São Macários do Egito, dito o Grande – chamado assim para diferenciá-lo do outro, São Macários de Alexandria – nasceu por volta do princípio do quarto século de uma família pobre e obscura, de tal forma que em sua primeira juventude foi destinado a cuidar de gado. Um dia, encontrando-se com outros meninos, seus companheiros, roubou alguns figos, ainda que ele tivesse comido só um; mas teve tanta dor por essa ação, quando entendeu quanto seja uma má coisa o ofender a Deus, ainda que levemente, que a lamentou por toda a sua vida. Determinou-se, portanto, em logo abandonar o seu ofício, e se retirou a uma pequena cela próxima a uma terra, onde atendia ao divino serviço e à obra de sua eterna saúde. E com tanto fervor de espírito procurava avançar na perfeição que o perfume de suas virtudes, tendo-se esparramado em breve tempo, fez com que ele fosse tirado de seu retiro e destinado a servir à Igreja daquela terra, recebendo a ordenação clerical. Ele, contudo, não conseguiu resolver-se a continuar naquele emprego e, portanto, fugiu para outro lugar, onde continuou a levar a sua vida retirada, ocupando-se na oração, na mortificação e no trabalho manual, fazendo cestos, os quais dava a um bom secular que lhe dava os mantimentos. Depois, se retirou a um horrível deserto do Egito, chamado “Scete” [em grego “os ascetas”, atual Wadi El Natrun, ou Deserto da Nítria]; estava com trinta anos de idade. Lá o seu exemplo levou muitos a segui-lo e a colocar-se sob sua direção, de tal forma que, dez anos depois, aos 40 anos, foi obrigado a exercer as funções eclesiásticas, para que essa multidão de solitários não fosse privada da palavra de Deus e dos outros socorros que dependem do ministério sacerdotal.
2. Esse ofício tão santo era exercitado por Macários com uma pureza de coração mais angélica do que humana, muitas vezes era raptado para fora de si mesmo, conversando sempre com Deus, por meio de uma contínua oração. Por isso, amava particularmente o silêncio e a solidão, e, assim, logo que havia satisfeito os deveres de caridade, voltava a um recolhimento tão grande que mantinha a sua alma unida a Deus incessantemente. Observava, também, o Santo, uma regra de vida austeríssima, à qual exortava os seus Monges com as instruções e com os exemplos, o que se pode argumentar por este único teste: certo dia, por volta do meio-dia, estando um seu discípulo em sua companhia e com uma grande sede, lhe pediu licença para beber um pouco de água. Macários lhe disse: “contentai-vos, por ora, de descansar-vos um pouco na sombra, e pensai que, neste momento, há viajantes, por terra ou por mar, que estão privados desse alívio que a vós é concedido”. Então, continuando o discurso sobre a mortificação, acrescentou ao mesmo discípulo: “tende coragem, filhinho meu: eu passei vinte anos inteiros sem nunca satisfazer a meu apetite, nem no alimento, nem na bebida, nem no sono, pois eu não comia senão uma pequena quantidade de pão, que antes eu pesava, e uma pequena medida de água, e, apoiando-me um pouco a um muro, tomava rapidamente um pouco de sono, que não podia dispensar”.
3. Enquanto Macários estava em oração, um dia ouviu uma voz que lhe dizia: "Macários, tu não alcançaste ainda tanta perfeição quanta encontrarás em duas mulheres que moram juntas em uma tal cidade". O santo velho logo se pôs a caminho para encontrar aquele modelo de virtude que lhe fora revelado. Bateu, assim, à porta da casa na qual moravam as duas mulheres, uma das quais lhe abriu e o acolheu com muita cortesia, e, tendo Macários perguntado de sua companheira, esta logo se apresentou; e, assim, o Santo se sentou e lhes disse: “por causa de vocês, eu vim do fundo do deserto para esta cidade, ansioso por saber o que vós fazeis, e o vosso padrão de vossa vida”. — “Ó, santo Padre”, responderam elas, “e quais boas obras podeis vós encontrar em pessoas casadas, as quais habitam com seus maridos?”. Mas, estimulando-as todavia o Santo a declarar o sistema de suas vidas para a sua própria edificação, elas lhe disseram: “nós desposamos dois irmãos, e há quinze anos que moramos juntos; desde então, não nos recordamos de ter jamais proferido uma palavra má, nem de ter tido o mínimo conflito entre nós, pelo contrário, pela graça de Deus sempre mantivemos uma perfeita união. Desejávamos induzir nossos maridos a nos dar licença para nos retirarmos em um mosteiro de Virgens cristãs; mas, não tendo podido obter esta graça, prometemos ambas, na presença de Deus, de não nos falarmos nunca alguma palavra mundana, e de fazer em todas as coisas a vontade de Deus, enquanto vivermos”. Tendo ouvido essas coisas, Macários exclamou dizendo: “Ó, como é verdade, que Deus compartilha seus dons, seja à virgem, que à casada, seja ao monge que ao secular. Ele não considera senão as disposições do coração, e dá o Espírito Santo a todos os que O querem servir, de qualquer condição esses sejam”. O Santo teve a sorte de padecer pela fé da Divindade de Jesus Cristo, junto com muitos outros solitários [eremitas; NdT] do Egito, aos quais fizeram uma longa e cruel guerra os Arianos; e, tendo cumprido a sua carreira, adormeceu no Senhor à idade de noventa anos.
Aproveitemos o exemplo deste Santo, e das advertências que ele deu: aprendamos que, em qualquer estado de vida estejamos, nós podemos, com a ajuda divina, nos tornar santos. Na exata observância dos Mandamentos de Deus; na caridade e união com nossos próximos, especialmente aqueles entre os quais se convive; na submissão sincera à vontade e disposição do Senhor em todos os acontecimentos aborrecidos e adversos; e, finalmente, no cumprimento das obrigações do próprio estado, nisso consiste a verdadeira santidade. Quem é fiel a Deus em tais coisas, pode chegar a um alto grau de perfeição, como fizeram as duas mencionadas Mulheres, e igualar a virtude dos mais austeros Religiosos.
“Vite dei Santi di ogni stato e condizione, ricavate dalle due raccolte del celebre Padre Carlo Massini”, della Congregazione dell’Oratorio di Roma, Volume I, 1824. Turim. pp. 110-115.
Tradução: Giulia d’Amore. 23/01/2016.
2. Esse ofício tão santo era exercitado por Macários com uma pureza de coração mais angélica do que humana, muitas vezes era raptado para fora de si mesmo, conversando sempre com Deus, por meio de uma contínua oração. Por isso, amava particularmente o silêncio e a solidão, e, assim, logo que havia satisfeito os deveres de caridade, voltava a um recolhimento tão grande que mantinha a sua alma unida a Deus incessantemente. Observava, também, o Santo, uma regra de vida austeríssima, à qual exortava os seus Monges com as instruções e com os exemplos, o que se pode argumentar por este único teste: certo dia, por volta do meio-dia, estando um seu discípulo em sua companhia e com uma grande sede, lhe pediu licença para beber um pouco de água. Macários lhe disse: “contentai-vos, por ora, de descansar-vos um pouco na sombra, e pensai que, neste momento, há viajantes, por terra ou por mar, que estão privados desse alívio que a vós é concedido”. Então, continuando o discurso sobre a mortificação, acrescentou ao mesmo discípulo: “tende coragem, filhinho meu: eu passei vinte anos inteiros sem nunca satisfazer a meu apetite, nem no alimento, nem na bebida, nem no sono, pois eu não comia senão uma pequena quantidade de pão, que antes eu pesava, e uma pequena medida de água, e, apoiando-me um pouco a um muro, tomava rapidamente um pouco de sono, que não podia dispensar”.
3. Enquanto Macários estava em oração, um dia ouviu uma voz que lhe dizia: "Macários, tu não alcançaste ainda tanta perfeição quanta encontrarás em duas mulheres que moram juntas em uma tal cidade". O santo velho logo se pôs a caminho para encontrar aquele modelo de virtude que lhe fora revelado. Bateu, assim, à porta da casa na qual moravam as duas mulheres, uma das quais lhe abriu e o acolheu com muita cortesia, e, tendo Macários perguntado de sua companheira, esta logo se apresentou; e, assim, o Santo se sentou e lhes disse: “por causa de vocês, eu vim do fundo do deserto para esta cidade, ansioso por saber o que vós fazeis, e o vosso padrão de vossa vida”. — “Ó, santo Padre”, responderam elas, “e quais boas obras podeis vós encontrar em pessoas casadas, as quais habitam com seus maridos?”. Mas, estimulando-as todavia o Santo a declarar o sistema de suas vidas para a sua própria edificação, elas lhe disseram: “nós desposamos dois irmãos, e há quinze anos que moramos juntos; desde então, não nos recordamos de ter jamais proferido uma palavra má, nem de ter tido o mínimo conflito entre nós, pelo contrário, pela graça de Deus sempre mantivemos uma perfeita união. Desejávamos induzir nossos maridos a nos dar licença para nos retirarmos em um mosteiro de Virgens cristãs; mas, não tendo podido obter esta graça, prometemos ambas, na presença de Deus, de não nos falarmos nunca alguma palavra mundana, e de fazer em todas as coisas a vontade de Deus, enquanto vivermos”. Tendo ouvido essas coisas, Macários exclamou dizendo: “Ó, como é verdade, que Deus compartilha seus dons, seja à virgem, que à casada, seja ao monge que ao secular. Ele não considera senão as disposições do coração, e dá o Espírito Santo a todos os que O querem servir, de qualquer condição esses sejam”. O Santo teve a sorte de padecer pela fé da Divindade de Jesus Cristo, junto com muitos outros solitários [eremitas; NdT] do Egito, aos quais fizeram uma longa e cruel guerra os Arianos; e, tendo cumprido a sua carreira, adormeceu no Senhor à idade de noventa anos.
Aproveitemos o exemplo deste Santo, e das advertências que ele deu: aprendamos que, em qualquer estado de vida estejamos, nós podemos, com a ajuda divina, nos tornar santos. Na exata observância dos Mandamentos de Deus; na caridade e união com nossos próximos, especialmente aqueles entre os quais se convive; na submissão sincera à vontade e disposição do Senhor em todos os acontecimentos aborrecidos e adversos; e, finalmente, no cumprimento das obrigações do próprio estado, nisso consiste a verdadeira santidade. Quem é fiel a Deus em tais coisas, pode chegar a um alto grau de perfeição, como fizeram as duas mencionadas Mulheres, e igualar a virtude dos mais austeros Religiosos.
“Vite dei Santi di ogni stato e condizione, ricavate dalle due raccolte del celebre Padre Carlo Massini”, della Congregazione dell’Oratorio di Roma, Volume I, 1824. Turim. pp. 110-115.
Tradução: Giulia d’Amore. 23/01/2016.
Vide também: Mastiguem o nome de Jesus: http://farfalline.blogspot.com/2016/02/mastiguem-o-nome-de-jesus.html.
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