Uma nova tradição natalina
EVANGELHO DE SÃO LUCAS
2 Ora um centurião tinha doente, quase a morrer, um servo que lhe era muito querido.
3 Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-Lhe alguns anciãos dos Judeus a pedir-Lhe que viesse curar o seu servo.
4 Eles, pois, tendo ido ter com Jesus, pediam-Lhe instantemente, dizendo: “Ele merece que lhe faças esta graça”,
5 “porque é amigo da nossa nação; e até nos edificou a sinagoga”.
6 Jesus, pois, foi com eles. E, quando estava já perto da casa, o centurião mandou-Lhe amigos a dizer: “Senhor, não te incomodes, porque eu não sou digno que entres sob o meu teto”.
7 Por essa razão, nem eu me achei digno de ir ter contigo; mas dize uma só palavra, e o meu servo será curado”.
8 “Porque também eu sou um homem sujeito a outro poder, tendo soldados às minhas ordens, e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; e a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faze isto’, e ele o faz”.
9 Jesus, tendo ouvido isto, ficou admirado; e, voltando-se para a multidão que o seguia, disse: “Em verdade vos digo que não encontrei tanta fé em Israel”.
10 Voltando para casa os que tinham sido enviados, encontraram são o servo, que tinha estado doente.
11 Aconteceu que, (algum tempo) depois, ia Ele para uma cidade chamada Naim; e iam com Ele os seus discípulos e muito povo.
12 Quando chegou perto da porta da cidade, eis que era levado um defunto a sepultar, filho único de sua mãe; e esta era viúva; e ia com ela muita gente da cidade.
13 E, tendo-a visto o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: “Não chores”.
14 E aproximou-se, e tocou no esquife. E os que o levavam pararam. Então disse Ele: “Jovem, eu te digo, levanta-te”.
15 E sentou-se o que tinha estado morto, e começou a falar. E (Jesus) entregou-o a sua mãe.
16 Todos ficaram possuídos de temor, e glorificavam a Deus, dizendo: “Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus visitou o seu povo”.
17 E esta opinião a respeito dele espalhou-se por toda a Judeia, e por toda a região circunvizinha.
18 Referiram a João os seus discípulos todas estas coisas.
19 E João chamou dois dos seus discípulos, e enviou-os a Jesus a dizer-lhe: “És Tu[1] o que há-de vir (salvar o mundo), ou devemos esperar outro?”.
20 Tendo ido ter com Ele, disseram-Lhe: “João Baptista enviou-nos a Ti, para te perguntar: “És Tu o que há-de vir, ou devemos esperar outro?”.
21 Naquela mesma hora, (Jesus) curou muitos de enfermidades, e de chagas, e de espíritos malignos, e deu vista a muitos cegos.
22 (Depois) respondendo, disse-lhes: “Ide referir a João o que ouvistes e vistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciado o Evangelho”;
23 “e bem-aventurado aquele que se não escandalizar a meu respeito”.
24 “Tendo partido os mensageiros de João, começou Ele a dizer acerca de João às turbas: ‘Que fostes vós ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento[2]?’.”
25 “Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas delicadas? Mas os que vestem roupas preciosas, e vivem entre delícias, são os que vivem nos palácios dos reis”.
26 “Mas que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e mais ainda que profeta”.
27 “Este é aquele de quem está escrito: ‘Eis que eu envio o meu anjo adiante de ti, o qual preparará o teu caminho diante de ti’.”
28 “Porque eu vos digo: Entre os nascidos das mulheres[3], não há maior profeta que João Baptista; porém, o que é menor no reino de Deus, é maior do que ele”.
29 Todo o povo que o ouviu e os publicanos deram glória a Deus, fazendo-se batizar com o batismo de João.
30 Os fariseus, porém, e os doutores da lei desprezaram o desígnio de Deus com prejuízo de si mesmos, não se fazendo batizar por ele.
31 Então, disse o Senhor: “A quem, pois, compararei os homens desta geração? E a quem são semelhantes?”.
32 “São semelhantes aos meninos que estão sentados na praça, e que falam uns para os outros, e dizem: ‘Tocámos flauta, e vós não bailastes; entoámos canções tristes, e vós não chorastes’.”
33 “Porque veio João Baptista, que não comia pão, nem bebia vinho, e dizeis: ‘Ele está possesso do demônio’.”
34 “Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: ‘eis um glutão e um bebedor de vinho,
amigo dos publicanos e dos pecadores’.”
35 “Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos”.
36 Um dos Fariseus pediu-Lhe que fosse comer com ele. E, tendo entrado em casa do fariseu, sentou-se à mesa.
37 E eis que uma mulher, que era pecadora na cidade, quando soube que Ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro cheio de bálsamo;
38 e, estando a seus pés por detrás dele, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas, e os enxugava com os cabelos da sua cabeça, e os beijava, e os ungia com o bálsamo.
39 Ora, vendo isto, o fariseu que O tinha convidado, disse consigo: “Se Este fosse profeta, com certeza saberia quem e qual é a mulher que o toca, e que é pecadora”.
40 Então, respondendo Jesus, disse-lhe: “Simão, tenho uma coisa a dizer-te”. E ele disse: “Mestre, fala”.
41 “Um credor linha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinquenta”.
42 “Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a dívida. Qual deles pois mais o amará?”.
43 Respondendo Simão, disse: “Creio que aquele a quem perdoou mais”. E Jesus disse-lhe: “Julgaste bem”.
44 E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa, não me deste água para os pés; e esta com as suas lágrimas banhou os meus pés, e enxugou-os com os seus cabelos”.
45 “Não me deste o ósculo (da paz); e esta, desde que entrou, não cessou de beijar os meus pés”.
46 “Não ungiste a minha cabeça com bálsamo; e esta ungiu com bálsamo os meus pés”.
47 “Pelo que te digo: São-lhe perdoados muitos pecados, porque muito amou. Mas, ao que menos se perdoa, menos ama”.
48 E a ela disse: “São-te perdoados os pecados”.
49 E os convidados começaram a dizer entre si: “Quem é Este que até perdoa pecados?”.
50 E Jesus disse à mulher: “A tua fé te salvou; vai em paz”.
Novo Testamento. Tradução do Padre Matos Soares, 1950, pp. 2165-2169.
[1] “És tu”... Ver nota, Mat. XI,3-4-5.
[2] “Uma cana agitada”... Ver nota em Mat. XI,7.
[3] “Entre os nascidos”... Ver nota em Mat. XI,11.
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