6 de Março
Santas Perpétua e Felicidade
Mártires
Senhora e escrava, Perpétua e Felicidade sofreram a prisão juntas, na Fé e na caridade, no ano de 203, na África do Norte.
clique para ver mais imagens |
Perpétua escreveu um diário na prisão, onde relata todo o sofrimento de que foram vítimas e que figura entre os escritos mais realistas e comoventes da Igreja. Além de descrever os horrores da escuridão e a forma selvagem como eram tratadas no calabouço, ela narrou como seu pai a procurou na prisão, com autorização do juiz, para tentar fazê-la desistir da Fé em Cristo e assim salvar sua vida.
Mas ambas, senhora e escrava, mantiveram-se firmes, também como outros seis Cristãos que se tornaram seus companheiros no Martírio, entre os quais o diácono Sáturo, o catequista que as havia instruído na Religião e as tinha preparado para o Batismo. Sáturo não foi preso, mas se entregou voluntariamente. Elas, que ainda não tinham sido batizadas, fizeram questão de receber o Sacramento na prisão, para reafirmar suas profissões de Cristãs e, em nenhum momento sequer, pensaram em salvar as vidas negando o Cristianismo.
Segundo os escritos oficiais que complementam o diário de Perpétua, os homens foram despedaçados por leopardos. Perpétua e Felicidade foram degoladas, depois de atacadas por touros e vacas. Era o dia 07 de março de 203.
Perpétua viveu a última hora dando extraordinária prova de amor e de tranquila dignidade. Viu Felicidade ser abatida sob os golpes dos animais, e docemente a amparou e a suspendeu nos braços; depois recompôs o seu vestido estraçalhado, demonstrando um genuíno respeito por ela. Esses gestos geraram na população pagã um breve momento de comoção piedosa. Mas por poucos segundos, pois a vontade da massa enfurecida prevaleceu, até ver o golpe fatal da degolação.
Pelo Martírio, Perpétua e Felicidade entram para a Igreja, que as veneram nesse dia com as honras litúrgicas.
Conserva-se ainda uma bela narração da sua morte, escrita em parte pelos próprios confessores da fé cartagineses, e em parte por um escritor do tempo. Os antigos documentos que narram o martírio destas duas santas, eram imensamente estimados na antiguidade, e Santo Agostinho diz que eram lidos nas igrejas com grande proveito para os ouvintes. Esses documentos narram o seguinte:
No ano 202, o imperador Severo mandou que os que continuassem sendo cristãos e não quisessem adorar aos falsos deuses tinham que morrer. Perpétua estava celebrando uma reunião religiosa em sua casa de Cartago quando chegou a guarda do imperador e a levou prisioneira, junto com sua escrava Felicidade e os escravos Revocato, Saturnino e Segundo.
Diz Perpétua em seu diário: "Nos jogaram na cárcere, e eu fiquei consternada porque nunca tinha estado em um lugar tão escuro. O calor era insuportável, e éramos muitas pessoas em um subterrâneo muito estreito. Parecia que ia morrer de calor e de asfixia e sofria por não poder ter junto a mim o meu filho, que era de tão poucos meses e que necessitava muito de mim. O que eu mais pedia a Deus era que nos concedesse um grande valor para sermos capazes de sofrer e lutar por nossa Santa Religião".
Afortunadamente, no dia seguinte chegaram os diáconos católicos e deram dinheiro aos carcereiros para que passassem aos presos a outra habitação menos sufocante e escura que a anterior, e foram levados a uma sala onde pelo menos entrava a luz do sol, e não ficavam tão apertados e incômodos. E permitiram que levassem o menino a Perpétua, o qual estava secando de pena e acabamento. Ela disse em seu diário: "Desde que tive meu pequenino junto de mim, e aquilo não me parecia uma prisão mas um palácio, e me sentia cheia de alegria. E o menino também recobrou sua alegria e seu vigor". As tias e a avó se encarregaram depois de sua criação e de sua educação.
O chefe do governo de Cartago chamou a juízo a Perpétua e seus servos. Na noite anterior, Perpétua teve uma visão na qual lhe foi dito que teriam que subir por uma escada cheia de sofrimentos, mas que no final de tão dolorosa pendente, estava um Paraíso Eterno que os esperava. Ela narrou a seus companheiros a visão que tinha tido, e todos se entusiasmaram e se propuseram permanecerem fiéis na Fé até o fim.
Primeiro, passaram os escravos e o diácono. Todos proclamaram diante das autoridades que eles eram Cristãos e que preferiam morrer antes que adorar a falsos deuses. Logo chamaram a Perpétua. O juiz lhe rogava que deixasse a Religião de Cristo e que se passasse à religião pagã e que assim salvaria a sua vida. E recordava que ela era uma mulher muito jovem e de família rica. Mas Perpétua proclamou que estava resoluta a ser fiel até à morte à Religião de Cristo Jesus. Então, chegou seu pai (o único da família que não era Cristão) e de joelhos lhe rogava e lhe suplicava que não persistisse em chamar-se Cristã. Que aceitasse a Religião do imperador. Que o fizesse por amor a seu pai e a seu filhinho. Ela se comovia intensamente, mas terminou dizendo-lhe: "Pai, como se chama esta vasilha que há aí na frente? 'Uma bandeja', respondeu o pai. Pois bem, essa vasilha deve ser chamada de bandeja, e não de pote ou colher, porque é uma bandeja. E eu, que sou Cristã, não posso me chamar pagã, nem de nenhuma outra religião, porque sou Cristã e o quero ser para sempre". E acrescenta o diário escrito por Perpétua: "Meu pai era o único da minha família que não se alegrava porque nós íamos ser Mártires por Cristo".
O juiz decretou que os três homens seriam levados ao Circo (teatro) e, ali, diante da multidão, seriam destroçados pelas feras no dia da festa do imperador, e que as duas mulheres seriam jogadas e amarradas diante de uma vaca furiosa para que as massacrasse. Mas havia um inconveniente: Felicidade ia ser mãe, e a lei proibia matar uma mulher que ia dar à luz (até os pagãos respeitavam a vida humana no ventre!). E ela desejava, sim, ser martirizada por amor a Cristo. Então os Cristãos oraram com fé, e Felicidade deu à luz uma linda menina, a qual foi confiada a cristãs fervorosas, e assim ela pôde sofrer o Martírio.
Um carcereiro debochava dizendo: "Agora se queixa pelas dores do parto. E quando chegarem das dores do martírio o que fará?" Ela respondeu-lhe: "Agora sou fraca porque sofre a minha pobre natureza. Mas quando chegar o Martírio, a graça de Deus me acompanhará, e me encherá de força".
Aos condenados à morte, permitia que fizessem uma Ceia de Despedida. Perpétua e seus companheiros converteram sua ceia final na recepção da Santa Eucaristia. Dois santos diáconos levaram a comunhão a eles, e depois de orar e de animar-se uns aos outros, se abraçaram e se despediram. Todos estavam animados, alegremente dispostos a entregar a vida para proclamar sua Fé em Jesus Cristo.
Os escravos foram jogados às feras, que os destroçaram, e eles derramaram assim valentemente seu sangue por nossa Religião.
Antes de levá-los à praça, os soldados queriam que os homens entrassem vestidos de sacerdotes dos falsos deuses e as mulheres vestidas de sacerdotisas das deusas dos pagãos. Mas Perpétua se opôs fortemente, e ninguém quis colocar vestidos de religiões falsas. O diácono Sáturo tinha conseguido converter ao Cristianismo a um dos carcereiros, chamado Pudente, e disse-lhe: "Para que vejas que Cristo sim é Deus, te anuncio que serei jogado a um urso feroz, e essa fera não me causará dano algum". E assim sucedeu: o amarraram a o aproximaram da jaula de um urso muito agressivo. O feroz animal não quis fazer-lhe nenhum dano, e ao contrário deu uma tremenda mordida no domador que tratava de fazer com que se lançasse contra o santo diácono. Então soltaram a um leopardo e este com uma dentada destroçou a Sáturo. Quando o diácono estava moribundo, untou com seu sangue um anel e o colocou no dedo de Pudente, e este aceitou definitivamente tornar-se Cristão.
Perpétua e Felicidade foram envolvidas dentro de uma malha e colocadas no meio da praça, e soltaram uma vaca bravíssima, a qual as chifrou sem misericórdia. Perpétua unicamente se preocupava por ir arrumando a roupa de maneira que não desse escândalo a ninguém por parecer pouco coberta. E arrumava também os cabelos para não parecer despenteada como uma chorona pagã. As pessoas emocionadas ao ver a valentia destas duas jovens mães, pediu que as tirassem pela porta onde iam os gladiadores vitoriosos. Perpétua, como voltando de um êxtase, perguntou: E onde está a tal vaca que ia nos atacar?
Mas logo esse povo cruel pediu que voltasse a trazê-las e que cortassem-lhes a cabeça diante de todos. Ao saber desta notícia, as duas jovens valentes se abraçaram emocionadas e voltaram à praça. Felicidade teve a cabeça cortada com uma machadada, mas o carrasco que tinha que matar Perpétua estava muito nervoso e errou o golpe. Ela deu um grito de dor, mas estendeu bem a cabeça sobre o cepo e indicou ao carrasco com a mão, o lugar preciso de seu pescoço onde devia dar a machadada. Assim, esta mulher valorosa até o último momento demonstrou que se morria Mártir era por sua própria vontade e com toda generosidade.
Estas duas mulheres, uma rica e instruída e a outra humilde e simples serva, jovens esposas e mães, que na flor da vida preferiram renunciar às alegrias de um lar, com tal de permanecer fiéis à Religião de Jesus Cristo, o que nos ensinam? Sacrificaram um meio século que poderia restar-lhes de vida nesta Terra e estão a mais de 17 séculos gozando no Paraíso Eterno.
Abaixo, o relato vindo do diário de Perpétua.
Chamados e escolhidos para glória do Senhor.
Despontou o dia da vitória dos mártires, e vieram do cárcere até ao anfiteatro, como se fosse para o Céu, de rosto radiante e sereno; e se algum tinha o rosto alterado, era de alegria e não de medo.
Perpétua foi a primeira a ser arremessada ao ar pela vaca brava, e caiu de costas no chão. Levantou-se imediatamente e, vendo Felicidade caída por terra, aproximou-se, estendeu-lhe a mão e a ergueu. Ficaram ambas de pé. Saciada a crueldade do povo, foram reconduzidas à porta chamada Sanavivária. Perpétua foi aí acolhida por um certo catecúmeno, chamado Rústico, que permanecia sempre ao seu lado; e, como se acordasse do sono (até esse momento estivera em êxtase do espírito), começou a olhar à volta e, para espanto de todos, perguntou: “Quando é que seremos expostas à tal vaca?”. Quando lhe disseram que já tinha acontecido, não quis acreditar, e só se convenceu quando viu no seu corpo e nas suas vestes a marca dos ferimentos recebidos. Chamou, então, para junto de si o seu irmão e aquele catecúmeno e disse-lhes: “Permanecei firmes na Fé, amai-vos uns aos outros e não vos perturbeis com os nossos sofrimentos”.
Por sua vez, Saturo, noutra porta do anfiteatro, exortava o soldado Pudente com estas palavras: “Até agora, tal como te tinha afirmado e predito, não fui ainda ferido por nenhuma fera. Acredita portanto agora de todo o coração: agora vou avançar de novo para ali e serei abatido com uma única mordedura de leopardo”. E imediatamente, já quase no fim do espetáculo, foi lançado a um leopardo, e com um só golpe ficou coberto de tanto sangue que o povo, sem saber o que dizia, dava testemunho do seu segundo batismo, aclamando: “Foste lavado, estás salvo. Foste lavado, estás salvo!”. E na verdade estava salvo quem de tal modo fora lavado.
Saturo disse então ao soldado Pudente: “Adeus. Lembra-te da Fé e de mim, e que estas coisas não te perturbem, mas te confirmem”. E pediu-lhe o anel que trazia no dedo, mergulhou-o na ferida e devolveu-lho como uma herança, deixando-lho como penhor e recordação do sangue. Depois, já exânime, prostrou-se com os outros no lugar destinado ao golpe de misericórdia.
Mas o povo reclamava em alta voz que aqueles que iam receber o golpe final fossem levados para o meio do anfiteatro, porque queriam ver com os seus próprios olhos, cúmplices do homicídio, a espada penetrar nos corpos das vítimas; os mártires levantaram-se espontaneamente e foram para o sítio onde o povo os queria, depois de terem dado mutuamente o ósculo santo, para coroarem o martírio com este rito de paz.
Todos receberam o golpe da espada imóveis e em silêncio: especialmente Saturo, que fora o primeiro a subir (na visão de Perpétua) e que foi o primeiro a entregar a alma. Até ao último instante ia confortando Perpétua. E esta, que desejava ainda experimentar maior dor, exultou ao sentir em seus ossos a cutilada, e ela própria guiou até a garganta a mão incerta do inexperiente gladiador. Talvez esta mulher, de quem o espírito do mal se temia, não tivesse podido ser morta de outra maneira do que querendo-o ela própria.
Ó mártires, cheios de força e ventura! Verdadeiramente fostes chamados e eleitos para a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Fontes: Da narração do martírio dos santos Mártires de Cartago. (Cap. 18-21: edit. van Beek, Nimega, 1936. pp. 42.46-52) (Sec. III) e http://www.acidigital.com/biografias/Madres/feliperpe.htm.
Vide também: Martírio: morte e ressurreição - http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/hagiografia/ss_perpetua_e_felicidade.html.
Ajude o apostolado do Rev. Pe. Cardozo, adquirindo alguns dos itens do Edições Cristo Rei, encomendando Missas (consulte a espórtula diretamente com o rev. Padre), ou fazendo uma doação aqui:
+
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog é CATÓLICO. Ao comentar, tenha ciência de que os editores se reservam o direito de publicar ou não.
COMENTE acima. Para outros assuntos, use o formulário no menu lateral. Gratos.