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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Profeta Isaias, São Justino, o boi e o jumento

O PROFETA ISAÍAS, SÃO JUSTINO, O BOI E O JUMENTO.



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Em seu novo livro sobre a infância de Jesus Cristo, Bento XVI, que o redigiu como escritor e não como Papa, comenta que o boi e o jumento não são mencionados nos Evangelhos. Realmente, não são! E isto gerou uma onda de comentários os mais desabonadores à Tradição milenar de confecção de Presépios.

Mas, o fato concreto e histórico é que os humildes animais passaram a fazer parte das representações (pinturas, esculturas etc.) do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo a partir do século II, quando São Justino, Mártir e primeiro filósofo Cristão (vide abaixo), analisando o Capítulo I do Profeta Isaías, interpretou que, com Jesus, Israel conheceu o Criador, e, como o boi e o jumento são ali mencionados como os únicos que O tinham reconhecido, o Santo sugeriu inclui-los como símbolo dos que acolhem o Salvador.

É bom lembrar, inclusive, a representação organizada por São Francisco de Assis em Greccio, no Século XIII, que se espalhou por toda a Cristandade, onde os animais também eram figuras da cena.

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Isaías é o maior dos Profetas. Embora não seja o primeiro em ordem de tempo, foi assim colocado nas Escrituras porque é digno de tal distinção pela sublimidade de suas revelações e de seu estilo.

Nascido e educado em Jerusalém, talvez de família aristocrática e ligada por parentesco à Casa Real, Isaías começou a profetizar muito jovem ainda, e seu ministério profético durou cerca de 50 anos.

Isaías viveu em tempos calamitosos. Foi nesse período que ele cumpriu seu ministério profético. É o mais eloquente de todos os Profetas. A sua linguagem é nobre, as suas expressões fortes e vivas. É o Profeta mais citado no Novo Testamento.

O fim principal de suas profecias é lançar em rosto aos Israelitas as suas infidelidades e anunciar-lhes os castigos de Deus, com a final Redenção consumada pelo Messias. Fala com tanta clareza de Jesus Cristo e da sua Igreja que, conforme diz São Jerônimo, mais parece Evangelista do que Profeta. O próprio Salvador aplicou a Si muitas profecias de Isaías, e os Evangelistas e os Apóstolos citam várias vezes o cumprimento delas em Jesus Cristo.

PROFECIA DE ISAÍAS, CAP. I - A INGRATIDÃO DO POVO ESCOLHIDO


Visão de Isaías, filho de Amós, que ele teve a respeito de Judá e Jerusalém nos dias de Ozias, Joatão, Acaz e Ezequias, reis de Judá.

Ouvi, céus, e ouça ó terra, porque o Senhor falou: Eu criei filhos e os exaltei, mas eles se rebelaram contra Mim. O boi conhece o seu possuidor, e o asno, a manjedoura[1] do seu dono; mas Israel não Me conheceu, e meu povo não compreendeu. Ai da nação pecadora, povo carregado de iniquidades, vil semente dos filhos celerados! Abandonaram o Senhor, blasfemaram contra o Santo de Israel, e voltaram para trás[2] (quer dizer, voltaram para trás a fim de se entregaram novamente à idolatria abominável).

As palavras deste Profeta, tão fortes e incisivas, não poderiam ser aplicadas aos homens de hoje? Quantas blasfêmias, quantas iniquidades, como são malvados os filhos que abandonaram sua Mãe, a Santa Igreja, ou que dentro dEla promovem a confusão e a desconfiança no meio do povo fiel! E este povo é realmente fiel?

Na Espanha, onde a tradição de confeccionar presépios é fortíssima, felizmente os Bispos incentivaram os espanhóis a continuar a montá-los... E com a presença do boi e do jumento!

Que São José e Maria Santíssima, a caminho de Belém, abram nossas inteligências e nossos corações para a Verdade contida nos Evangelhos e na Tradição bimilenar!

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SÃO JUSTINO (100 -165), FILÓSOFO, MÁRTIR.


Seu lugar de nascimento foi “Flávia Neápolis” (atual Nablus), na Síria Palestina ou Samaria. A educação infantil de Justino incluiu retórica, poesia e história. Como jovem adulto mostrou interesse por filosofia e estudou primeiro estoicismo e platonismo.

Justino foi introduzido na Fé diretamente por um ancião que o envolveu numa discussão sobre problemas filosóficos e então lhe falou sobre os profetas que vieram antes dos filósofos que profetizaram a vinda de Cristo. Assim, começou a lhe falar sobre Jesus. Falou o ancião a Justino sobre os Profetas que vieram antes dos filósofos e que falaram “como confiável testemunha da verdade”. Eles profetizaram a vinda de Cristo e suas profecias se cumpriram em Jesus. Justino disse depois: “meu espírito foi imediatamente posto no fogo e uma afeição pelos profetas e para aqueles que são amigos de Cristo, tomaram conta de mim; enquanto ponderava nestas palavras, descobri que a sua era a única filosofia segura e útil”. Justino então “se consagrou totalmente a expansão e defesa da religião cristã”.

São Justino continuou usando a capa que o identificava como filósofo, e ensinou a estudantes em Éfeso e depois em Roma. Escreveu as Apologias I e II[3] e Diálogo com Trifão[4].

A convicção de Justino da verdade do Cristo era tão completa, que ele teve morte de mártir sendo decapitado no ano 165 d.C.

Primeira Apologia, 67.66 – Texto de São Justino

“O verdadeiro pão descido do céu”: no Século II, uma das primeiras descrições da Eucaristia para além do Novo Testamento.

No dia a que chamamos dia do sol [domingo], nas cidades e nas aldeias todos os habitantes se reúnem num dado lugar. Leem-se as memórias dos apóstolos e os escritos dos Profetas, segundo o tempo de que se dispõe. Quando a leitura termina, aquele que celebra toma a palavra para chamar a atenção sobre os ensinamentos recebidos e para exortar ao seu seguimento. Depois levantamo-nos, e em conjunto apresentamos as intenções de oração. Seguidamente traz-se o pão, o vinho e a água. O presidente dirige ardentemente ao Céu súplicas e ações de graças, e o povo responde com a aclamação “Amém!”, uma palavra hebraica que quer dizer: “Assim seja”.

Chamamos este alimento “Eucaristia”, e ninguém o pode tomar se não acredita na verdade da nossa Doutrina e se não recebeu o banho do Batismo para a remissão dos pecados e a regeneração. Porque nós não tomamos este Alimento como se toma um pão ou uma bebida vulgar. Do mesmo modo que, pela Palavra de Deus, Jesus Cristo Nosso Salvador incarnou, tomando carne e sangue para nossa salvação, também o alimento consagrado pelas próprias palavras rezadas e destinado a alimentar a nossa carne e o nosso sangue para nos transformar, este Alimento é a carne e o sangue de Jesus incarnado: esta é a nossa Doutrina. Os Apóstolos, nas memórias que nos deixaram, a que chamamos os Evangelhos, transmitiram-nos a recomendação que Jesus lhes fez: Tomou o pão, abençoou e disse: ‘Fazei isto em minha memória; Isto é o meu corpo’. De igual modo tomou o cálice, abençoou-o e disse: ‘Isto é o meu sangue’. E só os deu a eles (Mt 26,26s; 1Co 11,23s)… É no dia do sol que nos reunimos todos, porque este é o primeiro dia, aquele em que Deus, para fazer o mundo, separou a matéria das trevas, e ainda o dia em que Jesus Cristo nosso Salvador ressuscitou dos mortos.
 Mais: São Justino e a Verdadeira Filosofia


Extraído e adaptado do blog "Heroínas da Cristandade".

[1] “præsepe”: manjedoura, estábulo, berço.
[2] Isaías 1,1-4. “visio Isajæ filii Amos quam vidit super Judam et Hierusalem in diebus Oziæ Joatham Ahaz Ezechiæ regum Juda. Audite cæli et auribus percipe terra quoniam Dominus locutus est filios enutrivi et exaltavi ipsi autem spreverunt me. Cognovit bos possessorem suum et asinus præsepe domini sui Israël non cognovit populus meus non intellexit. Væ genti peccatrici abalienati sunt retrorsum".

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