Conselhos para as esposas, para quem ainda não casou e, também (sic) para os homens, pois muitos são os que, infelizmente, hoje em dia, não guardam um comportamento discreto. É uma peste que se alastrou na sociedade como um todo.
Além do precioso texto abaixo, eu gostaria de indicar a leitura do célebre "A Maledicência: Pecado da Língua ou Alquimia do Diabo?" (do site da FSSPX).
As más línguas
Conselho para as esposas
Uma das causas de muitas desavenças, mais ou menos graves, na família, são as más línguas, ou antes, o mau uso da língua. Dizem que é esse o fraco do belo sexo.
Sem nos pronunciarmos a respeito dessa afirmativa, limitamo-nos, em assunto tão delicado e melindroso, a dar ás senhoras casadas alguns avisos que julgamos de utilidade prática. Visamos, claro está, apenas aquelas que não sabem refrear esse tão pequenino órgão que Deus nos concedeu, para que louvássemos o Seu santo nome, cantássemos as Suas glórias e comunicássemos com os nossos semelhantes.
No batismo, a língua recebe o sal da sabedoria e, na sagrada comunhão, tem a insigne honra de servir de altar ao Deus de toda a santidade, antes de baixar ao nosso peito. Merece, portanto, grande cuidado da nossa parte.
Muito importa que as senhoras aprendam desde cedo, a arte de se servirem bem da língua. E por quê? Porque muitas vezes a mulher deita a perder tudo, por falar antes do tempo, por falar com precipitação, por falar alto, enfim por falar muito e mal.
Suponhamos um marido que não seja lá o que devia ser; que beba um ou dois copos demais; que volte para casa tarde; que seja um pouco ou muito impertinente; que tenha enfim todos os defeitos, sem nenhuma qualidade boa; dizei-me, que ganhará a mulher com resmungar, gesticular, gritar e descompor?
Que lucrará, pondo-se a injuriar aquele pobre homem, já de si tão infeliz, com tantos defeitos, para que venham ainda amesquinhá-lo com um libelo, em que certas mulheres levam vantagem a qualquer promotor da justiça pública?
Ora, vamos, minhas senhoras; raciocinemos um pouco:
1º - Não faleis antes do tempo.
Malha-se o ferro em quanto está quente, diz o adágio popular; mas isso vale do ferro que se deixa malhar sem um protesto e é singularmente maleável, quando quente. O mesmo, porém, não se dá com o marido.
Quando a cólera lhe pôs o cérebro em ebulição e a bebida lhe subiu à cabeça; quando foi mal sucedido em algum negócio ou se vê assoberbado pelos muitos afazeres, aceitai o meu conselho: não digais nada, não resmungueis e, sobretudo, não griteis. Ao contrário, consolai-o, dizendo-lhe uma palavra de conforto mostrai-lhe enfim, que sua mulherzinha partilha com ele todas aquelas apreensões. Se, a vossa língua ameaçar revoltar-se, tomai um copo de água e ide bebendo gole a gole, até afogar a revolta.
- Mas, então, não poderei fazer-lhe observação alguma?
- Sim, mas esperai que passe a tormenta e que o vosso marido volte à calma; esperai até amanhã e então, em termos muito comedidos, afável e persuasiva, mas breve - os homens não gostam de sermões; muito compridos, máxime feitos por mulheres - suplicai-lhe, pelo amor que deve aos filhos, que sacrifique aquele vício, origem de tantas desavenças e misérias. Sob a forma de pergunta, dai-lhe algum bom conselho que vos ocorra, mesmo sobre a direção dos seus negócios.
Experimentai, minhas senhoras, e vereis os admiráveis efeitos desta receita. O pobre homem não se corrigirá de uma só vez, tornará a cair ainda, mas, sede generosa e perdoai-lhe de alma grande, porque "o espírito está pronto, mas a carne é fraca". Quando menos, ele vos há de ouvir e as vossas palavras lhe irão direito ao coração.
2º - Não faleis apressadamente.
É outra condição indispensável, para que uma observação tenha probabilidades de bom êxito. Quando se fala pausadamente, também há tempo de refletir; do contrário, dizem-se muitas palavras e muitas asneiras também.
Ora, para que uma mulher tenha fundadas esperanças de alcançar o resultado que espera de suas observações, conselhos ou súplicas, é necessário que as palavras sejam muito ponderadas.
Refleti, portanto, antes de falar, pesai bem o que pretendeis dizer ao marido e, se perceberdes que o vosso discurso irá ser mal recebido, então vencei-vos corajosamente e refreai a língua. Mas, se há esperanças de bom êxito, procedei com cautela, devagar, sem perder a calma, ainda mesmo diante de qualquer imprevisto desagradável.
3° - Não faleis muito alto.
Quando se fala apressadamente, porque se está excitado e, então, fala-se também muito alto, ou por outra, grita-se. Ora, vamos, minhas senhoras; quereis fazer uma observação ao marido e uma observação de todo ponto razoável - assim o supomos, porque, muitas vezes, uma observação nos parece razoável e não é senão muito extemporânea - pois bem, não basta que só ele ouça o que lhe quereis dizer? Os filhos nada, devem perceber; mas, se vos pondes aos gritos, em presença deles contra o marido, claro está que lhe diminuis a autoridade.
Os próprios criados, se vos ouvirem, poderão, no momento oportuno, por qualquer incidente, faltar-vos ao respeito e dizer-vos: "Mas, minha senhora quem poderá entender-vos? Se até ao marido pretendeis dar lições aos gritos, que consideração podereis ter para com os criados?".
Uma mulher que grita com o marido ou mesmo com os filhos, perde toda a autoridade perante os súditos e não será de estranhar que, súditos e filhos, aborrecidos daquelas cenas tantas vezes repetidas, abandonem a casa á procura de outra, onde não tenham de assistir todos os dias a incidentes tão desagradáveis. E não deixam de ter motivo.
Cuidai, sobretudo, minhas senhoras, que a vizinhança não vos ouça perorar. Expondes-vos a que, nas ruas e praças, se proclame a vossa voz, como muito própria desses vendedores de peixe fresco que percorrem diariamente as cidades. Não sei se lhes ambicionais o emprego e a reputação; o que é certo, porém, é que a mulher, que não quiser ver apregoada por toda parte a sua falta de caridade, deverá ter o cuidado de fazer suas observações muito reservadamente, de modo que nunca passem da soleira da porta para fora.
Nunca useis expressões grosseiras, ofensivas, humilhantes; tais expressões deprimem uma pessoa e o marido levará impresso na alma, por muito tempo, um ressentimento funesto e doloroso, que o irá separando cada vez mais de sua companheira. Ao contrário, as palavras e observações retemperadas na caridade, despertar-lhe-ão o afeto.
A ira, minhas senhoras, a ninguém serve de enfeite e, muito menos, às mulheres; em um homem fica mal, em uma mulher é execrável, o Espírito Santo e os Santos Padres assim estigmatizam a cólera, que, por sua natureza, não concorre nunca para aproximar corações: "É preferível fugir para o deserto, a morar com uma mulher arengueira. Não há ira pior do que a da mulher; é capaz de tudo".
A pessoa irada não distingue o bem do mal; prudência, bom senso, tudo desaparece e o homem fica como que atacado de demência.
Aliás, minhas senhoras, tal procedimento é contrário ao respeito e consideração a que o chefe de família tem incontestável direito. O marido é sempre marido, e o pai é sempre pai, ainda quando venha a faltar aos deveres de sua alta missão, e nunca mulher ou filhos têm o direito de lhe faltar com o devido respeito.
O meio mais inepto de reconduzir um transviado ao bom caminho, é atirar-lhe palavras injuriosas e expressões humilhantes. Quando o marido vier tarde para casa ou tiver empinado um pouco ou muito, rezai, em lugar de discutir.
Uma senhora, li eu algures, depois de violenta discussão com o marido, foi procurar o venerando chefe do Centro Alemão, Windhorst, para requerer o divórcio.
-Não posso mais com a vida do meu marido, começou ela; todas as noites me entra em casa bêbado e então, está visto, desaba uma verdadeira tormenta.
- E que faz a senhora nessas ocasiões, perguntou o magistrado.
- Que faço? Ali mesmo lhe dou o troco. O senhor compreende, a gente perde a calma, em presença de semelhante bruto.
- Minha senhora, tornou Windhorst, quer-me parecer que no vosso mobiliário falta uma peça: ide depressa comprar um genuflexório. Todas às vezes que o marido vos entrar em casa bêbado, gesticulando, aos gritos, correi ao genuflexório e ide discutir com o bom Deus, em lugar de fazê-lo com ele.
A receita deu excelente resultado e não foi preciso recorrer ao divórcio.
Não é isso, porém, o que geralmente fazem certas mulheres, e o pobre marido tem de sujeitar-se a receber uma saraivada de grosserias, quiçá, sem o haver merecido. O pobre mártir da mulher, perde logo as estribeiras e, em lugar de ir muito sossegadamente respirar um pouco de ar fresco, saí porta a fora, e põe o quarteirão todo em alvoroço vomitando imprecações com aquela excelente voz de barítono que a natureza lhe deu. Não faltará quem diga que, afinal, a mulher não lhe meteu a faca nos peitos, para que se ponha a praguejar daquele jeito, aos ouvidos de toda a redondeza; outros, porém, acharão que procede muito bem, como sendo aquele o melhor e único meio de amordaçar a língua malcriada da cara metade.
Ouvimos uma vez alguém sugerir aos maridos que têm a desgraça de possuir uma mulher assim, um meio mais brando, mais humano e mais eficaz também. Aí vai, tal qual o ouvimos:
"Quando, ao entrardes em casa, se vos apresentar a esposa com cara de poucos amigos, capaz de irritar as paredes, a encher-vos os ouvidos com umas tantas grosserias esganiçadas, fazendo-vos subir o sangue às ultimas culminâncias do cérebro, tomai o chapéu, o sobretudo e a bengala, e ide passear ou tomar um trago, porém, não mais do que um. Voltai dali a uma hora e, se ela recomeçar, recomeçai vós também e eu vos asseguro, que acabará pondo cobro à língua".
O marido nunca deve perder de vista que a sua companheira é mais fraca do que ele e que seria desairoso abusar da força muscular para subjugá-la.
O marido é o chefe, em sua casa; está no seu papel. E onde, ao contrário, a mulher é quem pretende governar, andará tudo à matroca. Saiba, portanto, o marido portar-se com firmeza, mas, com bondade, paciência e critério; também não esqueça que uma boa palavra basta, ás vezes, para extinguir um incêndio.
Por isso, diz S. Agostinho: "Se Deus houvera feito a mulher para governar o marido, Ele a houvera tirado da cabeça de Adão; se a destinara a ser escrava do homem, tirá-la-ia dos pés; mas, querendo que lhe fosse companheira, formou-lha do lado".
5º - Não faleis muito.
A mulher que pretende obrigar o marido a ouvir-lhe um sermão muito comprido, ou há de humilhá-lo ou há de fazê-lo rir. Ouvirá, por desfastio, aquele ridículo sermão, admirando a eloqüência de sua cara metade, que sabe falar tanto, para não dizer nada. E, quando ela tiver concluído a longa predica que há dias vinha estudando, o marido, até ali, respeitosamente de pé a ouvir a oradora, assentando-se prorromperá em uma estrondosa gargalhada!
Sucesso inesperado, para tão augusto orador: nenhum resultado prático e, além disso, terá talvez provocado uma tempestade!
Se tivesse sido breve, afável, comedida nas palavras, ele aceitaria a humilhação, reconhecendo-a justa; teria tido para a sua companheira, uma palavra meiga, prometeria corrigir-se. Mas, se as admoestações não são feitas em termos ou se se repetem à moda de realejo, se, para apontar-lhe o erro ou o mau procedimento, emprega comparações, exemplos, hipérboles e outras figuras retóricas, capazes de pôr à prova a paciência de um santo, o marido acabará por dizer, formalizando-se: "Bem, querida, agora basta". E então, faze-lhe-á sentir resoluto, que aquela loquacidade não e feita para aproximar corações, nem operar conversões.
Portanto, em beneficio dos esposos, dos criados e dos filhos, muito recomendamos às senhoras, que não falem muito depressa, nem muito alto, nem muito tempo e que falem com modos.
E os homens, como hão de falar?
Os homens devem observar as mesmas recomendações. Aliás, eles, por bem ou por mal, assim o fazem; ou porque tiveram a felicidade de desposar uma mulher que, neste ponto, lhes dá o bom exemplo ou porque lhes coube por sorte uma, de língua tão expedita e ligeira, que lhes não deixa tempo de proferir uma palavra e dar um aparte.
Não ponho dúvida, entretanto, em reconhecer que, se se colocassem nos dois pratos de uma balança as virtudes das senhoras e dos homens, elas é que sairiam vencendo.
A par da loquacidade, quase natural em muitas senhoras, há virtudes, cujo monopólio lhes pertence indiscutivelmente, sem o suspeitarem talvez. Os homens, em muitos pontos e não de somemos importância, ficam-lhes muito longe.
Por isso, a mulher devotada e prudente, contribui muito para melhorar o sexo forte, corrigindo-lhe o gênio pouco afável e pouco dedicado à esposa. É pelo bom uso da língua, que a mulher conseguirá corrigir o marido.
(As desavenças no lar, por J. Nysten, 1927)
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