Um vibrante e tremendo discurso do senador italiano Simone Pillon, da Lega Nord (a mesma de Matteo Salvini), no dia 9 de maio de 2020, bradando para que o Governo italiano, socialista, pare a perseguição criminosa aos católicos e libere "legalmente" as Missas. O vídeo está em italiano, com legenda em espanhol. A seguir, transcrevo a versão em português. Após o texto do senador Pillon, a legenda dos Mártires de Abitene.
- A presidente da sessão do Parlamento: Senador Pillon, por favor.
- Senador Simone Pillon: Grato, Excelência. Eu dizia, recordo a mim mesmo que o artigo 7º[1] da Constituição garante a independência e a recíproca soberania do Estado e da Igreja. E o artigo 19[2] de nossa Constituição garante a liberdade, para todos os cidadãos italianos, de professar livremente a Fé, de forma individual e associada[3] e de exercitar seu culto em privado e em público. Este é um artigo da Constituição. Estes artigos foram escritos com o sangue de Mártires que, em 2000 anos, preferiram a morte a renunciar aos Sacramentos. “Sine Dominico non possumus!”[4] gritavam os Mártires de Abitene[5], 49 cristãos martirizados por Diocleciano, no ano 304 d.C. O bispo deles obedeceu ao edito imperial e entregou os Textos Sagrados às autoridades, mas os fiéis, com o Presbítero Saturnino, continuaram a celebrar a Missa e, por isso, foram presos, torturados e assassinados. E todos, antes de morrer, disseram: “Sine Domenico non possumus!”. Bom, esses artigos da Constituição escritos com o sangue dos Mártires foram aniquilados[6] por um ato administrativo subordinado[7], um DPCM[8] de 8/3/2020, com o qual este Governo, na letra “i”[9], bloqueia qualquer possibilidade de celebrações religiosas com o povo. Se o tivesse feito um Governo de centro-direita, todos vós teríeis saído às ruas gritando ao escândalo pela lesão à liberdade religiosa, mas como sede vós que o fazeis, então vós podeis fazer tudo, inclusive, com um DPCM, contradizer as mais elementares liberdades religiosas que nós temos em nosso País. É a primeira Páscoa em 2000 anos sem Sacramentos. Vimos Sacerdotes denunciados como acontece na China... Missas interrompidas – quero aqui professar plena solidariedade a Dom Lino Viola[10] e a todos os párocos que viram interrompida a Missa por causa deste desgraçado DPCM. – Vimos pessoas defuntas queimadas como cães, sem funeral, encerradas em urnas sem nomes. Com pesar daquilo que, segundo Fóscolo[11], nos distinguia das bestas. Temos até mesmo um Fiorello[12] debochado que nos pede para rezar no banheiro. Não construímos, como cristãos, as catedrais para depois sermos trancados no banheiro para rezar. Aqueles que decidiram tudo isso, deixaram o povo italiano sem os Sacramentos justamente no momento mais difícil de sua História recente. Nem Mussolini, nem Hitler ousaram tanto! E vós o fizestes com a desculpa do vírus; e, no entanto, deixaram abertos os supermercados, as farmácias, e até mesmo as tabacarias, mas não as Missas! Reabriram as empresas, reabriram inclusive os banho e tosa dos cães, mas nada de Missas! Agora não tendes mais desculpas. Passastes duas Ordens do dia[13], uma no Senado, aprovada por esta sessão, no dia 8 de abril, e, ontem, uma Emenda na Câmara; e, apesar disso, ainda não se fala de Missas. Não somos cães, somos almas encarnadas, chamadas à vida eterna. Nos deixastes a comida para o corpo que morre, e nos tirastes a comida para a alma imortal! Se vós realmente quisesses teríeis encontrado o modo de garantir os Sacramentos e a segurança. A verdade é que este Governo tem uma alma profundamente anticristã. Não se compreende diversamente o motivo por que 14 pessoas podem ir à Missa se tiver um féretro, mas as mesmas 14 pessoas, se não houver um ataúde, não podem mais ir à Missa. Vós me entendeis? Beiramos o ridículo! Agora basta! Peço, Presidente, à senhora, no seu altíssimo papel institucional, que se faça intérprete, lhe suplico, do sentimento e da vontade de tantos cidadãos, das famílias italianas privadas do alimento da alma há mais de dois meses. Rogo-vos, intercedais junto a este Governo para que se reabra já, agora, a partir de hoje, a celebração pública dos Sacramentos; E isto não o digo como um apelo qualquer, mas o bom Deus, ou se preferem, para quem não crê[14] em Deus, a História sempre fez justiça com quem oprimiu o seu povo. Do Faraó a Diocleciano e todo o seu Império, até os ditadorezinhos, de uma banda e da outra[15]. Não gostaria que sucedesse o mesmo também a este Governo. Obrigado.
Fonte: https://youtu.be/LylLkiMuU74.
Tradução, notas, biografia do senador Pillon e texto sobre os Mártires de Abitene: Giulia d'Amore.
Notas:
[1] Artigo 7º: “O Estado e a Igreja são, cada um em sua própria ordem, independentes e soberanos. Suas relações são reguladas pelos 'Pactos de Latrão'. As modificações dos 'Pactos', contanto que aceitadas pelas duas partes, não exigem procedimento de revisão constitucional.”
[2] Artigo 19: “Todos têm direito de professar livremente a própria fé religiosa, por qualquer forma, individual ou associada, de fazer dela propaganda e de exercitar o seu culto em privado ou em público, contanto que não se trate de ritos contrários ao bom costume.” Este artigo deve ser lido em concomitância com o artigo 8º (que trata dos cultos não católicos) e o artigo 20: “O caráter eclesiástico e o fim religioso ou de culto de uma associação ou instituição não podem ser causa de ESPECIAIS LIMITAÇÕES LEGISLATIVAS, nem de especiais gravames fiscais, por sua constituição, capacidade jurídica e toda forma de atividade.”
[3] Ou seja, em comum com outras pessoas.
[4] Ou seja, sem o Dominicum, isto é, sem a Eucaristia dominical, não podemos viver.
[5] Vide a história dos Mártires de Abitene após o texto.
[6] O senador Pillon diz: “sono stati fatti strame”. “Strame”, literalmente é palha, erva seca, feno que se junta e se dá de comida ao gado. Neste sentido, “fare strame” de algo ou alguém é destruir, aniquilar, material ou moralmente; destruir uma boa reputação, por exemplo.
[7] Um ato normativo infraconstitucional. Por isso mesmo, não poderia alterar a Constituição.
[8] Decreto do Presidente do Conselho de Ministros da República Italiana.
[9] DPCM de 8/3/2020: artigo 1º: “1. Com o escopo de contrastar e conter a difusão do vírus COVID-19 na região da Lombardia e nas províncias de Modena, Parma, Piacenza, Régio (na Emilia), Rimini, Pêsaro e Urbino, Alessandria, Asti, Novara, Verbano-Cusio-Ossola, Vercelli, Padova, Treviso e Venezia, são adotada as seguintes medidas: (...) i) a abertura dos locais de culto é condicionada à adoção de medidas organizativas tais que evitem aglomerações de pessoas, levando em conta as dimensões e características do locais, e tais que garantam aos frequentadores a possibilidade de respeitar a distância entre eles de ao menos um metro conforme o alegado artigo 1º, letra d. estão suspensas as cerimônias civis e religiosas, incluídas aqui as cerimônias fúnebres”. A letra “d” mencionada trata das atividades esportivas.
[10] Don Lino Viola é padre na cidade de Soncino, província de Milão. No dia 19 de abril, Domingo, rezava a Missa com a presença de 12 fiéis apenas. A Missa foi interrompida diversas vezes por um policial que tentava fazê-lo desistir ou esvaziar a igreja. O Padre disse, depois, que as pessoas foram chegando e ele as conhecia, algumas tinham perdido parentes pela Covid19 e não era sequer humano pedir que se retirassem. Além do mais, os fiéis estavam a uma distância de quatro metros uns dos outros. Ao Padre e aos fiéis foi aplicada uma multa, e o Padre disse aos fiéis que não a pagassem. Ele não pretendia pagar. O bispo Antonio Napolioni, de Cremona, como o bispo de Abitene, não apoiou o padre. Um comunicado divulgado pela diocese, na segunda-feira dia 20, chamou Viola por "não cumprir as normas de emergência atuais que proíbem a celebração da missa na presença dos fiéis". Em vez de agradecer a Dom Lino Viola por se manter firme e defender os fiéis presentes na Missa, a diocese sentiu “o dever de agradecer a todos os padres de Cremona que, neste período difícil, foram capazes de expressar um profundo senso de comunhão e pertencimento eclesial, também ao respeito rigoroso e preciso das normas vigentes, ciente da responsabilidade que a Igreja tem em relação à sociedade civil e à saúde de nossos concidadãos.” A interrupção da missa em Soncino não foi o único caso de assédio a padres, em meio à pandemia do COVID-19. Em meados de março, um padre em Marina di Cerveteri, nos arredores de Roma, “não teve a chance de começar o rito final dentro de uma igreja vazia (mas com fiéis assistindo ao vivo), quando dois policiais locais usando em máscaras antivirais se lançaram atrás do altar”, relatou o New Daily Compass. A polícia argumentou que “o pároco havia deixado as portas da igreja abertas e, do lado de fora do cemitério, os fiéis haviam se reunido em oração. No entanto, os poucos fiéis presentes nos jardins da igreja mantiveram uma distância segura, muito maior do que a recomendação comum de um metro decretada pelo governo italiano.” Fonte: https://www.oriundi.net/soldado-interrompe-missa-com-12-fieis-e-padre-e-multado.
[11] Aqui, o senador cita o célebre poeta italiano Ugo Fóscolo, que, apesar de ateu, teve ocasião de falar bem sobre o significado e a função que os sepulcros exercem na sociedade, em um famoso poema chamado “De Sepulcri”. A respeito, em um primeiro momento, se mostrou a favor da lei napoleônica (em setembro de 1806, que impunha que os cemitérios fossem construídos fora dos limites da cidade e que sobre as tumbas fossem colocadas lapides comuns e de igual tamanho para todos), mas depois refletiu acerca do tema da morte, reconhecendo que os sepulcros (e, nesta lista, incluem-se tumbas, túmulos, cenotáfios, mausoléus, jazigos, lapides, lousas, urnas...), se não são de proveito aos mortos, então o são aos vivos. Mas, eu creio que o confunde com outro poeta italiano, até maior que Fóscolo, o grande Giovanni Páscoli, que, em prefácio à sua obra “Canti di Castelvecchio”, escreve: “Mas a vida, sem o pensamento da morte; sem, isto é, a religião, sem aquilo que nos distingue das bestas, é um delírio, ou intermitente ou contínuo, ou estólido ou trágico”. Tanto Fóscolo quanto Páscoli, contudo, são péssimas citações para um católico, porque ambos são conhecidos por serem maçons. E Fóscolo, um materialista ateu. Enquanto Páscoli, um positivista e iluminista. Como poetas, no entanto, foram extraordinários.
[12] Refere-se a Rosário Fiorello – segundo Wikipédia: showman, cômico, cabaretista (dançarino de cabarê), imitador, cantor, apresentador de rádio, apresentador de TV e ator – um “artista” italiano que, quando Matteo Salvini pediu igrejas abertas para a Páscoa, respondeu no Twitter: “Em meu parecer, reabrir as igrejas para a Páscoa pode ser um erro. Não creio que Deus aceite orações somente de quem vá à igreja. Se sou crente e sou fiel posso rezar também no banheiro, na cozinha ou na sala de estar”. Evidentemente, esse não sabe distinguir “Missa” de “orações”, e não compreende, portanto, qual seja a necessidade e a importância da Missa.
[13] São documentos do Parlamento sobre determinado assuntos. Na Itália, há três tipos de Ordens do dia: “ordem do dia da sessão”; “ordem do dia” geral e “ordem do dia”.
[14] Novamente, aqui, o senador faz uma concessão aos ateus. Deplorável, em tão belo discurso. Mas é isso que o liberalismo faz nas mentes e corações católicos. E, pela biografia do senador, logo abaixo, dá para compreender porque é tão tolerante e politicamente correto.
[15] De Esquerda e de Direita.
Biografia. Simone Pillon (Brescia, 1971) é um advogado (Direito de Família e Penal) e político italiano. Senador pela Lega Nord, a mesma do Matteo Salvini. Modernista, é ligado ao Caminho Neocatecumenal da dupla Kiko Arguello e Carmen Hernández; foi conselheiro nacional do Fórum das Associações Familiares; membro da Comissão Adoções Internacionais da Presidência do Conselho dos Ministros (Parlamento); diretor do Consultório Familiar “La Dimora” de Perugia; um dos organizadores do Family Day (de 2007, 2015 e 2016); faz parte da direção da Fondazione Novae terrae. Em 2019, foi condenado por difamação contra o Círculo Lgbt Omphalos di Perugia, afilhado ao famigerado Arcigay e contra um dos seus responsáveis na área juvenil. A difamação, no caso, seria porque, durante uma série de encontros em Assis, San Marino e Ascoli Piceno, Pillon havia dito que os folhetos de propaganda contra a homofobia e o bullying, distribuídos pela Omphalos durante uma assembleia em uma escola em 2012 serviam para propagandear a homossexualidade e eram um convite para ter relações entre pessoas do mesmo sexo; também insinuou que a organização distribuía material pornográfico. Com Tania Ercolani e Luca Iannaccone, escreveu “Ciò a cui non possiamo rinunciare. La famiglia nella Repubblica di San Marino, tra tradizione e novazioni” (Il Cerchio, 2016, pp. 64). Tradução livre: “Aquilo ao qual não podemos renunciar. A família na República de San Marino, entre tradição e inovações”.
Do Martirológio: “Na África, o natalício dos Santos Mártires Saturnino Presbítero, Dativo, Félix, Ampélio e outros Companheiros seus, os quais, na perseguição de Diocleciano, quando se reuniam conforme o costume, para celebrar o Dia do Senhor, presos por isso pelos soldados, forma martirizados sob o Procônsul Anulino.”
Em 24 de fevereiro de 303, Diocleciano havia publicado seu primeiro édito contra os cristãos, ordenando a destruição de seus Textos Sagrados e de seus locais de culto em todo o Império Romano, e proibindo que se reunissem para as celebrações religiosas. Apesar de Fundano, então bispo de Abitene, obedecer covardemente ao édito entregando os Textos Sagrados às autoridades, alguns cristãos continuaram se encontrando ilegalmente sob a direção do Presbítero Saturnino. Naquele domingo, todos os presentes, quarenta e nove almas, foram presos e conduzidos diante dos magistrados locais, que os enviaram a Cartago, a capital da Província, para o processo, que começou a 12 de fevereiro, diante do Procônsul Anulino. Um dos presos, o senador Dativo, interrogado, declarou ser cristão e ter participado às reuniões dos cristãos, e, mesmo sob tortura, recusou-se a revelar quem as presidira. Durante os interrogatórios, o advogado defensor, Fortunaziano, irmão da jovem Vitória, acusou Dativo de ter instigado a irmã e outras ingênuas jovens a participar da função religiosa, mas ela replicou que participara de livre vontade e plena consciência. O Procônsul suspendeu, então, a tortura para perguntar a Dativo se havia participado da reunião, e ele confirmou a sua participação. Perguntado quem fosse o instigador, ele respondeu: “O Presbítero Saturnino e todos nós”; devolvido à prisão, Dativo logo morreu por causa das torturas sofridas. O Presbítero Saturnino, interrogado por sua vez, não abjurou a sua Fé, nem sob tortura, e o seu exemplo foi seguido por todos os outros, homens e mulheres, incluídos os seus quatro filhos: Saturnino (leitor), Félix (leitor), Maria (virgem consagrada) e Hilarião, o mais novo. Quando perguntaram a Emérito, que havia declarado que os cristãos se encontravam em sua casa, por que havia desobedecido à ordem do Imperador, ele respondeu: “Sine Dominico non possumus!”, isto é: “Não podemos viver sem celebrar o Dia do Senhor!”. Esta resposta ressoou em todas as bocas. Essa celebração era a que o Imperador havia declarado ilegal e à qual haviam decidido participar, à custa de sofrer o martírio e perder a vida. Os nomes dos 49 mártires, segundo Pio Franchi dei Cavalieri, além de Saturnino e os quatro filhos:
Emérito (leitor),
Ampélio (leitor),
outro Félix,
Rogaciano,
Quinto,
Maximiano ou Máximo,
Tecla ou Tazelita,
outro Rogaciano,
Rogado,
Januário,
Cassiano,
Vitoriano,
Vicente,
Prima,
Ceciliano,
Restituta,
Eva,
mais um Rogaciano,
Giriale,
outro Rogado,
Pompônia,
Secunda,
Januária,
Saturnina,
Martino,
Dânzio,
mais um Félix,
Margarida,
Maggiore,
Honorata,
Regiola,
Vitorino,
Pelúsio,
Fausto,
Deciano,
Matrona,
Cecília,
Vitória,
Herculina,
outra Secunda,
outra Matrona,
outra Januária.
Fontes:
https://it.wikipedia.org/wiki/Martiri_di_Abitene; https://rodrigogurgel.com.br/sine-dominico-non-possumus/.
Sine Domenico non possumus!
- Senador Simone Pillon: Grato, Excelência. Eu dizia, recordo a mim mesmo que o artigo 7º[1] da Constituição garante a independência e a recíproca soberania do Estado e da Igreja. E o artigo 19[2] de nossa Constituição garante a liberdade, para todos os cidadãos italianos, de professar livremente a Fé, de forma individual e associada[3] e de exercitar seu culto em privado e em público. Este é um artigo da Constituição. Estes artigos foram escritos com o sangue de Mártires que, em 2000 anos, preferiram a morte a renunciar aos Sacramentos. “Sine Dominico non possumus!”[4] gritavam os Mártires de Abitene[5], 49 cristãos martirizados por Diocleciano, no ano 304 d.C. O bispo deles obedeceu ao edito imperial e entregou os Textos Sagrados às autoridades, mas os fiéis, com o Presbítero Saturnino, continuaram a celebrar a Missa e, por isso, foram presos, torturados e assassinados. E todos, antes de morrer, disseram: “Sine Domenico non possumus!”. Bom, esses artigos da Constituição escritos com o sangue dos Mártires foram aniquilados[6] por um ato administrativo subordinado[7], um DPCM[8] de 8/3/2020, com o qual este Governo, na letra “i”[9], bloqueia qualquer possibilidade de celebrações religiosas com o povo. Se o tivesse feito um Governo de centro-direita, todos vós teríeis saído às ruas gritando ao escândalo pela lesão à liberdade religiosa, mas como sede vós que o fazeis, então vós podeis fazer tudo, inclusive, com um DPCM, contradizer as mais elementares liberdades religiosas que nós temos em nosso País. É a primeira Páscoa em 2000 anos sem Sacramentos. Vimos Sacerdotes denunciados como acontece na China... Missas interrompidas – quero aqui professar plena solidariedade a Dom Lino Viola[10] e a todos os párocos que viram interrompida a Missa por causa deste desgraçado DPCM. – Vimos pessoas defuntas queimadas como cães, sem funeral, encerradas em urnas sem nomes. Com pesar daquilo que, segundo Fóscolo[11], nos distinguia das bestas. Temos até mesmo um Fiorello[12] debochado que nos pede para rezar no banheiro. Não construímos, como cristãos, as catedrais para depois sermos trancados no banheiro para rezar. Aqueles que decidiram tudo isso, deixaram o povo italiano sem os Sacramentos justamente no momento mais difícil de sua História recente. Nem Mussolini, nem Hitler ousaram tanto! E vós o fizestes com a desculpa do vírus; e, no entanto, deixaram abertos os supermercados, as farmácias, e até mesmo as tabacarias, mas não as Missas! Reabriram as empresas, reabriram inclusive os banho e tosa dos cães, mas nada de Missas! Agora não tendes mais desculpas. Passastes duas Ordens do dia[13], uma no Senado, aprovada por esta sessão, no dia 8 de abril, e, ontem, uma Emenda na Câmara; e, apesar disso, ainda não se fala de Missas. Não somos cães, somos almas encarnadas, chamadas à vida eterna. Nos deixastes a comida para o corpo que morre, e nos tirastes a comida para a alma imortal! Se vós realmente quisesses teríeis encontrado o modo de garantir os Sacramentos e a segurança. A verdade é que este Governo tem uma alma profundamente anticristã. Não se compreende diversamente o motivo por que 14 pessoas podem ir à Missa se tiver um féretro, mas as mesmas 14 pessoas, se não houver um ataúde, não podem mais ir à Missa. Vós me entendeis? Beiramos o ridículo! Agora basta! Peço, Presidente, à senhora, no seu altíssimo papel institucional, que se faça intérprete, lhe suplico, do sentimento e da vontade de tantos cidadãos, das famílias italianas privadas do alimento da alma há mais de dois meses. Rogo-vos, intercedais junto a este Governo para que se reabra já, agora, a partir de hoje, a celebração pública dos Sacramentos; E isto não o digo como um apelo qualquer, mas o bom Deus, ou se preferem, para quem não crê[14] em Deus, a História sempre fez justiça com quem oprimiu o seu povo. Do Faraó a Diocleciano e todo o seu Império, até os ditadorezinhos, de uma banda e da outra[15]. Não gostaria que sucedesse o mesmo também a este Governo. Obrigado.
Fonte: https://youtu.be/LylLkiMuU74.
Tradução, notas, biografia do senador Pillon e texto sobre os Mártires de Abitene: Giulia d'Amore.
Notas:
[1] Artigo 7º: “O Estado e a Igreja são, cada um em sua própria ordem, independentes e soberanos. Suas relações são reguladas pelos 'Pactos de Latrão'. As modificações dos 'Pactos', contanto que aceitadas pelas duas partes, não exigem procedimento de revisão constitucional.”
[2] Artigo 19: “Todos têm direito de professar livremente a própria fé religiosa, por qualquer forma, individual ou associada, de fazer dela propaganda e de exercitar o seu culto em privado ou em público, contanto que não se trate de ritos contrários ao bom costume.” Este artigo deve ser lido em concomitância com o artigo 8º (que trata dos cultos não católicos) e o artigo 20: “O caráter eclesiástico e o fim religioso ou de culto de uma associação ou instituição não podem ser causa de ESPECIAIS LIMITAÇÕES LEGISLATIVAS, nem de especiais gravames fiscais, por sua constituição, capacidade jurídica e toda forma de atividade.”
[3] Ou seja, em comum com outras pessoas.
[4] Ou seja, sem o Dominicum, isto é, sem a Eucaristia dominical, não podemos viver.
[5] Vide a história dos Mártires de Abitene após o texto.
[6] O senador Pillon diz: “sono stati fatti strame”. “Strame”, literalmente é palha, erva seca, feno que se junta e se dá de comida ao gado. Neste sentido, “fare strame” de algo ou alguém é destruir, aniquilar, material ou moralmente; destruir uma boa reputação, por exemplo.
[7] Um ato normativo infraconstitucional. Por isso mesmo, não poderia alterar a Constituição.
[8] Decreto do Presidente do Conselho de Ministros da República Italiana.
[9] DPCM de 8/3/2020: artigo 1º: “1. Com o escopo de contrastar e conter a difusão do vírus COVID-19 na região da Lombardia e nas províncias de Modena, Parma, Piacenza, Régio (na Emilia), Rimini, Pêsaro e Urbino, Alessandria, Asti, Novara, Verbano-Cusio-Ossola, Vercelli, Padova, Treviso e Venezia, são adotada as seguintes medidas: (...) i) a abertura dos locais de culto é condicionada à adoção de medidas organizativas tais que evitem aglomerações de pessoas, levando em conta as dimensões e características do locais, e tais que garantam aos frequentadores a possibilidade de respeitar a distância entre eles de ao menos um metro conforme o alegado artigo 1º, letra d. estão suspensas as cerimônias civis e religiosas, incluídas aqui as cerimônias fúnebres”. A letra “d” mencionada trata das atividades esportivas.
[10] Don Lino Viola é padre na cidade de Soncino, província de Milão. No dia 19 de abril, Domingo, rezava a Missa com a presença de 12 fiéis apenas. A Missa foi interrompida diversas vezes por um policial que tentava fazê-lo desistir ou esvaziar a igreja. O Padre disse, depois, que as pessoas foram chegando e ele as conhecia, algumas tinham perdido parentes pela Covid19 e não era sequer humano pedir que se retirassem. Além do mais, os fiéis estavam a uma distância de quatro metros uns dos outros. Ao Padre e aos fiéis foi aplicada uma multa, e o Padre disse aos fiéis que não a pagassem. Ele não pretendia pagar. O bispo Antonio Napolioni, de Cremona, como o bispo de Abitene, não apoiou o padre. Um comunicado divulgado pela diocese, na segunda-feira dia 20, chamou Viola por "não cumprir as normas de emergência atuais que proíbem a celebração da missa na presença dos fiéis". Em vez de agradecer a Dom Lino Viola por se manter firme e defender os fiéis presentes na Missa, a diocese sentiu “o dever de agradecer a todos os padres de Cremona que, neste período difícil, foram capazes de expressar um profundo senso de comunhão e pertencimento eclesial, também ao respeito rigoroso e preciso das normas vigentes, ciente da responsabilidade que a Igreja tem em relação à sociedade civil e à saúde de nossos concidadãos.” A interrupção da missa em Soncino não foi o único caso de assédio a padres, em meio à pandemia do COVID-19. Em meados de março, um padre em Marina di Cerveteri, nos arredores de Roma, “não teve a chance de começar o rito final dentro de uma igreja vazia (mas com fiéis assistindo ao vivo), quando dois policiais locais usando em máscaras antivirais se lançaram atrás do altar”, relatou o New Daily Compass. A polícia argumentou que “o pároco havia deixado as portas da igreja abertas e, do lado de fora do cemitério, os fiéis haviam se reunido em oração. No entanto, os poucos fiéis presentes nos jardins da igreja mantiveram uma distância segura, muito maior do que a recomendação comum de um metro decretada pelo governo italiano.” Fonte: https://www.oriundi.net/soldado-interrompe-missa-com-12-fieis-e-padre-e-multado.
[11] Aqui, o senador cita o célebre poeta italiano Ugo Fóscolo, que, apesar de ateu, teve ocasião de falar bem sobre o significado e a função que os sepulcros exercem na sociedade, em um famoso poema chamado “De Sepulcri”. A respeito, em um primeiro momento, se mostrou a favor da lei napoleônica (em setembro de 1806, que impunha que os cemitérios fossem construídos fora dos limites da cidade e que sobre as tumbas fossem colocadas lapides comuns e de igual tamanho para todos), mas depois refletiu acerca do tema da morte, reconhecendo que os sepulcros (e, nesta lista, incluem-se tumbas, túmulos, cenotáfios, mausoléus, jazigos, lapides, lousas, urnas...), se não são de proveito aos mortos, então o são aos vivos. Mas, eu creio que o confunde com outro poeta italiano, até maior que Fóscolo, o grande Giovanni Páscoli, que, em prefácio à sua obra “Canti di Castelvecchio”, escreve: “Mas a vida, sem o pensamento da morte; sem, isto é, a religião, sem aquilo que nos distingue das bestas, é um delírio, ou intermitente ou contínuo, ou estólido ou trágico”. Tanto Fóscolo quanto Páscoli, contudo, são péssimas citações para um católico, porque ambos são conhecidos por serem maçons. E Fóscolo, um materialista ateu. Enquanto Páscoli, um positivista e iluminista. Como poetas, no entanto, foram extraordinários.
[12] Refere-se a Rosário Fiorello – segundo Wikipédia: showman, cômico, cabaretista (dançarino de cabarê), imitador, cantor, apresentador de rádio, apresentador de TV e ator – um “artista” italiano que, quando Matteo Salvini pediu igrejas abertas para a Páscoa, respondeu no Twitter: “Em meu parecer, reabrir as igrejas para a Páscoa pode ser um erro. Não creio que Deus aceite orações somente de quem vá à igreja. Se sou crente e sou fiel posso rezar também no banheiro, na cozinha ou na sala de estar”. Evidentemente, esse não sabe distinguir “Missa” de “orações”, e não compreende, portanto, qual seja a necessidade e a importância da Missa.
[13] São documentos do Parlamento sobre determinado assuntos. Na Itália, há três tipos de Ordens do dia: “ordem do dia da sessão”; “ordem do dia” geral e “ordem do dia”.
[14] Novamente, aqui, o senador faz uma concessão aos ateus. Deplorável, em tão belo discurso. Mas é isso que o liberalismo faz nas mentes e corações católicos. E, pela biografia do senador, logo abaixo, dá para compreender porque é tão tolerante e politicamente correto.
[15] De Esquerda e de Direita.
Biografia. Simone Pillon (Brescia, 1971) é um advogado (Direito de Família e Penal) e político italiano. Senador pela Lega Nord, a mesma do Matteo Salvini. Modernista, é ligado ao Caminho Neocatecumenal da dupla Kiko Arguello e Carmen Hernández; foi conselheiro nacional do Fórum das Associações Familiares; membro da Comissão Adoções Internacionais da Presidência do Conselho dos Ministros (Parlamento); diretor do Consultório Familiar “La Dimora” de Perugia; um dos organizadores do Family Day (de 2007, 2015 e 2016); faz parte da direção da Fondazione Novae terrae. Em 2019, foi condenado por difamação contra o Círculo Lgbt Omphalos di Perugia, afilhado ao famigerado Arcigay e contra um dos seus responsáveis na área juvenil. A difamação, no caso, seria porque, durante uma série de encontros em Assis, San Marino e Ascoli Piceno, Pillon havia dito que os folhetos de propaganda contra a homofobia e o bullying, distribuídos pela Omphalos durante uma assembleia em uma escola em 2012 serviam para propagandear a homossexualidade e eram um convite para ter relações entre pessoas do mesmo sexo; também insinuou que a organização distribuía material pornográfico. Com Tania Ercolani e Luca Iannaccone, escreveu “Ciò a cui non possiamo rinunciare. La famiglia nella Repubblica di San Marino, tra tradizione e novazioni” (Il Cerchio, 2016, pp. 64). Tradução livre: “Aquilo ao qual não podemos renunciar. A família na República de San Marino, entre tradição e inovações”.
* * *
Os Mártires de Abitene
Do Martirológio: “Na África, o natalício dos Santos Mártires Saturnino Presbítero, Dativo, Félix, Ampélio e outros Companheiros seus, os quais, na perseguição de Diocleciano, quando se reuniam conforme o costume, para celebrar o Dia do Senhor, presos por isso pelos soldados, forma martirizados sob o Procônsul Anulino.”
Em 24 de fevereiro de 303, Diocleciano havia publicado seu primeiro édito contra os cristãos, ordenando a destruição de seus Textos Sagrados e de seus locais de culto em todo o Império Romano, e proibindo que se reunissem para as celebrações religiosas. Apesar de Fundano, então bispo de Abitene, obedecer covardemente ao édito entregando os Textos Sagrados às autoridades, alguns cristãos continuaram se encontrando ilegalmente sob a direção do Presbítero Saturnino. Naquele domingo, todos os presentes, quarenta e nove almas, foram presos e conduzidos diante dos magistrados locais, que os enviaram a Cartago, a capital da Província, para o processo, que começou a 12 de fevereiro, diante do Procônsul Anulino. Um dos presos, o senador Dativo, interrogado, declarou ser cristão e ter participado às reuniões dos cristãos, e, mesmo sob tortura, recusou-se a revelar quem as presidira. Durante os interrogatórios, o advogado defensor, Fortunaziano, irmão da jovem Vitória, acusou Dativo de ter instigado a irmã e outras ingênuas jovens a participar da função religiosa, mas ela replicou que participara de livre vontade e plena consciência. O Procônsul suspendeu, então, a tortura para perguntar a Dativo se havia participado da reunião, e ele confirmou a sua participação. Perguntado quem fosse o instigador, ele respondeu: “O Presbítero Saturnino e todos nós”; devolvido à prisão, Dativo logo morreu por causa das torturas sofridas. O Presbítero Saturnino, interrogado por sua vez, não abjurou a sua Fé, nem sob tortura, e o seu exemplo foi seguido por todos os outros, homens e mulheres, incluídos os seus quatro filhos: Saturnino (leitor), Félix (leitor), Maria (virgem consagrada) e Hilarião, o mais novo. Quando perguntaram a Emérito, que havia declarado que os cristãos se encontravam em sua casa, por que havia desobedecido à ordem do Imperador, ele respondeu: “Sine Dominico non possumus!”, isto é: “Não podemos viver sem celebrar o Dia do Senhor!”. Esta resposta ressoou em todas as bocas. Essa celebração era a que o Imperador havia declarado ilegal e à qual haviam decidido participar, à custa de sofrer o martírio e perder a vida. Os nomes dos 49 mártires, segundo Pio Franchi dei Cavalieri, além de Saturnino e os quatro filhos:
Emérito (leitor),
Ampélio (leitor),
outro Félix,
Rogaciano,
Quinto,
Maximiano ou Máximo,
Tecla ou Tazelita,
outro Rogaciano,
Rogado,
Januário,
Cassiano,
Vitoriano,
Vicente,
Prima,
Ceciliano,
Restituta,
Eva,
mais um Rogaciano,
Giriale,
outro Rogado,
Pompônia,
Secunda,
Januária,
Saturnina,
Martino,
Dânzio,
mais um Félix,
Margarida,
Maggiore,
Honorata,
Regiola,
Vitorino,
Pelúsio,
Fausto,
Deciano,
Matrona,
Cecília,
Vitória,
Herculina,
outra Secunda,
outra Matrona,
outra Januária.
Fontes:
https://it.wikipedia.org/wiki/Martiri_di_Abitene; https://rodrigogurgel.com.br/sine-dominico-non-possumus/.
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