Uma homenagem a vó Augustinha!

Publico um texto que me surpreendeu e me fez refletir. Foi escrito no Instagram por um jovem que tem uma verve humorística muito boa, mas também sabe escrever – e bem – coisas sérias. Aproveitem a leitura e a reflexão. 

Nossas misérias e murmurações. O que pode nos ensinar Vó Augustinha?! 

Essa publicação é uma homenagem, e também é um registro de uma lição que vale a pena estar presente nesse mural digital. E não, essa homenagem não é póstuma, tendo em vista que o personagem principal ainda possui vida.

Essa senhora na foto é minha avó, Dona Augustinha. Vovó sempre teve um coração enorme, e me encheu de mimo o quanto pôde, sendo eu um aniversariante no mesmo dia que ela. Ir para sua cidade nas minhas férias era quase que um dogma, algo que devesse ser cumprido. E nesses momentos juntos, vovó sempre me ensinou boas lições, tanto de afetividade como de aprendizado para a vida pessoal.

Ela sempre foi uma mulher dedicada ao próximo, onde os demais valiam mais do que a ela mesma, segundo ela mesma. Se doar aos outros era serviço de fé, de ato de caridade, e de sobrevivência para ela. Isso era posto em prática dentro e fora da igreja. Vovó sempre foi muito católica, e, por estar na igreja quase que ininterruptamente, se entregava às práticas de acolhimento social e boas obras diversas vezes, isso com todos que a cercavam. Enfim, dona Augustinha, o amor em pessoa.

O tempo passou, e vovó se acometeu de um problema de saúde. Há 7 anos vive em uma cama, se alimentando por sonda. Há 2 anos não fala nada. Só olha para o teto, abre a boca como se quisesse falar algo, mas não consegue. Dorme, acorda, e a rotina se repete. Passa seus desafios diários com auxílio daqueles que ela mesma criou, desde seu ventre. Dona Augustinha não consegue mais se doar aos outros. Dessa vez, precisa que os outros se disponham por ela.

Desde então, e por impulsão da última visita, me vieram vários pensamentos na cabeça. Dos principais, primeiro: publicar sua história em vida, pois não há utilidade em bons reconhecimentos se eles precisam de atestados de óbito para serem feitos! E o segundo, mais intenso e importante deles: reparar como a boa vida nunca fica boa diante de nossas próprias ambições. Sempre queremos mais, por nós, para nós, nos colocando como prioridades. 

Somos os mais sofridos, tivemos o pior dia, o pior sofrimento, o pior dos piores para ser melhor no pior. Tudo é murmuração, como se a boa vida fosse isso: ser bom em murmurar. Eu sei que nem todos são assim, mas como já vi à minha volta pessoas com essa mesma prática, então entendo que não sou único a adotar esse "estilo de vida".

Quando volto para a casa da dona Augustinha, me vejo num dilema: como posso ter vivido sempre o pior se quem está na cama viveu o seu melhor quando pôde? Porque, se estar disposto aos outros era o bom da vida, então eu acredito que minha vó tenha cumprindo com maestria essa virtude.  

E eu, na prepotência da minha arrogância, achando que a ligação do telemarketing no horário de almoço era o que poderia acabar com meu dia. Talvez eu devesse passar 7 anos numa cama, só para aprofundar mais essa lição, mas acho que não seja necessário. Um pensamento raso, mas eficiente, já nos permite refletir sobre nossas próprias escolhas e nossas próprias atitudes.

Portanto, quando eu digo que dona Augustinha não se dispõe mais aos outros desde o ocorrido há 7 anos, talvez eu tenha me enganado. Não se dispõe fisicamente, mas continua a me ensinar boas e importantes lições. 

Eu já disse isso pra ela em tempo, mas quero que os demais saibam também: Augustinha é força e fé, personificação de amor e compaixão, que sempre eu vou carregar comigo. É filha de Nossa Senhora, devota no amor e na dor, se doando ao acolhimento materno com todos que a procuravam.

Que tenha vida boa, minha avó, enquanto Deus achar bom o cumprimento de seus objetivos aqui conosco. Que continue me inspirando enquanto há tempo, para que me espelhe na vida boa que sempre me proporcionou em conhecer ao seu lado. Vida boa, dona Augustinha, é ter gente como você.

Autor: Igor Delgado. Tive a honra de batizá-lo na Fé católica. 

Fonte: Instagram.