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sábado, 9 de janeiro de 2016

O que pensar de Valtorta?

"Replicou-lhe Jesus: Se falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que me bates?” (São João 18,23).

  * * *

 
EDITORIAL: Apresentamos uma boa opinião sobre uma vidente que é "hosanada" não só pelos modernistas, mas por muitos tradicionalistas. Cuidado! Nem tudo que reluz é ouro. Esse pulular frenético de "aparições" e "visões" é um sinal dos tempos, previsto inclusive nas Escrituras. Remetem-me aos espelhinhos e bugigangas com que os conquistadores atraíram os índios quando chegaram às Américas... Não precisamos de milagres e aparições! Precisamos crer sem ver. Este é o nosso tempo.  

E um comentário se faz necessário porque acontece algo que chama a atenção: traduzi o texto diretamente do francês, mas vi que o Non Possumus já o havia traduzido e publicado antes de mim. E me parece curioso que um blog que tanto defende a Mons. Williamson de ataques pessoais imaginários [*] publique algo contra Valtorta, uma vez que o Bispo – é de conhecimento comum! – simpatiza com esta "vidente", pois já a mencionou algumas vezes em seus escritos (CE 201 - Dois arrependimentos, por exemplo); de fato, eu até publiquei uma menção disso no Pale Ideas há alguns tempo (aqui: quando comentava a respeito de outra falsa vidente que caiu nas graças de outro Bispo; e aqui. No final, outros dois links sobre Valtorta já publicados neste blog).  

E o fato de mostrarem claramente os erros de Valtorta nos parece algo muito positivo, de bom senso, pois é realmente um perigo para a alma ler tais escritos.  

Contudo, o artigo não faz qualquer menção à simpatia de Mons. Williamson por Valtorta... Ter-se-ão esquecido disso?, ou o Non Possumus passou a ser “inimigo de Mons. Williamson”, e está a criticá-lo indiretamente? Hummm... Achei que criticar/contrariar o superior, ainda mais publicamente, fosse "sedevacantismo"... Vai ver que depende de quem diz e "como" diz (mimimi! Esto vir!). Relativizar a verdade, me parece "poco honorable y poco digno de un católico" (Pe. R.T.). 

E, por fim, me pergunto: será que encontrarão um jeito de fazer Santo Tomás dizer que, na parte em que não contrária a doutrina da Igreja, podemos ler as invenções delirantes dessa senhora? Que os escritos dela são “parasitas” que devemos manter ao invés de eliminar? Ficam as indagações... 


SE alguém se sentir na obrigação de responder a meus singelos questionamentos, faça a gentileza de ler o que escrevi com cuidado e atenção, para não fazer papel ridículo com juízos temerários e calúnias; embora eu deva agradecer de antemão por essas injustiças, tendo em vista que ornarão mais ainda a coroa da glória, no dia eterno. Se Deus assim permitir.

Giulia d'Amore 


[*] Desafio qualquer um a demonstrar ONDE Monsenhor foi atacado EM SUA PESSOA, uma vez que o que se "atacou" foram suas PALAVRAS, suas IDEIAS! E isso, até onde eu sei, não é proibido, nem é pecado, ainda mais quando há erros que devem ser corrigidos pelo bem das almas.   



* * *
 

O que pensar de Valtorta? 


Para responder a esta pergunta, reproduzimos aqui, complementando um pouco, uma passagem da recensão do livro de Padre Gérard Herrbach, “Visões sobre o Evangelho”, publicado no “Le Sel de la terre” n. 7. Para mais detalhes, remetemo-nos ao livro do Padre Herrbach disponível no site Clovis.
A propósito de Maria Valtorta

Maria Valtorta morreu em 1961, “em um isolamento psíquico incompreensível” (alucinada). Sua obra principal, “A Vida de Jesus”, escrita entre 1943 e 1947, abrange cerca de 10.000 páginas de cadernos. Seu confessor, o Padre Migliorini [1], pretende ter sido recebido em audiência, na companhia do Padre Berti, pelo Papa Pio XII, em fevereiro de 1948, e o papa lhes teria dito de publicar a obra tal e qual, acrescentando: “Quem ler, compreenderá”. Esta autorização verbal do Papa parece inverossímil: o Papa não poderia razoavelmente ter dado uma tal autorização sem ter lido o livro e sem ter-se assegurado de sua ortodoxia; mas como o papa teria encontrado tempo para ler essas 10.000 páginas? Esta autorização do papa parece mais inverossímil ainda se se considerar que o Santo Ofício proibiu permanentemente (sem correção possível) a obra um ano mais tarde, em fevereiro de 1949. Portanto, os primeiros quatro volumes foram publicados sem Imprimatur, de 1956 a 1959. Em 16 de dezembro de 1959, os livros editados foram inseridos no Index. O “L'Osservatore Romano” publicou a inserção no Index acompanhada por um artigo justificando a condenação.

Aqui estão alguns trechos:



Os quatro Evangelhos nos apresentam um Jesus humilde e cheio de reservas; seus discursos são sóbrios, incisivos, mas de uma suprema eficácia. Ao contrário, nesta espécie de história romanceada, Jesus é loquaz em excesso e se parece com um propagandista, sempre pronto a proclamar-se Messias e Filho de Deus, e a declamar lições de teologia, nos mesmos termos que usaria hoje um professor de teologia. Nas narrações do Evangelho, admiramos a humildade e o silêncio da Mãe de Jesus; ao contrário, para o autor (homem ou mulher) desta obra, a Santíssima Virgem tem a eloquência de uma advogada moderna, sempre presente em toda parte, e sempre pronta a oferecer lições teologia mariana, plenamente ao corrente dos mais recentes estudos dos especialistas atuais neste assunto. [...] Algumas páginas são bastante escabrosas e remetem às descrições e cenas dos romances modernos. Vamos dar apenas alguns exemplos, como a confissão feita a Maria por uma certa Aglaé, mulher de má vida (volume 1, p. 790 e ss. [Essas referências não corresponde à edição atual em francês, mas àquela publicada à época em italiano]); as narrações pouco edificantes das páginas 887 e ss. do volume 1; um balé executado certamente de forma impudica diante de Pilatos no Pretório (volume 4, p. 75) etc. [...] Por fim, assinalo outra afirmação estranha e imprecisa onde se diz da Virgem: “Tu, todo o tempo que permanecerás na terra, tu serás a segunda depois de Pedro, como hierarquia eclesiástica...” [as ênfases são nossas, assinala o “L'Osservatore Romano”].
 
Eis alguns exemplos dos erros e impropriedades deste livro:

Nosso Senhor pensa que hoje a palavra fatiga, e que se deve recorrer às visões... de Maria Valtorta; a árvore da vida no paraíso terrestre não passa de um símbolo; o pecado de Adão e Eva consistiu no uso do matrimônio em um espírito de luxúria; Santa Ana deu à luz sem dor; Nossa Senhora se vangloria de sua humildade e de sua calma; Ela diz ter redimido as mulheres por sua maternidade; Ela viu Deus durante Sua criação; Satanás se encarnou em Judas.

Pode-se assim notar muitas contradições com o Evangelho; por exemplo, Nosso Senhor teria sugado avidamente o fel oferecido pelo soldado; na cruz, Nosso Senhor não para de chamar “Mamãe!”, e ela de responder: “Sim, meu tesouro, eu estou aqui”; Nossa Senhora se zanga, grita e delira “quase” [2] após a morte de seu Filho; para não mencionar as numerosas sensualidades que pontilham o livro.

Eis, agora, um trecho do volume 3 (EMV 199, c. 60, p. 353) da edição francesa, que relata uma piada de péssimo gosto, e até mesmo bastante chocante, que “Jesus” teria feito a “Pedro”:

Jesus se levanta e chama em voz alta: “Simão de Jonas, venha aqui”.
Pedro sobressalta-se e sobe as escadas apressadamente:
“O que quer, Mestre?”.
“Venha aqui, usurpador e corruptor!”.
“Eu? Por quê? O que eu fiz Senhor?”.
“Você corrompeu a minha mãe. É por isso que queria estar só. O que devo fazer com você?”.
Mas Jesus sorri e Pedro se tranquiliza. “Oh!”, diz-lhe, “você realmente me assustou! Mas agora você ri...

Mons. Lefebvre durante um retiro (em setembro de 1986, quarta instrução), expressou sua reserva diante de Valtorta:

É uma vantagem para nós em (...) não nos determos muito nos diversos fatos da vida de Nosso Senhor. Talvez essas vidas [3] que foram feitas de Nosso Senhor (...) esses livros que se apresentam como revelações da vida de Nosso Senhor, em meu parecer, podem ser um perigo, precisamente porque representam Nosso Senhor de uma forma demasiado concreta, demasiado detalhada de sua vida. Refiro-me, naturalmente, a Maria Valtorta. E pode ser que para alguns essa leitura pode fazer bem, ela pode aproximar de Nosso Senhor, tentar imaginar como poderia ser a vida dos Apóstolos com Nosso Senhor, a vida em Nazaré, a vida nas visitas que fez Nosso Senhor nas cidades de Israel. Mas há um perigo, um grande perigo: humanizar demais, concretizar demais e não mostrar suficientemente a face de Deus nesta vida de Nosso Senhor. Isso é um perigo. Eu não sei se se deve realmente recomendar a essas pessoas de pouca formação a leitura de livros como esses. Eu não estou certo que ele os eleve realmente e os faça conhecer verdadeiramente a Nosso Senhor tal como Ele era, tal como é, tal como nós O devemos conhecer, crer.

Ao invés de ler esse romance onde os erros são abundantes, os fiéis fariam melhor se lessem as Sagradas Escrituras com bons comentários dos Padres da Igreja, por exemplo “A Grande Vida de Jesus Cristo” [4], de Ludolfo Cartusiano; “A Catena Aurea” [5], de Santo Tomás de Aquino; os comentários ao Evangelho de Bossuet; os comentários de “As Epístolas de São Paulo”, por Dom Delatte; ou das Escrituras, por Dom Marmion, ou ainda as boas vidas de santos: nossos antepassados se deliciaram com a “Legenda Áurea” [6], do bem-aventurado Jacopo de Varazze. As vidas de santos - exceto no caso de má hagiografia - fazem-nos ficar dentro da realidade em vez de partir para o imaginário, como é o caso dessas “visões”. As vidas de santos têm o suficiente para alimentar a imaginação, o coração e a inteligência de todos os cristãos, mesmo os mais simples; encontram-se mesmo hoje boas vidas de santos ilustradas. Aí é que podemos encontrar um verdadeiro antídoto para a televisão.

NB: Os livros que mencionamos podem ser encomendado a D.P.F. : BP 1, 86190 CHIRÉ-EN-MONTREUIL – Tél. : 05.49.51.83.04 – Fax : 05.49.51.63.50 – contact@chire.fr – www.chire.fr 



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Notas do blog: 
1. Romualdo M. Migliorini (1884-1953) pertencia à Ordem dos Servos de Maria.
2. Francisco (Bergoglio) disse algo parecido a respeito da Santíssima Mãe de Deus.
3. "Vida" ou Vita" (latim) se refere aos livros que narram a vida dos santos.
4. De Vita Christi; pode comprar aqui.
5. "A Catena Áurea", pode ler online, em espanhol: .
6. "A Legenda Áurea", pode baixar aqui; ou comprar aqui.
 


Fonte: http://www.dominicainsavrille.fr/que-penser-de-maria-valtorta.
Tradução livre e notas: Giulia d'Amore.
Grifos do original. 

Leia também: 
  1. As heresias de Maria Valtorta - http://farfalline.blogspot.com/2012/11/as-heresias-de-maria-valtorta.html.
  2. La opinión de S.E. Mons. Marcel Lefebvre acerca del "Poema del Hombre-Dio" - http://farfalline.blogspot.com/2012/11/poema-valtorta-lefebvre.html.

 



EDITADO EM 08/07/2018: OS DOMINICANOS DE AVRILLÉ DEIXARAM A PRUDÊNCIA DE LADO HÁ ALGUM TEMPO. REZEMOS PARA QUE RECUPEREM O JUÍZO. 


 

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4 comentários:

  1. Olá Caríssima Giulia. Deus te abençoe. Giulia, e o caso da Maria Simma que alegava ter visões das Almas do Purgatório? Ela foi aprovada ou reprovada pela Santa Igreja Católica?

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  2. Caríssimo sr. José Antônio, grata pelas bençãos. A sra. Maria Simma não foi reconhecida pela Igreja (não obstante os simpatizantes afirmem - sem apresenta provas - que este ou aquele bispo a tenha reconhecido) e temo não será pois, apesar das belas palavras sobre a comunhão na boca, ela "reconhece" Medjugorje como uma aparição verdadeira... Sic. Salve Maria.

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  3. Como fui uma tola ao me deixar enganar por este livro! Sou uma soberba arrogante sem precedentes que se achou digna o bastante de saber da vida de Jesus em detalhes. Uma curiosa doente! Quanta raiva e vergonha de mim ������ Obrigada por este artigo extremamente esclarecedor. Eu já estava desconfiando de algumas passagens no livro e agora verifico com certeza, graças a este post e outro que li. Mais uma vez, obrigada por tirar esta idiota iludida da fantasia.

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    1. NÃO SE ENVERGONHE,virtude daquele que se arrepede e é humilde....

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