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segunda-feira, 24 de abril de 2017

A Bastilha e a Cruz

Esses dias de retiro foram formidáveis. Para reflexões pessoais, para troca de informações, para formação... Por vezes, você fica vendo as coisas só por seu prisma e de repente descobre que, para algumas coisas, sem ser relativista, há outros possíveis prismas, sobretudo se forem mais cultos, experientes e/ou capazes do que o nosso desconhecido e diminuto prisma. Além de ser uma aula de humildade e de reordenar as coisas nas devidas perspectivas. Nada sou. Nada sei.  

Tive várias boas conversas com a Reverenda Irmã Cristiana, que me foram muito úteis, não apenas para o assunto em si que estava sendo tratado naquele momento, mas para outros que super-vieram. Uma dessas conversas tratou da cruz, ou melhor, de como as pessoas recusam a cruz. E o que a Bastilha tem a ver com isso? Já chego lá. 

Bom, me peguei pensando com meus botões, depois que voltei para Campo Grande, sobre como as pessoas recusam a cruz apesar de exteriormente procurar (até) sinceramente por ela. Pedem orações e conselhos para melhor aceitar as cruzes, me falam das dificuldades que encontram e também do desejo sincero - e não duvido - de aceitar resignadamente e até com alegria a bendita cruz, mas também logo a seguir, sem perceberem, começam as reclamações. Sem querer. Inadvertidamente.  

Daí que estava refletindo sobre isso e me ocorreu que durante a Revolução Francesa, enquanto os eventos iam se desenrolando, as pessoas passaram por sofrimentos atrozes, eram arrastadas para a prisão só por serem católicas, lá eram torturadas e por fim mortas. Desoladas, acompanharam pelas pequenas janelas de suas prisões a queda da Bastilha e tudo que esses dias terríveis e sangrentos representavam. O fim de uma era. O fim da monarquia. O rei e a rainha arrastados como malfeitores e, por fim, guilhotinados. Eu me imaginei estar na época, como uma visitante no tempo. Imagino que desolação não deve ter sido, que falta de esperança! Como alguém poderia pensar que aqueles dias passariam e que a França voltaria à liberdade? No calor do momento... não sei se alguém manteve a esperança em dias melhores, em justiça de verdade, em um libertador... É da natureza humana ter medo, duvidar. Mas a Bastilha caiu. Independentemente de todas as orações e de todas as esperanças que ainda haviam. Caiu sem ligar para a verdade e a justiça. Caiu e esmagou os sonhos e o futuro, as virtudes... 


Eu traço um paralelo para duas situações: uma geral e outra particular. 

A situação geral é o que o mundo e o Brasil vivem hoje. A neopaganização da sociedade imposta de cima para baixo por autoridades que foram instituídas pacificamente, democraticamente. Que tenha sido gramscismo ou não, pouco importa. Elas estão lá. Na Europa toda, na América Latina e no Brasil. Tudo que é imoral está sendo normatizado, ou seja, imposto por lei. E não adianta manifestações nas ruas nem espernear no Facebook. Serve apenas como desabafo. Esta cruz, caros leitores, temo que não nos será poupada. Este cálice deveremos tomá-lo até o fim. O Neopaganismo vai reinar, até como punição por termos permitido que expulsassem Deus de nossa sociedade. Esta Bastilha vai cair. São tempos de penitências e de orações. Agir no que é possível, claro, mas não creio que evitaremos aqui, por exemplo, o sofrimento que os muçulmanos impuseram à Europa decadente. #VetaMigraçãoTemer. #QueroMeDefender. 

A situação particular é bem mais comum e talvez imperceptível.  

Não temos tempo nem vontade de rezar. Ain, não consigo! Não tenho ânimo para rezar... Durmo bem no meio. O cansaço não me deixa rezar... Que horas são quando está tão cansada assim, boa alma? Mais de 18h! O resto do dia. O resto. Oferecido a Deus. Claro que não temos ânimo para rezar!!! Estamos apenas oferecendo restos.  Sem orações, meditações e leituras, como exercitar as virtudes? Como ganhar forças - sem a Missa - para suportar com resignação as tribulações? 

Desemprego, doença, desavenças familiares, péssimas escolhas... etc. etc. o quanto mais se queira reclamar. Porque é disso que se trata, de reclamação. E soa como uma reclamação a Deus. E não é? De quem reclamamos então pelos infortúnios que se abatem sobre nós? Se reclamamos, há um culpado. E quem seria? Sem rezar e sem ler, sem estudar o catecismo e as virtudes... só nos sobram as reclamações. Se nos concentrássemos no que importa e deixássemos de lado o que não importa, nossa vida seria bem mais proveitosa. E alegre. Não temais, disse Cristo. Olhai os lírios dos campos... A confiança absoluta em Deus é uma virtude, não nascemos com ela. Precisamos cultivar e alimentar. Na bonança é fácil confiar em Deus e ser grato. Mas que mérito nos advêm disso? O que vale é confiar em Deus e ser grato na desgraça, na tristeza, na doença, na desesperança... Um passo em direção ao infinito que é Deus. 

A viagem de volta foi para mim estonteante. Fez-me compreender o que é confiar absolutamente em Deus. Não tenho medo de voar de avião. Pelo menos é o que supunha. Na ida, em todas as conexões, houve turbulências. Nada que me desse pânico, mas como estava a rezar o Rosário, me concentrava mais nesses momentos. Nunca se sabe... A última conexão foi a pior porque o avião BH/Ipatinga não tinha turbinas, mas hélices. E só uma de cada lado. Depois me falaram que parece que há um tipo de motor na cauda também, mas disso eu não sabia. Diante dos 33 minutos prometidos de voo, obviamente fiquei preocupada. Confiteor em dia, um firme propósito de emenda etc., no final, em mais uma turbulência "emocionante", solicitei o auxílio de São Miguel Arcanjo e de todas as hostes celestiais sob seu comando para ajudar o piloto a posar em segurança aquela bendita aeronave que parecia mais desesperada do que eu. E assim foi. Pousamos, graças ao Bom Deus. Sim, de fato, é possível que eu tenha medo de voar de avião... Mas a volta... Ah! A volta... Desde Ipatinga e em cada um dos voos seguintes até aterrissar em Campo Grande tive paz em meu coração, porque embarquei com plena confiança em Deus. Se Ele quiser, pode tirar minha vida neste exato momento, porque não a tiraria no voo? Preocupar-se, então, me pareceu estúpido. E não me preocupei. Estava "confessada e comungada", abençoada pelo meu diretor espiritual e com a minha melhor parte, minha filha Carla, ao meu lado. Se morresse naquele momento, morreria em paz. E em paz passei por todo o trajeto de mais de 12 horas, entre 4 aeroportos, subindo e descendo de aviões, passando por turbulências, ouvindo gente gritando, chorando e até mesmo vomitando...  

Aconselho a todos a fazer a viagem Ipatinga/Campo Grande, com todas as conexões e turbulências, mas munidos da plena confiança em Deus. É libertador. Nunca senti tanta paz e confiança em minha vida. Não sei dizer se terei medo outra vez. Por óbvio, me foi dada uma graça!, não "senti" isso por mim mesma, mas por obra e graça de Deus. E a graça Deus a dá a quem quer e quando Ele quer. E Ele também a tira quando quiser. Mas a sensação não creio que eu possa esquecê-la!...  

Confiar em Deus nos dá paz. Então... por que ainda choras? Cara alma amiga, confie em Deus. Reze, mas confie nEle. Se a paz não morar em seu coração ainda assim, algo está errado. 

A Bastilha também cai aqui, inexoravelmente, porque está escrito que o sofrimento é nosso castigo. A doença, as amarguras, os problemas financeiros, as desavenças familiares sempre nos visitarão. Nada diferente nos foi prometido. São nossas cruzes, e nós devemos amá-las e agarrá-las firmemente, sobretudo porque nos foram dadas por Deus. Deus permite o sofrimento para nosso bem. Sempre é nosso bem que está em foco. Saiba ver isso em todos os seus problemas. E Deus só nos pede confiança em troca. Confiança cega. Aceite esse desafio, alma amiga. Nenhuma tempestade dura para sempre. Nenhum voo... Uma hora o avião aterrissa, a tempestade passa, a noite acaba, o dia vem! Paciência e confiança em Deus. E se não somos fiéis no pouco... como seremos fiéis no muito? Quem nos dará um muito em confiança? 

A Bastilha que vai cair querendo ou não é figura da cruz que não podemos recusar. Não devemos recusar. Não teve prece que impediu a Bastilha de cair. Não teve prece que impediu a destruição de Sodoma e Gomorra. Não sei se terá prece para evitar os horrores de nossos tempos, no mundo e no Brasil, nem se daqui por diante haverá prece para as nossas pequenas desgraças pessoais. As preces até podem encurtar os tempos, diminuir a dor. Mas a questão é que não devemos recusar as cruzes que nos foram enviadas, porque outras podem substitui-las. E essas outras podem ser muito mais pesadas. Podemos, sim, pedir forças e paciência para tudo suportar, até que passe. 

Contemplemos o cair da Bastilha com pesar, mas mantenhamos a esperança viva, porque somos o povo da Promessa. E a nós que Cristo prometeu estar conosco até o fim dos tempos. Se nos mantivermos fiéis a Ele, Ele será fiel a nós. Foi o que nos prometeu também. 

E em tempos como os nossos, que parecem tão apocalípticos diante de tantos crimes que bradam aos Céus, de todos os problemas que parecem nos esmagar e às nossas famílias, devemos rezar com plena confiança em Deus, devemos nos instruir, meditar e nos mortificar: penitência, penitência, penitência. Foi o que Nossa Senhora tem pedido em suas aparições. 

Giulia d'Amore 



É sempre válido reler: http://farfalline.blogspot.com.br/2016/10/consolacoes-em-tempo-de-perseguicoes.html. São sábios conselhos para tempos como os nossos, quase sem padres e sem Missas. 

 

2 comentários:

  1. Que texto! Que belíssimas palavras e testemunho de confiança cega em Deus. Que saibamos amar as nossas cruzes, para poder chegar cada dia mais perto de Deus. Salve Maria e Viva Cristo Rei!

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    1. Salve Maria, Caríssima Amiga! Amém. Que Deus nos dê sempre Suas graças para que nos santifiquemos. E rezemos uns pelos outros, que isso ajuda muito em nossa santificação. Viva Cristo Rei!

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