Como sempre, o texto do sr. Márcio é lúcido, pontual e claro. Eu acrescentaria, no entanto, que a minha decepção se extende também à renúncia. Da cruz não se desce!
Em que pese tudo o que se possa dizer a respeito de João Paulo II, ele tem o mérito de ter suportado a sua cruz até o fim, humildemente (ele sim) e pelo bem da Igreja: neste aspecto, foi um bem, seja por evitar o escândalo da renúncia, seja porque manteve o Papado como o bem indisponível que é, seja pelo exemplo negativo e pernicioso que poderia dar: daqui para frente qualquer marido que não "tiver forças" para suportar uma "relação infeliz" se achará no direito de "abdicar" do casamento. Qualquer pai, porque cansado, exausto, velho, desempregado, poderá abandonar seus filhos pelo caminho: os filhos que Deus lhe deu. Qualquer padrinho, porque sem ânimo de cuidar da vida espiritual do afilhado poderá deixá-lo ao léu. Qualquer
padre que não tiver lá muita vocação poderá entrar na Justiça
Trabalhista e exigir seus direitos como outro trabalhador qualquer. Qualquer fiel poderá simplesmente depositar sua cruz e escolher a lauta aposentadoria espiritual. Se até o Papa renuncia... porque não eu?
O Papa é, antes de tudo, um pai. É o pai espiritual de todos os católicos, que Deus lhe confiou. A cada novo Batismo, o Papa ganha mais um filho. A Paternidade espiritual é um bem indisponível! A paternidade física também, mas hoje em dia os homens já não são mais homens, já não tem mais brio. E que exemplo o Papa lhes dá ao renunciar à paternidade espiritual?
O Papa é, antes de tudo, um pai. É o pai espiritual de todos os católicos, que Deus lhe confiou. A cada novo Batismo, o Papa ganha mais um filho. A Paternidade espiritual é um bem indisponível! A paternidade física também, mas hoje em dia os homens já não são mais homens, já não tem mais brio. E que exemplo o Papa lhes dá ao renunciar à paternidade espiritual?
Não há justificativas plausíveis para renunciar, sobretudo no caso de Bento XVI. Há apenas oito anos, ele sabia que hoje seria oito anos mais velho. Também sabia que a velhice costuma trazer inconvenientes como os graves problemas de saúde - lembrando que os problemas de saúde de João Paulo II eram bem mais graves, e Bento XVI os testemunhou pessoalmente, ao vivo e a cores, e os reconhecia como louváveis; aliás, na época, chegou a dizer que isso era o que se esperava de um Papa e que "somente Deus pode licenciar um Papa" (vide video abaixo)! Além disso, os problemas internos provocados pelo "caldeirão de sensibilidades" que é hoje a Igreja já subsistiam, e nem se pode dizer que hoje sejam mais ou piores do que já eram há apenas oito anos; ou que estão em um nível extremamente insuportável para... um Papa. Bento XVI também conhecia os "podres" da Igreja, portanto o Vatileaks não pode tê-lo escandalizado - falo de novo nisso mais adiante - a tal ponto que provocasse uma (repito: injustificável) renúncia! Há pessoas que veem romanticamente o Papa em êxtase, alheio ao que acontece a seu redor; quiçá por ser um intelectual, ou pela veste branca... ¿Que sé yo? Vá lá, podem ter lhe escapado as mãos leves do mordomo, que, como todo ladrão, não dava certamente pinta por aí, mas da maioria dos demais rumores... certamente sabia!
De qualquer maneira, nenhum desses é motivo para alguém renunciar ao que não lhe pertence! O Papado não pertence ao Papa. O fato de ter previsão legal e ter havido bem sete renúncias antes desta não abre um precedente nem justifica essa perniciosa decisão.
É como dispor da vida, que é um bem que Deus nos deu, mas não nos pertence. É como um Pai deixar de ser Pai porque está cansado, porque não tem mais forças... O Espírito Santo escolheu o Cardeal Ratzinger por algum motivo que hoje não podemos compreender, mas Bento XVI não pode dispor do Papado, que, aliás, livremente aceitou. E não pode porque a uma distância de apenas oito anos não há nada que justifique uma decisão destas. Volto ao tema mais adiante.
Claro está que não é uma decisão que ele tomou na manhã do dia 11 de fevereiro. Fala-se de um ano antes, ou mais. Depois, é claro que começou a preparar a sua sucessão, a organizar a sua saída. E quem ele colocou nos postos-chaves da Curia Romana, das Sagradas Congregações? Pior, quem ele alçou a cardeais votantes de um conclave que ele já sabia que haveria? Basta ver os nomes para ter um panorama de que Igreja ele quer para o futuro próximo.
Dos nomes aptos a votar e ser votados, há somente um nome que (aparentemente) é fiel à Tradição da Igreja: o Cardeal Ranjith. Os demais são modernistas, de pai, mãe e parteira. Alguns estão envolvidos em escândalos (como amizade e apoio a grupos Gays ou muçulmanos, a Assis III; ou como o Vatileaks Affair) e nem deveriam ter sido nomeados...
Para mim, a renúncia, abdicação, demissão ou qualquer nome que se queira dar a este imbroglio, nada mais é do que o coroamento da pós-modernidade que ele inaugurou na Igreja. João Paulo II entra para a História como o Papa da Modernidade; Bento XVI, como o Papa da Pós-Modernidade (leia-se Relativismo), relativizando o símbolo maior da Igreja Católica, o que lhe dá a visibilidade necessária e única: o Papado.
Voltando à decisão e ao Vatileaks, há outra hipóteste, mas eu me reservo o direito de não ser eu o aráuto desta desgraça; que outros tornem público o que eu descobri.
Deixo em aberto este tema. Um dia lamentavelmente voltarei a ele. Agora, enquanto aguardamos o resultado de outro ultimatum, aquele lançado à Neo-FSSPX por Müller (que corre por fora na corrida ao trono de Pedro), vamos ler o brilhante texto do sr. Márcio, do In Tribulatione patientes.
Giulia d'Amore di Ugento
Sobre a renúncia de Bento XVI
Bento XVI foi uma decepção. Não por causa da renúncia. Antes fosse somente isto.
Quando tomava suas primeiras atitudes naquilo que parecia ser a direção da Tradição, alguns puderam acreditar sinceramente nele. E eu me incluía neste grupo. Mas, claramente, aquele começo era muito tímido. A primeira coisa que imaginei era que ele precisava vencer a resistência dos liberais. E fiquei aguardando os passos firmes na direção da Tradição, mas eles não vieram.O que veio, sim, foram muitas informações sobre a vida e o pensamento de Bento XVI. Quem procura acha. E eu sempre procurei informação. Preocupado com a crise na Igreja, eu li, e li muito. E as leituras sérias sobre a crise em que vivemos não podem deixar de tratar dos protagonistas da história recente da Igreja, sendo que um dos quais é exatamente Bento XVI. Infelizmente, a única conclusão a que pude chegar é que, se eu tivesse conhecido Joseph Ratzinger, não teria em momento algum me entusiasmado com Bento XVI. É triste mas é verdade. Ele teve uma formação relativista, foi um perito do Vaticano II, tinha um círculo de amizades modernista. Pior, tinha ideias muito heterodoxas, as quais nunca renegou formalmente. Participou do silenciamento da mensagem de Fátima. Perseguiu Dom Lefebvre. Somente desconhecendo sua história e seu pensamento é que alguém poderia de boa fé acreditar que ele seria o papa da restauração.Somando-se a isto, os fatos de seu pontificado como, por exemplo, a reunião de Assis III e a nomeação de um herege do tipo de Dom Müller como guardião da Fé, já não há quem possa alegar ingenuidade. Não há como dizer que Bento XVI pudesse querer restaurar a Tradição. O que está destruindo tudo o que pode ser destruído na Igreja, mais do que qualquer heresia, é o falso conceito de obediência, este “bom-mocismo” cego e piegas. Rezamos sim, por Bento XVI, para que salve sua alma, mas não podemos ficar quietos diante do que ele pensa e faz, porque em muito se afasta da ortodoxia católica.
Tocando no assunto da renúncia, um ponto importante que já foi observado por várias pessoas, e com o qual concordamos, é que a atitude de Bento XVI abre um perigoso precedente na Igreja.
Sobre os motivos da renúncia, já estamos em um ponto bem mais controverso, uma vez que é difícil acreditar que seja realmente o estado de saúde que determinou a decisão papal. Mesmo não sendo nós os médicos de Bento XVI para conhecer sua saúde, os outros fatores em jogo são muito fortes para serem desprezados a priori. Por isso, trabalhamos com hipóteses.
O mais cogitado seria um plano para substituir Bento XVI por um papa (ainda mais) liberal. Bento XVI não é absolutamente conservador mas, em comparação, existem outros muito mais “progressistas”. Há muitos que gostariam de levar os princípios liberais triunfantes no Vaticano II até às últimas consequências. Rezamos para que nenhum deles suba ao trono de Pedro.
Mas, pode haver outra explicação. Bento XVI tentou transformar a FSSPX em mais uma comunidade Ecclesia Dei, silenciada e dócil, mas não conseguiu. O que poderia estar acontecendo agora seria a execução do Plano “B”. Por exemplo, já há notícias de um novo ultimato de Roma para a FSSPX para o dia 22 de Fevereiro. Que bela coincidência! Uma das mentiras acordistas era a de que Bento XVI poderia estar oferecendo à FSSPX a sua última oportunidade de ser regularizada, já que não se sabia quem poderia ser o próximo papa. Agora, criou-se uma situação na qual o papado de Bento XVI tem data certa para se findar e, curiosamente, novo ultimato é feito para que não se recuse a oferta imperdível… Estariam eles lançando uma última cartada? E, se não conseguirem fisgar a FSSPX, estariam preparando um próximo papa para modificar a política de Bento XVI e tentar de outras formas a capitulação definitiva da Tradição?Independente de qual hipótese seja verdadeira, qualquer católico que queira manter sua Fé vai ter que continuar lutando muito contra os “católicos” liberais. Sabendo que existem muitos lobos infiltrados na Igreja, levantamos as hipóteses para ficarmos atentos e precavidos. Mas, muito mais importante do que isto é saber que vamos ter que lutar muito contra os liberais. Bom seria se tivéssemos um papa realmente conservador, tradicionalista e determinado a combater os lobos modernistas. Combateríamos com gosto ao lado dele nestes tempos de provação. Mas, venha o que vier, confiamos na Divina Providência e vamos continuar rezando e trabalhando pelo bem da Igreja.
"SOMENTE DEUS PODE LICENCIAR UM PAPA!"
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