Aleluia! Finalmente o Gnocchi chegou lá. Que ele é um dos meus escritores preferidos, junto com o finado Mario Palmari, os meus leitores já sabem (veja a tag), mas eu havia parado de ler o que escreviam, mais ou menos quando Palmari faleceu, porque eles estavam “quase lá”, e eu já estava cansada dos “quase lá”, como eles, o Socci e o Mastino, por exemplo. Quem ainda está sub CVII ou crê que Bento XVI é tradicionalista... me dá nos nervos e ponho de lado mesmo, com toda a genialidade que possam indiscutivelmente ter. Mas Gnocchi reacende minhas esperanças, e quiçá Socci e os demais também possam alcançar essa clareza e tomada de posição que vejo, agora, neste texto, que assino embaixo como se meu fosse. Contudo... ainda sinto um cheiro de respeitos humanos em suas palavras. Aceitável, porque a conversão pode ser assim mesmo, aos poucos, ainda que seja desejável que fosse de um sopetão, como tive oportunidade de testemunhar algumas poucas vezes: uma mudada de rota definitiva e instantânea. Sobretudo em se tratando de um formador de opinião. E isso também é uma atividade solitária.
Não sei se é porque sempre fui autossuficiente, desde menina; nunca precisei “do outro”, de grupos, de estar com a maioria; sempre fui “eu & Deus” – o que me parece hoje uma grande e bela graça, pois sempre me soou como um defeito meu, o de não precisar pertencer – mas o fato é que a perspectiva de ficar só nesse mundo, sem sacramentos, já não me preocupa há algum tempo. Bom, só para registro: quando falo “só” não me refiro à minha família, meu marido e minha filha, mas em sentido maior. Preciso desenhar?
E é verdade que, desde que redescobri a Tradição, e percebi que estava de volta à Casa Paterna, passei a ter a boa sensação de não estar mais só, de pertencer a algo. Mas, graças ao estudo da doutrina e a uma boa orientação por parte do meu diretor espiritual, hoje não tenho mais medo (Lucas 12,7) de estar só, de não ter os Sacramentos, de vivenciar a experiência japonesa de quase 3 séculos sem padres e, portanto, sem Missa e sem Sacramento. Minh'alma custou o Sangue de um Deus bom, e não vou expô-la a riscos em missas juramentadas – ou em vias de – ao CVII só “porque sou pecador e preciso dos Sacramentos”, como ouço muito por aí, e que é de uma arrogância sem par! Eu não. Eu me confio nas mãos de Deus e aceito de bom grado tudo que Ele me mandar, inclusive o castigo que o mundo merece. Ainda que ele me mate, nele esperarei, dizia o bom Jó (13,15).
I - Ir à missa “em latim” de qualquer sacerdote que está sub (ou em vias de) Concílio Vaticano II, mesmo que ele o critique de manhã, de tarde e de noite, é ir a uma missa juramentada. A mesma dos tempos da revolução maçônica francesa.
II - ir à missa juramentada “pelos sacramentos” mostra falta de catecismo e de confiança em Deus.
Raça de víboras. Homens de pouca fé. Não tenhais medo! Deus dá as graças.
Chegou na redação:
Caro Dr. Gnocchi,
Costumo ler os sites e publicações ligadas à Tradição. Costumo ir a conferências e sempre tenho a impressão de que se fazem críticas internas, não construtivas, ao invés de fazer uma aliança contra o inimigo comum. Em suma, penso que este seja o momento em que se deve unir e não dividir, mirar naquilo que nos une e não naquilo sobre o qual não há acordo. Sei que não pensa assim, por quê?
Obrigado
Francesco Sabelli
Caro Francesco,
Não tenho nada a acrescentar, e sobretudo nada a retirar, a tudo o que eu disse até hoje; evidentemente sem resultados, pelo menos no que lhe diz respeito e, devo dizer por uma questão de honestidade, a outros leitores. Em sua carta, muito cortês, evita de me qualificar como hiper-tradicionalista, ultracatólico e divisionista. Todas medalhas que ostentaria entre o excessivo número de tradicionalistas católicos que temem receber os prefixos “hiper" e "ultra" e, deus-nos-livre, o infame carimbo de "divisionista".
Eu lhe digo sem rancor, querido Francisco, não venha mais me incomodar com essa lorota de unir ao invés de dividir. Basta, por favor. Este é o momento em que é preciso ter coragem de dividir e também a audácia de restar sós. Em tempos de caos, a clareza faz tremer e aterroriza aquelas “belas” almas que amam bancar os extremistas quando para sê-lo basta dizer “caramba” ou “poxa”. E, então, lá estão eles, todos juntos apaixonadamente, mesmo que pensem e, talvez creiam, coisas diferentes. [Aqui começa o sarcasmo típico e apropriado dele:] O importante é não ficar sozinhos. Cordeirinhos reunidos pelo medo do lobo, em vez de reunir-se pelo chamado do pastor. Cordeirinhos que, fatalmente, acabam sempre por pensar, e até mesmo crer, aquilo que não perturbe o lobo.
[Mais sarcasmo:] O Vaticano II? Deve ser lido de joelhos, desde que seja aplicado segundo seu verdadeiro espírito. A missa nova? Uma fonte inesgotável de graças, desde que seja celebrada sem aqueles terríveis abusos. O tição do inferno Bergoglio? Não há nada a temer porque sobre o destino da Igreja vigia Bento XVI, o verdadeiro Papa. A moral nos tempos do aborto, do homossexualismo e dos filhos feitos em proveta? Não deve assustar, basta sair às ruas para o Family Day [movimento que se faz também na Itália em apoio à família tradicional] e dar uma piscadela ao Fertily Day [programa do governo para a saúde reprodutiva, com ênfase à fertilização artificial; a crítica aqui é à moral dúbia do modernista].
Basta, por favor, caro Francisco. Não me incomode mais. Estou farto de escrever que o Vaticano II deve ser jogado no lixo ao invés de tentar lê-lo à luz da Tradição, porque, assim fazendo, se acaba fatalmente em ler a Tradição à luz do Vaticano II. Que a missa nova envenena as almas e sobrecarrega o espírito de quem deseja olhar realmente para o Céu; e que o bi-ritualismo tem por pai o duplipensar e por mãe a esquizofrenia espiritual. Que Bergoglio é apenas a continuação com outros meios do Ratzinger e de quem o precedeu. Que as praças, os estádios e os palacetes são os lugares nos quais o Poder concede voluntariamente a seus súditos a permissão para manifestar um dissenso que agrada aos patrões antes mesmos que aos servos [Na Itália, há vários movimentos de "desabafo", como as "Sentinelas em Pé", pessoas que marcam um local, data e horário para ficar lá, por horas, em pé, faça chuva, sol ou neve, em vigília, lendo um livro, a título de vigiar sobre os acontecimentos que possam por em risco o homem e a civilização, velam nas praças para acordar as consciências adormecidas diante do "pensamento único" que está sendo imposto à sociedade; a crítica de Gnocchi aqui faz sentido, esses movimentos são "permitidos" pelo sistema vigente, como fez a Dilma que, quando começaram os protestos pelo impeachment, com toda condescendência dizia que respeitava que pensava diferente...].
Por favor, não me incomode mais com o fantasma da divisão [essa chatice a ouvimos em 2012, quando nos afastamos da Neofrat de Fellay, e também em 2015, quando nos afastamos da Desistência de Williamson. Os dormidos não gostam de discussões, de divisões, de nada que os tire do mundinho dourado em que vivem. Me poupem! Quem divide é a própria Verdade, que não convive com o erro]. Você está aterrorizado com a realidade, caro Francisco. Este é o momento em que o semelhante vai em busca de seu próprio semelhante e descobre que sobraram poucos. Os outros são apenas fac-símiles, flagelos piores do que os inimigos declarados.
A prova sobrenatural à qual somos chamados nestes tempos é a da solidão, ou, na melhor das hipóteses, a da companhia dos poucos verdadeiros irmãos, hesitantes talvez e intimidados pela constatação de estarem isolados. E não se enfrenta a prova escondendo-se no meio da multidão aclamante, nos conventículos cavilosos, nas elites de opereta. Pelo contrário, abraçamos a prova porque é a condição natural e sobrenatural na qual cada cristão sempre enfrentou a única batalha que realmente importa, a da vida eterna. Não se vai ao Paraíso em grupinho, caro Francisco. E, para se preparar para morrer sós, é preciso aprender a viver sós.
Por favor, pare com o mantra da unidade. Sabe o que verdadeiramente une? O ódio. As multidões nunca são tão unidas como quando devem derrubar um inimigo. Realmente me importa muito pouco que se unam em torno da contestação a Bergoglio. Éramos em dois, Mario Palmaro e eu, quando nos levantamos por primeiros a dizer Desse Papa não gostamos. E em dois restamos a suportar as consequências, enquanto muitos amigos nos concediam alguns sorrisinhos de fachada e, pelas costas, explicavam que não era o tempo, não era o modo [Huuu! Quantas vezes nos disseram isso, que não era maneira de falar com um bispo... Sic! Quando estivermos diante de Deus não é sobre nossos modos e boas maneiras que Ele vai nos questionar!] de dizer, e que merecemos o que recebemos. Dois, sós e livres. A multidão antibergogliana que se abebera no Vaticano II e celebra missa de Bugnini, se algum dia se formar, se acomode em algum palacete ou em algum megabit da web, eu ficarei alhures.
De fato, é o amor, caro Francisco, o amor pela Verdade que divide e separa. No Calvário, aos pés da Cruz, estavam a Virgem Maria, Maria de Cléofas, Maria Madalena e João. O Evangelho nem diz que estivessem lá em contemplação, mas apenas que "estavam" lá. Separados do mundo, abandonados pela multidão que se havia unido para matar o Filho de Deus. Divididos, por amor, de todos aqueles que tinham em seus corações o ódio. Aquela era a Igreja, caro Francisco: "Eis o teu filho", "Eis tua mãe". No DNA espiritual de cada cristão está gravado o cromossoma da solidão e da separação. Excluí-lo significa assumir o DNA mundano do laico.
Amar, mas não com o amor do mundo, significa morrer por amor de quem nos ama. Nos últimos dias, assisti ao vídeo do Tríduo pascal pregado por Dom Divo Barsotti, em Desenzano del Garda, em 1991. Ele fala sobre o chamado a se fazer consumir por amor de Deus. O ponto mais alto é quando Barsotti se dirige pessoalmente a quem está sentado nas primeiras fileiras: "Quer você se consumir pelo Seu amor? Quer? Quer?", os interroga um a um. Instantes terríveis, porque, altíssimos instantes de amor eterno, de solidão em relação aos homens que introduz à intimidade com Deus.
Quereremos, nós, nos consumir pelo Seu amor? Esta é a verdadeira pergunta que devemos nos fazer, e não sobre a unidade e a divisão. Você quer, caro Francisco, se consumir pelo Seu amor? Quero eu, Alessandro Gnocchi, me consumir pelo Seu amor? Entende, Francisco, que, após a única resposta que pode dar o cristão, tudo o resto não conta para nada?
Claro que, depois, virá também o momento de estar juntos. Mas, então, será fácil, porque os semelhantes se reconhecerão imediatamente, e não precisarão se reunir em conferências para compreender o quanto se assemelham. Não sei lhe dizer se isso corresponde a um novo começo da civilização. Certamente será o fim da incivilidade.
Alessandro Gnocchi
Louvado seja Jesus Cristo.
Sexta-feira, março 31, 2017
Fonte: https://www.riscossacristiana.it/fuori-moda-la-posta-di-alessandro-gnocchi-310317/
Tradução: Giulia d'Amore
Não sei se é porque sempre fui autossuficiente, desde menina; nunca precisei “do outro”, de grupos, de estar com a maioria; sempre fui “eu & Deus” – o que me parece hoje uma grande e bela graça, pois sempre me soou como um defeito meu, o de não precisar pertencer – mas o fato é que a perspectiva de ficar só nesse mundo, sem sacramentos, já não me preocupa há algum tempo. Bom, só para registro: quando falo “só” não me refiro à minha família, meu marido e minha filha, mas em sentido maior. Preciso desenhar?
E é verdade que, desde que redescobri a Tradição, e percebi que estava de volta à Casa Paterna, passei a ter a boa sensação de não estar mais só, de pertencer a algo. Mas, graças ao estudo da doutrina e a uma boa orientação por parte do meu diretor espiritual, hoje não tenho mais medo (Lucas 12,7) de estar só, de não ter os Sacramentos, de vivenciar a experiência japonesa de quase 3 séculos sem padres e, portanto, sem Missa e sem Sacramento. Minh'alma custou o Sangue de um Deus bom, e não vou expô-la a riscos em missas juramentadas – ou em vias de – ao CVII só “porque sou pecador e preciso dos Sacramentos”, como ouço muito por aí, e que é de uma arrogância sem par! Eu não. Eu me confio nas mãos de Deus e aceito de bom grado tudo que Ele me mandar, inclusive o castigo que o mundo merece. Ainda que ele me mate, nele esperarei, dizia o bom Jó (13,15).
I - Ir à missa “em latim” de qualquer sacerdote que está sub (ou em vias de) Concílio Vaticano II, mesmo que ele o critique de manhã, de tarde e de noite, é ir a uma missa juramentada. A mesma dos tempos da revolução maçônica francesa.
II - ir à missa juramentada “pelos sacramentos” mostra falta de catecismo e de confiança em Deus.
Raça de víboras. Homens de pouca fé. Não tenhais medo! Deus dá as graças.
* * *
SOLIDÃO DO COMBATE DA FÉ
Chegou na redação:
Caro Dr. Gnocchi,
Costumo ler os sites e publicações ligadas à Tradição. Costumo ir a conferências e sempre tenho a impressão de que se fazem críticas internas, não construtivas, ao invés de fazer uma aliança contra o inimigo comum. Em suma, penso que este seja o momento em que se deve unir e não dividir, mirar naquilo que nos une e não naquilo sobre o qual não há acordo. Sei que não pensa assim, por quê?
Obrigado
Francesco Sabelli
* * *
Caro Francesco,
Não tenho nada a acrescentar, e sobretudo nada a retirar, a tudo o que eu disse até hoje; evidentemente sem resultados, pelo menos no que lhe diz respeito e, devo dizer por uma questão de honestidade, a outros leitores. Em sua carta, muito cortês, evita de me qualificar como hiper-tradicionalista, ultracatólico e divisionista. Todas medalhas que ostentaria entre o excessivo número de tradicionalistas católicos que temem receber os prefixos “hiper" e "ultra" e, deus-nos-livre, o infame carimbo de "divisionista".
Eu lhe digo sem rancor, querido Francisco, não venha mais me incomodar com essa lorota de unir ao invés de dividir. Basta, por favor. Este é o momento em que é preciso ter coragem de dividir e também a audácia de restar sós. Em tempos de caos, a clareza faz tremer e aterroriza aquelas “belas” almas que amam bancar os extremistas quando para sê-lo basta dizer “caramba” ou “poxa”. E, então, lá estão eles, todos juntos apaixonadamente, mesmo que pensem e, talvez creiam, coisas diferentes. [Aqui começa o sarcasmo típico e apropriado dele:] O importante é não ficar sozinhos. Cordeirinhos reunidos pelo medo do lobo, em vez de reunir-se pelo chamado do pastor. Cordeirinhos que, fatalmente, acabam sempre por pensar, e até mesmo crer, aquilo que não perturbe o lobo.
[Mais sarcasmo:] O Vaticano II? Deve ser lido de joelhos, desde que seja aplicado segundo seu verdadeiro espírito. A missa nova? Uma fonte inesgotável de graças, desde que seja celebrada sem aqueles terríveis abusos. O tição do inferno Bergoglio? Não há nada a temer porque sobre o destino da Igreja vigia Bento XVI, o verdadeiro Papa. A moral nos tempos do aborto, do homossexualismo e dos filhos feitos em proveta? Não deve assustar, basta sair às ruas para o Family Day [movimento que se faz também na Itália em apoio à família tradicional] e dar uma piscadela ao Fertily Day [programa do governo para a saúde reprodutiva, com ênfase à fertilização artificial; a crítica aqui é à moral dúbia do modernista].
Basta, por favor, caro Francisco. Não me incomode mais. Estou farto de escrever que o Vaticano II deve ser jogado no lixo ao invés de tentar lê-lo à luz da Tradição, porque, assim fazendo, se acaba fatalmente em ler a Tradição à luz do Vaticano II. Que a missa nova envenena as almas e sobrecarrega o espírito de quem deseja olhar realmente para o Céu; e que o bi-ritualismo tem por pai o duplipensar e por mãe a esquizofrenia espiritual. Que Bergoglio é apenas a continuação com outros meios do Ratzinger e de quem o precedeu. Que as praças, os estádios e os palacetes são os lugares nos quais o Poder concede voluntariamente a seus súditos a permissão para manifestar um dissenso que agrada aos patrões antes mesmos que aos servos [Na Itália, há vários movimentos de "desabafo", como as "Sentinelas em Pé", pessoas que marcam um local, data e horário para ficar lá, por horas, em pé, faça chuva, sol ou neve, em vigília, lendo um livro, a título de vigiar sobre os acontecimentos que possam por em risco o homem e a civilização, velam nas praças para acordar as consciências adormecidas diante do "pensamento único" que está sendo imposto à sociedade; a crítica de Gnocchi aqui faz sentido, esses movimentos são "permitidos" pelo sistema vigente, como fez a Dilma que, quando começaram os protestos pelo impeachment, com toda condescendência dizia que respeitava que pensava diferente...].
Por favor, não me incomode mais com o fantasma da divisão [essa chatice a ouvimos em 2012, quando nos afastamos da Neofrat de Fellay, e também em 2015, quando nos afastamos da Desistência de Williamson. Os dormidos não gostam de discussões, de divisões, de nada que os tire do mundinho dourado em que vivem. Me poupem! Quem divide é a própria Verdade, que não convive com o erro]. Você está aterrorizado com a realidade, caro Francisco. Este é o momento em que o semelhante vai em busca de seu próprio semelhante e descobre que sobraram poucos. Os outros são apenas fac-símiles, flagelos piores do que os inimigos declarados.
A prova sobrenatural à qual somos chamados nestes tempos é a da solidão, ou, na melhor das hipóteses, a da companhia dos poucos verdadeiros irmãos, hesitantes talvez e intimidados pela constatação de estarem isolados. E não se enfrenta a prova escondendo-se no meio da multidão aclamante, nos conventículos cavilosos, nas elites de opereta. Pelo contrário, abraçamos a prova porque é a condição natural e sobrenatural na qual cada cristão sempre enfrentou a única batalha que realmente importa, a da vida eterna. Não se vai ao Paraíso em grupinho, caro Francisco. E, para se preparar para morrer sós, é preciso aprender a viver sós.
Por favor, pare com o mantra da unidade. Sabe o que verdadeiramente une? O ódio. As multidões nunca são tão unidas como quando devem derrubar um inimigo. Realmente me importa muito pouco que se unam em torno da contestação a Bergoglio. Éramos em dois, Mario Palmaro e eu, quando nos levantamos por primeiros a dizer Desse Papa não gostamos. E em dois restamos a suportar as consequências, enquanto muitos amigos nos concediam alguns sorrisinhos de fachada e, pelas costas, explicavam que não era o tempo, não era o modo [Huuu! Quantas vezes nos disseram isso, que não era maneira de falar com um bispo... Sic! Quando estivermos diante de Deus não é sobre nossos modos e boas maneiras que Ele vai nos questionar!] de dizer, e que merecemos o que recebemos. Dois, sós e livres. A multidão antibergogliana que se abebera no Vaticano II e celebra missa de Bugnini, se algum dia se formar, se acomode em algum palacete ou em algum megabit da web, eu ficarei alhures.
De fato, é o amor, caro Francisco, o amor pela Verdade que divide e separa. No Calvário, aos pés da Cruz, estavam a Virgem Maria, Maria de Cléofas, Maria Madalena e João. O Evangelho nem diz que estivessem lá em contemplação, mas apenas que "estavam" lá. Separados do mundo, abandonados pela multidão que se havia unido para matar o Filho de Deus. Divididos, por amor, de todos aqueles que tinham em seus corações o ódio. Aquela era a Igreja, caro Francisco: "Eis o teu filho", "Eis tua mãe". No DNA espiritual de cada cristão está gravado o cromossoma da solidão e da separação. Excluí-lo significa assumir o DNA mundano do laico.
Amar, mas não com o amor do mundo, significa morrer por amor de quem nos ama. Nos últimos dias, assisti ao vídeo do Tríduo pascal pregado por Dom Divo Barsotti, em Desenzano del Garda, em 1991. Ele fala sobre o chamado a se fazer consumir por amor de Deus. O ponto mais alto é quando Barsotti se dirige pessoalmente a quem está sentado nas primeiras fileiras: "Quer você se consumir pelo Seu amor? Quer? Quer?", os interroga um a um. Instantes terríveis, porque, altíssimos instantes de amor eterno, de solidão em relação aos homens que introduz à intimidade com Deus.
Quereremos, nós, nos consumir pelo Seu amor? Esta é a verdadeira pergunta que devemos nos fazer, e não sobre a unidade e a divisão. Você quer, caro Francisco, se consumir pelo Seu amor? Quero eu, Alessandro Gnocchi, me consumir pelo Seu amor? Entende, Francisco, que, após a única resposta que pode dar o cristão, tudo o resto não conta para nada?
Claro que, depois, virá também o momento de estar juntos. Mas, então, será fácil, porque os semelhantes se reconhecerão imediatamente, e não precisarão se reunir em conferências para compreender o quanto se assemelham. Não sei lhe dizer se isso corresponde a um novo começo da civilização. Certamente será o fim da incivilidade.
Alessandro Gnocchi
Louvado seja Jesus Cristo.
Sexta-feira, março 31, 2017
Fonte: https://www.riscossacristiana.it/fuori-moda-la-posta-di-alessandro-gnocchi-310317/
Tradução: Giulia d'Amore
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