Transcrevo o texto de Pedro
Corrêa do Lago sobre
O registro da morte do Imperador
Tratava-se do Imperador D. Pedro II, que – prematuramente envelhecido aos 65 anos – vivia modestamente no hotel Bedford em Paris, cercado apenas da atenção de alguns fiéis monarquistas e da família que lhe restara, após a morte da Imperatriz e de sua filha Leopoldina, e do internamento de seu neto Pedro Augusto, que enlouquecera no navio que os levava ao exílio.
A saúde do Imperador dera grandes sustos nos últimos anos, e D. Pedro estivera à morte em pelo menos duas ocasiões. Mas agora sentia-se relativamente bem, fora as mazelas habituais, e preparava-se para a reunião da Academia de Ciências da França, à qual pertencia, dali a uma semana, e para o desfile de conhecidos e amigos que inevitavelmente lhe prestariam homenagem no seu aniversário de 66 anos, na semana seguinte, em 2 de dezembro.
Ocorreu de fato uma romaria nesse dia, mas de outra natureza. D. Pedro já estava quase inconsciente, pois faltavam apenas dois dias para sua morte, na primeira hora do dia 5 de dezembro. O que se verificou nessas 72 horas foi uma procissão ininterrupta de visitantes que já sabiam o Imperador desenganado.
Após ter reinado por quase sessenta anos sobre o Império do Brasil, D. Pedro II morria num modesto quarto de um hotel parisiense de segunda categoria, no qual vivera o ultimo ano de sua vida.
Ao seu lado, nos momentos finais, estava o dedicado Dr. Claudio de Motta Maia, médico que o acompanhara por dez anos e a quem o Imperador por gratidão havia agraciado em 1888 com o titulo de Conde de Motta Maia.
Na hora do falecimento estavam também presentes duas das maiores sumidades médicas da França, acorridas às pressas para tentar salvar o doente ilustre: os professores Bouchard e Charcot, (que batizariam juntos o aneurisma Charcot-Bouchard). Charles Bouchard era considerado o maior patologista de Paris e Jean-Martin Charcot é até hoje célebre por ter sido o mestre de Freud, quando este veio completar seus estudos em Paris no hospital da Salpetrière, em 1885.
Nada puderam fazer, e imediatamente após o falecimento os médicos assinaram juntos o certificado de óbito, na letra de Charcot, aqui reproduzido, e traduzido a seguir:
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"Nós, abaixo assinados, Professores da Faculdade de Medicina e doutores em medicina, certificamos que Dom Pedro II d’Alcantara morreu em 5 de Dezembro de 1891 à meia noite e 35 (da manhã) no hotel Bedford, 17 rue de l’Arcade, em Paris, em consequência de uma pneumonia aguda do pulmão esquerdo.
Paris, 5 de dezembro de 1891
J.M Charcot
C. de Motta Maia Bouchard”
Motta Maia conservou preciosamente o original deste documento, que foi pouco divulgado e reproduzido desde então. Seus bisnetos o venderam há quinze anos ao atual detentor. Assim, num simples papel de carta comum, permanece o registro oficial da morte do chefe de estado que por mais longo tempo governou o Brasil.
Sobre o Blog:
Pedro Corrêa do Lago, nascido no Rio de Janeiro em 1958, é mestre em economia pela PUC - Rio. Interessa-se por manuscritos desde os 13 anos e formou a maior coleção brasileira particular de documentos históricos e literários.
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