Santo Afonso Maria de Ligório
(27/09/1696 - 02/08/1787)
Bispo de Santa Àgata
Confessor
Doutor Zelosíssimo da Igreja
Fundador dos Missionários Redentoristas
Bispo de Santa Àgata
Confessor
Doutor Zelosíssimo da Igreja
Fundador dos Missionários Redentoristas
A Selva
SEGUNDA PARTE - MATERIAIS PARA AS INSTRUÇÕES
OITAVA INSTRUÇÃO
Sobre a mortificação, e especialmente sobre a mortificação interior
I - Necessidade da mortificação em geral
Deus criou o homem reto 1 e justo, de modo que a carne obedecia sem repugnância ao espírito e o espírito a Deus. Sobreveio o pecado, e transtornou esta bela ordem. Desde esse momento, começou a vida do homem a ser uma guerra contínua: Porque a carne tem apetites contrários ao espírito, e o espírito tem desejos contrários à carne 2. Era o que arrancava gemidos ao Apóstolo: Sinto nos meus membros uma outra lei, que está em oposição com a lei do meu espírito, e me sujeita à lei do pecado3. Donde deriva que há no homem duas vidas: a dos anjos que só aspiram a fazer a vontade de Deus, e a dos irracionais, que só tendem a satisfazer os seus apetites. Se o homem cuida de fazer a vontade de Deus, torna-se anjo; se procura lisonjear os sentidos, brutaliza-se. Por isso o Senhor incumbiu a Jeremias esta missão: Eu te estabeleci para que arranques e destruas, para que edifiques e plantes4. É o que temos a praticar: devemos plantar em nós a virtudes; mas é necessário que primeiro arranquemos as ervas más. Para isso precisamos de ter sempre na mão a foice da mortificação, para cortar os apetites desordenados, que as raízes corrompidas da concupiscência, sem cessar fazem nascer em nós. Sem isso, a nossa alma se tornará um matagal de vícios.
Devemos purificar o nosso coração, se queremos ter a luz necessária para conhecer o Bem supremo que é Deus: Felizes os de coração puro, porque eles verão a Deus5. Eis por que Sto. Agostinho disse: Quereis ver a Deus?Pensai primeiro em purificar o vosso coração6. Isaías faz esta pergunta: A quem ensinará Deus a ciência? E responde: Aos ablatados e que já se não alimentam de leite7. Não dá Deus a ciência dos santos, — que consiste em conhecê-lo e amá-lo, — senão aos que estão divorciados e desapegados dos prazeres do mundo. Quanto ao homem animal, esse não compreende as coisas do Espírito de Deus8. Aquele que, à semelhança do bruto, só pensa em abarrotar-se de prazeres sensuais, esse não é capaz de compreender a excelência dos bens espirituais.
Diz S. Francisco de Sales que assim como o sal preserva a carne da corrupção, assim a mortificação preserva o homem do pecado. Na alma em que reina a mortificação, reinarão as outras virtudes. Lê-se nos Salmos: Dos vossos vestidos se exala um odor de mirra, de aloes e de âmbar9. Palavras que o abade Gueric comenta assim: Se começardes por derramar um odor de mirra, mediante a mortificação das paixões, derramareis também o odor de todas as virtudes10. É precisamente o que exprime a Esposa dos Cânticos: Colhi a minha mirra com os outros aromas 11.
Toda a nossa santidade e a própria salvação consistem na imitação de Jesus Cristo: Os que escolheu também os predestinou para serem retratos fiéis do seu Filho12. Jamais porém poderemos seguir a Jesus Cristo, se não começarmos por renunciar a nós mesmos, e não abraçarmos a mortificação, — a cruz que ele nos convida a levar: Se alguém quiser vir atrás de mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me13. A vida do nosso Redentor foi toda cheia de dores, sofrimentos e humilhações. É o que dele diz Isaías: Um homem desprezado, o último dos homens, um homem de dores14. À semelhança duma mãe que aleita o seu filho doente, e para o curar toma remédios amargos, assim o nosso Salvador, dizia Sta. Catarina de Sena, quis tomar sobre si todas estas penas para nos curar a nós, pobres doentes. Se Jesus Cristo porém tanto sofreu por nosso amor, justo é que nós soframos por amor dele. É pois para nós um dever fazermo-nos tais quais S. Paulo nos quer: Trazendo sempre nos nossos corpos a imolação de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste nos nossos corpos15. E assim nós faremos, diz Sto. Anselmo sobre esta passagem, se à imitação do Apóstolo mortificarmos assiduamente a nossa carne16. Este dever particularmente nos incumbe a nós padres, que de contínuo celebramos os mistérios da paixão de nosso Senhor. É a reflexão de Hugo de S. Vítor 17.
Os meios principais para adquirir a santidade são a oração e a mortificação, representadas nas sagradas Escrituras pelo incenso e a mirra: Quem é aquela que sobe do deserto, como uma coluna de fumo odorífero de mirra e incenso? O texto ajunta: E de todos os polvilhos aromáticos18; o que significa que a oração e a mortificação conduzem a todas as virtudes. Ambas portanto são necessárias para santificar uma alma, mas a mortificação deve preceder a oração. O Senhor primeiro convida as almas a segui-lo ao monte da mirra, depois à colina do incenso19. Segundo S. Francisco de Borja, é a oração que introduz no coração o amor divino; mas é a mortificação que prepara a morada, retirando a terra que impediria o amor de entrar lá. Se se vai à fonte colher água com um vaso cheio de terra, só se trará lama; é necessário despejar a terra antes de colher a água. “A oração sem a mortificação, dizia o Pe. Baltasar Alvarez, é uma ilusão ou dura pouco”. E segundo Sto. Inácio de Loyola, uma alma mortificada une-se mais a Deus, num quarto de hora de oração, do que outra em muitas horas. Por isso mesmo, tendo ele ouvido louvar uma pessoa como muito adiantada em oração, disse: “É um sinal de que há de ser duma grande mortificação”.
II - Necessidade da mortificação interior
Temos uma alma e um corpo. A mortificação exterior é necessária para reprimir os apetites desordenados do corpo; a mortificação interior, para refrear as afeições desordenadas da alma. Tudo isto está compreendido nestas palavras do nosso Salvador: Se alguém quer seguir-me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz...20 A mortificação exterior é-nos necessária, como veremos mais tarde. Mas a principal e mais necessária é a mortificação interior, expressa nestes termos: Renuncie a si mesmo. Esta consiste em sujeitar à razão as paixões desordenadas: a ambição, a cólera, a vaidade, o apego ao interesse, à opinião própria, à própria vontade etc. Temos a levar duas cruzes, diz Sto. Agostinho, uma corpórea e outra espiritual. Esta última é a mais sublime e consiste em governar os movimentos da alma21. A mortificação tem por objeto resistir aos apetites da carne, para a submeter ao espírito; a mortificação interior tem de resistir às afeições do coração, para as sujeitar à razão e a Deus, motivo por que o Apóstolo o apelida — circuncisão do coração22.
Por si mesmas não são más as paixões, são indiferentes; mais ainda, quando convenientemente dirigidas pela razão, volvem-se úteis, porque aproveitam à conservação do nosso ser; quando se opõem à razão, tornam-se a ruína da alma. Desgraçada a alma que Deus abandona aos seus próprios caprichos! É o castigo mais terrível que o Senhor lhe pode infligir, como ele próprio declara: Entreguei-os aos desejos dos seus corações; seguirão os seus caprichos23. Precisamos portanto de fazer incessantemente a Deus esta súplica de Salomão: Senhor, não me abandoneis à mercê das minhas paixões24.
O nosso principal cuidado deve ser o de nos vencermos a nós mesmos: Vince te ipsum. Parece que Sto. Inácio de Loyola não sabia dar aos outros ensino mais importante que este: vencer o amor próprio, quebrar a própria vontade, tal era o assunto ordinário dos seus discursos familiares; porque dizia que, de cem pessoas que fazem oração, noventa permanecem presas aos seus modos particulares de sentir. Um ato de mortificação da própria vontade valia mais a seus olhos que muitas horas de oração, abundantes em consolações espirituais. Retirava-se um irmão da companhia dos outros, para se corrigir de certo defeito; o santo lhe disse que alguns atos de mortificação em tal caso lhe seriam mais proveitosos, que um ano de silêncio numa gruta.Não é coisa pequena, diz Tomás de Kempis, renunciar a si próprio em coisas pequenas25. E S. Pedro Damião afirma que de nada servirá ter uma pessoa deixado tudo, se não se deixar a si mesma26. Daí a advertência de S. Bernardo a quem deseja renunciar a tudo, para se dar a Deus: Vós que pensais em deixar tudo, lembrai-vos de vos deixardes a vós mesmos, no número das coisas a deixar27. Jamais poderá seguir a Jesus Cristo, acrescenta ele, quem não renunciar a si próprio28. O nosso Salvador lançou-se como um gigante para percorrer a sua via29. Trilhar de perto as pisadas de Jesus Cristo, que corre, diz ainda S. Bernardo, é impossível a quem o quer seguir, carregado com o peso das suas paixões e afeições terrenas30.
É sobretudo necessário cuidar de vencer a paixão predominante. Alguns há que se mortificam em muitas coisas, mas descuidam-se de domar a paixão a que são mais inclinados; esses não podem adiantar no caminho de Deus. Quem se deixa dominar de qualquer paixão, estão em grande perigo de se perder. Pelo contrário, quem chega a vencer a sua paixão predominante, triunfará facilmente de todas as outras. Quando o inimigo mais poderoso é derrubado, torna-se fácil a vitória sobre os outros, que dispõem de menores forças. Além disto, a honra e merecimento da vitória, medem-se pela magnanimidade, que ela demandava. Tal homem, por exemplo, não será apaixonado pelo dinheiro, mas será demasiado cioso da sua reputação; outro não se importará de honras, mas será idólatra das riquezas: se o primeiro não trabalhar em se mortificar, ao ver-se desprezado dos outros, de pouco lhe aproveitará desprezar o dinheiro; do mesmo modo, se o segundo não cuidar de reprimir a sua avareza, de pouco lhe servirá desprezar as honras. Numa palavra, quanto maior violência cada um se fizer para se vencer, tanto maior mérito e proveito alcançará, como diz Tomás de Kempis: Adiantareis à proporção da violência que vos fizerdes31. Santo Inácio era dum caráter violento e arrebatado, mas a virtude tornou-o tão doce, que parecia dum natural brando e calmo. S. Francisco de Sales era também muito propenso à ira; mas, pela violência que se fez, tornou-se, como se lê na sua Vida, um modelo de paciência e doçura, no meio das injúrias e calúnias, com que foi perseguido.
Sem a mortificação interior, pouco aproveita a exterior. De que serve a uma pessoa extenuar-se com jejuns, e encher-se de orgulho? Que lhe aproveita abster-se de vinho, e embriagar-se de raiva?32 No dizer do Apóstolo, é necessário que nos despojemos do homem velho, isto é, do amor próprio, e nos revistamos do homem novo, isto é, de Jesus Cristo, que nunca teve complacência em si, como nota S. Paulo33. Era o que fazia gemer S. Bernardo, sobre o estado desgraçado dalguns monges que, mostrando nos seus hábitos aparências de humildade, conservavam no interior as suas paixões. Estes religiosos, dizia, não se despojam dos seus vícios: o que fazem é cobrir-se com sinais postiços de penitência34. Quem permanecer apegado a si mesmo e às suas coisas, pouco ou nenhum fruto colherá dos seus jejuns, vigílias, cilícios e disciplinas.
III - Prática da mortificação interior
Quem quer ser todo de Deus, diz S. João Clímaco35, deve desapegar-se principalmente de quatro coisas: bens, honras, parentes, e sobretudo da própria vontade.
1. Dos bens
Em primeiro lugar, é necessário cortar todo o apego aos bens e ao dinheiro.Diz S. Bernardo que as riquezas carregam o que as possui, mancham o que as ama, e afligem o que as perde36. Deve o padre lembrar-se que, desde a sua entrada para a Igreja, protestou que não queria nenhuns outros bens além de Deus, dizendo: É o Senhor a herança que me coube em partilha; sois vós que me pondes de posse da minha herança37. Assim, segundo S. Pedro Damião, o clérigo que primeiro escolheu a Deus para sua herança e depois se enriquece, faz uma grande injúria ao seu Criador: “Se pois Deus é a sua herança, diz ele, parece fazer uma afronta não medíocre ao seu Criador, quem, não contente com este tesouro incomparável, ainda cobiça dinheiro e bens terrenos”38. Com efeito, esse dá a entender que não lhe basta Deus para o contentar. Afirma S. Bernardo, e é verdade, que os piores avarentos são os eclesiásticos apegados às riquezas39. Quantos padres que nunca diriam missa, sem a miserável retribuição! E prouvera a Deus que tais padres nunca celebrassem! No dizer de Sto. Agostinho não buscam esse dinheiro para servirem a Deus, antes servem a Deus para ajuntarem dinheiro40.Que vergonha, exclama S. Jerônimo, ver um padre ocupado a entesourar!41
Mas, ponhamos de lado esta vergonha, e falemos do grande perigo, que corre a salvação dum padre, que quer ajuntar dinheiro e bens. Sim, exclama Sto. Hilário, colocam-se num grande perigo os padres que se afadigam a encher os seus cofres e a aumentar a sua fortuna42. Foi o que o Apóstolo nos advertiu, dizendo que os escravos da avareza, além de serem atormentados por muitos cuidados e inquietações, que lhes impedem todo o proveito espiritual, caem em tentações e desejos que os conduzem à ruína43. De fato, a que excessos não arrasta a cobiça certos padres? Roubos, injustiças, simonias, sacrilégios! Quem amontoa ouro, desperdiça a graça, diz Sto.Ambrósio44. S. Paulo compara o avarento ao idólatra45, e com razão, porque o avarento faz do dinheiro o seu Deus, isto é, o seu último fim.
Tirai a paixão do dinheiro, diz S. Crisóstomo, e tereis posto fim a todos os males46. Se queremos pois possuir a Deus, despojemo-nos de todo o apego aos bens da terra, dizia S. Filipe de Néri: “Quem deseja riquezas nunca será santo”. Para nós padres não consistem as riquezas nos bens temporais, mas sim nas virtudes; estas farão a nossa grandeza no Céu, depois de nos terem feitos vitoriosos na terra, contra os inimigos da nossa salvação. É o pensamento de S. Próspero: As nossas riquezas são a castidade, a piedade, a humildade, a doçura; nelas estão os bens que devemos ambicionar, e que farão a um tempo a nossa honra e a nossa força47. Dóceis à exortação do Apóstolo, contentemo-nos com um pouco de alimento para nos sustentarmos e com um modesto vestido para nos cobrirmos48. Ponhamos todos os nossos cuidados em nos santificarmos; é o que mais nos importa. De que servem os bens desta terra, que um dia se têm de deixar, e ao presente são incapazes de satisfazer o nosso coração! Cuidemos de adquirir os bens que havemos de levar conosco, e nos hão de fazer felizes no Paraíso, conforme a palavra do nosso Salvador: Não ajunteis tesouros na terra, onde a ferrugem e os vermes os roeriam... Amontoai tesouros no Céu49. Daqui a recomendação do Concílio de Milão aos padres: Thesaurisate, non thesauros in terra, sed bonorum operum et animarum in coelis. As boas obras e as almas conquistadas para Jesus Cristo, tais devem ser os tesouros do padre.
Por isso se a Igreja proibiu com tanto rigor, e até sob censura o comércio aos eclesiásticos, conforme o preceito do Apóstolo: O que está alistado na milícia de Deus, não se embebe nos negócios do século; só pensa em agradar ao senhor a quem serve50. O padre consagrou-se a Deus; só deve pois ocupar-se dos interesses da sua glória. Não aceita o Senhor sacrifícios vazios, destituídos de substância; assim, Davi lhe dizia: Eu vos oferecerei holocaustos cheios de medula51. Quando um padre se dissipa no meio dos negócios do mundo, diz S. Pedro Damião, os sacrifícios que oferece a Deus, — como a missa, o ofício e os exercícios de piedade, — são sacrifícios vazios, porque lhes tira a substância, isto é, a atenção e a devoção, e só oferece a pele da vítima, a aparência exterior52. Que tristeza ver um padre, que tem o poder de salvar almas e fazer grandes coisas para glória de Deus, ocupado a comprar e a vender animais ou grãos, empenhado em associações mercantis de lucros e perdas! Estais adidos a coisas demasiado altas para descerdes a coisas tão vis, diz Pedro de Blois53.
Entregar-se um padre a negócios terrenos, que outra coisa é que trabalhar em tecer teias de aranha?54 Do mesmo que a aranha se esgota a fazer a sua teia, para caçar uma mosca, assim, ó Céu!, um padre se esgota perdendo o seu tempo e o fruto das suas obras espirituais, — para quê? Para adquirir um pouco de pó! Afagida-se, diz ainda S. Boaventura, e mirra-se por ninharias, podendo possuir a Deus, soberano Senhor do universo!55 Mas, dir-se-á talvez: eu faço as coisas com probidade; negocio, é verdade, mas sem faltar à minha consciência. — Respondo, em primeiro lugar, que o negócio, por justo que seja, é proibido aos eclesiásticos, como acima se viu; donde se segue que, fazendo-o, embora se não peque contra a justiça, peca-se pelo menos contra a lei da Igreja. Além disto, responde S. Bernardo: Assim como um rio escava as terras que atravessa, assim o cuidado dos negócios arranha a consciência, isto é, sempre a fere em alguma coisa56.
Quando nisso não houvesse outro mal, ajunta S. Gregório, a multidão turbulenta dos pensamentos terrenos fecha o ouvido do coração, e não lhe permite ouvir a voz de Deus57. Afastai-vos do amor divino, na medida em que vos dais aos negócios temporais58. É verdade que os padres algumas vezes são obrigados por caridade a tratar dos negócios da sua família, mas isso não se deve permitir, diz Gregório, senão no caso de pura necessidade59. O que se vê é que é que alguns, sem necessidade, se ingerem nos negócios da família, e até impedem os seus parentes de assumirem essa gerência. Mas, se queriam trabalhar para a sua própria casa, para que se consagraram ao serviço da casa de Deus?
Também é muitíssimo arriscado para os padres o servirem na corte dos grandes. Diz Pedro de Blois que assim como os justos de salvam através de muitas tribulações, também os que se fixam nas cortes se condenam por muitas tribulações60. Igualmente se expõe a grande perigo o padre, quando se faz advogado de causas. Não é na praça que se encontra a Jesus Cristo, diz Sto. Ambrósio61. Faço apenas esta pergunta: que fundo de espiritualidade se poderá encontrar num padre que exerça a advocacia? Com que devoção poderá ele recitar o ofício divino, celebrar a santa missa, quando as dificuldades dos processos lhes absorverem o espírito, e o impedirem de pensar em Deus? As causas que o padre deve advogar são as dos pobres pecadores; são eles os clientes que deve livrar da escravidão do demônio e da morte eterna, pelos seus sermões e confissões, ou ao menos por seus bons conselhos e orações. Deve evitar os processos alheios e até quanto possível os seus. Todos os processos relativos a coisas temporais são uma fonte de inquietações, ódios e pecados. Por isso o divino Mestre disse: A quem quiser litigar para vos despojar da túnica, cedei-lhe também a capa62. Sabe-se que isto é apenas um conselho; no entanto procuremos evitar ao menos os processos de somenos importância. Creio bem que uma miserável vantagem temporal, que alcanceis, vos fará perder muito mais do repouso da vossa alma e do vosso corpo. Resignai-vos a perder alguma coisa, diz Sto. Agostinho, para poderdes pensar antes em Deus do que em processos; perdei dinheiro, para comprardes sossego63. Segundo S. Francisco de Sales, pleitear sem cair em loucuras, é somente privilégio dos santos; por isso S. João Crisóstomo condenava os pleiteantes64.
Que diremos do jogo? É certo, à face dos Cânones (veja-se principalmente o Cânon 138, do N. Código), que jogar, com freqüência e por tempo considerável, jogos de azar, em que se arrisquem grossas quantias, é pelo menos, quando houver escândalo, um pecado mortal. Quanto aos outros jogos, chamados de passatempo, não me proponho a decidir aqui, se por si mesmo, são lícitos ou ilícitos: digo apenas que tais divertimentos por certo convém pouco a um ministro de Deus, que não tem tempo de sobra para se dar ao jogo, desde que queira cumprir as suas obrigações, para consigo próprio e para com o próximo. Leio Em S. João Crisóstomo: Foi o demônio que dos jogos fez uma arte65. E eis o pensar de Sto. Ambrósio: Entendo que devemos evitar, não só o abuso do jogo, mas todo e qualquer jogo66. No mesmo lugar diz que é muito lícito o recreio, mas o que não perturbar a boa ordem da vida, nem repugnar ao nosso estado 67.
2. As honras
Em segundo lugar, deve o padre afastar do seu coração o apego às honras do mundo. Diz Pedro de Blois que a ambição causa a ruína das almas68.Transtorna ela com efeito toda a ordem duma vida boa, e destrói o amor para com Deus. O mesmo autor acrescenta que a ambição macaqueia a caridade, mas ao inverso: A caridade sofre tudo, mas pelos bens eternos; a ambição sofre tudo, pelos bens caducos. A caridade é cheia de doçura para com os pobres, a ambição o é também, mas para com os ricos. A caridade suporta tudo para agradar a Deus; a ambição suporta tudo para contentar a sua vaidade. A caridade crê e espera tudo o que se refere à vida eterna, e a ambição tudo quanto respeita à glória desta vida69.
Ó! que espinhos, que temores, censuras, recusas e ultrajes, não tem a sofrer o ambicioso para conseguir uma dignidade, um emprego70, exclama Sto. Agostinho! E que obtém afinal? Apenas um pouco de fumo, cuja posse o não satisfaz, e que a morte em breve dissipa! Vi o ímpio exaltado e erguido como os cedros do Líbano; passei além, e ele já não existia71. Diz ainda a Escritura que a honra se demuda em ignomínia para quem a procura72. E quanto mais alta é a honra, ajunta S. Bernardo, tanto mais desprezado é dos outros o indigno que a procurou73. De fato, quanto mais a dignidade é elevada, tanto mais o sujeito indigno que a ambiciona faz conhecer a sua indignidade, como nota Cassiodoro74.
A isto importa ajuntar o grande perigo, a quem os empregos vistosos expõem a salvação eterna. Visitava o Pe. Vicente Carafa um seu amigo enfermo, a quem acabava de ser conferido um emprego muito rendoso, mas muito arriscado, e como o doente lhe pedia que lhe obtivesse de Deus a saúde, respondeu-lhe: “Não, meu amigo, não quero trair a amizade que vos consagro: agora chama-vos Deus para a outra vida, porque vos quer salvar; se vos prolongasse a vida na terra, não sei se com este emprego vos salvaríeis”.Com efeito, o seu amigo morreu, e morreu cheio de consolação.
São para temer sobretudo os cargos relativos à salvação das almas. Diz-nos Sto. Agostinho que muitos lhe tinham inveja por ser bispo, ao passo que ele se afligia, por causa do perigo a que a sua dignidade o expunha75.Quando S. João Crisóstomo se viu elevado ao episcopado, ficou possuído dum terror tal, como ele próprio escreveu, que sentia a sua alma como que a arrancar-se-lhe do corpo: tanto lhe parecia duvidosa, dizia, a salvação dum pastor de almas76. Ora, se os santos, erguidos mau grado seu às dignidades eclesiásticas, tremem com o pensamento das contas que hão de dar a Deus, — como não tremerá quem por ambição se ingere num cargo de almas? Deve um encargo ser proporcionado às forças de quem o tem, diz Sto.Ambrósio; de contrário, o deixará cair por fraqueza e o quebrará77. O homem fraco que mete os ombros a um fardo pesado, em vez de o transportar será esmagado por ele.
Segundo Sto. Anselmo, o que procura cargos eclesiásticos por todos os meios, justos e injustos, não os recebe, arrebata-os78. Os que vemos que por si mesmos se intrometem na cultura da vinha do Senhor, não são obreiros, mas sim ladrões79. É o que está de acordo com o que o próprio Deus outrora declarou pela boca de Oséas: Reinam eles, mas não por escolha minha80.Donde resulta, como dizia S. Leão, que a Igreja, governada por esses ministros ambiciosos, em vez de ser servida e honrada, é antes vilipendiada e manchada por eles 81.
Observemos pois este belo preceito de Jesus Cristo: Procura sentar-te no último lugar82. Quem está sentado no chão não tem medo de cair. Não somos senão pó e cinza. Ora, não convém à cinza estar em lugar alto, nota o Doutor angélico, — onde estaria exposta a ser dissipada pelo vento83. Feliz o padre que pode dizer: Antes quero ocupar o último lugar na casa do meu Deus, do que habitar nos aposentos dos pecadores84.
3. Os pais
Em terceiro lugar, é necessário que o padre se despoje do apego a seus pais. Disse Jesus Cristo: Quem não aborrece seu pai e sua mãe... não pode ser meu discípulo 85. Mas como havemos de aborrecer nossos progenitores?Devemos deixar de os atender todas as vezes que eles se oponham ao nosso bom espírito, conforme a explicação dum sábio autor: Se eles obstam a que o seu filho padre acomode a sua vida à disciplina da Igreja, e tentam obrigá-lo a ocupar-se dos seus negócios temporais, deve evitá-los como inimigos que o afastam dos caminhos de Deus 86. O mesmo diz S. Gregório: Os que nos embargam de trilhar o caminho de Deus, devemos olhá-los como estranhos, e até aborrecê-los (aborrecer-lhes o procedimento) e fugir deles 87.
E Pedro de Blois: Só é eleito para ser sacerdote na casa do Senhor o que diz a seu pai e sua mãe: Não sei quem sois88. Quem quer servir a Deus, diz Sto. Ambrósio, deve separar-se da sua família89. Devem-se honrar os pais; mas é necessário antes de tudo obedecer a Deus, diz Sto. Agostinho90. E, segundo S. Jerônimo, deixar de obedecer a Deus para testemunhar aos seus uma grande afeição, não é piedade filial; é antes impiedade para com Deus91.Declarou o nosso Redentor que tinha vindo ao mundo para nos separar dos nossos pais92. E porque? Porque no negócio da salvação os nossos pais são (podem ser) os nossos maiores inimigos: Et inimici hominis, domestici ejus. S. Basílio nos adverte, por conseqüência, que evitemos como uma tentação diabólica o tomarmos encargo dos bens do nosso próximo93.
Que pena ver um padre, que podia salvar almas, ocupado a governar uma casa, a cuidar de animais e doutras coisas semelhantes! Como! exclama S. Jerônimo, abandonará um padre o serviço do seu Pai celeste, para comprazer com o seu pai da terra? Quando se trata, acrescenta ele, de ir aonde o serviço de Deus chama, deve o filho saltar, se preciso for, por cima do corpo do seu pai: “Desertarei eu das bandeiras do Cristo por causa de meu pai? Que fazes tu na casa paterna, ó soldado efeminado? Porque não estás no campo e nas trincheiras? Ainda mesmo que visses o teu pai estendido sobre o limiar da porta, seria necessário que passasses por cima dele, para voares de olhos enxutos para o estandarte da Cruz. O único modo de mostrar piedade neste caso é ser cruel”94.
De Sto. Antônio abade refere Sto. Agostinho que queimava as cartas recebidas de seus pais, dizendo: Para que me não queimeis, é que eu vos queimo95. Deve desprender-se de seus pais, quem quer estar unido a Deus 96.De contrário, ajunta Pedro de Blois, o amor do sangue em breve sufocará o amor de Deus97. É difícil encontrar Jesus Cristo no meio dos parentes; por isso S. Boaventura dizia: Ó meu bom Jesus, se vós não pudestes ser encontrado entre os vossos parentes, poderei eu encontrar-vos entre os meus? 98 Quando Maria tornou a encontrar Jesus no Templo e lhe disse — Meu filho, porque procedeste assim conosco? o nosso Salvador tornou-lhe como resposta: Porque me procuráreis? não sabíeis que me devo ocupar do que respeita ao serviço de meu Pai?99 Tal a resposta que o padre deve dar a seus pais, quando eles o quiserem encarregar dos seus negócios domésticos: Sou padre, só me posso ocupar das coisas de Deus; a vós, que sois seculares, é que vos pertence cuidar dos negócios do século. — É precisamente este o sentido das palavras, que o Senhor dirigiu ao jovem, que convidou para seu discípulo, e lhe pediu permissão para ir fazer o enterro a seu pai: Deixa lá os mortos a sepultarem os seus mortos 100.
4. A vontade própria
Finalmente, acima de tudo, é necessário o desapego da própria vontade.Dizia S. Filipe de Néri que a santidade consiste em quatro dedos de testa, isto é, na mortificação da própria vontade. Mortificar a própria vontade, dizia Luís de Blois, é fazer uma coisa mais agradável a Deus, do que ressuscitar mortos101. Eis por que muitos sacerdotes, curas de almas e até bispos, não contentes com passarem uma vida exemplar e apostólica, quiseram entrar em algum instituto religioso para viverem debaixo da obediência, persuadidos e com razão de que se não pode fazer a Deus sacrifício mais agradável, que o da própria vontade. Nem todos somos chamados ao estado religioso, mas quem quiser trilhar o caminho da perfeição, além da obediência devida ao seu prelado, deve ao menos sujeitar a sua vontade à autoridade dum pai espiritual, que o dirija em todos os exercícios de piedade, e mesmo nos negócios temporais de maior importância, quando esses interessem ao bem da sua alma.
O que se faz por gosto ou não aproveita, ou aproveita pouco: Até no vosso jejum se encontra a vossa vontade102. Donde S. Bernardo conclui: Grande mal é a vontade própria, que faz que as vossas boas obras não sejam boas para vós103. Não há para nós inimigo maior que a vontade própria. Tirai a vontade própria, dizia ainda S. Bernardo, e não haverá mais inferno104. Está o inferno cheio de vontades próprias. Qual é com efeito a causa dos nossos pecados, senão a própria vontade? O próprio Sto. Agostinho confessa que, quando vivia no pecado, se sentia instado pela graça a deixá-lo, mas resistia pela sua parte, retido por uma só cadeia, — a sua vontade própria105. Segundo S. Bernardo, tão oposta é a Deus a vontade própria, que até o destruiria, se Deus pudesse ser destruído106. Escrevia além disto que fazer-se discípulo de si mesmo, é querer aprender dum louco107. Importa-nos saber que todo o nosso bem consiste em nos unirmos à vontade de Deus: Na sua vontade está a vida 108.
O Senhor, porém, ordinariamente falando, não nos faz conhecer a sua vontade senão por meio dos nossos superiores, isto é, dos prelados e diretores, a quem diz: Quem vos escuta, a mim escuta; e acrescenta: E quem vos despreza, a mim despreza109. Assim, na Eucaristia se diz que é uma espécie de idolatria não obedecer aos superiores110. Por outro lado, S. Bernardo nos assegura que, embora as prescrições do nosso pai espiritual não impliquem um pecado manifesto, devemos recebê-las com inteira confiança, como se derivassem do próprio Deus 111.
Feliz quem, no momento da morte, pudesse dizer como o abade João: Nunca fiz a minha vontade, e nunca ensinei nada aos outros, que primeiro não tivesse praticado. Cassiano, que cita este exemplo, ensina que mortificar a vontade própria, é cortar a raiz de todos os vícios112. Também lemos nos Provérbios: O homem obediente será vitorioso nas suas palavras113; e noutro lugar: Mais vale a obediência que os sacrifícios114. Na verdade, oferecer a Deus esmolas, jejuns e penitências, é oferecer-lhe apenas uma parte da vítima; dar-lhe a própria vontade, render-lhe obediência, é dar-lhe tudo quando se possui. Então se lhe pode dizer: Senhor, depois do sacrifício da minha vontade, nada me resta a oferecer-vos. — Por esta razão S. Lourenço Justiniano afirma que quem faz a Deus o sacrifício da própria vontade obterá quanto quiser115. O mesmo Senhor promete, ao que renuncia à própria vontade para lhe agradar, elevá-lo acima da terra e torná-lo um homem todo celestial 116.
Meios para se vencer a si mesmo
Quanto aos meios a empregar para se vencer a si mesmo e domar todas as paixões desordenadas, ei-los aqui.
1.º - A oração: quem ora consegue tudo. Oratio, cum sit una, omnia potest, diz S. Boaventura. E o próprio Jesus Cristo disse: Pedi tudo quanto desejardes e ser-vos-á concedido 117.
2.º - Fazer-se violência com uma resolução firme; uma vontade forte triunfa de tudo.
3.º - Examinar-se sobre a paixão que tem a combater, impondo-se alguma penitência cada vez que sucumbir.
4.º - Reprimir os desejos desregrados. Dizia S. Francisco de Sales: “Quero poucas coisas; e o que quero, com muita moderação o quero” 118.
5.º - Mortificar-se nas pequenas coisas, e mesmo nas permitidas. É assim que se ganha disposição para triunfar nas ocasiões mais importantes.
Convirá por exemplo: privar-se de dizer certo gracejo, reprimir certa curiosidade, não colher determinada flor, não abrir logo uma carta, renunciar a certa empresa, fazendo um sacrifício a Deus, sem se inquietar com o desaire que lhe advier. Que fruto temos colhido nós de tantos gostos que havemos procurado e de tantas empresas coroadas de bom êxito? Se em ocasiões tais nos houvéramos mortificado, quantos merecimentos teríamos ajuntado diante de Deus! Procuremos de futuro ganhar alguma coisa para a eternidade, considerando que cada dia nos aproximamos mais da morte. À proporção que nos mortificarmos, diminuiremos os sofrimentos no Purgatório, e aumentaremos a glória eterna no Paraíso. Neste mundo estamos de passagem; em breve nos encontraremos na eternidade. Em conclusão, dir-vos-ei com S. Filipe de Néri: “Insensato, quem não se santifica”.
Deus criou o homem reto 1 e justo, de modo que a carne obedecia sem repugnância ao espírito e o espírito a Deus. Sobreveio o pecado, e transtornou esta bela ordem. Desde esse momento, começou a vida do homem a ser uma guerra contínua: Porque a carne tem apetites contrários ao espírito, e o espírito tem desejos contrários à carne 2. Era o que arrancava gemidos ao Apóstolo: Sinto nos meus membros uma outra lei, que está em oposição com a lei do meu espírito, e me sujeita à lei do pecado3. Donde deriva que há no homem duas vidas: a dos anjos que só aspiram a fazer a vontade de Deus, e a dos irracionais, que só tendem a satisfazer os seus apetites. Se o homem cuida de fazer a vontade de Deus, torna-se anjo; se procura lisonjear os sentidos, brutaliza-se. Por isso o Senhor incumbiu a Jeremias esta missão: Eu te estabeleci para que arranques e destruas, para que edifiques e plantes4. É o que temos a praticar: devemos plantar em nós a virtudes; mas é necessário que primeiro arranquemos as ervas más. Para isso precisamos de ter sempre na mão a foice da mortificação, para cortar os apetites desordenados, que as raízes corrompidas da concupiscência, sem cessar fazem nascer em nós. Sem isso, a nossa alma se tornará um matagal de vícios.
Devemos purificar o nosso coração, se queremos ter a luz necessária para conhecer o Bem supremo que é Deus: Felizes os de coração puro, porque eles verão a Deus5. Eis por que Sto. Agostinho disse: Quereis ver a Deus?Pensai primeiro em purificar o vosso coração6. Isaías faz esta pergunta: A quem ensinará Deus a ciência? E responde: Aos ablatados e que já se não alimentam de leite7. Não dá Deus a ciência dos santos, — que consiste em conhecê-lo e amá-lo, — senão aos que estão divorciados e desapegados dos prazeres do mundo. Quanto ao homem animal, esse não compreende as coisas do Espírito de Deus8. Aquele que, à semelhança do bruto, só pensa em abarrotar-se de prazeres sensuais, esse não é capaz de compreender a excelência dos bens espirituais.
Diz S. Francisco de Sales que assim como o sal preserva a carne da corrupção, assim a mortificação preserva o homem do pecado. Na alma em que reina a mortificação, reinarão as outras virtudes. Lê-se nos Salmos: Dos vossos vestidos se exala um odor de mirra, de aloes e de âmbar9. Palavras que o abade Gueric comenta assim: Se começardes por derramar um odor de mirra, mediante a mortificação das paixões, derramareis também o odor de todas as virtudes10. É precisamente o que exprime a Esposa dos Cânticos: Colhi a minha mirra com os outros aromas 11.
Toda a nossa santidade e a própria salvação consistem na imitação de Jesus Cristo: Os que escolheu também os predestinou para serem retratos fiéis do seu Filho12. Jamais porém poderemos seguir a Jesus Cristo, se não começarmos por renunciar a nós mesmos, e não abraçarmos a mortificação, — a cruz que ele nos convida a levar: Se alguém quiser vir atrás de mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me13. A vida do nosso Redentor foi toda cheia de dores, sofrimentos e humilhações. É o que dele diz Isaías: Um homem desprezado, o último dos homens, um homem de dores14. À semelhança duma mãe que aleita o seu filho doente, e para o curar toma remédios amargos, assim o nosso Salvador, dizia Sta. Catarina de Sena, quis tomar sobre si todas estas penas para nos curar a nós, pobres doentes. Se Jesus Cristo porém tanto sofreu por nosso amor, justo é que nós soframos por amor dele. É pois para nós um dever fazermo-nos tais quais S. Paulo nos quer: Trazendo sempre nos nossos corpos a imolação de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste nos nossos corpos15. E assim nós faremos, diz Sto. Anselmo sobre esta passagem, se à imitação do Apóstolo mortificarmos assiduamente a nossa carne16. Este dever particularmente nos incumbe a nós padres, que de contínuo celebramos os mistérios da paixão de nosso Senhor. É a reflexão de Hugo de S. Vítor 17.
Os meios principais para adquirir a santidade são a oração e a mortificação, representadas nas sagradas Escrituras pelo incenso e a mirra: Quem é aquela que sobe do deserto, como uma coluna de fumo odorífero de mirra e incenso? O texto ajunta: E de todos os polvilhos aromáticos18; o que significa que a oração e a mortificação conduzem a todas as virtudes. Ambas portanto são necessárias para santificar uma alma, mas a mortificação deve preceder a oração. O Senhor primeiro convida as almas a segui-lo ao monte da mirra, depois à colina do incenso19. Segundo S. Francisco de Borja, é a oração que introduz no coração o amor divino; mas é a mortificação que prepara a morada, retirando a terra que impediria o amor de entrar lá. Se se vai à fonte colher água com um vaso cheio de terra, só se trará lama; é necessário despejar a terra antes de colher a água. “A oração sem a mortificação, dizia o Pe. Baltasar Alvarez, é uma ilusão ou dura pouco”. E segundo Sto. Inácio de Loyola, uma alma mortificada une-se mais a Deus, num quarto de hora de oração, do que outra em muitas horas. Por isso mesmo, tendo ele ouvido louvar uma pessoa como muito adiantada em oração, disse: “É um sinal de que há de ser duma grande mortificação”.
II - Necessidade da mortificação interior
Temos uma alma e um corpo. A mortificação exterior é necessária para reprimir os apetites desordenados do corpo; a mortificação interior, para refrear as afeições desordenadas da alma. Tudo isto está compreendido nestas palavras do nosso Salvador: Se alguém quer seguir-me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz...20 A mortificação exterior é-nos necessária, como veremos mais tarde. Mas a principal e mais necessária é a mortificação interior, expressa nestes termos: Renuncie a si mesmo. Esta consiste em sujeitar à razão as paixões desordenadas: a ambição, a cólera, a vaidade, o apego ao interesse, à opinião própria, à própria vontade etc. Temos a levar duas cruzes, diz Sto. Agostinho, uma corpórea e outra espiritual. Esta última é a mais sublime e consiste em governar os movimentos da alma21. A mortificação tem por objeto resistir aos apetites da carne, para a submeter ao espírito; a mortificação interior tem de resistir às afeições do coração, para as sujeitar à razão e a Deus, motivo por que o Apóstolo o apelida — circuncisão do coração22.
Por si mesmas não são más as paixões, são indiferentes; mais ainda, quando convenientemente dirigidas pela razão, volvem-se úteis, porque aproveitam à conservação do nosso ser; quando se opõem à razão, tornam-se a ruína da alma. Desgraçada a alma que Deus abandona aos seus próprios caprichos! É o castigo mais terrível que o Senhor lhe pode infligir, como ele próprio declara: Entreguei-os aos desejos dos seus corações; seguirão os seus caprichos23. Precisamos portanto de fazer incessantemente a Deus esta súplica de Salomão: Senhor, não me abandoneis à mercê das minhas paixões24.
O nosso principal cuidado deve ser o de nos vencermos a nós mesmos: Vince te ipsum. Parece que Sto. Inácio de Loyola não sabia dar aos outros ensino mais importante que este: vencer o amor próprio, quebrar a própria vontade, tal era o assunto ordinário dos seus discursos familiares; porque dizia que, de cem pessoas que fazem oração, noventa permanecem presas aos seus modos particulares de sentir. Um ato de mortificação da própria vontade valia mais a seus olhos que muitas horas de oração, abundantes em consolações espirituais. Retirava-se um irmão da companhia dos outros, para se corrigir de certo defeito; o santo lhe disse que alguns atos de mortificação em tal caso lhe seriam mais proveitosos, que um ano de silêncio numa gruta.Não é coisa pequena, diz Tomás de Kempis, renunciar a si próprio em coisas pequenas25. E S. Pedro Damião afirma que de nada servirá ter uma pessoa deixado tudo, se não se deixar a si mesma26. Daí a advertência de S. Bernardo a quem deseja renunciar a tudo, para se dar a Deus: Vós que pensais em deixar tudo, lembrai-vos de vos deixardes a vós mesmos, no número das coisas a deixar27. Jamais poderá seguir a Jesus Cristo, acrescenta ele, quem não renunciar a si próprio28. O nosso Salvador lançou-se como um gigante para percorrer a sua via29. Trilhar de perto as pisadas de Jesus Cristo, que corre, diz ainda S. Bernardo, é impossível a quem o quer seguir, carregado com o peso das suas paixões e afeições terrenas30.
É sobretudo necessário cuidar de vencer a paixão predominante. Alguns há que se mortificam em muitas coisas, mas descuidam-se de domar a paixão a que são mais inclinados; esses não podem adiantar no caminho de Deus. Quem se deixa dominar de qualquer paixão, estão em grande perigo de se perder. Pelo contrário, quem chega a vencer a sua paixão predominante, triunfará facilmente de todas as outras. Quando o inimigo mais poderoso é derrubado, torna-se fácil a vitória sobre os outros, que dispõem de menores forças. Além disto, a honra e merecimento da vitória, medem-se pela magnanimidade, que ela demandava. Tal homem, por exemplo, não será apaixonado pelo dinheiro, mas será demasiado cioso da sua reputação; outro não se importará de honras, mas será idólatra das riquezas: se o primeiro não trabalhar em se mortificar, ao ver-se desprezado dos outros, de pouco lhe aproveitará desprezar o dinheiro; do mesmo modo, se o segundo não cuidar de reprimir a sua avareza, de pouco lhe servirá desprezar as honras. Numa palavra, quanto maior violência cada um se fizer para se vencer, tanto maior mérito e proveito alcançará, como diz Tomás de Kempis: Adiantareis à proporção da violência que vos fizerdes31. Santo Inácio era dum caráter violento e arrebatado, mas a virtude tornou-o tão doce, que parecia dum natural brando e calmo. S. Francisco de Sales era também muito propenso à ira; mas, pela violência que se fez, tornou-se, como se lê na sua Vida, um modelo de paciência e doçura, no meio das injúrias e calúnias, com que foi perseguido.
Sem a mortificação interior, pouco aproveita a exterior. De que serve a uma pessoa extenuar-se com jejuns, e encher-se de orgulho? Que lhe aproveita abster-se de vinho, e embriagar-se de raiva?32 No dizer do Apóstolo, é necessário que nos despojemos do homem velho, isto é, do amor próprio, e nos revistamos do homem novo, isto é, de Jesus Cristo, que nunca teve complacência em si, como nota S. Paulo33. Era o que fazia gemer S. Bernardo, sobre o estado desgraçado dalguns monges que, mostrando nos seus hábitos aparências de humildade, conservavam no interior as suas paixões. Estes religiosos, dizia, não se despojam dos seus vícios: o que fazem é cobrir-se com sinais postiços de penitência34. Quem permanecer apegado a si mesmo e às suas coisas, pouco ou nenhum fruto colherá dos seus jejuns, vigílias, cilícios e disciplinas.
III - Prática da mortificação interior
Quem quer ser todo de Deus, diz S. João Clímaco35, deve desapegar-se principalmente de quatro coisas: bens, honras, parentes, e sobretudo da própria vontade.
1. Dos bens
Em primeiro lugar, é necessário cortar todo o apego aos bens e ao dinheiro.Diz S. Bernardo que as riquezas carregam o que as possui, mancham o que as ama, e afligem o que as perde36. Deve o padre lembrar-se que, desde a sua entrada para a Igreja, protestou que não queria nenhuns outros bens além de Deus, dizendo: É o Senhor a herança que me coube em partilha; sois vós que me pondes de posse da minha herança37. Assim, segundo S. Pedro Damião, o clérigo que primeiro escolheu a Deus para sua herança e depois se enriquece, faz uma grande injúria ao seu Criador: “Se pois Deus é a sua herança, diz ele, parece fazer uma afronta não medíocre ao seu Criador, quem, não contente com este tesouro incomparável, ainda cobiça dinheiro e bens terrenos”38. Com efeito, esse dá a entender que não lhe basta Deus para o contentar. Afirma S. Bernardo, e é verdade, que os piores avarentos são os eclesiásticos apegados às riquezas39. Quantos padres que nunca diriam missa, sem a miserável retribuição! E prouvera a Deus que tais padres nunca celebrassem! No dizer de Sto. Agostinho não buscam esse dinheiro para servirem a Deus, antes servem a Deus para ajuntarem dinheiro40.Que vergonha, exclama S. Jerônimo, ver um padre ocupado a entesourar!41
Mas, ponhamos de lado esta vergonha, e falemos do grande perigo, que corre a salvação dum padre, que quer ajuntar dinheiro e bens. Sim, exclama Sto. Hilário, colocam-se num grande perigo os padres que se afadigam a encher os seus cofres e a aumentar a sua fortuna42. Foi o que o Apóstolo nos advertiu, dizendo que os escravos da avareza, além de serem atormentados por muitos cuidados e inquietações, que lhes impedem todo o proveito espiritual, caem em tentações e desejos que os conduzem à ruína43. De fato, a que excessos não arrasta a cobiça certos padres? Roubos, injustiças, simonias, sacrilégios! Quem amontoa ouro, desperdiça a graça, diz Sto.Ambrósio44. S. Paulo compara o avarento ao idólatra45, e com razão, porque o avarento faz do dinheiro o seu Deus, isto é, o seu último fim.
Tirai a paixão do dinheiro, diz S. Crisóstomo, e tereis posto fim a todos os males46. Se queremos pois possuir a Deus, despojemo-nos de todo o apego aos bens da terra, dizia S. Filipe de Néri: “Quem deseja riquezas nunca será santo”. Para nós padres não consistem as riquezas nos bens temporais, mas sim nas virtudes; estas farão a nossa grandeza no Céu, depois de nos terem feitos vitoriosos na terra, contra os inimigos da nossa salvação. É o pensamento de S. Próspero: As nossas riquezas são a castidade, a piedade, a humildade, a doçura; nelas estão os bens que devemos ambicionar, e que farão a um tempo a nossa honra e a nossa força47. Dóceis à exortação do Apóstolo, contentemo-nos com um pouco de alimento para nos sustentarmos e com um modesto vestido para nos cobrirmos48. Ponhamos todos os nossos cuidados em nos santificarmos; é o que mais nos importa. De que servem os bens desta terra, que um dia se têm de deixar, e ao presente são incapazes de satisfazer o nosso coração! Cuidemos de adquirir os bens que havemos de levar conosco, e nos hão de fazer felizes no Paraíso, conforme a palavra do nosso Salvador: Não ajunteis tesouros na terra, onde a ferrugem e os vermes os roeriam... Amontoai tesouros no Céu49. Daqui a recomendação do Concílio de Milão aos padres: Thesaurisate, non thesauros in terra, sed bonorum operum et animarum in coelis. As boas obras e as almas conquistadas para Jesus Cristo, tais devem ser os tesouros do padre.
Por isso se a Igreja proibiu com tanto rigor, e até sob censura o comércio aos eclesiásticos, conforme o preceito do Apóstolo: O que está alistado na milícia de Deus, não se embebe nos negócios do século; só pensa em agradar ao senhor a quem serve50. O padre consagrou-se a Deus; só deve pois ocupar-se dos interesses da sua glória. Não aceita o Senhor sacrifícios vazios, destituídos de substância; assim, Davi lhe dizia: Eu vos oferecerei holocaustos cheios de medula51. Quando um padre se dissipa no meio dos negócios do mundo, diz S. Pedro Damião, os sacrifícios que oferece a Deus, — como a missa, o ofício e os exercícios de piedade, — são sacrifícios vazios, porque lhes tira a substância, isto é, a atenção e a devoção, e só oferece a pele da vítima, a aparência exterior52. Que tristeza ver um padre, que tem o poder de salvar almas e fazer grandes coisas para glória de Deus, ocupado a comprar e a vender animais ou grãos, empenhado em associações mercantis de lucros e perdas! Estais adidos a coisas demasiado altas para descerdes a coisas tão vis, diz Pedro de Blois53.
Entregar-se um padre a negócios terrenos, que outra coisa é que trabalhar em tecer teias de aranha?54 Do mesmo que a aranha se esgota a fazer a sua teia, para caçar uma mosca, assim, ó Céu!, um padre se esgota perdendo o seu tempo e o fruto das suas obras espirituais, — para quê? Para adquirir um pouco de pó! Afagida-se, diz ainda S. Boaventura, e mirra-se por ninharias, podendo possuir a Deus, soberano Senhor do universo!55 Mas, dir-se-á talvez: eu faço as coisas com probidade; negocio, é verdade, mas sem faltar à minha consciência. — Respondo, em primeiro lugar, que o negócio, por justo que seja, é proibido aos eclesiásticos, como acima se viu; donde se segue que, fazendo-o, embora se não peque contra a justiça, peca-se pelo menos contra a lei da Igreja. Além disto, responde S. Bernardo: Assim como um rio escava as terras que atravessa, assim o cuidado dos negócios arranha a consciência, isto é, sempre a fere em alguma coisa56.
Quando nisso não houvesse outro mal, ajunta S. Gregório, a multidão turbulenta dos pensamentos terrenos fecha o ouvido do coração, e não lhe permite ouvir a voz de Deus57. Afastai-vos do amor divino, na medida em que vos dais aos negócios temporais58. É verdade que os padres algumas vezes são obrigados por caridade a tratar dos negócios da sua família, mas isso não se deve permitir, diz Gregório, senão no caso de pura necessidade59. O que se vê é que é que alguns, sem necessidade, se ingerem nos negócios da família, e até impedem os seus parentes de assumirem essa gerência. Mas, se queriam trabalhar para a sua própria casa, para que se consagraram ao serviço da casa de Deus?
Também é muitíssimo arriscado para os padres o servirem na corte dos grandes. Diz Pedro de Blois que assim como os justos de salvam através de muitas tribulações, também os que se fixam nas cortes se condenam por muitas tribulações60. Igualmente se expõe a grande perigo o padre, quando se faz advogado de causas. Não é na praça que se encontra a Jesus Cristo, diz Sto. Ambrósio61. Faço apenas esta pergunta: que fundo de espiritualidade se poderá encontrar num padre que exerça a advocacia? Com que devoção poderá ele recitar o ofício divino, celebrar a santa missa, quando as dificuldades dos processos lhes absorverem o espírito, e o impedirem de pensar em Deus? As causas que o padre deve advogar são as dos pobres pecadores; são eles os clientes que deve livrar da escravidão do demônio e da morte eterna, pelos seus sermões e confissões, ou ao menos por seus bons conselhos e orações. Deve evitar os processos alheios e até quanto possível os seus. Todos os processos relativos a coisas temporais são uma fonte de inquietações, ódios e pecados. Por isso o divino Mestre disse: A quem quiser litigar para vos despojar da túnica, cedei-lhe também a capa62. Sabe-se que isto é apenas um conselho; no entanto procuremos evitar ao menos os processos de somenos importância. Creio bem que uma miserável vantagem temporal, que alcanceis, vos fará perder muito mais do repouso da vossa alma e do vosso corpo. Resignai-vos a perder alguma coisa, diz Sto. Agostinho, para poderdes pensar antes em Deus do que em processos; perdei dinheiro, para comprardes sossego63. Segundo S. Francisco de Sales, pleitear sem cair em loucuras, é somente privilégio dos santos; por isso S. João Crisóstomo condenava os pleiteantes64.
Que diremos do jogo? É certo, à face dos Cânones (veja-se principalmente o Cânon 138, do N. Código), que jogar, com freqüência e por tempo considerável, jogos de azar, em que se arrisquem grossas quantias, é pelo menos, quando houver escândalo, um pecado mortal. Quanto aos outros jogos, chamados de passatempo, não me proponho a decidir aqui, se por si mesmo, são lícitos ou ilícitos: digo apenas que tais divertimentos por certo convém pouco a um ministro de Deus, que não tem tempo de sobra para se dar ao jogo, desde que queira cumprir as suas obrigações, para consigo próprio e para com o próximo. Leio Em S. João Crisóstomo: Foi o demônio que dos jogos fez uma arte65. E eis o pensar de Sto. Ambrósio: Entendo que devemos evitar, não só o abuso do jogo, mas todo e qualquer jogo66. No mesmo lugar diz que é muito lícito o recreio, mas o que não perturbar a boa ordem da vida, nem repugnar ao nosso estado 67.
2. As honras
Em segundo lugar, deve o padre afastar do seu coração o apego às honras do mundo. Diz Pedro de Blois que a ambição causa a ruína das almas68.Transtorna ela com efeito toda a ordem duma vida boa, e destrói o amor para com Deus. O mesmo autor acrescenta que a ambição macaqueia a caridade, mas ao inverso: A caridade sofre tudo, mas pelos bens eternos; a ambição sofre tudo, pelos bens caducos. A caridade é cheia de doçura para com os pobres, a ambição o é também, mas para com os ricos. A caridade suporta tudo para agradar a Deus; a ambição suporta tudo para contentar a sua vaidade. A caridade crê e espera tudo o que se refere à vida eterna, e a ambição tudo quanto respeita à glória desta vida69.
Ó! que espinhos, que temores, censuras, recusas e ultrajes, não tem a sofrer o ambicioso para conseguir uma dignidade, um emprego70, exclama Sto. Agostinho! E que obtém afinal? Apenas um pouco de fumo, cuja posse o não satisfaz, e que a morte em breve dissipa! Vi o ímpio exaltado e erguido como os cedros do Líbano; passei além, e ele já não existia71. Diz ainda a Escritura que a honra se demuda em ignomínia para quem a procura72. E quanto mais alta é a honra, ajunta S. Bernardo, tanto mais desprezado é dos outros o indigno que a procurou73. De fato, quanto mais a dignidade é elevada, tanto mais o sujeito indigno que a ambiciona faz conhecer a sua indignidade, como nota Cassiodoro74.
A isto importa ajuntar o grande perigo, a quem os empregos vistosos expõem a salvação eterna. Visitava o Pe. Vicente Carafa um seu amigo enfermo, a quem acabava de ser conferido um emprego muito rendoso, mas muito arriscado, e como o doente lhe pedia que lhe obtivesse de Deus a saúde, respondeu-lhe: “Não, meu amigo, não quero trair a amizade que vos consagro: agora chama-vos Deus para a outra vida, porque vos quer salvar; se vos prolongasse a vida na terra, não sei se com este emprego vos salvaríeis”.Com efeito, o seu amigo morreu, e morreu cheio de consolação.
São para temer sobretudo os cargos relativos à salvação das almas. Diz-nos Sto. Agostinho que muitos lhe tinham inveja por ser bispo, ao passo que ele se afligia, por causa do perigo a que a sua dignidade o expunha75.Quando S. João Crisóstomo se viu elevado ao episcopado, ficou possuído dum terror tal, como ele próprio escreveu, que sentia a sua alma como que a arrancar-se-lhe do corpo: tanto lhe parecia duvidosa, dizia, a salvação dum pastor de almas76. Ora, se os santos, erguidos mau grado seu às dignidades eclesiásticas, tremem com o pensamento das contas que hão de dar a Deus, — como não tremerá quem por ambição se ingere num cargo de almas? Deve um encargo ser proporcionado às forças de quem o tem, diz Sto.Ambrósio; de contrário, o deixará cair por fraqueza e o quebrará77. O homem fraco que mete os ombros a um fardo pesado, em vez de o transportar será esmagado por ele.
Segundo Sto. Anselmo, o que procura cargos eclesiásticos por todos os meios, justos e injustos, não os recebe, arrebata-os78. Os que vemos que por si mesmos se intrometem na cultura da vinha do Senhor, não são obreiros, mas sim ladrões79. É o que está de acordo com o que o próprio Deus outrora declarou pela boca de Oséas: Reinam eles, mas não por escolha minha80.Donde resulta, como dizia S. Leão, que a Igreja, governada por esses ministros ambiciosos, em vez de ser servida e honrada, é antes vilipendiada e manchada por eles 81.
Observemos pois este belo preceito de Jesus Cristo: Procura sentar-te no último lugar82. Quem está sentado no chão não tem medo de cair. Não somos senão pó e cinza. Ora, não convém à cinza estar em lugar alto, nota o Doutor angélico, — onde estaria exposta a ser dissipada pelo vento83. Feliz o padre que pode dizer: Antes quero ocupar o último lugar na casa do meu Deus, do que habitar nos aposentos dos pecadores84.
3. Os pais
Em terceiro lugar, é necessário que o padre se despoje do apego a seus pais. Disse Jesus Cristo: Quem não aborrece seu pai e sua mãe... não pode ser meu discípulo 85. Mas como havemos de aborrecer nossos progenitores?Devemos deixar de os atender todas as vezes que eles se oponham ao nosso bom espírito, conforme a explicação dum sábio autor: Se eles obstam a que o seu filho padre acomode a sua vida à disciplina da Igreja, e tentam obrigá-lo a ocupar-se dos seus negócios temporais, deve evitá-los como inimigos que o afastam dos caminhos de Deus 86. O mesmo diz S. Gregório: Os que nos embargam de trilhar o caminho de Deus, devemos olhá-los como estranhos, e até aborrecê-los (aborrecer-lhes o procedimento) e fugir deles 87.
E Pedro de Blois: Só é eleito para ser sacerdote na casa do Senhor o que diz a seu pai e sua mãe: Não sei quem sois88. Quem quer servir a Deus, diz Sto. Ambrósio, deve separar-se da sua família89. Devem-se honrar os pais; mas é necessário antes de tudo obedecer a Deus, diz Sto. Agostinho90. E, segundo S. Jerônimo, deixar de obedecer a Deus para testemunhar aos seus uma grande afeição, não é piedade filial; é antes impiedade para com Deus91.Declarou o nosso Redentor que tinha vindo ao mundo para nos separar dos nossos pais92. E porque? Porque no negócio da salvação os nossos pais são (podem ser) os nossos maiores inimigos: Et inimici hominis, domestici ejus. S. Basílio nos adverte, por conseqüência, que evitemos como uma tentação diabólica o tomarmos encargo dos bens do nosso próximo93.
Que pena ver um padre, que podia salvar almas, ocupado a governar uma casa, a cuidar de animais e doutras coisas semelhantes! Como! exclama S. Jerônimo, abandonará um padre o serviço do seu Pai celeste, para comprazer com o seu pai da terra? Quando se trata, acrescenta ele, de ir aonde o serviço de Deus chama, deve o filho saltar, se preciso for, por cima do corpo do seu pai: “Desertarei eu das bandeiras do Cristo por causa de meu pai? Que fazes tu na casa paterna, ó soldado efeminado? Porque não estás no campo e nas trincheiras? Ainda mesmo que visses o teu pai estendido sobre o limiar da porta, seria necessário que passasses por cima dele, para voares de olhos enxutos para o estandarte da Cruz. O único modo de mostrar piedade neste caso é ser cruel”94.
De Sto. Antônio abade refere Sto. Agostinho que queimava as cartas recebidas de seus pais, dizendo: Para que me não queimeis, é que eu vos queimo95. Deve desprender-se de seus pais, quem quer estar unido a Deus 96.De contrário, ajunta Pedro de Blois, o amor do sangue em breve sufocará o amor de Deus97. É difícil encontrar Jesus Cristo no meio dos parentes; por isso S. Boaventura dizia: Ó meu bom Jesus, se vós não pudestes ser encontrado entre os vossos parentes, poderei eu encontrar-vos entre os meus? 98 Quando Maria tornou a encontrar Jesus no Templo e lhe disse — Meu filho, porque procedeste assim conosco? o nosso Salvador tornou-lhe como resposta: Porque me procuráreis? não sabíeis que me devo ocupar do que respeita ao serviço de meu Pai?99 Tal a resposta que o padre deve dar a seus pais, quando eles o quiserem encarregar dos seus negócios domésticos: Sou padre, só me posso ocupar das coisas de Deus; a vós, que sois seculares, é que vos pertence cuidar dos negócios do século. — É precisamente este o sentido das palavras, que o Senhor dirigiu ao jovem, que convidou para seu discípulo, e lhe pediu permissão para ir fazer o enterro a seu pai: Deixa lá os mortos a sepultarem os seus mortos 100.
4. A vontade própria
Finalmente, acima de tudo, é necessário o desapego da própria vontade.Dizia S. Filipe de Néri que a santidade consiste em quatro dedos de testa, isto é, na mortificação da própria vontade. Mortificar a própria vontade, dizia Luís de Blois, é fazer uma coisa mais agradável a Deus, do que ressuscitar mortos101. Eis por que muitos sacerdotes, curas de almas e até bispos, não contentes com passarem uma vida exemplar e apostólica, quiseram entrar em algum instituto religioso para viverem debaixo da obediência, persuadidos e com razão de que se não pode fazer a Deus sacrifício mais agradável, que o da própria vontade. Nem todos somos chamados ao estado religioso, mas quem quiser trilhar o caminho da perfeição, além da obediência devida ao seu prelado, deve ao menos sujeitar a sua vontade à autoridade dum pai espiritual, que o dirija em todos os exercícios de piedade, e mesmo nos negócios temporais de maior importância, quando esses interessem ao bem da sua alma.
O que se faz por gosto ou não aproveita, ou aproveita pouco: Até no vosso jejum se encontra a vossa vontade102. Donde S. Bernardo conclui: Grande mal é a vontade própria, que faz que as vossas boas obras não sejam boas para vós103. Não há para nós inimigo maior que a vontade própria. Tirai a vontade própria, dizia ainda S. Bernardo, e não haverá mais inferno104. Está o inferno cheio de vontades próprias. Qual é com efeito a causa dos nossos pecados, senão a própria vontade? O próprio Sto. Agostinho confessa que, quando vivia no pecado, se sentia instado pela graça a deixá-lo, mas resistia pela sua parte, retido por uma só cadeia, — a sua vontade própria105. Segundo S. Bernardo, tão oposta é a Deus a vontade própria, que até o destruiria, se Deus pudesse ser destruído106. Escrevia além disto que fazer-se discípulo de si mesmo, é querer aprender dum louco107. Importa-nos saber que todo o nosso bem consiste em nos unirmos à vontade de Deus: Na sua vontade está a vida 108.
O Senhor, porém, ordinariamente falando, não nos faz conhecer a sua vontade senão por meio dos nossos superiores, isto é, dos prelados e diretores, a quem diz: Quem vos escuta, a mim escuta; e acrescenta: E quem vos despreza, a mim despreza109. Assim, na Eucaristia se diz que é uma espécie de idolatria não obedecer aos superiores110. Por outro lado, S. Bernardo nos assegura que, embora as prescrições do nosso pai espiritual não impliquem um pecado manifesto, devemos recebê-las com inteira confiança, como se derivassem do próprio Deus 111.
Feliz quem, no momento da morte, pudesse dizer como o abade João: Nunca fiz a minha vontade, e nunca ensinei nada aos outros, que primeiro não tivesse praticado. Cassiano, que cita este exemplo, ensina que mortificar a vontade própria, é cortar a raiz de todos os vícios112. Também lemos nos Provérbios: O homem obediente será vitorioso nas suas palavras113; e noutro lugar: Mais vale a obediência que os sacrifícios114. Na verdade, oferecer a Deus esmolas, jejuns e penitências, é oferecer-lhe apenas uma parte da vítima; dar-lhe a própria vontade, render-lhe obediência, é dar-lhe tudo quando se possui. Então se lhe pode dizer: Senhor, depois do sacrifício da minha vontade, nada me resta a oferecer-vos. — Por esta razão S. Lourenço Justiniano afirma que quem faz a Deus o sacrifício da própria vontade obterá quanto quiser115. O mesmo Senhor promete, ao que renuncia à própria vontade para lhe agradar, elevá-lo acima da terra e torná-lo um homem todo celestial 116.
Meios para se vencer a si mesmo
Quanto aos meios a empregar para se vencer a si mesmo e domar todas as paixões desordenadas, ei-los aqui.
1.º - A oração: quem ora consegue tudo. Oratio, cum sit una, omnia potest, diz S. Boaventura. E o próprio Jesus Cristo disse: Pedi tudo quanto desejardes e ser-vos-á concedido 117.
2.º - Fazer-se violência com uma resolução firme; uma vontade forte triunfa de tudo.
3.º - Examinar-se sobre a paixão que tem a combater, impondo-se alguma penitência cada vez que sucumbir.
4.º - Reprimir os desejos desregrados. Dizia S. Francisco de Sales: “Quero poucas coisas; e o que quero, com muita moderação o quero” 118.
5.º - Mortificar-se nas pequenas coisas, e mesmo nas permitidas. É assim que se ganha disposição para triunfar nas ocasiões mais importantes.
Convirá por exemplo: privar-se de dizer certo gracejo, reprimir certa curiosidade, não colher determinada flor, não abrir logo uma carta, renunciar a certa empresa, fazendo um sacrifício a Deus, sem se inquietar com o desaire que lhe advier. Que fruto temos colhido nós de tantos gostos que havemos procurado e de tantas empresas coroadas de bom êxito? Se em ocasiões tais nos houvéramos mortificado, quantos merecimentos teríamos ajuntado diante de Deus! Procuremos de futuro ganhar alguma coisa para a eternidade, considerando que cada dia nos aproximamos mais da morte. À proporção que nos mortificarmos, diminuiremos os sofrimentos no Purgatório, e aumentaremos a glória eterna no Paraíso. Neste mundo estamos de passagem; em breve nos encontraremos na eternidade. Em conclusão, dir-vos-ei com S. Filipe de Néri: “Insensato, quem não se santifica”.
Notas:
1. Quod fecerit Deus hominem rectum (Eccli. 7, 30).
2. Caro enim concupiscit adversus spiritum, spiritus autem adversus carnem (Gal. 5, 17).
3. Video autem aliam legem in membris meis, repugnantem legi mentis meae, et captivantem me in lege peccati (Rom. 7, 23).
4. Constitui te... ut evellas et destruas... aedifices et plantes (Jer. 1, 10).
5. Beati mundo corde, quoniam ipsi Deum videbunt (Matth. 5, 8).
6. Deum videre vis? prius cogita de corde mundando (Serm. 177. E. B. app.).
7. Quem docebit (Deus) scientiam? — Ablactatos a lacte, avulsos ab uberibus (Is. 28, 9).
8. Animalis autem homo non percipit ea quae sunt Spiritus Dei (1. Cor. 2, 14).
9. Myrrha et gutta, et casia, a vestimentis tuis (Ps. 44, 9).
10. Si myrrha prima spirare coeperit per mortificationem voluptatum, consequentur et aliae species aromaticae (De Annunt. s. 1).
11. Messui myrrham meam cum aromatibus meis (Cant. 5, 1).
12. Quos praescivit, et praedestinavit conformes fieri imaginis Filii sui (Rom. 8, 29).
13. Si quis vult post me venire, abneget semetipsum et tollat crucem suam, et sequatur me (Matth. 16, 24).
14. Despectum et novissimum virorum, virum dolorum (Is. 53, 3).
15. Semper mortificationem Jesu in corpore nostro circumferentes, ut et vita Jesu manifestetur in corporibus nostris (2. Cor. 4, 10).
16. Si ad ejus imitationem, assidue, carnem mortificemus.
17. Quia passionis dominicae mysteria celebramus, debemus imitari quod agimus.
18. Quae est ista quae ascendit per desertum, sicut virgula fumi ex aromatibus myrrhae et thuris. Et universi pulveris pigmentarii (Cant. 3, 6).
19. Vadam ad montem myrrhae et ad collem thuris (Cant. 4, 6).
20. Si quis vult post me venire... (Matth. 16, 24).
21. Duo sunt crucis genera, unum corporale, aliud spirituale. Alterum est sublimius, scilicet, regere motus animi (Serm. 196. E. B. app.).
22. Circumcisio cordis in spiritu (Rom. 2, 29).
23. Dimisi eos secundum desideria cordis eorum; ibunt in adinventionibus suis (Ps. 80, 13).
24. Animae irreverenti et infrunitae ne tradas me (Eccli. 23, 6).
25. Non est minimum, in minimis seipsum relinquere (De Imit. l. 2. c. 30).
26. Nihil prodest, sine seipso, caetera reliquisse (Hom. 9).
27. Qui relinquere disponis omnia, te quoque inter relinquenda numerare memento (Declam.n. 3).
28. Sane, nisi abnegaverit semetipsum, sequi eum non potest (Decl. n. 48).
29. Exsultavit ut gigas ad currendam viam (Ps. 18, 6).
30. Exsultavit ut gigas ad currendam viam; nec sequi poteras oneratus (Declam. n. 2).
31. Tantum proficies, quantum tibi ipsi vim intuleris (De Imit. l. 1. c. 25).
32. Quid prodest tenuari abstinentia, si animus intumescit superbia? Quid vinum non bibere, et odio inebriari? (Ep. ad Celant.).
33. Etenim Christus non sibi placuit (Rom. 15, 3).
34. Humilis habitus non sanctae novitatis est meritum, sed priscae vetustatis operculum.Veterem hominem non exuerunt, sed novo palliant (In Cant. s. 16).
35. Sal. par. gr. 2.
36. Possessa onerant, amata inquinant, amissa cruciant (Ep. 103).
37. Dominus pars hereditatis meae et calicis mei; tu es qui restitues hereditatem meam mihi (Ps. 15, 5).
38. Se igitur Deus portio ejus est, non levem Creatori suo contumeliam videtur inferre, qui, super hoc singulare talentum, terrenam aestuat pecuniam cumulare (Opusc. 27, proem.).
39. Quis, obsecro, avidius clericis quaerit temporalia? (S. ad Past. in syn.).
40. Non nummum propter Deum impendunt, sed Deum propter nummum colunt (De Civit. D.l. 11.c. 25).
41. Ignominia Sacerdotis est studere divitiis (Ep. ad Nepot.).
42. Ingenti periculo sunt Sacerdotes, qui curis pecuniae, et familiarium rerum, incrementis, occupantur (In Ps. 138).
43. Qui volunt divites fieri, incidunt in tentationem, et in laqueum diaboli, et desideria multa inutilia et nociva, quae mergunt homines in interitum et perditionem (1. Tim. 6, 9).
44. Qui aurum redigit, gratiam prodigit (Serm. 59).
45. Avarus, quod est idolorum servitus (Ephes. 5, 5).
46. Tolle pecuniarum studium, et omnia mala sublata sunt (In 1. Tim. hom. 17).
47. Divitiae nostrae sunt pudicitia, pietas, humilitas, mansuetudo; illae nobis ambiendae sunt, quae nos ornare possint, pariter et munire (De Vita cont. l. 2. c. 13).
48. Habentes autem alimenta, et quibus tegamur, his contenti simus (1. Tim. 6, 8).
49. Nolite thesaurizare vobis thesauros in terra, ubi aerugo et tinea demolitur... Thesaurizate autem vobis thesauros in coelo (Matth. 6, 19).
50. Nemo, militans Deo, implicat se negotiis saecularibus, ut ei placeat, cui se probavit (2.Tim. 2, 4).
51. Holocausta medullata offeram tibi (Ps. 65, 15).
52. Quisquis se per negotiorum saecularium exercitia delectabiliter fundit, holocausti sui medullas cum visceribus subtrahit, et solam victimae pellem Deo adolere contendit (Opusc.12. c. 22).
53. Magnis addictus es, noli minimis occupari (De Inst. Episc.).
54. Fructus horum quid, nisi araneourm telae? (De Cons. l. 1. c. 2).
55. Nescio cur nos affligimus circa nihil, cum possidere Creatorem omnium valeamus! (Stim.div. am. p. 2. c. 2).
56. Rivus, qua fluit, cavat terram; sic discursos temporalium conscientiam rodit (De Cons. l. 4.c. 6).
57. Aurem cordis terrenarum cogitationum turba, dum perstrepit claudit (Mor. l. 23. c. 20).
58. Quanto se rerum studiis occupant, tanto a charitate divina se separant (Past. p. 2. c. 7).
59. Saecularia negocia aliquando ex compassione toleranda sunt, nunquam vero ex amore requirenda (Epist. 14).
60. Per multas tribulationes, intrant justi in regnum coelorum; hi autem, per multas tribulationes, promerentur infernum (De Virginit. l. 3.).
61. Non in foro Christus reperitur.
62. Ei qui vult tecum judicio contendere, et tunicam tuam tolere, dimitte ei et pallium (Matth. 5, 40).
63. Perde aliquid, ut Deo vaces, non litibus. Perde nummos, ut emas tibi quietem (Serm. 167.E. B.).
64. Hinc jam te condemno, quod judicio contendas (In 1. Cor. hom. 16).
65. Diabolus est qui in artem ludos digessit (In Matth. hom. 6).
66. Non solum profusos, sed omnes etiam jocos declinandos arbritor (Offic. l. 1.c. 23).
67. Licet interdum honesta joca sint, tamen ab ecclesiastica abhorrent regula (Epist. 23).
68. Animarum subversio, cupiditas dignitatum (Epist. 14).
69. Patitur omnia, sed pro caducis. — Benigna est, sed divitibus. — Omnia suffert pro vanitate.— Omnia credit, omnia sperat, sed quae sunt ad gloriam hujus vitae.
70. In honorum cupiditate, quantae spinae! (Enarr. in Ps. 102).
71. Vidi impium superexaltatum, et elevatum sicut cedros Libani; transivi, et ecce non erat (Ps. 36, 35).
72. Stultorum exaltatio, ignominia (Prov. 3, 35).
73. E o deformior, quo illustrior (De Cons. l. 2. c. 7).
74. Claras suas maculas reddit (Variar. l. 12. n. 2).
75. Invident nobis; ibi nos felices putant, ubi periclitamur (Serm. 354. E. B.).
76. Miror, an fieri possit, ut aliquis ex rectoribus salvus fiat (In Heb. hom. 34).
77. Mensura oneris pro mensura debet esse gestantis; alioquin impositi oneris fit ruina, ubi vectoris infirmitas est (Lib. de Viduis).
78. Qui enim se ingerit, et propriam gloriam quaerit, non sumit honorem, sed, gratiae Dei rapinam faciens, jus alienum usurpat (In Hebr. 5,4).
79. Quos videmus vineis dominicis se ingerere, fures sunt, non cultores (In Cant. s. 30).
80. Ipsi regnaverunt, et non ex me (Os. 8, 4) .
81. Corpus Ecclesiae ambientium contagione foedatur (Ep. 1).
82. Recumbe in novissimo loco (Luc. 14, 40).
83. Cineri non expedit, ut in alto loco, sit, ne dispergatur a vento (De Erud. princ. l. 1. c. 1).
84. Elegi abjectus esse in domo Dei mei, magis quam habitare in tabernaculis peccatorum (Ps. 83, 11).
85. Si quis... non odit patrem suum et matrem... non potest meus esse discipulus (Luc. 14, 26).
86. Si prohibeant ne vitam secundum ecclesiae disciplinae normam instituat, si negotiis saecularibus eum implicent, tunc eos, tamquam in via Dei adversarios, odisse et fugere tenetur (Abelly, Sacr. chr. p. 4. c. 6).
87. Quos adversarios in via Dei patimur, odiendo et fugiendo nesciamus (In Evang. hom. 37).
88. Nec in domo Domini Sacerdos eligitur, nisi qui dixerit patri et matri: Nescio vos (Epist.102).
89. Suis se abneget, qui servire Deo gestit (De Esau. c. 2).
90. Honorandus est pater, sed obediendum est Deo (Serm. 100, E. B.).
91. Grandis in suos pietas, impietas in Deum est (Ep. ad Paulam).
92. Veni enim separare hominem adversus patrem suum... (Matth. 10, 35).
93. Fugiamus illorum curam tamquam diabolicam (Const. Monial. c. 21).
94. Propter patrem, militiam Christi deseram? Quid facis in paterna domo, delicate miles? Ubi vallum? ubi fossa? Licet in limine pater jaceat, per calcatum perge patrem, siccis oculis ad vexillum Crucis evola. Solum pietatis genus est in hac re, esse crudelem (Ep. ad Heliod.).
95. Comburo vos, ne comburar a vobis (Ad Fr. in. er. s. 40).
96. Extra cognatos quisque debet fieri, si vult Parenti omnium verius jungi (Mor. l. 7. c. 18).
97. Carnalis amor extra Dei amorem cito te capiet (Epist. 134).
98. Quomodo te, bone Jesu, inter meos cognatos inveniam, qui inter tuos minime es inventus?(Spec. Disc. p. 1. c. 23).
99. Fili, quid fecisci nobis sic? — Quid est quod me quaerebatis? nesciebatis quia, in his quae Patris mei sunt, oportet me esse? (Luc. 2, 49).
100. Dimitte mortuos sepelire mortuos suos (Matth. 8, 22).
101. Acceptius obsequium homo praestat Deo, suam voluntatem mortificans, quam si mortuos ad vitam revocaret (Sac. an. p. 1. § 5).
102. In die jejunii vestri, invenitur voluntas vestra (Is. 58, 3).
103. Grande malum, propria voluntas, qua fit ut bona tua tibi bona non sint (In Cat. s. 71).
104. Cesset voluntas propria, et infernus non erit (In Temp. Pasch. s. 3).
105. Ligatus, non ferro alieno, sed mea ferra voluntate (Conf. l. 8. c. 5).
106. Quantum in ipsa est, Deum perimit propria voluntas (In Temp. Pasc. s. 3).
107. Qui se sibi magistrum constituit, stulto se discipulum subdit (Epist. 87).
108. Et vita in voluntate ejus (Ps. 29, 6).
109. Qui vos audit, me audit. — Et qui vos spernit, me spernit (Luc. 10, 16).
110. Quasi scelus idololatriae, nolle acquiescere (1. Reg. 15, 23).
111. Quidquid, vice Dei, praecipit homo, quod non sit tamen certum displicere Deo, haud secus omnino accipiendum est, quam si praecipiat Deus (De Proee. et Disp. c. 9).
112. Nunquam meam feci voluntatem; nec quemquam docui, quod prius ipse non feci. — Mortificatione voluntatum marcescunt universa vitia (De Coenob. inst. l. 4. c. 28 43).
113. Vir obediens loquetur victoriam (Prov. 21-28).
114. Melior est enim obedientia quam victimae (1. Reg. 15, 22).
115. Sicut seipsum Deo tradit, voluntatem propriam immolando, sic a Deo, omne quod poposcerit, consequetur (Lign. v. de Obed. c. 3).
116. Si averteris... facere voluntatem tuam... sustollam te super altitudines terrae (Is. 58, 13).
117. Quodcumque volueritis, petetis et fiet vobis (Jo. 15, 7).
118. Entret. 21.
2. Caro enim concupiscit adversus spiritum, spiritus autem adversus carnem (Gal. 5, 17).
3. Video autem aliam legem in membris meis, repugnantem legi mentis meae, et captivantem me in lege peccati (Rom. 7, 23).
4. Constitui te... ut evellas et destruas... aedifices et plantes (Jer. 1, 10).
5. Beati mundo corde, quoniam ipsi Deum videbunt (Matth. 5, 8).
6. Deum videre vis? prius cogita de corde mundando (Serm. 177. E. B. app.).
7. Quem docebit (Deus) scientiam? — Ablactatos a lacte, avulsos ab uberibus (Is. 28, 9).
8. Animalis autem homo non percipit ea quae sunt Spiritus Dei (1. Cor. 2, 14).
9. Myrrha et gutta, et casia, a vestimentis tuis (Ps. 44, 9).
10. Si myrrha prima spirare coeperit per mortificationem voluptatum, consequentur et aliae species aromaticae (De Annunt. s. 1).
11. Messui myrrham meam cum aromatibus meis (Cant. 5, 1).
12. Quos praescivit, et praedestinavit conformes fieri imaginis Filii sui (Rom. 8, 29).
13. Si quis vult post me venire, abneget semetipsum et tollat crucem suam, et sequatur me (Matth. 16, 24).
14. Despectum et novissimum virorum, virum dolorum (Is. 53, 3).
15. Semper mortificationem Jesu in corpore nostro circumferentes, ut et vita Jesu manifestetur in corporibus nostris (2. Cor. 4, 10).
16. Si ad ejus imitationem, assidue, carnem mortificemus.
17. Quia passionis dominicae mysteria celebramus, debemus imitari quod agimus.
18. Quae est ista quae ascendit per desertum, sicut virgula fumi ex aromatibus myrrhae et thuris. Et universi pulveris pigmentarii (Cant. 3, 6).
19. Vadam ad montem myrrhae et ad collem thuris (Cant. 4, 6).
20. Si quis vult post me venire... (Matth. 16, 24).
21. Duo sunt crucis genera, unum corporale, aliud spirituale. Alterum est sublimius, scilicet, regere motus animi (Serm. 196. E. B. app.).
22. Circumcisio cordis in spiritu (Rom. 2, 29).
23. Dimisi eos secundum desideria cordis eorum; ibunt in adinventionibus suis (Ps. 80, 13).
24. Animae irreverenti et infrunitae ne tradas me (Eccli. 23, 6).
25. Non est minimum, in minimis seipsum relinquere (De Imit. l. 2. c. 30).
26. Nihil prodest, sine seipso, caetera reliquisse (Hom. 9).
27. Qui relinquere disponis omnia, te quoque inter relinquenda numerare memento (Declam.n. 3).
28. Sane, nisi abnegaverit semetipsum, sequi eum non potest (Decl. n. 48).
29. Exsultavit ut gigas ad currendam viam (Ps. 18, 6).
30. Exsultavit ut gigas ad currendam viam; nec sequi poteras oneratus (Declam. n. 2).
31. Tantum proficies, quantum tibi ipsi vim intuleris (De Imit. l. 1. c. 25).
32. Quid prodest tenuari abstinentia, si animus intumescit superbia? Quid vinum non bibere, et odio inebriari? (Ep. ad Celant.).
33. Etenim Christus non sibi placuit (Rom. 15, 3).
34. Humilis habitus non sanctae novitatis est meritum, sed priscae vetustatis operculum.Veterem hominem non exuerunt, sed novo palliant (In Cant. s. 16).
35. Sal. par. gr. 2.
36. Possessa onerant, amata inquinant, amissa cruciant (Ep. 103).
37. Dominus pars hereditatis meae et calicis mei; tu es qui restitues hereditatem meam mihi (Ps. 15, 5).
38. Se igitur Deus portio ejus est, non levem Creatori suo contumeliam videtur inferre, qui, super hoc singulare talentum, terrenam aestuat pecuniam cumulare (Opusc. 27, proem.).
39. Quis, obsecro, avidius clericis quaerit temporalia? (S. ad Past. in syn.).
40. Non nummum propter Deum impendunt, sed Deum propter nummum colunt (De Civit. D.l. 11.c. 25).
41. Ignominia Sacerdotis est studere divitiis (Ep. ad Nepot.).
42. Ingenti periculo sunt Sacerdotes, qui curis pecuniae, et familiarium rerum, incrementis, occupantur (In Ps. 138).
43. Qui volunt divites fieri, incidunt in tentationem, et in laqueum diaboli, et desideria multa inutilia et nociva, quae mergunt homines in interitum et perditionem (1. Tim. 6, 9).
44. Qui aurum redigit, gratiam prodigit (Serm. 59).
45. Avarus, quod est idolorum servitus (Ephes. 5, 5).
46. Tolle pecuniarum studium, et omnia mala sublata sunt (In 1. Tim. hom. 17).
47. Divitiae nostrae sunt pudicitia, pietas, humilitas, mansuetudo; illae nobis ambiendae sunt, quae nos ornare possint, pariter et munire (De Vita cont. l. 2. c. 13).
48. Habentes autem alimenta, et quibus tegamur, his contenti simus (1. Tim. 6, 8).
49. Nolite thesaurizare vobis thesauros in terra, ubi aerugo et tinea demolitur... Thesaurizate autem vobis thesauros in coelo (Matth. 6, 19).
50. Nemo, militans Deo, implicat se negotiis saecularibus, ut ei placeat, cui se probavit (2.Tim. 2, 4).
51. Holocausta medullata offeram tibi (Ps. 65, 15).
52. Quisquis se per negotiorum saecularium exercitia delectabiliter fundit, holocausti sui medullas cum visceribus subtrahit, et solam victimae pellem Deo adolere contendit (Opusc.12. c. 22).
53. Magnis addictus es, noli minimis occupari (De Inst. Episc.).
54. Fructus horum quid, nisi araneourm telae? (De Cons. l. 1. c. 2).
55. Nescio cur nos affligimus circa nihil, cum possidere Creatorem omnium valeamus! (Stim.div. am. p. 2. c. 2).
56. Rivus, qua fluit, cavat terram; sic discursos temporalium conscientiam rodit (De Cons. l. 4.c. 6).
57. Aurem cordis terrenarum cogitationum turba, dum perstrepit claudit (Mor. l. 23. c. 20).
58. Quanto se rerum studiis occupant, tanto a charitate divina se separant (Past. p. 2. c. 7).
59. Saecularia negocia aliquando ex compassione toleranda sunt, nunquam vero ex amore requirenda (Epist. 14).
60. Per multas tribulationes, intrant justi in regnum coelorum; hi autem, per multas tribulationes, promerentur infernum (De Virginit. l. 3.).
61. Non in foro Christus reperitur.
62. Ei qui vult tecum judicio contendere, et tunicam tuam tolere, dimitte ei et pallium (Matth. 5, 40).
63. Perde aliquid, ut Deo vaces, non litibus. Perde nummos, ut emas tibi quietem (Serm. 167.E. B.).
64. Hinc jam te condemno, quod judicio contendas (In 1. Cor. hom. 16).
65. Diabolus est qui in artem ludos digessit (In Matth. hom. 6).
66. Non solum profusos, sed omnes etiam jocos declinandos arbritor (Offic. l. 1.c. 23).
67. Licet interdum honesta joca sint, tamen ab ecclesiastica abhorrent regula (Epist. 23).
68. Animarum subversio, cupiditas dignitatum (Epist. 14).
69. Patitur omnia, sed pro caducis. — Benigna est, sed divitibus. — Omnia suffert pro vanitate.— Omnia credit, omnia sperat, sed quae sunt ad gloriam hujus vitae.
70. In honorum cupiditate, quantae spinae! (Enarr. in Ps. 102).
71. Vidi impium superexaltatum, et elevatum sicut cedros Libani; transivi, et ecce non erat (Ps. 36, 35).
72. Stultorum exaltatio, ignominia (Prov. 3, 35).
73. E o deformior, quo illustrior (De Cons. l. 2. c. 7).
74. Claras suas maculas reddit (Variar. l. 12. n. 2).
75. Invident nobis; ibi nos felices putant, ubi periclitamur (Serm. 354. E. B.).
76. Miror, an fieri possit, ut aliquis ex rectoribus salvus fiat (In Heb. hom. 34).
77. Mensura oneris pro mensura debet esse gestantis; alioquin impositi oneris fit ruina, ubi vectoris infirmitas est (Lib. de Viduis).
78. Qui enim se ingerit, et propriam gloriam quaerit, non sumit honorem, sed, gratiae Dei rapinam faciens, jus alienum usurpat (In Hebr. 5,4).
79. Quos videmus vineis dominicis se ingerere, fures sunt, non cultores (In Cant. s. 30).
80. Ipsi regnaverunt, et non ex me (Os. 8, 4) .
81. Corpus Ecclesiae ambientium contagione foedatur (Ep. 1).
82. Recumbe in novissimo loco (Luc. 14, 40).
83. Cineri non expedit, ut in alto loco, sit, ne dispergatur a vento (De Erud. princ. l. 1. c. 1).
84. Elegi abjectus esse in domo Dei mei, magis quam habitare in tabernaculis peccatorum (Ps. 83, 11).
85. Si quis... non odit patrem suum et matrem... non potest meus esse discipulus (Luc. 14, 26).
86. Si prohibeant ne vitam secundum ecclesiae disciplinae normam instituat, si negotiis saecularibus eum implicent, tunc eos, tamquam in via Dei adversarios, odisse et fugere tenetur (Abelly, Sacr. chr. p. 4. c. 6).
87. Quos adversarios in via Dei patimur, odiendo et fugiendo nesciamus (In Evang. hom. 37).
88. Nec in domo Domini Sacerdos eligitur, nisi qui dixerit patri et matri: Nescio vos (Epist.102).
89. Suis se abneget, qui servire Deo gestit (De Esau. c. 2).
90. Honorandus est pater, sed obediendum est Deo (Serm. 100, E. B.).
91. Grandis in suos pietas, impietas in Deum est (Ep. ad Paulam).
92. Veni enim separare hominem adversus patrem suum... (Matth. 10, 35).
93. Fugiamus illorum curam tamquam diabolicam (Const. Monial. c. 21).
94. Propter patrem, militiam Christi deseram? Quid facis in paterna domo, delicate miles? Ubi vallum? ubi fossa? Licet in limine pater jaceat, per calcatum perge patrem, siccis oculis ad vexillum Crucis evola. Solum pietatis genus est in hac re, esse crudelem (Ep. ad Heliod.).
95. Comburo vos, ne comburar a vobis (Ad Fr. in. er. s. 40).
96. Extra cognatos quisque debet fieri, si vult Parenti omnium verius jungi (Mor. l. 7. c. 18).
97. Carnalis amor extra Dei amorem cito te capiet (Epist. 134).
98. Quomodo te, bone Jesu, inter meos cognatos inveniam, qui inter tuos minime es inventus?(Spec. Disc. p. 1. c. 23).
99. Fili, quid fecisci nobis sic? — Quid est quod me quaerebatis? nesciebatis quia, in his quae Patris mei sunt, oportet me esse? (Luc. 2, 49).
100. Dimitte mortuos sepelire mortuos suos (Matth. 8, 22).
101. Acceptius obsequium homo praestat Deo, suam voluntatem mortificans, quam si mortuos ad vitam revocaret (Sac. an. p. 1. § 5).
102. In die jejunii vestri, invenitur voluntas vestra (Is. 58, 3).
103. Grande malum, propria voluntas, qua fit ut bona tua tibi bona non sint (In Cat. s. 71).
104. Cesset voluntas propria, et infernus non erit (In Temp. Pasch. s. 3).
105. Ligatus, non ferro alieno, sed mea ferra voluntate (Conf. l. 8. c. 5).
106. Quantum in ipsa est, Deum perimit propria voluntas (In Temp. Pasc. s. 3).
107. Qui se sibi magistrum constituit, stulto se discipulum subdit (Epist. 87).
108. Et vita in voluntate ejus (Ps. 29, 6).
109. Qui vos audit, me audit. — Et qui vos spernit, me spernit (Luc. 10, 16).
110. Quasi scelus idololatriae, nolle acquiescere (1. Reg. 15, 23).
111. Quidquid, vice Dei, praecipit homo, quod non sit tamen certum displicere Deo, haud secus omnino accipiendum est, quam si praecipiat Deus (De Proee. et Disp. c. 9).
112. Nunquam meam feci voluntatem; nec quemquam docui, quod prius ipse non feci. — Mortificatione voluntatum marcescunt universa vitia (De Coenob. inst. l. 4. c. 28 43).
113. Vir obediens loquetur victoriam (Prov. 21-28).
114. Melior est enim obedientia quam victimae (1. Reg. 15, 22).
115. Sicut seipsum Deo tradit, voluntatem propriam immolando, sic a Deo, omne quod poposcerit, consequetur (Lign. v. de Obed. c. 3).
116. Si averteris... facere voluntatem tuam... sustollam te super altitudines terrae (Is. 58, 13).
117. Quodcumque volueritis, petetis et fiet vobis (Jo. 15, 7).
118. Entret. 21.
CONTINUA...
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