Santo Afonso Maria de Ligório
(27/09/1696 - 02/08/1787)
Bispo de Santa Àgata
Confessor
Doutor Zelosíssimo da Igreja
Fundador dos Missionários Redentoristas
(27/09/1696 - 02/08/1787)
Bispo de Santa Àgata
Confessor
Doutor Zelosíssimo da Igreja
Fundador dos Missionários Redentoristas
A Selva
PRIMEIRA PARTE - MATERIAIS PARA OS SERMÕES
Santidade exigida no Padre
I - Em razão da sua dignidade
É grande a dignidade dos padres; mas não são menores as obrigações que lhe andam inerentes. Erguem-se os padres a uma grande altura; mas é necessário que sejam elevados e sustentados nela por uma grande virtude.No caso contrário, em vez de recompensa, um rigoroso castigo lhes está reservado; tal é o pensamento de S. Lourenço Justiniano 112.
S. Pedro Crisólogo diz por sua vez 113: “O Sacerdócio é uma grande honra; mas é também um fardo pesado, e traz consigo uma grande conta a prestar”.— E S. Jerônimo 114: “Não é pela sua dignidade que o padre se salva, mas pela obras concordes com a sua dignidade”.
Todo o cristão deve ser perfeito, deve ser santo, por isso que todo o cristão faz profissão de servir um Deus santo. Segundo S. Leão, uma pessoa torna-se cristã despojando-se da semelhança do homem terreno, e revestindo-se da forma de homem celeste 115. Era a razão por que Jesus Cristo dizia:Vós pois sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito 116.
Mas a santidade do padre deve ser diferente da dos seculares, segundo a observação de Sto. Ambrósio 117. Ajunta o santo Doutor que assim como a graça dispensada aos padres é superior, assim a vida do padre deve exceder em santidade à dos seculares 118. E, segundo Isodoro de Pelusa, entre a santidade do padre e a de todo o bom leigo, deve haver tanta distância como do céu à terra 119.
Santo Tomás ensina que cada um é obrigado a cumprir os deveres do estado que escolheu 120. Por outro lado, assegura Sto. Agostinho que o clérigo, no mesmo instante em que recebe a clericatura, se impõe a obrigação de ser santo 121. E Cassiodoro escreve: O eclesiástico é obrigado a uma vida celeste 122. O padre é obrigado a maior perfeição que todos os outros, como diz Tomás de Kempis 123, porque o seu estado é o mais sublime de todos os estados. Salviano ajunta que Deus ordena a perfeição aos clérigos no mesmo lugar, em que a aconselha aos seculares 124.
Os sacerdotes da Lei antiga traziam estas palavras gravadas na tiara, que lhes cingia a fronte: Consagrado ao Senhor, ou Coisa santa do Senhor 125.
Era para que nunca se esquecessem da santidade que deviam professar. As vítimas, oferecidas pelos sacerdotes, deviam ser inteiramente consumidas, — e para quê? Teodoreto responde: Para lhes significarem a integridade da vida, que convém a quem se consagra por completo a Deus 126.
Para oferecer dignamente o divino sacrifício, nota Sto. Ambrósio, deve o padre sacrificar-se primeiro ele próprio, oferecendo-se todo a Deus 127. E, segundo Sto. Hesíquio deve o padre ser um holocausto contínuo de perfeição, desde a sua juventude até à morte 128.
Na Lei antiga disse Deus: Separei-vos dos outros povos, para que sejais o meu povo 129. Com quanto mais forte razão quer o Senhor na Lei nova, que os sacerdotes ponham de parte os negócios do século, para só agradarem Àquele a quem se consagraram! É o que ele declara pela voz do Apóstolo 130:Nenhum soldado de Deus se deve ingerir nos negócios seculares, para agradar Àquele cujo serviço abraçou. E é a promessa que a Igreja exige de todos os clérigos, ao entraram no santuário pela prima-tonsura. Faz-lhes prometer que de futuro só Deus será a sua herança: É o Senhor a parte que me coube em herança, e o quinhão que me é destinado; pois vós, Senhor, que me haveis de dar a devida herança 131. “Tudo no padre, escreveu S. Jerônimo, reclama e exige a santidade da vida: o hábito que veste, o próprio ofício que exerce” 132. Como diz S. Bernardo, não lhe basta fugir de todos os vícios, é necessário que faça esforços em que consiste a perfeição única, que o homem viador pode possuir cá na terra 133.
O mesmo S. Bernardo gemia, à vista de tantos insensatos, que se afadigam por chegar às ordens sacras, sem considerarem na santidade exigida aos que aspiram a tão alta dignidade 134. E Sto Ambrosio 135 exclama: Quanto é raro encontrar-se um ordinando que possa dizer: O Senhor é a minha herança, que não se deixe abrasar da concupiscência, aguilhoar pela avareza, distrair pelos cuidados dos negócios seculares!
No Apocalipse de S. João, lê-se: Fez-nos reino seu e sacerdotes de Deus, seu Pai 136. Tirino, de acordo com os outros intérpretes explica a palavra Regnum e diz que os sacerdotes são o reino de Deus, ou porque Deus reina neles, nesta vida pela graça e na outra pela glória; ou porque eles próprios são constituídos reis para reinarem sobre os vícios 137.
Quer S. Gregório que o padre seja morto para o mundo e para todas as paixões, a fim de se dar a uma vida toda divina 138. O sacerdócio atual é o mesmo que Jesus Cristo recebeu de seu Pai: E Eu dei-lhes a glória que me deste a mim 139. Se pois o sacerdote representa Jesus Cristo, diz S. João Crisóstomo, é preciso que seja bastante puro para merecer tomar lugar entre os anjos 140.
S. Paulo exige do padre uma perfeição tal, que o ponha ao abrigo de toda a censura 141. É certo que neste lugar, por Episcopum, se devem entender não só os bispos, mas também os sacerdotes, pois que o Apóstolo passa em seguida a falar dos diáconos 142. Como não os chamou pelo apelido de padres, quis ajuntá-los sob esse ponto de vista aos bispos; tal é o sentir de Sto. Agostinho e de S. João Crisóstomo, que sobre este ponto especial se exprime assim: O que ele diz dos bispos aplica-se por igual aos padres 143.
Quanto à palavra Irreprehensibilem, todos vêem com S. Jerônimo que ela compreende a posse de todas as virtudes 144. E eis a explicação que dá Cornélio A-Lápide: Deve o sacerdote não só ser isento de todos os vícios, mas adornado de todas as virtudes 145.
Durante onze séculos, foi interdita a iniciação na clericatura a todos aqueles que depois do seu batismo tivessem cometido um só pecado mortal; é o que nos ensinam os Concílio de Nicéia 146, Toledo 147, Elvira 148 e Cartago 149. E se um clérigo, depois da sua ordenação, vinha o cair em pecado, era deposto para sempre e encerrado num mosteiro, como lemos em muitos cânones 150 e eis a razão que ali se encontra expressa: “Porque a santa Igreja quer que o sacerdote seja isento de censura, a todos os respeitos. Os que não são santos não podem administrar as coisas santas” 151.
No Concílio de Cartago disse-se: Os clérigos de quem o Senhor é herança devem fazer divórcio com o século 152. O Concílio de Trento vai mais longe: quer que num clérigo tudo seja santo: o hábito, as maneiras, a linguagem, e todos os atos 153. E S. João Crisóstomo ajunta que o sacerdote deve ser de tal modo perfeito, que todos os fiéis o possam olhar como um modelo de santidade; porque Deus colocou os sacerdotes na terra, para que eles aqui vivam como anjos, e para servirem a todos os homens de faróis e guias no caminho da virtude 154.
Segundo S. Jerônimo, o nome de clérigo significa: Que tem a Deus como herança. Quer dizer: que o clérigo se compenetre bem na significação do seu nome, e com ele conforme o seu procedimento 155. Se Deus é a sua herança, que não viva senão para Deus. O que tem a Deus por herança, diz Sto. Ambrósio, de nada se deve ocupar senão de Deus: = Cui Deus portio est, nihil debet curare, nisi Deum ( De Eseau. c. 2).
O padre é o ministro de Deus, encarregado das duas funções extremamente nobres e elevadas, que são: honrar a Deus com sacrifícios, e santificar as almas. Porque todo o pontífice, escolhido dentre os homens, é estabelecido para administrar em nome dos homens as coisas que respeitam a Deus 156. Sobre este texto diz Sto Tomás: Todo o padre é escolhido pelo Senhor e posto na terra, não para adquirir riquezas, atrair a estima dos homens, entregar-se aos prazeres e engrandecer a sua família, mas unicamente para vigiar pelos interesses da glória de Deus 157.
Também nas Escrituras o padre é chamado Homo Dei: um homem que nem é do mundo, nem de seus pais, nem de si próprio, mas só de Deus e que só a Deus procura 158. Aos padres pois se aplicam as palavras de Davi: Eis a geração dos que só procuram a Deus 159. Assim como Deus no céu destinou certos anjos para rodearem o seu trono, também na terra, entre os homens, destinou os sacerdotes para tomarem cuidado da sua glória, por isso lhes disse: Separei-vos dos outros povos, para que sejais meus 160. Vimos já este pensamento de S. João Crisóstomo: Escolheu-nos Deus, para que sejamos na terra como anjos entre os homens 161. E o próprio Senhor diz: Serei santificado nos que se aproximarem de mim 162; o que se interpreta assim: A minha santidade será conhecida mediante a santidade dos meus ministros 163.
O Novo Código de Direito Canônico, no título 3.º, das obrigações dos clérigos, confirma a doutrina exposta. Vide os cânones 124-144, que não podemos transcrever.
II - Qual deve ser a santidade do padre como ministro do altar
Quer Sto. Tomás que se exija aos padres maior santidade que aos simples religiosos, em razão das funções sublimes que exercem, especialmente da celebração do sacrifício da missa. A razão é que recebendo uma Ordem sacra, dedica-se o homem ao mais alto ministério, que consiste em servir a Jesus Cristo até no Sacramento do altar; o que exige uma santidade interior mais elevada que a que se requer para o estado religioso. Em igualdade de circunstâncias pois, um clérigo de Ordens sacras, obrando contra a santidade, peca mais gravemente que um religioso, que não esteja revestido de nenhuma Ordem sacra 164. É muito conhecida a sentença de Sto. Agostinho: “Dificilmente um bom monge dá um bom clérigo”165. Deste modo, nenhum clérigo pode ser olhado como bom, se não exceder em virtude um bom religioso.“Um verdadeiro ministro do altar forma-se para Deus, e não para si” 166.
Significam estas palavras de Sto. Ambrósio que um padre deve esquecer as suas comodidades, as suas vantagens e os seus gostos; deve persuadir-se que, desde o dia em que recebeu o sacerdócio, não é seu, mas de Deus. Tem muito a peito o Senhor que os padres sejam puros e santos, para que possam comparecer na sua presença, isentos de todo o defeito, e oferecer-lhe os sacrifícios: Ele se assentará a fundir e limpar a prata; e purificará os filhos de Levi, e os acrisolará como o ouro e a prata; depois oferecerão os sacrifícios na justiça 167. Assim fala o profeta Malaquias; e no Levítico lê-se: Serão santos no serviço do seu Deus, e não desonrarão o seu nome; porque hão de oferecer incenso do Senhor e os pães do seu Deus, e por conseqüência serão santos 168. Se deviam pois ser santos os sacerdotes da Lei antiga, porque ofereciam a Deus apenas o incenso, e os pães de proposição, que eram uma simples figura do adorável Sacramento dos nossos altares, quanto mais devem ser puros e santos os sacerdotes da lei nova, que oferecem a Deus o Cordeiro sem mancha, o seu próprio Filho! Nós oferecemos, observa Estio, não novilhos ou incenso, como os sacerdotes antigos, mas o próprio Jesus Cristo; oferecemos o corpo mesmo do Senhor, que foi suspenso no altar da cruz.
É-nos necessária portanto a santidade, que consiste na pureza do coração; quem se aproxima sem ela destes mistérios terríveis, aproxima-se indignamente 169.
Sobre este ponto, escreveu Belarmino: Desgraçados de nós, que, chamados a este ministério sublime, estamos longe do fervor que Salomão exigia dos padres da aliança figurativa! 170. Até mesmo os que deviam transportar os vasos sagrados queria o Senhor que fossem isentos de mancha: Purificai-vos, ó vós que levais os vasos do Senhor! 171 Quanto mais puros devem ser os padres que trazem nas suas mãos e recebem no seu corpo o próprio Jesus Cristo! Assim fala Pedro de Blois 172. E Sto. Agostinho diz por sua vez: Deve ser puro quem há de manusear não só vasos de ouro, mas até os vasos em que é renovada a morte do Senhor 173.
Devia ser santa e imaculada a beatíssima Virgem Maria, porque havia de trazer no seu seio o Verbo encarnado e tornar-se sua Mãe; e, à visto disso, exclama S. João Crisóstomo, não será indispensável que brilhe, com uma santidade mais resplandecente que o sol, essa mão do padre que toca a carne dum Deus, essa boca que se enche dum fogo celeste, e essa língua que se banha com o sangue de Jesus Cristo? 174 O padre ao altar ocupa o lugar de Jesus Cristo, deve pois, diz S. Lourenço Justiniano, aproximar-se dele para celebrar, quanto possível, à imitação de Jesus Cristo 175. Que perfeição não exige duma religiosa o confessor, para lhe permitir a comunhão quotidiana!E porque não se exigiria a mesma perfeição do sacerdote que comunga todos os dias? É preciso confessar, diz o Concílio de Trento, que não é possível a um homem praticar ação mais santa que celebrar uma missa 176.
E acrescenta: deve portanto o padre envidar todos os esforços para celebrar o santo Sacrifício do altar com a máxima pureza de consciência possível. Ai!Que horror, exclama Sto. Agostinho, ouvir essa língua, que chama o Filho de Deus do Céu à terra, falar depois contra Deus, e ver essas mãos, que se tingem no sangue de Jesus Cristo, mancharem-se com as torpezas do pecado! 177.
Se Deus exigia tamanha pureza dos que deviam oferecer-lhe em sacrifício animais ou pães, e aos que qualquer modo estavam manchados lhes proibia 178 que lhe fizessem oferendas, — quanto maior deve ser a pureza de quem está encarregado de oferecer a Deus o seu próprio Filho, o Cordeiro divino! Tal é a reflexão de Belarmino 179. Sto Tomás diz que pela palavra maculam, no texto citado, se deve entender todo e qualquer vício: Qui est aliquo vitio irretitus, non debet ad ministerium Ordinis accedere ( Suppl. q. 36.a. 1).
A Lei antiga excluía das funções de sacrificador os cegos, coxos, corcundas e leprosos: Nec accedet ad ministerium ejus, si caecus fuerit, si claudus... si gibbus... si habens jugem scabiem (Levit. 21, 18). Os santos Padres, dando um sentido espiritual a estes defeitos, olham como indignos de subir ao altar: os cegos, ou que fecham os olhos à luz divina; os coxos, ou preguiçosos, que nada adiantam no caminho de Deus, e vivem sempre com as mesmas imperfeições, sem oração e sem recolhimento; os corcovados, que sempre estão com as suas afeições voltadas para a terra, para os bens, honras e prazeres do mundo; os leprosos, ou sensuais que, à semelhança do mundo animal imundo, diz o Sábio, se revolvem no lodaçal dos prazeres torpes 180. Numa palavra, quem não é santo é indigno de se aproximar do altar, porque, sendo impuro, mancha o santuário de Deus. Não se aproxime do altar, porque tem uma mancha, e não deve manchar o meu santuário 181.
III - Qual deve ser a santidade do padre como mediador entre Deus e os homens
De mais, deve o sacerdote ser santo na qualidade de dispensador dos sacramentos: É necessário que não tenha mancha, como despenseiro de Deus 182. E deve ser como mediador entre Deus e os pecadores: O sacerdote, diz um santo Padre, está colocado entre Deus e a natureza humana: traz-nos os benefícios que vem do Céu, e leva para lá as nossas orações; aplaca a cólera do Senhor e arranca-nos das suas mãos 183.
É por ministério dos sacerdotes que Deus comunica a sua graça aos fiéis nos sacramentos. — É mediante os sacerdotes que os recebe no número dos seus filhos no Batismo, que é de necessidade para a salvação: Quem não renascer, não pode entrar no reino de Deus 184.
É por ministério deles que Deus cura os doentes e ressuscita os que estão mortos para a graça, isto é, os pecadores, no sacramento da penitência.É por eles que alimenta as almas e lhes conserva a vida da graça, no sacramento da sagrada Eucaristia: Se não comerdes a carne do Filho do homem, não tereis a vida em vós 185.
É por eles que dá aos moribundos a força para vencerem as tentações do inferno, mediante o sacramento da Unção dos Enfermos.Numa palavra, diz S. Crisóstomo, sem os padres não nos podemos salvar 186.
S. Próspero chama aos padres os intérpretes da vontade divina 187. O autor da Obra imperfeita apelida-os — os muros da Igreja 188; Sto Ambrósio, exército ou campo da santidade 189; e S. Gregório de Nazianzo, os fundamentos do mundo e as colunas da fé 190. Daqui a palavra de Sto. Euquério: que os padres devem, pelo vigor da sua santidade, transportar o fardo dos pecados do mundo 191. Ó, como esse fardo é terrível! Rogará por ele (pelo impudico) o sacerdote e pelo seu pecado diante do Senhor, e o Senhor se lhe tornará propício, e lhe perdoará o seu pecado 192. É por isso que a santa Igreja obriga os sacerdotes à recitação diária do Ofício divino, e à celebração da missa, ao menos algumas vezes no ano. Santo Ambrósio até diz que os padres nunca devem cessar, nem de dia nem de noite, de orar pelo povo 193.
Mas para obter graças para os outros, é necessário que o sacerdote seja santo. Colocados entre Deus e o povo, diz o Doutor angélico, devem brilhar aos olhos de Deus por uma boa consciência, e aos olhos dos homens por um bom renome 194. Porque, segundo a reflexão de S. Gregório, seria grande temeridade apresentar-se alguém diante dum príncipe, para obter o perdão para os seus súditos rebeldes, estando ele culpado do mesmo crime 195.
Quem quer interceder pelos outros, deve ser bem-visto do príncipe; se lhe for odioso, ajunta o mesmo santo, mais fará indignar o seu juiz 196. Por esta razão, escreve Sto. Agostinho, o padre, orando pelos outros, deve ter junto de Deus um tal mérito, que possa obter dele o que os outros em razão dos seus deméritos não ousariam esperar 197. Foi o que declarou o papa Hormisdas: Convém que o sacerdote seja mais puro que o povo para orar pelo povo 198.
Mas S. Bernardo lamenta, que haja poucos padres bastantes santos para serem mediadores dignos 199. E Sto. Agostinho, falando dos maus eclesiásticos, diz: É mais agradável a Deus o ladrar dos cães que a oração de tais clérigos 200.
Refere o Pe. Marchese, no seu “Jornal dos Dominicanos”, que uma serva de Deus, religiosa da sua Ordem, pedia um dia ao Senhor que perdoasse ao povo em atenção aos merecimentos dos padres; ele respondeu-lhe que os padres, pelos seus pecados, mais o irritavam do que aplacavam.
IV - Santidade que deve ter o padre como modelo do povo
Devem também os padres ser santos, porque Deus os colocou na terra para serem modelos de virtude.
O autor da Obra imperfeita chama-lhes os doutores da piedade 201; S.Jerônimo os salvadores do mundo 202; S. Próspero, as portas da cidade eterna 203; e S. Pedro Crisólogo, os modelos das virtudes 204. Dali esta reflexão de Sto. Isodoro: Quem foi colocado à frente dos povos para os instruir e formas na virtude, deve ser santo em tudo, inteiramente irrepreensível 205. O papa Hormisdas diz igualmente: Os que têm a seu cargo repreender os outros, devem estar a coberto de toda a censura 206.
S. Dionísio proferiu esta célebre sentença: “Ninguém deve ter a audácia de se constituir guia dos outros, a não ser que na prática das virtudes se tenha tornado semelhante a Deus” 207. S. Gregório assegura que os sermões dos padres, cuja vida é pouco edificante, produzem antes desprezo do que fruto 208. Ao que Santo Tomás ajunta: Pela mesma razão (se volvem desprezíveis) todas as de mais funções que exerçam 209.
Eis como S. Gregório de Nazianzo fala do padre a este respeito: “É preciso que ele primeiro se purifique a si próprio, depois que purifique os outros; que se aproxime de Deus, depois lhe reconduza os outros; se santifique a si, depois trabalhe na santificação dos outros; e antes; e antes de alumiar é necessário que seja alumiado” 210.
É preciso, diz S. Gregório, que a mão que empreende lavar as manchas dos outros, seja isenta delas 211. E noutro lugar acrescenta que a luz apagada não pode alumiar os outros 212. Sobre o mesmo assunto, diz S. Bernardo, que a linguagem do amor, na boca de quem não ama, é uma linguagem bárbara e estranha 213.
Estão os sacerdotes colocados na terra como outros tantos espelhos, em que se deve rever a gente do mundo: Somos dados em espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens 214. Por isso o Concílio de Trento quer que os eclesiásticos sejam como espelhos para os quais todos os leigos não tenham mais que levantar os olhos, afim de aprenderem a regular os seus constumes 215. E segundo o abade Filipe de Boa-Esperança, os sacerdotes são escolhidos por Deus para defesa dos povos, mas por isso mesmo lhes não basta a dignidade sem a santidade da vida 216.
V - Conseqüências práticas
Considerando tudo quanto fica dito, conclui o Doutor angélico que, para exercer dignamente as funções sacerdotais, é necessária uma perfeição acima do comum217. Noutro lugar: “Os que se aplicam aos divinos mistérios devem ser duma virtude perfeita” 218. Ainda noutra parte: Para exercer dignamente estas funções, requere-se a perfeição interior 219. Devem os sacerdotes ser santos, para não desonrarem o Deus de quem são ministros, e estão encarregados de honrar: Serão santos na presença de Deus e não mancharão o seu nome 220. Se se visse o ministro dum rei a folgar pelas praças públicas, a freqüentar as tabernas, confundido com o populacho, a falar e proceder duma maneira desonrosa para o seu príncipe, — que caso se faria desse soberano? É assim que os maus padres desonram a Jesus Cristo, de quem são ministros.
Segundo o autor da Obra imperfeita, poderiam os pagãos ao falar deles dizer: Que Deus têm esses que de tal modo se comportam? Acaso os suportaria ele, se não lhes aprovasse o precedimento? 221. Os Chineses, os Índios, que vissem um padre de costumes desregrados, estariam no direito de dizer: Como poderemos crer que o Deus que tais sacerdotes pregam seja o verdadeiro? Se ele fosse o verdadeiro Deus, como poderia, à vista da má conduta deles, suportá-los sem participar dos seus vícios?Daqui a exortação de S. Paulo, dirigida aos padres: Demo-nos a conhecer como verdadeiros ministros de Deus, sofrendo com paciência a pobreza, as doenças, as perseguições, velando com zelo pelo que respeita à glória de Deus, e mortificando os nossos sentidos. Conservemos a pureza do corpo, entregando-nos ao estudo, para sermos úteis às almas, praticando a doçura e a verdadeira caridade para com o próximo. Pareceremos tristes, em razão de vivermos afastados dos prazeres do mundo, mas gozaremos sempre da paz, que é a partilha dos filhos de Deus. Seremos pobres dos bens da terra, mas ricos em Deus, porque possuir a Deus é possuir tudo 222.
Tais devem ser os padres. Devem ser santos, porque são ministros dum Deus santo 223. Devem estar prontos a dar a sua vida pelas almas, porque são ministros de Jesus Cristo, que veio morrer por nós, ovelhas suas, como ele próprio declarou: Eu sou o bom Pastor. O bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas 224. Devem enfim empregar todos os esforços para acender no coração de todos os homens o fogo sagrado do amor divino, porque são ministros do Verbo encarnado, que para este fim desceu à terra, como ele próprio nos ensina também: Vim trazer o fogo à terra, e que quero eu senão que ele se acenda?225
O que Davi pedia com insistência ao Senhor, para bem do mundo inteiro, era que os padres fossem revestidos de justiça 226. Compreende a justiça todas as virtudes. Assim, todos os padres devem estar compenetrados da fé e viver, não segundo as máximas do mundo, mas segundo as da fé. As máximas do mundo são: “É necessário conseguir bens e riquezas; é necessário procurar a estima dos homens; é necessário gozar quanto possível”.
As máximas da fé são: “Feliz o pobre; é preciso abraçar as humilhações, renunciar a si mesmo, amar os sofrimentos; é necessário estar animado duma santa confiança, esperar tudo, não das criaturas, mas de Deus somente; é necessário ser humilde, julgando-se digno de toda a pena e desprezo; é preciso ser manso, praticando a doçura para com todos, principalmente para com as pessoas melindrosas e grosseiras; é preciso enfim estar-se revestido de caridade para com Deus e para com os homens. Quanto a Deus, todos os padres devem viver numa perfeita união com ele e procurar, mediante a oração, que os seus corações sejam outros tantos altares, em que arda de contínuo o amor divino. Para com os homens, todos devem praticar o que diz o Apóstolo 227: Tomai entranhas de misericórdia, vós, eleitos de Deus, santos e caros a seus olhos. Devem quanto possível prestar a todos os homens socorros corporais e espirituais; a todos, digo, mesmo aos mais ingratos e aos perseguidores.
Santo Agostinho dizia: Nada mais ditoso cá na terra, nem mais agradável aos homens que o ofício de padre; mas aos olhos de Deus nada mais miserável, nem mais triste, nem mais arriscado para a salvação 228. É grande felicidade e honra para um homem ser padre: poder fazer baixar do Céu às suas mãos o Verbo encarnado, e livrar as almas do pecado e do inferno; ser vigário de Jesus Cristo; ser a luz do mundo e o mediador entre Deus e os homens; ser maior e mais nobre que todos os monarcas da terra; ter um poder superior ao dos anjos; ser numa palavra um Deus terreno, conforme a expressão de S. Clemente 229. Nada mais venturoso, mas por outro lado nada mais terrível. Com efeito, se Jesus Cristo desce às suas mãos para seu alimento, é preciso que o padre seja mais puro que a água que foi mostrada a S. Francisco; se é o mediador dos homens diante de Deus, é preciso, para se apresentar diante do Senhor, que seja isento de todo o pecado; se é o vigário do Redentor, é preciso que lhe seja semelhante na vida; se é a luz do mundo, é preciso que seja todo resplendor de virtudes. Numa palavra, se é padre, é necessário que seja santo; de contrário, se não corresponde aos dons recebidos de Deus, quanto maiores são esses dons, diz S. Gregório, mais rigorosa será a conta a prestar 230. S. Bernardo diz do padre: Está ele encarregado dum ofício celeste, é o anjo do Senhor; mas é também como os anjos eleito para a glória, ou réprobo e condenado ao fogo 231. Por isso Sto. Ambrósio ensina que o padre deve ser isento até dos mais leves defeitos 232.
Donde se segue que, se um padre não é santo, está em grande perigo de se condenar. Mas que fazem alguns padres, ou melhor, a máxima parte dos padres, para se tornarem santos? Recitam o ofício, celebram a missa, e nada mais: nem oração, nem mortificação, nem recolhimento.
Basta que me salve, dirá algum. — Ó, não, responde Sto. Agostinho, se dizes: Basta, pereceste 233. Para ser santo, deve o padre ser desapegado de tudo, — dos ajuntamentos do mundo, das honras vãs etc., e em especial do afeto desordenado a seus pais. Estes ao verem o sacerdote pouco interessado no engrandecimento da família, e todo entregue às coisas de Deus, dirão talvez: Por que procedeis assim conosco? — Quid facis nobis sic? Deverá ele responder como o menino Jesus, quando encontrado por sua Mãe no templo: Quid est quod me quaerebatis? nesciebatis quia, in his quae Patris mei sunt, oportet me esse? (Luc. 2, 49). O padre responderá a seus pais: Foste vós que me fizestes sacerdote? Não sabíeis que o padre não deve trabalhar senão para Deus? É só a Deus que eu quero dedicar todos os meus cuidados.
É grande a dignidade dos padres; mas não são menores as obrigações que lhe andam inerentes. Erguem-se os padres a uma grande altura; mas é necessário que sejam elevados e sustentados nela por uma grande virtude.No caso contrário, em vez de recompensa, um rigoroso castigo lhes está reservado; tal é o pensamento de S. Lourenço Justiniano 112.
S. Pedro Crisólogo diz por sua vez 113: “O Sacerdócio é uma grande honra; mas é também um fardo pesado, e traz consigo uma grande conta a prestar”.— E S. Jerônimo 114: “Não é pela sua dignidade que o padre se salva, mas pela obras concordes com a sua dignidade”.
Todo o cristão deve ser perfeito, deve ser santo, por isso que todo o cristão faz profissão de servir um Deus santo. Segundo S. Leão, uma pessoa torna-se cristã despojando-se da semelhança do homem terreno, e revestindo-se da forma de homem celeste 115. Era a razão por que Jesus Cristo dizia:Vós pois sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito 116.
Mas a santidade do padre deve ser diferente da dos seculares, segundo a observação de Sto. Ambrósio 117. Ajunta o santo Doutor que assim como a graça dispensada aos padres é superior, assim a vida do padre deve exceder em santidade à dos seculares 118. E, segundo Isodoro de Pelusa, entre a santidade do padre e a de todo o bom leigo, deve haver tanta distância como do céu à terra 119.
Santo Tomás ensina que cada um é obrigado a cumprir os deveres do estado que escolheu 120. Por outro lado, assegura Sto. Agostinho que o clérigo, no mesmo instante em que recebe a clericatura, se impõe a obrigação de ser santo 121. E Cassiodoro escreve: O eclesiástico é obrigado a uma vida celeste 122. O padre é obrigado a maior perfeição que todos os outros, como diz Tomás de Kempis 123, porque o seu estado é o mais sublime de todos os estados. Salviano ajunta que Deus ordena a perfeição aos clérigos no mesmo lugar, em que a aconselha aos seculares 124.
Os sacerdotes da Lei antiga traziam estas palavras gravadas na tiara, que lhes cingia a fronte: Consagrado ao Senhor, ou Coisa santa do Senhor 125.
Era para que nunca se esquecessem da santidade que deviam professar. As vítimas, oferecidas pelos sacerdotes, deviam ser inteiramente consumidas, — e para quê? Teodoreto responde: Para lhes significarem a integridade da vida, que convém a quem se consagra por completo a Deus 126.
Para oferecer dignamente o divino sacrifício, nota Sto. Ambrósio, deve o padre sacrificar-se primeiro ele próprio, oferecendo-se todo a Deus 127. E, segundo Sto. Hesíquio deve o padre ser um holocausto contínuo de perfeição, desde a sua juventude até à morte 128.
Na Lei antiga disse Deus: Separei-vos dos outros povos, para que sejais o meu povo 129. Com quanto mais forte razão quer o Senhor na Lei nova, que os sacerdotes ponham de parte os negócios do século, para só agradarem Àquele a quem se consagraram! É o que ele declara pela voz do Apóstolo 130:Nenhum soldado de Deus se deve ingerir nos negócios seculares, para agradar Àquele cujo serviço abraçou. E é a promessa que a Igreja exige de todos os clérigos, ao entraram no santuário pela prima-tonsura. Faz-lhes prometer que de futuro só Deus será a sua herança: É o Senhor a parte que me coube em herança, e o quinhão que me é destinado; pois vós, Senhor, que me haveis de dar a devida herança 131. “Tudo no padre, escreveu S. Jerônimo, reclama e exige a santidade da vida: o hábito que veste, o próprio ofício que exerce” 132. Como diz S. Bernardo, não lhe basta fugir de todos os vícios, é necessário que faça esforços em que consiste a perfeição única, que o homem viador pode possuir cá na terra 133.
O mesmo S. Bernardo gemia, à vista de tantos insensatos, que se afadigam por chegar às ordens sacras, sem considerarem na santidade exigida aos que aspiram a tão alta dignidade 134. E Sto Ambrosio 135 exclama: Quanto é raro encontrar-se um ordinando que possa dizer: O Senhor é a minha herança, que não se deixe abrasar da concupiscência, aguilhoar pela avareza, distrair pelos cuidados dos negócios seculares!
No Apocalipse de S. João, lê-se: Fez-nos reino seu e sacerdotes de Deus, seu Pai 136. Tirino, de acordo com os outros intérpretes explica a palavra Regnum e diz que os sacerdotes são o reino de Deus, ou porque Deus reina neles, nesta vida pela graça e na outra pela glória; ou porque eles próprios são constituídos reis para reinarem sobre os vícios 137.
Quer S. Gregório que o padre seja morto para o mundo e para todas as paixões, a fim de se dar a uma vida toda divina 138. O sacerdócio atual é o mesmo que Jesus Cristo recebeu de seu Pai: E Eu dei-lhes a glória que me deste a mim 139. Se pois o sacerdote representa Jesus Cristo, diz S. João Crisóstomo, é preciso que seja bastante puro para merecer tomar lugar entre os anjos 140.
S. Paulo exige do padre uma perfeição tal, que o ponha ao abrigo de toda a censura 141. É certo que neste lugar, por Episcopum, se devem entender não só os bispos, mas também os sacerdotes, pois que o Apóstolo passa em seguida a falar dos diáconos 142. Como não os chamou pelo apelido de padres, quis ajuntá-los sob esse ponto de vista aos bispos; tal é o sentir de Sto. Agostinho e de S. João Crisóstomo, que sobre este ponto especial se exprime assim: O que ele diz dos bispos aplica-se por igual aos padres 143.
Quanto à palavra Irreprehensibilem, todos vêem com S. Jerônimo que ela compreende a posse de todas as virtudes 144. E eis a explicação que dá Cornélio A-Lápide: Deve o sacerdote não só ser isento de todos os vícios, mas adornado de todas as virtudes 145.
Durante onze séculos, foi interdita a iniciação na clericatura a todos aqueles que depois do seu batismo tivessem cometido um só pecado mortal; é o que nos ensinam os Concílio de Nicéia 146, Toledo 147, Elvira 148 e Cartago 149. E se um clérigo, depois da sua ordenação, vinha o cair em pecado, era deposto para sempre e encerrado num mosteiro, como lemos em muitos cânones 150 e eis a razão que ali se encontra expressa: “Porque a santa Igreja quer que o sacerdote seja isento de censura, a todos os respeitos. Os que não são santos não podem administrar as coisas santas” 151.
No Concílio de Cartago disse-se: Os clérigos de quem o Senhor é herança devem fazer divórcio com o século 152. O Concílio de Trento vai mais longe: quer que num clérigo tudo seja santo: o hábito, as maneiras, a linguagem, e todos os atos 153. E S. João Crisóstomo ajunta que o sacerdote deve ser de tal modo perfeito, que todos os fiéis o possam olhar como um modelo de santidade; porque Deus colocou os sacerdotes na terra, para que eles aqui vivam como anjos, e para servirem a todos os homens de faróis e guias no caminho da virtude 154.
Segundo S. Jerônimo, o nome de clérigo significa: Que tem a Deus como herança. Quer dizer: que o clérigo se compenetre bem na significação do seu nome, e com ele conforme o seu procedimento 155. Se Deus é a sua herança, que não viva senão para Deus. O que tem a Deus por herança, diz Sto. Ambrósio, de nada se deve ocupar senão de Deus: = Cui Deus portio est, nihil debet curare, nisi Deum ( De Eseau. c. 2).
O padre é o ministro de Deus, encarregado das duas funções extremamente nobres e elevadas, que são: honrar a Deus com sacrifícios, e santificar as almas. Porque todo o pontífice, escolhido dentre os homens, é estabelecido para administrar em nome dos homens as coisas que respeitam a Deus 156. Sobre este texto diz Sto Tomás: Todo o padre é escolhido pelo Senhor e posto na terra, não para adquirir riquezas, atrair a estima dos homens, entregar-se aos prazeres e engrandecer a sua família, mas unicamente para vigiar pelos interesses da glória de Deus 157.
Também nas Escrituras o padre é chamado Homo Dei: um homem que nem é do mundo, nem de seus pais, nem de si próprio, mas só de Deus e que só a Deus procura 158. Aos padres pois se aplicam as palavras de Davi: Eis a geração dos que só procuram a Deus 159. Assim como Deus no céu destinou certos anjos para rodearem o seu trono, também na terra, entre os homens, destinou os sacerdotes para tomarem cuidado da sua glória, por isso lhes disse: Separei-vos dos outros povos, para que sejais meus 160. Vimos já este pensamento de S. João Crisóstomo: Escolheu-nos Deus, para que sejamos na terra como anjos entre os homens 161. E o próprio Senhor diz: Serei santificado nos que se aproximarem de mim 162; o que se interpreta assim: A minha santidade será conhecida mediante a santidade dos meus ministros 163.
O Novo Código de Direito Canônico, no título 3.º, das obrigações dos clérigos, confirma a doutrina exposta. Vide os cânones 124-144, que não podemos transcrever.
II - Qual deve ser a santidade do padre como ministro do altar
Quer Sto. Tomás que se exija aos padres maior santidade que aos simples religiosos, em razão das funções sublimes que exercem, especialmente da celebração do sacrifício da missa. A razão é que recebendo uma Ordem sacra, dedica-se o homem ao mais alto ministério, que consiste em servir a Jesus Cristo até no Sacramento do altar; o que exige uma santidade interior mais elevada que a que se requer para o estado religioso. Em igualdade de circunstâncias pois, um clérigo de Ordens sacras, obrando contra a santidade, peca mais gravemente que um religioso, que não esteja revestido de nenhuma Ordem sacra 164. É muito conhecida a sentença de Sto. Agostinho: “Dificilmente um bom monge dá um bom clérigo”165. Deste modo, nenhum clérigo pode ser olhado como bom, se não exceder em virtude um bom religioso.“Um verdadeiro ministro do altar forma-se para Deus, e não para si” 166.
Significam estas palavras de Sto. Ambrósio que um padre deve esquecer as suas comodidades, as suas vantagens e os seus gostos; deve persuadir-se que, desde o dia em que recebeu o sacerdócio, não é seu, mas de Deus. Tem muito a peito o Senhor que os padres sejam puros e santos, para que possam comparecer na sua presença, isentos de todo o defeito, e oferecer-lhe os sacrifícios: Ele se assentará a fundir e limpar a prata; e purificará os filhos de Levi, e os acrisolará como o ouro e a prata; depois oferecerão os sacrifícios na justiça 167. Assim fala o profeta Malaquias; e no Levítico lê-se: Serão santos no serviço do seu Deus, e não desonrarão o seu nome; porque hão de oferecer incenso do Senhor e os pães do seu Deus, e por conseqüência serão santos 168. Se deviam pois ser santos os sacerdotes da Lei antiga, porque ofereciam a Deus apenas o incenso, e os pães de proposição, que eram uma simples figura do adorável Sacramento dos nossos altares, quanto mais devem ser puros e santos os sacerdotes da lei nova, que oferecem a Deus o Cordeiro sem mancha, o seu próprio Filho! Nós oferecemos, observa Estio, não novilhos ou incenso, como os sacerdotes antigos, mas o próprio Jesus Cristo; oferecemos o corpo mesmo do Senhor, que foi suspenso no altar da cruz.
É-nos necessária portanto a santidade, que consiste na pureza do coração; quem se aproxima sem ela destes mistérios terríveis, aproxima-se indignamente 169.
Sobre este ponto, escreveu Belarmino: Desgraçados de nós, que, chamados a este ministério sublime, estamos longe do fervor que Salomão exigia dos padres da aliança figurativa! 170. Até mesmo os que deviam transportar os vasos sagrados queria o Senhor que fossem isentos de mancha: Purificai-vos, ó vós que levais os vasos do Senhor! 171 Quanto mais puros devem ser os padres que trazem nas suas mãos e recebem no seu corpo o próprio Jesus Cristo! Assim fala Pedro de Blois 172. E Sto. Agostinho diz por sua vez: Deve ser puro quem há de manusear não só vasos de ouro, mas até os vasos em que é renovada a morte do Senhor 173.
Devia ser santa e imaculada a beatíssima Virgem Maria, porque havia de trazer no seu seio o Verbo encarnado e tornar-se sua Mãe; e, à visto disso, exclama S. João Crisóstomo, não será indispensável que brilhe, com uma santidade mais resplandecente que o sol, essa mão do padre que toca a carne dum Deus, essa boca que se enche dum fogo celeste, e essa língua que se banha com o sangue de Jesus Cristo? 174 O padre ao altar ocupa o lugar de Jesus Cristo, deve pois, diz S. Lourenço Justiniano, aproximar-se dele para celebrar, quanto possível, à imitação de Jesus Cristo 175. Que perfeição não exige duma religiosa o confessor, para lhe permitir a comunhão quotidiana!E porque não se exigiria a mesma perfeição do sacerdote que comunga todos os dias? É preciso confessar, diz o Concílio de Trento, que não é possível a um homem praticar ação mais santa que celebrar uma missa 176.
E acrescenta: deve portanto o padre envidar todos os esforços para celebrar o santo Sacrifício do altar com a máxima pureza de consciência possível. Ai!Que horror, exclama Sto. Agostinho, ouvir essa língua, que chama o Filho de Deus do Céu à terra, falar depois contra Deus, e ver essas mãos, que se tingem no sangue de Jesus Cristo, mancharem-se com as torpezas do pecado! 177.
Se Deus exigia tamanha pureza dos que deviam oferecer-lhe em sacrifício animais ou pães, e aos que qualquer modo estavam manchados lhes proibia 178 que lhe fizessem oferendas, — quanto maior deve ser a pureza de quem está encarregado de oferecer a Deus o seu próprio Filho, o Cordeiro divino! Tal é a reflexão de Belarmino 179. Sto Tomás diz que pela palavra maculam, no texto citado, se deve entender todo e qualquer vício: Qui est aliquo vitio irretitus, non debet ad ministerium Ordinis accedere ( Suppl. q. 36.a. 1).
A Lei antiga excluía das funções de sacrificador os cegos, coxos, corcundas e leprosos: Nec accedet ad ministerium ejus, si caecus fuerit, si claudus... si gibbus... si habens jugem scabiem (Levit. 21, 18). Os santos Padres, dando um sentido espiritual a estes defeitos, olham como indignos de subir ao altar: os cegos, ou que fecham os olhos à luz divina; os coxos, ou preguiçosos, que nada adiantam no caminho de Deus, e vivem sempre com as mesmas imperfeições, sem oração e sem recolhimento; os corcovados, que sempre estão com as suas afeições voltadas para a terra, para os bens, honras e prazeres do mundo; os leprosos, ou sensuais que, à semelhança do mundo animal imundo, diz o Sábio, se revolvem no lodaçal dos prazeres torpes 180. Numa palavra, quem não é santo é indigno de se aproximar do altar, porque, sendo impuro, mancha o santuário de Deus. Não se aproxime do altar, porque tem uma mancha, e não deve manchar o meu santuário 181.
III - Qual deve ser a santidade do padre como mediador entre Deus e os homens
De mais, deve o sacerdote ser santo na qualidade de dispensador dos sacramentos: É necessário que não tenha mancha, como despenseiro de Deus 182. E deve ser como mediador entre Deus e os pecadores: O sacerdote, diz um santo Padre, está colocado entre Deus e a natureza humana: traz-nos os benefícios que vem do Céu, e leva para lá as nossas orações; aplaca a cólera do Senhor e arranca-nos das suas mãos 183.
É por ministério dos sacerdotes que Deus comunica a sua graça aos fiéis nos sacramentos. — É mediante os sacerdotes que os recebe no número dos seus filhos no Batismo, que é de necessidade para a salvação: Quem não renascer, não pode entrar no reino de Deus 184.
É por ministério deles que Deus cura os doentes e ressuscita os que estão mortos para a graça, isto é, os pecadores, no sacramento da penitência.É por eles que alimenta as almas e lhes conserva a vida da graça, no sacramento da sagrada Eucaristia: Se não comerdes a carne do Filho do homem, não tereis a vida em vós 185.
É por eles que dá aos moribundos a força para vencerem as tentações do inferno, mediante o sacramento da Unção dos Enfermos.Numa palavra, diz S. Crisóstomo, sem os padres não nos podemos salvar 186.
S. Próspero chama aos padres os intérpretes da vontade divina 187. O autor da Obra imperfeita apelida-os — os muros da Igreja 188; Sto Ambrósio, exército ou campo da santidade 189; e S. Gregório de Nazianzo, os fundamentos do mundo e as colunas da fé 190. Daqui a palavra de Sto. Euquério: que os padres devem, pelo vigor da sua santidade, transportar o fardo dos pecados do mundo 191. Ó, como esse fardo é terrível! Rogará por ele (pelo impudico) o sacerdote e pelo seu pecado diante do Senhor, e o Senhor se lhe tornará propício, e lhe perdoará o seu pecado 192. É por isso que a santa Igreja obriga os sacerdotes à recitação diária do Ofício divino, e à celebração da missa, ao menos algumas vezes no ano. Santo Ambrósio até diz que os padres nunca devem cessar, nem de dia nem de noite, de orar pelo povo 193.
Mas para obter graças para os outros, é necessário que o sacerdote seja santo. Colocados entre Deus e o povo, diz o Doutor angélico, devem brilhar aos olhos de Deus por uma boa consciência, e aos olhos dos homens por um bom renome 194. Porque, segundo a reflexão de S. Gregório, seria grande temeridade apresentar-se alguém diante dum príncipe, para obter o perdão para os seus súditos rebeldes, estando ele culpado do mesmo crime 195.
Quem quer interceder pelos outros, deve ser bem-visto do príncipe; se lhe for odioso, ajunta o mesmo santo, mais fará indignar o seu juiz 196. Por esta razão, escreve Sto. Agostinho, o padre, orando pelos outros, deve ter junto de Deus um tal mérito, que possa obter dele o que os outros em razão dos seus deméritos não ousariam esperar 197. Foi o que declarou o papa Hormisdas: Convém que o sacerdote seja mais puro que o povo para orar pelo povo 198.
Mas S. Bernardo lamenta, que haja poucos padres bastantes santos para serem mediadores dignos 199. E Sto. Agostinho, falando dos maus eclesiásticos, diz: É mais agradável a Deus o ladrar dos cães que a oração de tais clérigos 200.
Refere o Pe. Marchese, no seu “Jornal dos Dominicanos”, que uma serva de Deus, religiosa da sua Ordem, pedia um dia ao Senhor que perdoasse ao povo em atenção aos merecimentos dos padres; ele respondeu-lhe que os padres, pelos seus pecados, mais o irritavam do que aplacavam.
IV - Santidade que deve ter o padre como modelo do povo
Devem também os padres ser santos, porque Deus os colocou na terra para serem modelos de virtude.
O autor da Obra imperfeita chama-lhes os doutores da piedade 201; S.Jerônimo os salvadores do mundo 202; S. Próspero, as portas da cidade eterna 203; e S. Pedro Crisólogo, os modelos das virtudes 204. Dali esta reflexão de Sto. Isodoro: Quem foi colocado à frente dos povos para os instruir e formas na virtude, deve ser santo em tudo, inteiramente irrepreensível 205. O papa Hormisdas diz igualmente: Os que têm a seu cargo repreender os outros, devem estar a coberto de toda a censura 206.
S. Dionísio proferiu esta célebre sentença: “Ninguém deve ter a audácia de se constituir guia dos outros, a não ser que na prática das virtudes se tenha tornado semelhante a Deus” 207. S. Gregório assegura que os sermões dos padres, cuja vida é pouco edificante, produzem antes desprezo do que fruto 208. Ao que Santo Tomás ajunta: Pela mesma razão (se volvem desprezíveis) todas as de mais funções que exerçam 209.
Eis como S. Gregório de Nazianzo fala do padre a este respeito: “É preciso que ele primeiro se purifique a si próprio, depois que purifique os outros; que se aproxime de Deus, depois lhe reconduza os outros; se santifique a si, depois trabalhe na santificação dos outros; e antes; e antes de alumiar é necessário que seja alumiado” 210.
É preciso, diz S. Gregório, que a mão que empreende lavar as manchas dos outros, seja isenta delas 211. E noutro lugar acrescenta que a luz apagada não pode alumiar os outros 212. Sobre o mesmo assunto, diz S. Bernardo, que a linguagem do amor, na boca de quem não ama, é uma linguagem bárbara e estranha 213.
Estão os sacerdotes colocados na terra como outros tantos espelhos, em que se deve rever a gente do mundo: Somos dados em espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens 214. Por isso o Concílio de Trento quer que os eclesiásticos sejam como espelhos para os quais todos os leigos não tenham mais que levantar os olhos, afim de aprenderem a regular os seus constumes 215. E segundo o abade Filipe de Boa-Esperança, os sacerdotes são escolhidos por Deus para defesa dos povos, mas por isso mesmo lhes não basta a dignidade sem a santidade da vida 216.
V - Conseqüências práticas
Considerando tudo quanto fica dito, conclui o Doutor angélico que, para exercer dignamente as funções sacerdotais, é necessária uma perfeição acima do comum217. Noutro lugar: “Os que se aplicam aos divinos mistérios devem ser duma virtude perfeita” 218. Ainda noutra parte: Para exercer dignamente estas funções, requere-se a perfeição interior 219. Devem os sacerdotes ser santos, para não desonrarem o Deus de quem são ministros, e estão encarregados de honrar: Serão santos na presença de Deus e não mancharão o seu nome 220. Se se visse o ministro dum rei a folgar pelas praças públicas, a freqüentar as tabernas, confundido com o populacho, a falar e proceder duma maneira desonrosa para o seu príncipe, — que caso se faria desse soberano? É assim que os maus padres desonram a Jesus Cristo, de quem são ministros.
Segundo o autor da Obra imperfeita, poderiam os pagãos ao falar deles dizer: Que Deus têm esses que de tal modo se comportam? Acaso os suportaria ele, se não lhes aprovasse o precedimento? 221. Os Chineses, os Índios, que vissem um padre de costumes desregrados, estariam no direito de dizer: Como poderemos crer que o Deus que tais sacerdotes pregam seja o verdadeiro? Se ele fosse o verdadeiro Deus, como poderia, à vista da má conduta deles, suportá-los sem participar dos seus vícios?Daqui a exortação de S. Paulo, dirigida aos padres: Demo-nos a conhecer como verdadeiros ministros de Deus, sofrendo com paciência a pobreza, as doenças, as perseguições, velando com zelo pelo que respeita à glória de Deus, e mortificando os nossos sentidos. Conservemos a pureza do corpo, entregando-nos ao estudo, para sermos úteis às almas, praticando a doçura e a verdadeira caridade para com o próximo. Pareceremos tristes, em razão de vivermos afastados dos prazeres do mundo, mas gozaremos sempre da paz, que é a partilha dos filhos de Deus. Seremos pobres dos bens da terra, mas ricos em Deus, porque possuir a Deus é possuir tudo 222.
Tais devem ser os padres. Devem ser santos, porque são ministros dum Deus santo 223. Devem estar prontos a dar a sua vida pelas almas, porque são ministros de Jesus Cristo, que veio morrer por nós, ovelhas suas, como ele próprio declarou: Eu sou o bom Pastor. O bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas 224. Devem enfim empregar todos os esforços para acender no coração de todos os homens o fogo sagrado do amor divino, porque são ministros do Verbo encarnado, que para este fim desceu à terra, como ele próprio nos ensina também: Vim trazer o fogo à terra, e que quero eu senão que ele se acenda?225
O que Davi pedia com insistência ao Senhor, para bem do mundo inteiro, era que os padres fossem revestidos de justiça 226. Compreende a justiça todas as virtudes. Assim, todos os padres devem estar compenetrados da fé e viver, não segundo as máximas do mundo, mas segundo as da fé. As máximas do mundo são: “É necessário conseguir bens e riquezas; é necessário procurar a estima dos homens; é necessário gozar quanto possível”.
As máximas da fé são: “Feliz o pobre; é preciso abraçar as humilhações, renunciar a si mesmo, amar os sofrimentos; é necessário estar animado duma santa confiança, esperar tudo, não das criaturas, mas de Deus somente; é necessário ser humilde, julgando-se digno de toda a pena e desprezo; é preciso ser manso, praticando a doçura para com todos, principalmente para com as pessoas melindrosas e grosseiras; é preciso enfim estar-se revestido de caridade para com Deus e para com os homens. Quanto a Deus, todos os padres devem viver numa perfeita união com ele e procurar, mediante a oração, que os seus corações sejam outros tantos altares, em que arda de contínuo o amor divino. Para com os homens, todos devem praticar o que diz o Apóstolo 227: Tomai entranhas de misericórdia, vós, eleitos de Deus, santos e caros a seus olhos. Devem quanto possível prestar a todos os homens socorros corporais e espirituais; a todos, digo, mesmo aos mais ingratos e aos perseguidores.
Santo Agostinho dizia: Nada mais ditoso cá na terra, nem mais agradável aos homens que o ofício de padre; mas aos olhos de Deus nada mais miserável, nem mais triste, nem mais arriscado para a salvação 228. É grande felicidade e honra para um homem ser padre: poder fazer baixar do Céu às suas mãos o Verbo encarnado, e livrar as almas do pecado e do inferno; ser vigário de Jesus Cristo; ser a luz do mundo e o mediador entre Deus e os homens; ser maior e mais nobre que todos os monarcas da terra; ter um poder superior ao dos anjos; ser numa palavra um Deus terreno, conforme a expressão de S. Clemente 229. Nada mais venturoso, mas por outro lado nada mais terrível. Com efeito, se Jesus Cristo desce às suas mãos para seu alimento, é preciso que o padre seja mais puro que a água que foi mostrada a S. Francisco; se é o mediador dos homens diante de Deus, é preciso, para se apresentar diante do Senhor, que seja isento de todo o pecado; se é o vigário do Redentor, é preciso que lhe seja semelhante na vida; se é a luz do mundo, é preciso que seja todo resplendor de virtudes. Numa palavra, se é padre, é necessário que seja santo; de contrário, se não corresponde aos dons recebidos de Deus, quanto maiores são esses dons, diz S. Gregório, mais rigorosa será a conta a prestar 230. S. Bernardo diz do padre: Está ele encarregado dum ofício celeste, é o anjo do Senhor; mas é também como os anjos eleito para a glória, ou réprobo e condenado ao fogo 231. Por isso Sto. Ambrósio ensina que o padre deve ser isento até dos mais leves defeitos 232.
Donde se segue que, se um padre não é santo, está em grande perigo de se condenar. Mas que fazem alguns padres, ou melhor, a máxima parte dos padres, para se tornarem santos? Recitam o ofício, celebram a missa, e nada mais: nem oração, nem mortificação, nem recolhimento.
Basta que me salve, dirá algum. — Ó, não, responde Sto. Agostinho, se dizes: Basta, pereceste 233. Para ser santo, deve o padre ser desapegado de tudo, — dos ajuntamentos do mundo, das honras vãs etc., e em especial do afeto desordenado a seus pais. Estes ao verem o sacerdote pouco interessado no engrandecimento da família, e todo entregue às coisas de Deus, dirão talvez: Por que procedeis assim conosco? — Quid facis nobis sic? Deverá ele responder como o menino Jesus, quando encontrado por sua Mãe no templo: Quid est quod me quaerebatis? nesciebatis quia, in his quae Patris mei sunt, oportet me esse? (Luc. 2, 49). O padre responderá a seus pais: Foste vós que me fizestes sacerdote? Não sabíeis que o padre não deve trabalhar senão para Deus? É só a Deus que eu quero dedicar todos os meus cuidados.
Notas:
112. Magna dignitas, sed majus est pondus. In alto gradu positi sunt; oportet quoque ut in sublimi virtutum culmine sint erecti; alioquin, non ad meritum, sed ad proprium praesunt judicium (De Inst. prael. c. 11).
113. Sacerdotes honorati; dico autem, onerati.
114. Non dignitas, sed opus dignitatis salvare consuevit (Ad Soph. 3).
115. Dum terreni hominis imago deponitur, et coelestis forma suscipitur (De Pass. s. 14).
116. Estote ergo perfecti, sicut et Pater vester coelestis perfectus est (Matth. 5, 48).
117. Nihil in sacerdote commune cum studio atque usu multitudinis (Epist. 6).
118. Debet praeponderare vita sacerdotis, sicut praeponderat gratia (Ep. 82).
119. Tantum inter sacerdotem et quemlibet probum interesse debet, quantum inter coelum et terram, discriminis (Epist. 1. 2, ep. 205).
120. Quicumque profitetur statum aliquem, tenetur ad ea quae illi statui conveniunt.
121. Clericus duas res professus est, et sanctitatem et clericatum (Serm. 355, E. B.).
122. Professio clericorum, vita coelestis.
123. Sacerdos ad majorem tenetur perfectionem sanctitatis (Imit. Chris. 1. 4, c. 5).
124. Clericis suis Salvator, non ut caeteris voluntarium, sed imperativum officium perfectionis indicit (De Eccle. Cath. 1. 2).
125. Sanctum Domini (Exod. 39, 29).
126. Ut integritas sacerdotis monstraretur, qui totum se Deo dedicaverit (In Levit. q. 3).
127. Hoc enim est sacrificium primitivum, quando unusquisque se offeret hostiam, et a se incipit, ut postea munus suum possit offerre (De Abel. 1. 2, c. 6).
128. Sacerdos continuum holocaustum offerre praecipitur, ut, a perfecta sapientia incipiens, in eadem finiat, et totam vitam suam componat ad perfectionem (In Levit. 1. 2, c. 1).
129. Separavi vos a caeteris populis, ut essetis mei (Levi. 20, 26).
130. Nemo, militans Deo, implicat se negotiis secularibus, ut ei placeat, cui se probavit (2 Tim. 2, 4).
131. Dominus pars hereditatis meae et calicis mei; tu es qui restitues hereditatem meam mihi (Ps. 15, 5).
132. Clamat vestis clericalis, clamat status professi animi sanctitatem.
133. Jugis conatus ad perfectionem, perfectio reputatur (Ep. 254).
134. Curritur passim ad sacros Ordines sine consideratione (De Conv. ad cler. c. 20).
135. Quam rarus, qui potest dicere: Portio mea Dominus; — quem non inflammet libido, non stimulet avaritia, non aliqua negotiorum saecularium cura sollicitet (In Ps. 118. s. 8).
136. Fecit nos regnum et sacerdotes Deo et Patri suo (Apoc. 1, 6).
137. In quo Deus regnat nunc per gratiam, postea per gloriam. — Fecit nos reges; regnamus enim cum ipso, et imperamus vitiis.
138. Necesse est ut, mortuus omnibus passionibus, vivat vita divina.
139. Et ego claritatem, quam dedisti mihi, dedi eis (Jo. 17, 22).
140. Necesse est sacerdotem sic esse purum, ut, in ipsis coelis collocatus, inter coelestes illas virtutes medius staret (De Sacerd. 1. 3).
141. Oportet ergo episcopum irreprehensibem esse (1. Tim. 3, 2).
142. Diaconos similiter pudicos.
143. Quae de Episcopis dixit, etiam sacerdotibus congruit (In 1. Tim. hom. XI).
144. Omnes virtutes comprehendit (Ep. ad Oceanum).
145. Qui non tantum vitio careat, sed qui omnibus virtutibus sit ornatus.
146. Can. 9, 10.
147. I. Can. 2.
148. Can. 76
149. IV. Can. 68.
150. Corp. Jur. can., Dist. 81.
151. In omnibus enim, quod irreprehensibile est, sancta defendit Ecclesia. Qui sancti non sunt, sancta tractare non possunt (Dist. 81. can. 4-6).
152. Clerici, quibus pars Dominus est, a saeculi societate segregati vivant.
153. Decet omnino clericos, in sortem Domini vocatos, vitam moresque suos componere, ut habitu, gestu, sermone, aliisque rebus, nil nisi grave ac religione plenum prae se ferant (Sess.22. cap. 1, de Ref.).
154. Sacerdos debet vitam habere immaculatam, ut omnes in illum velutti in aliquod exemplar excellens intueantur. Idcirco enim nos (Deus) elegit, ut simus quasi luminaria, et magistri caeterorum efficiamur, ac veluti angeli cum hominibus versemur in terris (In 1. Tim. hom. 10).
155. Clericus interpretetur primo vocabulum suum, et nitatur esse quod dicitur (Ep. ad Nepotian.).
156. Omnis namque pontifex, ex hominibus assumptus, pro hominibus constituitur in iis quae sunt ad Deum (Hebr. 5, 1).
157. Omnis pontifex constituitur in iis quae sunt ad Deum, non propter gloriam, non propter cumulandas divitias. — Constituitur in iis quae sunt ad Deum (In Hebr. 5. lect. 1).
158. In Tim. 6, 11.
159. Haec est generatio quaerentium eum (Ps. 23, 6).
160. Separavi vos a caeteris populis, ut essetis mei (Levit. 20, 26).
161. Idcirco enim nos (Deus) elegit, ut veluti angeli cum hominibus versemur in terris (In 1 Tim. hom. 10).
162. Sanctificabor in iis qui appropinquant mihi (Levit. 10, 3).
163. Agnoscar sanctus ex sanctitate ministrorum.
164. Quia per sacram Ordinem, aliquis deputatur ad dignissima ministeria, quibus ipsi Christo servitur in Sacramento altaris; ad quod requiritur major sanctitas interior, quam requirat etiam religionis status. Unde gravius peccat, caeteris paribus, clericus in sacris Ordinibus constitutus, si aliquid contrarium sanctitati agat, quam aliquis religiosus qui non habet Ordinem sacrum (2. 2. q. 184. a. 8).
165. Bonus monachus vix bonum clericum facit (Ep. 60, E. B.).
166. Verus minister altaris, Deo, non sibi, natus est (In Ps. 118, s. 3).
167. Et sedebit conflans et emundans argentum; et purgabit filios Levi, et colabit eos quasi aurum et quasi argentum; et erunt Domino offerentes sacrificia in justitia (Mal. 3, 3).
168. Sancti erunt Deo suo, et non polluent nomen ejus; incensum enim Domini et panes Dei sui offerent, et ideo sancti erunt (Levit. 21, 6).
169. Ipsum videlicet Corpus Domini, quod in ara crucis pependit, ideoque sanctitas requiritur, quae sita est in puritate animi; sine qua, quisquis ad haec tremenda mysteria accedit, immundus accedit! (In Levit. 21,6).
170. Vae nobis miseris, qui, ministerium altissimum sortiti, tam procul absumus a fervore quem Salomon in umbraticis sacerdotibus exigebat! (In Ps. 131, 7).
171. Mundamini, qui fertis vasa Domini (Is. 52, 11).
172. Quanto mundiores esse oportet, qui in manibus et corpore portant Christum! (Ep. 123).
173. Oportet mundum esse, qui, non solum vasa aurea debet tractare, sed etiam illa in quibus Domini mors exercetur.
174. Quo solari radio non splendidiorem oportet esse manum Carnem hanc dividentem, os quod igne spirituali repletur, linguam quae tremendo nimis Sanguine rubescit? (Ad pop. Ant.hom. 60).
175. Accedit ut Christus, ministret ut sanctus (S. de Euch.).
176. Necessario fatemur nullum aliud opus adeo sanctum ac divinum tractari posse, quam hoc tremendum mysterium. — Satis apparet omnem operam in eo ponendam esse, ut quanta maxima fieri potest interiori cordis munditia peragatur (Sess. 22, dec. de Obser.).
177. Ne lingua, quae vocat de coelo Filium Dei, contra Dominum loquatur; et manus, quae intinguntur sanguine Christi, polluantur sanguine peccati (Molina, Instruc. Sac. tr. 1, c. 5 § 2).
178. Qui habuerit maculam, non offeret panes Deo suo (Levit. 21, 17).
179. Si tanta sanctitas requirebatur in sacerdotibus qui sacrificabant oves et boves, quid, quaeso, requiritur in sacerdotibus, qui sacrificant divinum Agnum? (In Ps. 131,7).
180. Sus lota in volutabro luti (2. Petr. 2, 22).
181. Nec accedat ad altare, quia maculam habet, et contaminare non debet sanctuarium meum (Levit. 21, 23).
182. Oportet... sine crimine esse, sicut Dei dispensatorem (Tit. 1, 7).
183. Medius stat sacerdos inter Deum et naturam humanam; illinc venientia beneficia ad nos deferens, et nostras petitiones illuc perferens; Dominum iratum reconcilians et nos eripiens ex illius manibus (De Verbis Is. hom 5).
184. Nisi quis renatus fuerit denuo, non potest videre regnum Dei (Jo. 3, 3).
185. Nisi manducaveritis carnem Filii hominis... non habebitis vitam in vobis (Jo. 6, 54).
186. Sine his, salutis compotes fieri non possumus (De Sac. 1. 3).
187. Divinae voluntatis Indices (De Vita cont. 1. 2. c. 2).
188. Muros Ecclesiae (Hom. 10).
189. Castra sanctitatis (De Offic. l. 1, c. 50).
190. Mundi fundamenta et fidei columnas (Carm. ad Episc.).
191. Sacerdotes onus totius orbis portant humeris sanctitatis (Hom. de Dedic. eccl.).
192. Orabitque pro eo sacerdos et pro peccato ejus coram Domino, et repropitiabitur ei, dimitteturque peccatum (Levit. 19, 22).
193. Sacerdotes die noctuque pro plebe sibi commissa, oportet orare (In 1. Tim. c. 3).
194. Medii inter Deum et plebem, debent bona conscientia nitere quoad Deum, et bona fama quoad homines (Suppl. q. 36. a. 1).
195. Qua mente apud Deum intercessoris locum pro populo arripit, qui familiarem se ejus gratiae esse per vitae merita nescit? (Past. p. 1, c. 11).
196. Cum is qui displicet, ad intercedendum mittitur, irati animus ad deteriora provacatur.
197. Talem esse oportet Domini sacerdotem, ut, quod populus pro se apud Deum non valuerit, ipse pro populo mereatur impetrare (In Ps. 36. s. 6).
198. Emendatiorem esse convenit populo, quem necesse est orare pro populo (Dist. 61. can. Non negamus).
199. Ecce mundus sacerdotibus plenus, et rarus invenitur mediator!Não vimos estas palavras em S. Bernardo. Eis as de S. Gregório: Ecce mundus sacerdotibus plenus est, sed tamen, in messe Dei, rarus valde invenitur operator (In Evang. hom. 17).
200. Plus placet Deo latratus canum, quam oratio talium clericorum (Corn. A-Lap. In Levit. 1.17).
201. Doctores pietatis (Hom. 10).
202. Salvatores mundi (In Abdiam. 21).
203. Januae civitatis aeternae (De Vita cont. 1. 2, c. 2).
204. Forma virtutum (Serm. 26).
205. Qui in erudiendis atque instituendis ad virtutem populis praeerit, necesse est ut in omnibus sanctus sit, et in nullo reprehensibilis (De Offic. eccl. 1. 2, c. 5).
206. Irreprehensibiles esse convenit, quos necesse est praeesse corrigendis (Ep. ad Episc.Hispan.).
207. In divino omni non audendum aliis ducem fieri, nisi, secundum omnem habitum suum, factus sit deiformissimus et Deo simillimus (De Eccl. Hier. c. 3).
208. Cujus vita despicitur, restat ut ejus praedicatio contemnatur (In Evang. hom. 12).
209. Et eadem ratione, omnia spiritualia ab eis exhibita (Suppl. q. 36, a. 4).
210. Purgari prius oportet, deinde purgare; ad Deum appropinquare, et alios adducere; sanctificari, et postea sanctificare; lucem fieri, et alios illuminare (Apologet. 1).
211. Necesse est ut esse munda studeat manus, quae aliorum sordes curat (Past. p. 2, c. 2).
212. Lucerna quae non ardet, non accendit (In Ezech. hom. 11).
213. Lingua amoris, ei qui non amat, barbara est (In Cant. s. 79).
214. Spectaculum facti sumus mundo, et angelis et hominibus (1. Cor. 4, 9).
215. In eos, tamquam in speculum, reliqui omnes oculos conjiciunt, ex iisque sumunt quod imitentur (Sess. 22, cap. 1. de Refor.).
216. De medio populi segregantur, ut, non solum seipsos, verum et populum tueantur; vero, ad hanc tuitionem, clericalis non sufficit praerogativa dignitatis, nisi dignitati adjungatur cumulus sanctitatis (De Dignit. cler. c. 2).
217. Ad idoneam executionem Ordinum, non sufficit bonitas qualiscumque, sed requiritur bonitas excellens (Suppl. q. 35. a. 1).
218. Illi qui in divinis mysteriis applicantur, perfecti in virtute esse debent (In 4. Sent. d. 24, q. 3, a 1).
219. Interior perfectio ad hoc requiritur, quod aliquis digne hujusmodi actus exerceat (2. 2. q. 184, a. 6).
220. Sancti erunt Deo suo, et non polluent nomen ejus (Levit. 21, 6).
221. Qualis est Deus eorum qui talia agunt? numquid sustineret eos talia facientes, nisi consentiret eorum operibus? (Hom. 10).
222. In omnibus exhibeamus nos metipsos sicut Dei ministros. — In multa patientia. — In vigiliis, in jejuniis. — In castitate, in scientia, in suavitate, in charitate non ficta. — Quasi tristes, semper autem gaudentes. — Tamquam nihil habentes, et omnia possidentes (2. Cor.6, 4).
223. Sancti estote, quia ego sanctus sum (Levit. 11, 44).
224. Ego sum Pastor bonus. Bonus Pastor animam suam dat pro ovibus suis (Jo. 10, 11).
225. Ignem veni mittere in terram; et quid volo, nisi ut accendatur? (Luc. 12, 49).
226. Sacerdotes tui induantur justitiam (Ps. 131, 9).
227. Induite vos ergo, sicut electi Dei, sancti et dilecti, viscera misericordiae (Col. 3, 12).
228. Nihil in hac vita felicius et hominibus acceptabilius Presbyteri officio; sed nihil apud Deum miserius, et tristius, et damnabilius (Ep. 21. E. B.).
229. Const. Apost. l. 2, c. 26.
230. Cum enim augentur dona, rationes etiam crescunt donorum (In Evang. hom. 9).
231. Coeleste tenet officium, angelus Domini factus est; tamquam angelus, aut eligitur, aut reprobatur (Declam. n. 24).
232. Neque enim mediocris virtus sacerdotalis est, cui cavendum, non solum ne gravioribus flagitiis sit affinis, sed ne minimis quidem (Epist. 82).
113. Sacerdotes honorati; dico autem, onerati.
114. Non dignitas, sed opus dignitatis salvare consuevit (Ad Soph. 3).
115. Dum terreni hominis imago deponitur, et coelestis forma suscipitur (De Pass. s. 14).
116. Estote ergo perfecti, sicut et Pater vester coelestis perfectus est (Matth. 5, 48).
117. Nihil in sacerdote commune cum studio atque usu multitudinis (Epist. 6).
118. Debet praeponderare vita sacerdotis, sicut praeponderat gratia (Ep. 82).
119. Tantum inter sacerdotem et quemlibet probum interesse debet, quantum inter coelum et terram, discriminis (Epist. 1. 2, ep. 205).
120. Quicumque profitetur statum aliquem, tenetur ad ea quae illi statui conveniunt.
121. Clericus duas res professus est, et sanctitatem et clericatum (Serm. 355, E. B.).
122. Professio clericorum, vita coelestis.
123. Sacerdos ad majorem tenetur perfectionem sanctitatis (Imit. Chris. 1. 4, c. 5).
124. Clericis suis Salvator, non ut caeteris voluntarium, sed imperativum officium perfectionis indicit (De Eccle. Cath. 1. 2).
125. Sanctum Domini (Exod. 39, 29).
126. Ut integritas sacerdotis monstraretur, qui totum se Deo dedicaverit (In Levit. q. 3).
127. Hoc enim est sacrificium primitivum, quando unusquisque se offeret hostiam, et a se incipit, ut postea munus suum possit offerre (De Abel. 1. 2, c. 6).
128. Sacerdos continuum holocaustum offerre praecipitur, ut, a perfecta sapientia incipiens, in eadem finiat, et totam vitam suam componat ad perfectionem (In Levit. 1. 2, c. 1).
129. Separavi vos a caeteris populis, ut essetis mei (Levi. 20, 26).
130. Nemo, militans Deo, implicat se negotiis secularibus, ut ei placeat, cui se probavit (2 Tim. 2, 4).
131. Dominus pars hereditatis meae et calicis mei; tu es qui restitues hereditatem meam mihi (Ps. 15, 5).
132. Clamat vestis clericalis, clamat status professi animi sanctitatem.
133. Jugis conatus ad perfectionem, perfectio reputatur (Ep. 254).
134. Curritur passim ad sacros Ordines sine consideratione (De Conv. ad cler. c. 20).
135. Quam rarus, qui potest dicere: Portio mea Dominus; — quem non inflammet libido, non stimulet avaritia, non aliqua negotiorum saecularium cura sollicitet (In Ps. 118. s. 8).
136. Fecit nos regnum et sacerdotes Deo et Patri suo (Apoc. 1, 6).
137. In quo Deus regnat nunc per gratiam, postea per gloriam. — Fecit nos reges; regnamus enim cum ipso, et imperamus vitiis.
138. Necesse est ut, mortuus omnibus passionibus, vivat vita divina.
139. Et ego claritatem, quam dedisti mihi, dedi eis (Jo. 17, 22).
140. Necesse est sacerdotem sic esse purum, ut, in ipsis coelis collocatus, inter coelestes illas virtutes medius staret (De Sacerd. 1. 3).
141. Oportet ergo episcopum irreprehensibem esse (1. Tim. 3, 2).
142. Diaconos similiter pudicos.
143. Quae de Episcopis dixit, etiam sacerdotibus congruit (In 1. Tim. hom. XI).
144. Omnes virtutes comprehendit (Ep. ad Oceanum).
145. Qui non tantum vitio careat, sed qui omnibus virtutibus sit ornatus.
146. Can. 9, 10.
147. I. Can. 2.
148. Can. 76
149. IV. Can. 68.
150. Corp. Jur. can., Dist. 81.
151. In omnibus enim, quod irreprehensibile est, sancta defendit Ecclesia. Qui sancti non sunt, sancta tractare non possunt (Dist. 81. can. 4-6).
152. Clerici, quibus pars Dominus est, a saeculi societate segregati vivant.
153. Decet omnino clericos, in sortem Domini vocatos, vitam moresque suos componere, ut habitu, gestu, sermone, aliisque rebus, nil nisi grave ac religione plenum prae se ferant (Sess.22. cap. 1, de Ref.).
154. Sacerdos debet vitam habere immaculatam, ut omnes in illum velutti in aliquod exemplar excellens intueantur. Idcirco enim nos (Deus) elegit, ut simus quasi luminaria, et magistri caeterorum efficiamur, ac veluti angeli cum hominibus versemur in terris (In 1. Tim. hom. 10).
155. Clericus interpretetur primo vocabulum suum, et nitatur esse quod dicitur (Ep. ad Nepotian.).
156. Omnis namque pontifex, ex hominibus assumptus, pro hominibus constituitur in iis quae sunt ad Deum (Hebr. 5, 1).
157. Omnis pontifex constituitur in iis quae sunt ad Deum, non propter gloriam, non propter cumulandas divitias. — Constituitur in iis quae sunt ad Deum (In Hebr. 5. lect. 1).
158. In Tim. 6, 11.
159. Haec est generatio quaerentium eum (Ps. 23, 6).
160. Separavi vos a caeteris populis, ut essetis mei (Levit. 20, 26).
161. Idcirco enim nos (Deus) elegit, ut veluti angeli cum hominibus versemur in terris (In 1 Tim. hom. 10).
162. Sanctificabor in iis qui appropinquant mihi (Levit. 10, 3).
163. Agnoscar sanctus ex sanctitate ministrorum.
164. Quia per sacram Ordinem, aliquis deputatur ad dignissima ministeria, quibus ipsi Christo servitur in Sacramento altaris; ad quod requiritur major sanctitas interior, quam requirat etiam religionis status. Unde gravius peccat, caeteris paribus, clericus in sacris Ordinibus constitutus, si aliquid contrarium sanctitati agat, quam aliquis religiosus qui non habet Ordinem sacrum (2. 2. q. 184. a. 8).
165. Bonus monachus vix bonum clericum facit (Ep. 60, E. B.).
166. Verus minister altaris, Deo, non sibi, natus est (In Ps. 118, s. 3).
167. Et sedebit conflans et emundans argentum; et purgabit filios Levi, et colabit eos quasi aurum et quasi argentum; et erunt Domino offerentes sacrificia in justitia (Mal. 3, 3).
168. Sancti erunt Deo suo, et non polluent nomen ejus; incensum enim Domini et panes Dei sui offerent, et ideo sancti erunt (Levit. 21, 6).
169. Ipsum videlicet Corpus Domini, quod in ara crucis pependit, ideoque sanctitas requiritur, quae sita est in puritate animi; sine qua, quisquis ad haec tremenda mysteria accedit, immundus accedit! (In Levit. 21,6).
170. Vae nobis miseris, qui, ministerium altissimum sortiti, tam procul absumus a fervore quem Salomon in umbraticis sacerdotibus exigebat! (In Ps. 131, 7).
171. Mundamini, qui fertis vasa Domini (Is. 52, 11).
172. Quanto mundiores esse oportet, qui in manibus et corpore portant Christum! (Ep. 123).
173. Oportet mundum esse, qui, non solum vasa aurea debet tractare, sed etiam illa in quibus Domini mors exercetur.
174. Quo solari radio non splendidiorem oportet esse manum Carnem hanc dividentem, os quod igne spirituali repletur, linguam quae tremendo nimis Sanguine rubescit? (Ad pop. Ant.hom. 60).
175. Accedit ut Christus, ministret ut sanctus (S. de Euch.).
176. Necessario fatemur nullum aliud opus adeo sanctum ac divinum tractari posse, quam hoc tremendum mysterium. — Satis apparet omnem operam in eo ponendam esse, ut quanta maxima fieri potest interiori cordis munditia peragatur (Sess. 22, dec. de Obser.).
177. Ne lingua, quae vocat de coelo Filium Dei, contra Dominum loquatur; et manus, quae intinguntur sanguine Christi, polluantur sanguine peccati (Molina, Instruc. Sac. tr. 1, c. 5 § 2).
178. Qui habuerit maculam, non offeret panes Deo suo (Levit. 21, 17).
179. Si tanta sanctitas requirebatur in sacerdotibus qui sacrificabant oves et boves, quid, quaeso, requiritur in sacerdotibus, qui sacrificant divinum Agnum? (In Ps. 131,7).
180. Sus lota in volutabro luti (2. Petr. 2, 22).
181. Nec accedat ad altare, quia maculam habet, et contaminare non debet sanctuarium meum (Levit. 21, 23).
182. Oportet... sine crimine esse, sicut Dei dispensatorem (Tit. 1, 7).
183. Medius stat sacerdos inter Deum et naturam humanam; illinc venientia beneficia ad nos deferens, et nostras petitiones illuc perferens; Dominum iratum reconcilians et nos eripiens ex illius manibus (De Verbis Is. hom 5).
184. Nisi quis renatus fuerit denuo, non potest videre regnum Dei (Jo. 3, 3).
185. Nisi manducaveritis carnem Filii hominis... non habebitis vitam in vobis (Jo. 6, 54).
186. Sine his, salutis compotes fieri non possumus (De Sac. 1. 3).
187. Divinae voluntatis Indices (De Vita cont. 1. 2. c. 2).
188. Muros Ecclesiae (Hom. 10).
189. Castra sanctitatis (De Offic. l. 1, c. 50).
190. Mundi fundamenta et fidei columnas (Carm. ad Episc.).
191. Sacerdotes onus totius orbis portant humeris sanctitatis (Hom. de Dedic. eccl.).
192. Orabitque pro eo sacerdos et pro peccato ejus coram Domino, et repropitiabitur ei, dimitteturque peccatum (Levit. 19, 22).
193. Sacerdotes die noctuque pro plebe sibi commissa, oportet orare (In 1. Tim. c. 3).
194. Medii inter Deum et plebem, debent bona conscientia nitere quoad Deum, et bona fama quoad homines (Suppl. q. 36. a. 1).
195. Qua mente apud Deum intercessoris locum pro populo arripit, qui familiarem se ejus gratiae esse per vitae merita nescit? (Past. p. 1, c. 11).
196. Cum is qui displicet, ad intercedendum mittitur, irati animus ad deteriora provacatur.
197. Talem esse oportet Domini sacerdotem, ut, quod populus pro se apud Deum non valuerit, ipse pro populo mereatur impetrare (In Ps. 36. s. 6).
198. Emendatiorem esse convenit populo, quem necesse est orare pro populo (Dist. 61. can. Non negamus).
199. Ecce mundus sacerdotibus plenus, et rarus invenitur mediator!Não vimos estas palavras em S. Bernardo. Eis as de S. Gregório: Ecce mundus sacerdotibus plenus est, sed tamen, in messe Dei, rarus valde invenitur operator (In Evang. hom. 17).
200. Plus placet Deo latratus canum, quam oratio talium clericorum (Corn. A-Lap. In Levit. 1.17).
201. Doctores pietatis (Hom. 10).
202. Salvatores mundi (In Abdiam. 21).
203. Januae civitatis aeternae (De Vita cont. 1. 2, c. 2).
204. Forma virtutum (Serm. 26).
205. Qui in erudiendis atque instituendis ad virtutem populis praeerit, necesse est ut in omnibus sanctus sit, et in nullo reprehensibilis (De Offic. eccl. 1. 2, c. 5).
206. Irreprehensibiles esse convenit, quos necesse est praeesse corrigendis (Ep. ad Episc.Hispan.).
207. In divino omni non audendum aliis ducem fieri, nisi, secundum omnem habitum suum, factus sit deiformissimus et Deo simillimus (De Eccl. Hier. c. 3).
208. Cujus vita despicitur, restat ut ejus praedicatio contemnatur (In Evang. hom. 12).
209. Et eadem ratione, omnia spiritualia ab eis exhibita (Suppl. q. 36, a. 4).
210. Purgari prius oportet, deinde purgare; ad Deum appropinquare, et alios adducere; sanctificari, et postea sanctificare; lucem fieri, et alios illuminare (Apologet. 1).
211. Necesse est ut esse munda studeat manus, quae aliorum sordes curat (Past. p. 2, c. 2).
212. Lucerna quae non ardet, non accendit (In Ezech. hom. 11).
213. Lingua amoris, ei qui non amat, barbara est (In Cant. s. 79).
214. Spectaculum facti sumus mundo, et angelis et hominibus (1. Cor. 4, 9).
215. In eos, tamquam in speculum, reliqui omnes oculos conjiciunt, ex iisque sumunt quod imitentur (Sess. 22, cap. 1. de Refor.).
216. De medio populi segregantur, ut, non solum seipsos, verum et populum tueantur; vero, ad hanc tuitionem, clericalis non sufficit praerogativa dignitatis, nisi dignitati adjungatur cumulus sanctitatis (De Dignit. cler. c. 2).
217. Ad idoneam executionem Ordinum, non sufficit bonitas qualiscumque, sed requiritur bonitas excellens (Suppl. q. 35. a. 1).
218. Illi qui in divinis mysteriis applicantur, perfecti in virtute esse debent (In 4. Sent. d. 24, q. 3, a 1).
219. Interior perfectio ad hoc requiritur, quod aliquis digne hujusmodi actus exerceat (2. 2. q. 184, a. 6).
220. Sancti erunt Deo suo, et non polluent nomen ejus (Levit. 21, 6).
221. Qualis est Deus eorum qui talia agunt? numquid sustineret eos talia facientes, nisi consentiret eorum operibus? (Hom. 10).
222. In omnibus exhibeamus nos metipsos sicut Dei ministros. — In multa patientia. — In vigiliis, in jejuniis. — In castitate, in scientia, in suavitate, in charitate non ficta. — Quasi tristes, semper autem gaudentes. — Tamquam nihil habentes, et omnia possidentes (2. Cor.6, 4).
223. Sancti estote, quia ego sanctus sum (Levit. 11, 44).
224. Ego sum Pastor bonus. Bonus Pastor animam suam dat pro ovibus suis (Jo. 10, 11).
225. Ignem veni mittere in terram; et quid volo, nisi ut accendatur? (Luc. 12, 49).
226. Sacerdotes tui induantur justitiam (Ps. 131, 9).
227. Induite vos ergo, sicut electi Dei, sancti et dilecti, viscera misericordiae (Col. 3, 12).
228. Nihil in hac vita felicius et hominibus acceptabilius Presbyteri officio; sed nihil apud Deum miserius, et tristius, et damnabilius (Ep. 21. E. B.).
229. Const. Apost. l. 2, c. 26.
230. Cum enim augentur dona, rationes etiam crescunt donorum (In Evang. hom. 9).
231. Coeleste tenet officium, angelus Domini factus est; tamquam angelus, aut eligitur, aut reprobatur (Declam. n. 24).
232. Neque enim mediocris virtus sacerdotalis est, cui cavendum, non solum ne gravioribus flagitiis sit affinis, sed ne minimis quidem (Epist. 82).
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