montões de ruínas, que ora se deparam a nossos olhos, devemos confessar que não sentimos a menor tentação de desânimo, antes que cada vez mais nos firmamos na convicção de que a Providência nos reserva enormes bens, sob a perspectiva dolorosa de grandes males. Estava a cair de carunchoso o edifício da sociedade portuguesa, e tinha-se aluido com a conivência, por vezes escandalosa, daqueles que mais deviam trabalhar pela sua conservação. Sem dúvida, foi por isso mesmo que ele caiu quase sem ruído: mal se lhe sentiu o baque final, e, após um momento de surpresa, ouviu-se o ressoar de muitas palmas, — não poucas de príncipes da Igreja. Era a condenação do passado, o entusiasmo pelo presente e a esperança no futuro? Fosse o que fosse, não vem para aqui dizê-lo, porque a índole desta obra o não permite. O que agora importa é delinear o novo edifício e assentar-lhe sólidos alicerces: eis o assunto que aqui tratamos.
Três são, nas circunstâncias atuais, os apostolados a que os católicos portugueses se devem consagrar de alma e coração:
1.º, a formação e disciplina do clero;
2.º, o ensino do catecismo;
3.º, o desenvolvimento e boa orientação da imprensa.
A primeira, a maior e a mais meritória de todas as obras sociais é a formação de bons sacerdotes. A ela pois, mais que a nenhuma outra, devemos dedicar os nossos esforços. Quanto a nós, de boa vontade lhe prestamos a nossa humilde cooperação. Anima-nos a convicção profunda de que é esta, em especial, a tarefa que nos incumbe na hora presente... Damos graças a Deus por vermos confirmado o vago pressentimento, com que então encarávamos o futuro: o vendaval passou, nas ruínas do velho edifício ficou sepultada a simonia, e todos os príncipes da Igreja se acham hoje compenetrados da sua alta missão. Há muito a fazer, mas a orientação está traçada e é segura: os fiéis com os bispos, os bispos com o Papa. A grande obra será sempre a formação de bom clero; e nela todos podem e devem cooperar, ao menos pela oração. Conforme se verá no prefácio seguinte, do tradutor francês, a Selva é o livro clássico da formação e santificação do clero. A nosso ver, se há livro que deva ser obrigatório para um ordinando, está este em primeiro lugar; por isso o apresentamos em português, ao darmos por terminada a nossa missão de diretor espiritual interino, do Seminário do Porto.
Foz do Douro, 13-10-1928.
Pe. Marinho
PREFÁCIO DO TRADUTOR FRANCÊS
Mês de Maria de 1869.
Começamos a série das obras destinadas especialmente ao clero. A que vem agora, em primeiro lugar, apareceu em 1760, depois da Verdadeira Esposa de Jesus Cristo, quando o santo Autor tinha atingido a idade de sessenta e quatro anos. É o fruto das suas investigações e estudos, de cerca de quarenta anos, tanto para regular a sua própria conduta, como para dirigir os retiros eclesiásticos, que pregou pela primeira vez ao clero de Nápoles, por ordem do arcebispo, em 1732, quando apenas contava seis anos de sacerdócio.Era já olhado como um modelo e um mestre, para ser encarregado de formar outros ministros do santuário, em todos os degraus.
Foi este livro um dos que obteve maior êxito, o que nos dá uma alta idéia dos frutos produzidos. Em breve apareceu traduzido nas principais línguas da Europa. Conhecemos pelo menos cinco traduções francesas; entre elas avulta pelo seu mérito a de Mgr. Gaume, de que muitas vezes nos temos aproveitado.
Na sua Advertência, previne-nos o Autor de que não se preocupou com a ligação das idéias próprias de cada assunto; ver-se há contudo que não falta ali a ordem conveniente. Para a salientar quanto possível, segundo o nosso método ordinário, dividimos cada assunto em diversos parágrafos.Graças a esta disposição, não só se tornará mais fácil apreender e reter as matérias, mas até se poderá utilizar o livro tanto para meditação1, como para leitura espiritual.
Aqui dum modo muito particular, convém recordar o que noutro lugar já dissemos: é que todas as citações de autores, notadas à margem, foram cuidadosamente verificadas, e por vezes corrigidas. Santo Afonso nem sempre pôde recorrer às fontes; teve de se contentar muitas vezes com o que lhe ofereciam os autores que tinha à mão, e que se limitavam a reproduzir as inexatidões dos seus predecessores, aumentadas com os copistas e tipógrafos. Daí a necessidade de rever os textos originais, para tornar exatas as citações. Foi um grande trabalho, sobretudo numa obra como esta; mas, graças às investigações do R. Pe. de Fooz, conseguimos fazer um bom número de correções importantes.
Quanto ao valor e utilidade desta Compilação, de bom grado citamos a seguinte passagem de Mgr. Gaume:
“Tendes lido Massillon, Sevoy, o Espelho do clero; que tendes vós? Três autoridades sem dúvida muito respeitáveis; mas enfim são autoridades particulares, e a vossa razão tantas vezes iludida com autoridades deste gênero e com nomes próprios, hesita, desconfia, e, usando do seu direito, julga, aceita, rejeita, e não se eleva acima de uma fé filosófica. Úteis em todos os tempos, estas obras, monumentos de eloqüência ou de piedade, são hoje insuficientes: às amplas expansões do erro, era preciso opor o desenvolvimento análogo da verdade; à invasão do espírito particular, a imposição autorizada do espírito católico. Lede a Selva e dizei se é possível atingir este fim: não é o pensamento dum homem que aqui vos é dado, como regra do vosso, é o pensamento dos séculos; não é o do bispo de Santa Ágatha 2; é a tradição inteira que prega, que instrui, que proíbe, que manda, que reanima, que espanta.
“É este livro como uma tribuna sagrada do alto da qual falam por sua vez os Profetas, os Apóstolos, os homens apostólicos, os mártires, os solitários, os pontífices mais ilustres do Oriente e do Ocidente, os doutores mais afamados, os mestres mais hábeis na ciência dos santos, os sucessores de Pedro e os concílios, os órgãos do Espírito Santo, numa palavra, a antigüidade, a idade média, os tempos modernos da Igreja inteira.
“No meio desta augusta assembléia, que faz o santo Bispo? Quase sempre se limita ao modesto papel de relator; muitas vezes deixa ao vosso cuidado deduzirdes as conclusões. Nada de longos raciocínios, induções, interpretações particulares. Está nisso o mérito próprio e o caráter providencial da Selva: mais que noutra qualquer época o mundo, e o clero que deve salvar o mundo, tinham necessidade do pensamento católico, e o Santo dá-lho puro e íntegro; teve receito de o enfraquecer, misturando-lhe o seu. 3
“O resultado para o livro é torná-lo mais imponente. Não há margem para discussões: que poderá de fato alegar contra este concerto unânime a razão do leitor, colocada dum extremo a outro na alternativa, ou de subscrever a tudo para permanecer católica, ou de se isolar, de se suicidar no isolamento?Poderia a lógica com todo o seu rigor ter levado o pensamento até este ponto?
“Mas que força dá ao clero esta vasta revelação dos seus deveres! Viva muito embora o padre no meio da indiferença e da incredulidade, persuada-lhe o mundo corrompido e relaxação, façam coro secreto com as máximas do mundo as suas próprias paixões, cúmplices de todos os erros, — não lhe é possível descer das alturas da santidade, em que a sua vocação o fixou e permanecer surdo a esta voz imperiosa dos séculos: “Sê santo!”
Assim fala Mgr. Gaume, e há de reconhecer-se que de fato é tal a força do livro, força igualada pela unção que a acompanha, como nas outras obras do Autor, e ambas apoiadas pelo exemplo da sua vida. Até certo ponto se pode dizer dele como do divino Mestre: Coepit facere, et docere (Act 1, 1). Eis as regras de vida que ele se traçou, desde a sua entrada para as Santa Ordens, quando permanecia no seio da sua família, depois de recebido o hábito eclesiástico e a prima tonsura:
1. Freqüentar sempre santos sacerdotes, para me edificar com seus exemplos.
2. Fazer todos os dias pelo menos uma hora de oração mental, para alimentar o recolhimento e o fervor.
3. Visitar assiduamente o Santíssimo Sacramento, sobretudo nos templos onde estiver exposto.
4. Ler a vida dos santos eclesiásticos, para neles encontrar modelos a imitar.
5. Ter uma devoção especial à santíssima Virgem, Mãe e Rainha do clero, e devotar-me particularmente ao seu serviço.
6. Honrar o estado eclesiástico, e por isso nada fazer que possa acarretar a mais ligeira mancha à sua reputação.
7. Ser sempre respeitoso para com as pessoas do mundo, sem as freqüentar; não me familiarizar com os seculares, sobretudo com as pessoas do outro sexo.
8. Ver a vontade de Deus nas ordens dos superiores e obedecer-lhes como ao próprio Deus.
9. Trazer o hábito eclesiástico e a tonsura clerical; mostrar-me sempre modesto, sem afetação, singularidade ou pretensão.
10. Viver em paz no seio da família; estar atento às lições do professor na aula; ser exemplar no templo, sobretudo no desempenho dalguma função.
11. Confessar-me ao menos de oito em oito dias e comungar ainda mais vezes 4.
12. Afastar-me de todo o mal, e exercitar-me na prática de todo o bem (Villecourt, l. 1. ch. 10).
O jovem levita, que já se tinha feito admirar noutra carreira (na de advogado), edificou toda a cidade de Nápoles pelo seu fervor sempre crescente, subindo aos diversos degraus do sacerdócio; e ao cabo de três anos duma preparação tão perfeita, foi julgado digno de ser elevado com dispensa ao Sacerdócio, em 21 de dezembro de 1726. Escreveu então as resoluções seguintes:
1. Sou sacerdote, a minha dignidade está acima da dos anjos; deve ser pois a minha vida duma pureza angélica, para a qual sou obrigado a tender por todos os meios possíveis.
2. Um Deus digna-se obedecer à minha voz; com melhoria de razão devo eu obedecer à sua, obedecer à graça e aos meus superiores.
3. A santa Igreja honrou-me; é necessário que por minha vez eu a honre, com a santidade da minha vida, com o meu zelo, com os meus trabalhos etc.
4. Eu ofereço ao Padre eterno Jesus Cristo, seu Filho; logo é do meu dever revestir-me das virtudes de Jesus Cristo, e tornar-me capaz de tratar o mais santo dos mistérios.
5. O povo cristão vê em mim um ministro de reconciliação, um mediador entre Deus e os homens; logo é necessário que eu me conserve sempre na graça e amizade de Deus.
6. Querem os fiéis ver em mim um modelo das virtudes a que aspiram; devo portanto edificá-los a todos e sempre.
7. Os pobres pecadores, que perderam a vida das graça, esperam de mim a sua ressurreição espiritual; é necessário pois que eu trabalhe nela, pelas minhas orações, exemplos, palavras e conduta.
8. Preciso de coragem para triunfar do demônio, da carne, e do mundo; logo devo corresponder à graça divina, para os combater vitoriosamente.
9. Preciso de ciência para me tornar capaz de defender a religião, combater o erro e a impiedade; devo pois aproveitar-me de todos os meios possíveis para adquirir essa ciência.
10. O respeito humano e as amizades mundanas desonram o sacerdócio: logo devo ter-lhes horror.
11. Nos padres, a ambição e o espírito de interesse conduzem as mais das vezes à perda da fé; devo pois abominar esses vícios como origens de reprovação.
12. Em mim a gravidade e a caridade devem ser inseparáveis: serei portanto prudente e reservado, principalmente a respeito das pessoas do outro sexo, sem ser altivo, grosseiro ou desdenhador.
13. Só posso agradar a Deus pelo recolhimento, fervor e virtudes sólidas, que o santo exercício da oração alimenta; nada pois devo descurar para as adquirir.
14. Só devo procurar a glória de Deus, a minha santificação e a salvação do meu próximo; a isso pois me devo dedicar, até com sacrifício da minha vida, se tanto for necessário.
15. Sou padre: o meu dever é inspirar a virtude, e glorificar a Jesus Cristo, Sacerdote eterno (Villecourt, l. 1. ch. 11).
Eis a aurora desse astro, que devia percorrer uma tão longa órbita e elevar-se a tão alta perfeição: Quasi lux splendens, procedit, et crescil usque ad perfectam diem (Prov. 4, 18)! O nosso Santo é já reconhecido como um dos mais puros luminares, que Deus enviou para alumiar o mundo: Quasi sol refulgens, sic ille effulsit in templo Dei (Eccli. 50, 7). Esperamos que um novo decreto, ajuntando ainda novo raio à sua glória, para bem do povo cristão, em breve o proclamará doutor da Igreja5. Nesta expectativa, não deixaremos de nos aproveitar dos seus ensinamentos e de imitar as suas virtudes, para irmos um dia partilhar da sua eterna felicidade.
Ao terminarmos este trabalho, cremos poder afirmar que a nenhum cuidado nos poupamos, para o tornar o mais útil possível aos nossos irmãos no sacerdócio, e aos jovens discípulos do santuário; se tivermos a felicidade de contribuir para o bem espiritual de alguns, rogamos-lhes que se lembrem de nós, principalmente no santo altar, e prometemos retribuir-lhes na mesma moeda.
VIVA JESUS, MARIA, JOSÉ E AFONSO!
1 Para meditação, sim: se o clero português o meditar, há de colher abundantes frutos de salvação.
2. Santo Afonso ainda não era bispo, quando publicou esta obra; foi-o dois anos depois.
3. Numa nova publicação de Mgr. Dechamps — A Infalibilidade e o Concílio geral — temos no cap. 8 uma nota que vem aqui a propósito. Depois de ter chamado a Sto. Afonso “O mais fiel e poderoso Eco da tradição nos tempos modernos, o eloqüente arcebispo explica aí que o nosso Autor não foi um simples eco, nem nas suas obras dogmáticas, nem nas morais, nem nas ascéticas, das quais faz um justo elogio e termina assim:
“Entre os seus livros ascéticos há um que Sto. Afonso intitulou, modestamente Compilação de textos (Selva). A primeira vista poder-se-ia crer que o livro não é senão isso; mas desde que se percorra atentamente, há de reconhecer-se que o pensamento do autor forma a trama e harmonia dele; que tudo quanto a tradição tem de mais forte e suave o Santo pela sua ciência o põe ali a serviço da sua pena. Nada conhecemos mais difícil de fazer do que uma tal obra, em que os textos não são justamente postos, mas encadeados por um pensamento vivo e que os faz reviver. Se Sto. Afonso é um eco, então o é à maneira de S. Bernardo”.Parece-nos de todo o ponto exato este juízo; concluímos que o nosso Autor é um eco pensante, e que escolhe admiravelmente os sons mais próprios para exprimir o seu pensamento com uma energia irresistível; mas sabe também falar doutro modo, quando o assunto o exige, como se pode ver na sua IV Instrução, onde trata da Pregação e da administração do Sacramento da Penitência.
4. Parece que foi esta regra que o inspirou o n.º 2.º do can. 1.367, que diz: “Saltem semel (alumni Seminarii) in hebdomada ad sacramentum poenitentiae accedant et frequenter, qua par est pietate, Eucharistico pane se reficiant”.
5. Foi proclamado Doutor, por Pio IX, no Decretum Urbis et Orbis, mandado expedir a 23 de março de 1871.
Advertência necessária a quem dá exercícios espirituais a sacerdotes
Dá-se a este livro o título de Compilação de materiais, e não de discursos ou Exercícios espirituais, porque, embora se tenha tido o cuidado de reunir o que pertence propriamente a cada um dos assuntos propostos, não se lhe imprimiu a ordem que em regra exige um discurso sobre a matéria.
Não se desenvolvem as idéias; expõem-se sem coordenação e com brevidade; mas é de propósito, para que o leitor escolha as autoridades, os ensinamentos e pensamentos, que mais lhe agradarem; depois os ordene e desenvolva à sua vontade, compondo assim um discurso seu. A experiência de monstra que é difícil a um pregador exprimir com calor e energia idéias, de que primeiro se não tenha apropriado, escolhendo-as ao menos entre muitas outras, ou dando-lhes a ordem e desenvolvimento convenientes, na composição do seu discurso. Foi ainda nesse intuito que se citaram muitas passagens de diversos autores, a exprimirem o mesmo pensamento, para que o leitor escolha as que forem mais do seu gosto.
Falamos assim, para que se compreenda o fim da obra. Vão agora alguns avisos, a que deve atender quem dá os exercícios espirituais a sacerdotes:
I. Antes de tudo, que se proponha nos seus discursos um fim reto, que deve ser, não adquirir a reputação de sábio, de grande gênio, de homem eloqüente, mas unicamente dar glória a Deus, fazendo bem aos ouvintes.
II. Que não procure adornar os seus discursos com coisas estranhas, pensamentos novos e sublimes, que apenas levam o espírito dos ouvintes a refletir na beleza das idéias, ao passo que a vontade permanece árida e estéril; mas que se aplique a dizer as coisas que julgar mais próprias, para mover os ouvintes a boas resoluções.
III. Para este fim, que recorde muitas vezes as verdades eternas; porque é pela meditação delas que se obtém a perseverança, conforme a máxima do Espírito Santo: Memorare novissima tua, et in aeternum non peccabis (Eccli. 7, 40). É verdade que alguns eclesiásticos não gostam dos sermões sobre os novíssimos, e ofendem-se de se verem tratados à maneira dos seculares, como se não houvessem de morrer e ser julgados como eles! Nem por isso quem lhes dá os exercícios deixará de lhes falar muitas vezes da morte, do juízo e da eternidade: são verdades capazes de levar a uma mudança de vida quem as considerar atentamente.
IV. Não se esqueça de insinuar, sempre que possa, alguma coisa prática, por exemplo: o modo de fazer a oração mental, de dar graças depois da missa, de corrigir os pecadores, e sobretudo de ouvir as confissões, particularmente dos recidivos e dos que estão em ocasião próxima; porque muitos confessores pecam neste ponto, uns por demasiado rigor, outros por demasiada facilidade em darem a absolvição, — o que é mais freqüente, e assim são causa da condenação de muitas almas. Os textos latinos ouvem-se e logo se esquecem; só as coisas práticas ficam na memória.
V. Não se esqueça de tratar com respeito e doçura os sacerdotes que o escutam. Com respeito, digo, mostrando veneração por eles, por isso os chamará — senhores e santos. Se verberar algum vício, falará em geral, protestando que as suas palavras se não dirigem a nenhum dos presentes. Ponha cuidado sobretudo em não repreender em particular a nenhum qualquer falta, bem como em não tomar tom de autoridade. Tratará de falar com familiaridade, que é o modo mais próprio para persuadir e comover. Com doçura: não se deixe ir à cólera nos seus discursos; não deixe escapar palavras injuriosas, mais próprias para azedar os ânimos, que para mover à piedade.
VI. Quando os assuntos forem terríveis, não lance na alma dos seus ouvintes a desesperação de se salvarem ou emendarem; por fim, deixe a todos, mesmo aos mais relaxados, a porta aberta para se animarem a mudar de vida: exorte-os a porem a sua confiança nos merecimentos de Jesus Cristo e na intercessão da divina Mãe; que recorram pela oração a estas duas grandes âncoras da esperança. Em quase todos os seus discursos, recomendará com instância o exercício da oração, que é o meio único de se obterem as graças necessárias à salvação.
VII. Enfim, e acima de tudo, quem prega a padres espere o fruto que deseja produzir, não dos seus talentos e esforços, mas da misericórdia divina e das suas orações, pedindo ao Salvador que dê força às suas palavras; porque é sabido que, de ordinário, os sermões a padres permanecem quase inteiramente sem efeito, e que para um padre exercitante se decidir a mudar de vida, se é pecador, ou a tornar-se melhor, se é tíbio, é necessária uma espécie de milagre, que raras1 vezes se dá; donde deriva que, para converter padres, é mais necessária a oração que o estudo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog é CATÓLICO. Ao comentar, tenha ciência de que os editores se reservam o direito de publicar ou não.
COMENTE acima. Para outros assuntos, use o formulário no menu lateral. Gratos.