Santo Afonso Maria de Ligório
(27/09/1696 - 02/08/1787)
Bispo de Santa Àgata
Confessor
Doutor Zelosíssimo da Igreja
Fundador dos Missionários Redentoristas
Bispo de Santa Àgata
Confessor
Doutor Zelosíssimo da Igreja
Fundador dos Missionários Redentoristas
A Selva
APÊNDICE
ADVERTÊNCIA
Aos jovens estudantes de ciências eclesiásticas
Devem eles acima de tudo progredir na ciência dos santos
Ao falar da ciência mundana, diz S. Paulo: A ciência incha, a caridade porém edifica. O que julga saber muito, ainda ignora como deve saber 4. Quando a ciência mundana anda associada ao amor de Deus, é de grande vantagem para nós e para os outros; mas, quando se acha desacompanhada da caridade, causa-nos grande dano, tornando-nos orgulhosos e levando-nos a desprezar os outros; porque, tanto o Senhor é pródigo das suas graças com os humildes, como avaro com os orgulhosos.
Ditoso o homem a quem Deus dá a ciência dos santos, como a deu a Jacó: Dedit illi scientiam sanctorum (Sap. 10, 10)! Deste dom, como do maior de todos, fala a Escritura. Ó! Quantos homens vivem cheios de si mesmos, pelos conhecimentos que têm das matemáticas, belas letras, línguas estrangeiras e antigüidades, que nada aproveitam ao bem da religião, nem aumenta as vantagens espirituais! De que serve possuir uma tal ciência, saber tão belas coisas, se não se sabe amar a Deus e praticar a virtude? Os sábios do mundo, que só procuram adquirir um grande nome, estão privados das luzes celestes, que o Senhor dispensa aos simples: Abscondisti haec a sapientibus et prudentibus (sábios e prudentes do século), et revelasti eo parvulis (Matth.11, 25). Os Parvuli são os espíritos simples, que põem todo o seu cuidado em agradar a Deus.
Santo Agostinho proclama bem-aventurado o que conhece a grandeza e bondade de Deus embora ignore tudo o mais: Beatus, qui te scit, etiamsi illa nesciat (Conf. 1. 5. c. 4). Quem não conhece a Deus, não pode amá-lo; ora, quem ama a Deus é mais sábio que todos os literatos, que não sabem amá-lo.Hão de levantar-se os ignorantes e arrebatar o Céu, exclama o mesmo santo doutor!5 Quantos rústicos, quantos pobres camponeses, subirão à santidade e conseguirão a vida eterna, da qual quereriam gozar antes um só instante, do que adquirir todos os bens da terra! Aos Coríntios escrevia o Apóstolo: Não fiz profissão entre vós de saber outra coisa senão a Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado6. Como seríamos felizes se chegássemos a conhecer a Jesus crucificado, a conhecer o amor que ele nos testemunhou e o amor que mereceu da nossa parte, sacrificando por nós a sua vida na cruz, e se, estudando um livro tal, chegássemos a amá-lo com um amor ardente!
Um grande servo de Deus, o Pe. Vicente Carafa, escrevendo a alguns jovens eclesiástico, que estudavam para trabalharem na salvação das almas ,dizia-lhes: “Para operar grandes conversões nas almas, mais vale ser homem de muita oração, que de muita eloqüência; porque as verdades eternas, que convertem as almas, melhor se pregam pelo coração que pelos lábios somente”. Devem pois os ministros do Evangelho ter uma vida que se mostre de acordo com o que ensinam; devem, numa palavra, apresentar-se como homens que, desprendidos do mundo e da carne, só procuram a glória de Deus, e fazê-lo amar de todos. Por isso o Pe. Carafa ajuntava: “Ponde todo o vosso cuidado em vos dardes ao exercício do amor divino; desde que o amor de Deus toma posse do nosso coração, só por si o desapega de todo o amor desordenado, e o torna puro, despojando-o dos afetos terrenos”. Um coração puro, diz Sto. Agostinho, é um coração vazio de toda a cobiça: Cor purum est cor vacuum ab omni cupiditate. Com efeito, ajunta S. Bernardo, quem ama a Deus só pensa em o amar e não deseja outra coisa: Qui amat, amat, et aliud novit nihil (In Cant. s. 83).
Dizia S. Tomás de Vilanova: “Para converter os pecadores, e fazê-los sair do atoleiro das suas iniqüidades, são necessárias frechas de fogo; mas como podem elas provir dum coração gelado, que o amor de Deus não aquece? A experiência mostra que um padre de ciência medíocre, mas abrasado no amor de Jesus Cristo, atrai mais almas a Deus, que muitos oradores sábios e eloqüentes, que deleitam os ouvintes. Aqueles que, por seus conhecimentos raros, belos pensamentos e engenhosas reflexões, despedem os seus ouvintes muito satisfeitos, deixam-nos afinal com o coração desprovido do amor de Deus, e talvez mais frio que antes. Mas que aproveita isso para o bem comum? E que fruto colhe o pregador, senão agravar mais a sua responsabilidade diante de Deus? Em vez dos bons frutos que podia produzir com o seu sermão, somente granjeia vãos aplausos. Ao contrário, quem dummodo simples prega a Jesus crucificado, não para ser louvado, mas só para o fazer amar, desce da cadeira enriquecido de merecimentos pelo bem que fez, ou que pelo menos desejava fazer nos seus ouvintes.O que acima fica dito tem aplicação, não só aos pregadores, mas também aos professores e confessores. Quanto bem pode fazer um professor de ciências, ensinando a seus discípulos as máximas da verdadeira piedade!O mesmo se pode dizer dos confessores.
Notem-se também os abundantes frutos que se podem produzir nas conversas com os outros. Pode-se pregar sempre; mas que bem um padre instruído e santo pode fazer na conversação, falando a propósito da vaidade das grandezas humanas, da conformidade com a vontade de Deus e da necessidade que temos de nos recomendarmos sem cessar à proteção do Céu, no meio de tantas tribulações que nos afligem e de tantas tentações que nos assaltam!
Digne-se o Senhor dar-nos as luzes e forças de que necessitamos para empregarmos os restantes dias da nossa vida em o amar e fazer a sua vontade, pois que só isso nos aproveita e tudo o mais é perdido!
Laus Deo Virginique Mariae
Duas palavras para conclusão
Quem percorrer este livro com atenção, desde o princípio até ao fim, como nós o acabamos de fazer, naturalmente há de exclamar, ao concluir a leitura da última página, — eis o Livro do Padre! Há livros que, para o padre, se podem chamar primaciais: a Bíblia, o Missal, o Breviário e o Ritual; mas pouco lhe aproveitarão estes, se ele esquecer o ideal em que sempre deve conservar fixos os olhos, para se manter à altura da sua augusta dignidade. Assim, nos apraz recordar aqui o mesmo pensamento que expusemos no princípio: deve A Selva ser o manual predileto do ordinando e do padre.Para o pormos ao alcance de todas as bolsas, marcamos-lhe um preço que mal compensará as despesas; mas se, ainda assim, algum padre houver que o não possa comprar, de bom grado lho ofereceremos.
Foz do Douro, 17-5-1929
AVISO IMPORTANTE
Há pouco mais de um ano, escrevíamos:
“Temos feito uma larga propaganda, até em folhas avulsas, da confraria do Escapulário azul, que é um riquíssimo tesouro de indulgências, mui fáceis de ganhar. Há mais de vinte anos já, em 1906, na tradução que tivemos de fazer do Catecismo Romano, à pág. 322 do 2.º vol., dissemos o que convinha saber-se a respeito do referido escapulário...”
Agora o caso mudou e nós de bom grado nos apressamos a mudar com ele, como é do nosso dever.
Muito oportunamente, o Ex.mo e Rev.mo Sr. D. Antônio Barbosa Leão teve a boa lembrança de submeter ao juízo da Santa Sé a questão da enumeração das indulgências do Escapulário azul. A 23 de maio passado a Sagrada Congregação da Penitenciaria dignou-se responder, pronunciando-se contra a enumeração. Portanto, desde que Roma falou, terminaram todas as divergências.Claro é que as indulgências ficam as que eram, as almas nada perdem, mas de futuro não se faz a enumeração, como já não se fazia das da Via Sacra. As folhas avulsas, que tínhamos mandado imprimir, inutilizamo-las, assim como o último opúsculo, e procuraremos dar a máxima publicidade à decisão da Santa Sé.
1. NOTA DO T. P. — As obras ascéticas de S. Afonso satisfazem aos mais exigentes. Abundam hoje entre nós os bons livros.
2. Vulnera corda saxea vulnerantia, et mentes congelatas inflammantia (Stim. div. p. 1. c. 1).
3. Sicut pullus hirundinis, sic clamabo (Is. 38, 14).
4. Scientia inflat, charitas vero aedificat. Si quis autem se existimat scire aliquid, nondum cognovit quemadmodum oporteat eum scire (1. Cor. 8, 1).
5. Surgunt indocti, et coelum rapiunt! (Conf. l. 8, c. 8).
6. Non enim judicavi me scire aliquid inter vos, nisi Jesum Christum, et hunc crucifixum (1.Cor. 2, 2).
Ao falar da ciência mundana, diz S. Paulo: A ciência incha, a caridade porém edifica. O que julga saber muito, ainda ignora como deve saber 4. Quando a ciência mundana anda associada ao amor de Deus, é de grande vantagem para nós e para os outros; mas, quando se acha desacompanhada da caridade, causa-nos grande dano, tornando-nos orgulhosos e levando-nos a desprezar os outros; porque, tanto o Senhor é pródigo das suas graças com os humildes, como avaro com os orgulhosos.
Ditoso o homem a quem Deus dá a ciência dos santos, como a deu a Jacó: Dedit illi scientiam sanctorum (Sap. 10, 10)! Deste dom, como do maior de todos, fala a Escritura. Ó! Quantos homens vivem cheios de si mesmos, pelos conhecimentos que têm das matemáticas, belas letras, línguas estrangeiras e antigüidades, que nada aproveitam ao bem da religião, nem aumenta as vantagens espirituais! De que serve possuir uma tal ciência, saber tão belas coisas, se não se sabe amar a Deus e praticar a virtude? Os sábios do mundo, que só procuram adquirir um grande nome, estão privados das luzes celestes, que o Senhor dispensa aos simples: Abscondisti haec a sapientibus et prudentibus (sábios e prudentes do século), et revelasti eo parvulis (Matth.11, 25). Os Parvuli são os espíritos simples, que põem todo o seu cuidado em agradar a Deus.
Santo Agostinho proclama bem-aventurado o que conhece a grandeza e bondade de Deus embora ignore tudo o mais: Beatus, qui te scit, etiamsi illa nesciat (Conf. 1. 5. c. 4). Quem não conhece a Deus, não pode amá-lo; ora, quem ama a Deus é mais sábio que todos os literatos, que não sabem amá-lo.Hão de levantar-se os ignorantes e arrebatar o Céu, exclama o mesmo santo doutor!5 Quantos rústicos, quantos pobres camponeses, subirão à santidade e conseguirão a vida eterna, da qual quereriam gozar antes um só instante, do que adquirir todos os bens da terra! Aos Coríntios escrevia o Apóstolo: Não fiz profissão entre vós de saber outra coisa senão a Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado6. Como seríamos felizes se chegássemos a conhecer a Jesus crucificado, a conhecer o amor que ele nos testemunhou e o amor que mereceu da nossa parte, sacrificando por nós a sua vida na cruz, e se, estudando um livro tal, chegássemos a amá-lo com um amor ardente!
Um grande servo de Deus, o Pe. Vicente Carafa, escrevendo a alguns jovens eclesiástico, que estudavam para trabalharem na salvação das almas ,dizia-lhes: “Para operar grandes conversões nas almas, mais vale ser homem de muita oração, que de muita eloqüência; porque as verdades eternas, que convertem as almas, melhor se pregam pelo coração que pelos lábios somente”. Devem pois os ministros do Evangelho ter uma vida que se mostre de acordo com o que ensinam; devem, numa palavra, apresentar-se como homens que, desprendidos do mundo e da carne, só procuram a glória de Deus, e fazê-lo amar de todos. Por isso o Pe. Carafa ajuntava: “Ponde todo o vosso cuidado em vos dardes ao exercício do amor divino; desde que o amor de Deus toma posse do nosso coração, só por si o desapega de todo o amor desordenado, e o torna puro, despojando-o dos afetos terrenos”. Um coração puro, diz Sto. Agostinho, é um coração vazio de toda a cobiça: Cor purum est cor vacuum ab omni cupiditate. Com efeito, ajunta S. Bernardo, quem ama a Deus só pensa em o amar e não deseja outra coisa: Qui amat, amat, et aliud novit nihil (In Cant. s. 83).
Dizia S. Tomás de Vilanova: “Para converter os pecadores, e fazê-los sair do atoleiro das suas iniqüidades, são necessárias frechas de fogo; mas como podem elas provir dum coração gelado, que o amor de Deus não aquece? A experiência mostra que um padre de ciência medíocre, mas abrasado no amor de Jesus Cristo, atrai mais almas a Deus, que muitos oradores sábios e eloqüentes, que deleitam os ouvintes. Aqueles que, por seus conhecimentos raros, belos pensamentos e engenhosas reflexões, despedem os seus ouvintes muito satisfeitos, deixam-nos afinal com o coração desprovido do amor de Deus, e talvez mais frio que antes. Mas que aproveita isso para o bem comum? E que fruto colhe o pregador, senão agravar mais a sua responsabilidade diante de Deus? Em vez dos bons frutos que podia produzir com o seu sermão, somente granjeia vãos aplausos. Ao contrário, quem dummodo simples prega a Jesus crucificado, não para ser louvado, mas só para o fazer amar, desce da cadeira enriquecido de merecimentos pelo bem que fez, ou que pelo menos desejava fazer nos seus ouvintes.O que acima fica dito tem aplicação, não só aos pregadores, mas também aos professores e confessores. Quanto bem pode fazer um professor de ciências, ensinando a seus discípulos as máximas da verdadeira piedade!O mesmo se pode dizer dos confessores.
Notem-se também os abundantes frutos que se podem produzir nas conversas com os outros. Pode-se pregar sempre; mas que bem um padre instruído e santo pode fazer na conversação, falando a propósito da vaidade das grandezas humanas, da conformidade com a vontade de Deus e da necessidade que temos de nos recomendarmos sem cessar à proteção do Céu, no meio de tantas tribulações que nos afligem e de tantas tentações que nos assaltam!
Digne-se o Senhor dar-nos as luzes e forças de que necessitamos para empregarmos os restantes dias da nossa vida em o amar e fazer a sua vontade, pois que só isso nos aproveita e tudo o mais é perdido!
Laus Deo Virginique Mariae
Duas palavras para conclusão
Quem percorrer este livro com atenção, desde o princípio até ao fim, como nós o acabamos de fazer, naturalmente há de exclamar, ao concluir a leitura da última página, — eis o Livro do Padre! Há livros que, para o padre, se podem chamar primaciais: a Bíblia, o Missal, o Breviário e o Ritual; mas pouco lhe aproveitarão estes, se ele esquecer o ideal em que sempre deve conservar fixos os olhos, para se manter à altura da sua augusta dignidade. Assim, nos apraz recordar aqui o mesmo pensamento que expusemos no princípio: deve A Selva ser o manual predileto do ordinando e do padre.Para o pormos ao alcance de todas as bolsas, marcamos-lhe um preço que mal compensará as despesas; mas se, ainda assim, algum padre houver que o não possa comprar, de bom grado lho ofereceremos.
Foz do Douro, 17-5-1929
AVISO IMPORTANTE
Há pouco mais de um ano, escrevíamos:
“Temos feito uma larga propaganda, até em folhas avulsas, da confraria do Escapulário azul, que é um riquíssimo tesouro de indulgências, mui fáceis de ganhar. Há mais de vinte anos já, em 1906, na tradução que tivemos de fazer do Catecismo Romano, à pág. 322 do 2.º vol., dissemos o que convinha saber-se a respeito do referido escapulário...”
Agora o caso mudou e nós de bom grado nos apressamos a mudar com ele, como é do nosso dever.
Muito oportunamente, o Ex.mo e Rev.mo Sr. D. Antônio Barbosa Leão teve a boa lembrança de submeter ao juízo da Santa Sé a questão da enumeração das indulgências do Escapulário azul. A 23 de maio passado a Sagrada Congregação da Penitenciaria dignou-se responder, pronunciando-se contra a enumeração. Portanto, desde que Roma falou, terminaram todas as divergências.Claro é que as indulgências ficam as que eram, as almas nada perdem, mas de futuro não se faz a enumeração, como já não se fazia das da Via Sacra. As folhas avulsas, que tínhamos mandado imprimir, inutilizamo-las, assim como o último opúsculo, e procuraremos dar a máxima publicidade à decisão da Santa Sé.
1. NOTA DO T. P. — As obras ascéticas de S. Afonso satisfazem aos mais exigentes. Abundam hoje entre nós os bons livros.
2. Vulnera corda saxea vulnerantia, et mentes congelatas inflammantia (Stim. div. p. 1. c. 1).
3. Sicut pullus hirundinis, sic clamabo (Is. 38, 14).
4. Scientia inflat, charitas vero aedificat. Si quis autem se existimat scire aliquid, nondum cognovit quemadmodum oporteat eum scire (1. Cor. 8, 1).
5. Surgunt indocti, et coelum rapiunt! (Conf. l. 8, c. 8).
6. Non enim judicavi me scire aliquid inter vos, nisi Jesum Christum, et hunc crucifixum (1.Cor. 2, 2).
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